O Mensageiro

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English: The Messenger

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Por R.C. Sproul Sobre A Bíblia
Uma Parte da série Article

Tradução por Marcia Brando

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O logotipo universal que aparece no decalque da janela em quase toda floricultura da América, indica o serviço do FTD (Floral Telegraph Delivery - Entrega de Telegrama de Flores), que mostra a imagem da divindade mitológica chamada Mercúrio pelos romanos e Hermes pelos gregos. Mercúrio (ou Hermes) é retratado com asas em seu capacete, e asas em seus pés. Essas asas eram usadas para uma velocidade super humana, um atributo necessário para uma divindade descrita como "mensageiro dos deuses".

O termo "hermenêutica" contém a mesma raiz que serve como nome da parte grega de Mercúrio, Hermes. A raiz se refere à entrega de uma "mensagem". Quando lemos a Bíblia, não acreditamos encontrar a sabedoria olímpica de Zeus ou Júpiter, mas a própria palavra do mais alto Deus. A Bíblia é a divina palavra, ou a "mensagem" de Deus. É a mensagem de Deus porque ela pertence a Deus e ela vem de Deus. Cristãos ortodoxos afirmam a infalibilidade da mensagem divina e a inspiração dos autores humanos que Deus utilizou para entregar aquela mensagem. Os profetas e apóstolos não originaram a mensagem; eles foram apenas os entregadores da mensagem, ou os mensageiros apontados por Deus. (É irônico que o próprio apóstolo Paulo uma vez foi confundido com Hermes).

O problema que encaramos com a interpretação bíblica é que apesar da mensagem ser infalível e os mensageiros serem inspirados, os destinatários da mensagem não são nem infalíveis, nem inspirados (ao menos que você creia na infalibilidade da igreja - o que apenas move o problema um passo a mais). Cedo ou tarde a mensagem chega a nós, e somos capazes de mal interpretar a mensagem e os mensageiros.

Por isso é que temos uma ciência chamada hermenêutica - para nos ajudar a obter a correta interpretação da mensagem bíblica. Perceba que eu disse a correta interpretação, não uma correta interpretação. Eu usei o artigo definido ao invés do artigo indefinido. Minha suposição aqui é que apesar de poder haver 1.000 aplicações a um texto dado, há apenas um significado correto. Dizemos isso porque não cremos que a Bíblia é algo flexível, capaz de ser formada ou moldada em qualquer imagem de acordo com o capricho subjetivo do leitor.

A hermenêutica clássica procura o significado objetivo da escritura antes que ela possa propriamente ser aplicada ao assunto da leitura. Nas décadas recentes, esse assunto de significado objetivo tem se tornado uma grande questão entre os estudiosos bíblicos. No presente, uma guerra hermenêutica está sendo travada nesse exato ponto. Rudolf Bultman, por exemplo, disse que a descoberta do significado objetivo da Bíblia não é apenas possível, ele é desejável. Aqui a influência da filosofia existencial e subjetiva tiram o corpo da escritura, e não sabemos onde as colocaram.

A Reforma trouxe uma ênfase em buscar o senso literal da Bíblia. Esse princípio é com frequência seriamente mal interpretado. O que Lutero quis dizer por sensus literalis (senso literal) das escrituras, é que a Bíblia deve ser entendida e interpretada como literatura. É a mensagem escrita que usa uma vasta variedade de formas e dispositivos literais. Ela contem uma narrativa histórica, cartas (epístolas), poesia, etc. Ela faz uso de personificação, analogias, aforismos, provérbios, sermões, hipérboles e similares. Interpretar a Bíblia "literalmente" é tratar a narrativa como narrativa, poesia como poesia, didática como didática, provérbio como provérbio, etc. Impor as regras literárias da poesia numa narrativa histórica ou as regras da narrativa na poesia é distorcer o significado do texto. A respeito disso, a Bíblia, apesar de não ser como nenhum outro livro à luz de sua inspiração e origem divinas, tem que ser lida como qualquer outro livro. A inspiração do Espírito Santo não transforma um substantivo num verbo ou a voz ativa em voz passiva ou um subjuntivo em um indicativo. Ser responsável em interpretar as escrituras requer que aprendamos os rudimentos da gramática e da interpretação literária.

Porque a Bíblia é traduzida para uma infinidade de idiomas, é importante lembrar que nenhuma tradução está de acordo exatamente, palavra por palavra, com os textos hebreus e gregos do original da Bíblia. É por isso que muitos, senão a maioria dos seminários, exigem um estudo dos idiomas originais da Bíblia.

A Bíblia também foi escrita num contexto histórico. É útil para o estudante sério das escrituras saber algo do contexto histórico no qual a Bíblia foi escrita. Isso ajuda a nos resguardar da tendência de ler nosso próprio contexto cultural e histórico no texto da Bíblia. Somos separados culturalmente, historicamente e linguisticamente por milhares de anos dos textos originais da Bíblia.

Outro problema que encontramos ao interpretar a Bíblia é o problema lógico. Mesmo que possamos dominar os idiomas antigos em termos de vocabulário e gramática e com isso nos tornamos estudantes especialistas em história e cultura antiga, não há garantia de que interpretaremos a Bíblia fielmente. Uma das causas mais frequentes de má interpretação das escrituras é fazer deduções ilegítimas dos textos. Isso é, falhamos na lógica, tirando conclusões gratuitas do que lemos. As regras rudimentares da lógica e dedução lógica do texto são de vital importância para uma interpretação correta. Por exemplo, precisamos saber a diferença entre uma possível dedução e uma dedução necessária. Vou ilustrar. Jesus em seu corpo ressureto teve a habilidade de passar por objetos sólidos, tais como portas? Como você responde a essa questão pode depender de como você compreende a significância do registro bíblico de que Jesus apareceu para Seus discípulos no quarto superior, onde estavam reunidos. O relato nos diz que a porta estava fechada "por medo dos judeus". Era o propósito de incluir esse detalhe sobre a porta intencional pelo autor para nos dizer algo sobre o estado do corpo ressureto de Jesus, ou foi para chamar a atenção simplesmente para o estado dos discípulos (medo) no momento do aparecimento de Jesus? A Bíblia não declara explicitamente que Jesus passou pela porta fechada. Ela simplesmente diz que Ele apareceu no meio deles. O texto pode implicar que Jesus passou por um objeto sólido, mas ela não declara isso explicitamente. Que Ele passou por objetos sólidos é uma possível dedução tirada do texto, mas não é uma dedução necessária.

Isso é apenas um exemplo de uma série de textos que são usados para construir teologias ou deduções que são meramente ou possíveis ou ilegítimas de fato.

Essas são algumas das razões as quais o estudante prudente da Bíblia será diligente no uso de bons comentários, conforme eles frequentemente nos ajudam prevenir nossa própria inclinação subjetiva de distorcer o texto.

O intérprete final da Bíblia é a própria Bíblia. A regra primordial da hermenêutica bíblica é a "regra da fé", de que a escritura é sua própria intérprete. Nunca devemos insultar o Espírito de Deus ao interpretar as escrituras de maneira a violentar o que as escrituras dizem em outros lugares.