Deus, faz-nos ousados para Jesus
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Jonathan Parnell Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Ana Sant'Anna
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Dizem que o conteúdo de uma oração molda aquele que a faz, porque tendemos a orar pelo que amamos, e o que amamos nos torna quem somos. E essa não é apenas uma verdade individual, mas serve para as igrejas também. Como quando a igreja primitiva uma vez orou:
"Agora, Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente. Estende a tua mão para curar e realizar sinais e maravilhas por meio do nome do teu santo servo Jesus". (Atos 4:29–30)
De todas as coisas que eles poderiam ter orado - e de todas as coisas que as igrejas devem orar em vários momentos - a igreja primitiva nas primeiras páginas de Atos queria que Deus lhes desse ousadia: "capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente."
Nós, pastores do século XXI e as igrejas, podemos aprender com essa oração do século I, mas para isso precisamos primeiro voltar ao capítulo um.
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Palavras cheias de Jesus
Numa tarde, os apóstolos Pedro e João estavam indo para o templo quando encontraram um homem coxo. Ele era coxo desde o nascimento. O homem estava fazendo o que sempre fazia: pedindo dinheiro para os transeuntes. Mas nesse dia em especial, algo inesperado aconteceu. Os homens que passavam responderam: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho dou a você. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, ande". (Atos 3:6).
Em um instante, o homem foi curado. Ele se levantou e começou a andar. Ele entrou no templo "andando, saltando e louvando a Deus" (Atos 3:8). A cena juntou uma multidão, então Pedro fez o que sempre fazia. Ele pregou. Seu sermão foi cheio de um testemunho claro sobre a pessoa e o propósito de Jesus. Ele é o Santo e o Justo (versículo 14), o Autor da vida e Aquele que foi ressuscitado dos mortos por Deus (versículo 15). Jesus é o motivo, a única razão pela qual o coxo foi curado (versículo 17).
Em seguida, Pedro passa a mostrar que as Escrituras hebraicas há muito haviam predito Jesus, desde Moisés em Deuteronômio até a promessa feita a Abraão em Gênesis, para todos os profetas "de Samuel em diante e aqueles que vieram após ele" (Atos 3:24). Sempre foi sobre Jesus, e a resposta das pessoas hoje, deve ser, de forma inequívoca, o arrependimento (Atos 3:19, 26).
Entrada do novo mundo
Esses líderes judeus estavam "muito perturbados porque [Pedro e João] ensinavam o povo e proclamavam em Jesus a ressurreição dos mortos". (Atos 4:2).
O problema não era apenas o fato de Pedro e João estarem testemunhando sobre a ressurreição de Jesus, mas que eles estavam dizendo que a ressurreição de Jesus levou ao início da era da ressurreição. Como escreve Alan Thompson: "No contexto de Atos 3-4, a ressurreição de Jesus antecipa a ressurreição geral no fim da era e a torna disponível hoje para todos que puserem sua fé nele, as bênçãos dos 'últimos dias"' (The Acts of the Risen Lord Jesus, 79). Isso, na verdade, foi o que a cura do coxo estava declarando. A nova criação invadiu a velha.
Na ressurreição de Jesus tudo mudou. Ele é o ponto alto de todos os propósitos de salvação de Deus e não podemos ignorar isso sem consequências eternas. Essa mensagem irritou os líderes judeus, então eles prenderam Pedro e João e levaram-nos ao tribunal por tudo que ocorreu naquele dia.
"Com que poder ou em nome de quem vocês fizeram isso?" Exigiram eles (Atos 4:7). Pedro, cheio do Espírito Santo, e novamente testemunhando de forma transparente, diz que o coxo foi curado por causa de Jesus. Jesus é o Messias que foi crucificado e ressuscitou, e sobre o qual foi profetizado no livro de Hebreus. Em particular, Pedro diz que Jesus é a pedra mencionada em Salmo 118:22, a pedra que seria rejeitada pelos construtores, mas que então se tornaria a pedra de esquina. O parâmetro não poderia ser mais alto. Somente em Jesus podemos ser salvos (Atos 4:12).
Superado pelos pescadores
Os líderes judeus ficaram atônitos. Eles não conseguiam conciliar a ousadia de Pedro e João com o fato de que eles eram “homens iletrados e sem instrução” (Atos 4:13). Eles não eram nem mestres e nem mesmo alunos, mas pescadores. Pescadores. Isso agitou mais ainda os líderes judeus. Esses joões-ninguém desqualificados, por assim dizer, estavam ensinando as pessoas! E agora eles se arriscam a interpretar as Escrituras hebraicas diante desses experientes intérpretes judeus, dizendo quem era Jesus e quem eles eram, segundo as Escrituras.
Esses líderes judeus viram sua "ousadia" (Atos 4:13), mas isso não era apenas uma referência ao seu estado emocional. A ousadia de Pedro e João não se tratava basicamente de seu zelo ou comportamento - era sobre o que eles tinham a dizer. Esse tipo de ousadia está repetidamente conectado ao discurso em Atos, tanto que uma outra maneira de transmitir "ousadia" em muitas passagens seria "falar livre e abertamente." Foi isso que Pedro e João fizeram. Eles falaram clara, livre, aberta e ousadamente sobre Jesus pelas Escrituras hebraicas - e fizeram isso debaixo de uma intensa intimidação.
E como observaram isso se desenrolar, até os líderes judeus começaram a ligar os pontos. "E reconheceram que eles haviam estado com Jesus" (Atos 4:13). Então como esses pescadores sem treinamento aprenderam a interpretar as Escrituras desse jeito? Como eles puderam falar com tanta confiança sobre o significado das Escrituras se nunca foram ensinados? Ora, porque eles foram ensinados pelo próprio Jesus. Eles haviam estado com Jesus, portanto eram excepcionalmente ousados. Eles falaram de forma clara sobre Jesus, tanto sobre a sua pessoa como sua obra, com base no que as Escrituras dizem, mesmo quando isso poderia ter custado-lhes a vida.
Vozes unidas
Essa é a ousadia que a igreja defende em Atos 4:29-30.
Os líderes judeus avisaram e ameaçaram Pedro e João que parassem de falar sobre Jesus, mas que, por fim, tiveram que liberar os homens sob custódia. Pedro e João foram direto se encontrar com seus amigos para informar o que havia acontecido. Esses amigos de Pedro e João, a igreja recém-nascida em Jerusalém, "levantaram juntos a voz em oração a Deus" (Atos 4:24). A oração coletiva deles era tão rica em testemunho do Antigo Testamento sobre Jesus quanto o sermão de Pedro. Eles conheciam a pessoa de Jesus. Eles sabiam por que Ele tinha vindo. E sabiam como impopular essa mensagem poderia ser.
E o que eles oraram?
Eles não oraram por posições articuladas sobre as questões culturais atuais, nem pelo aumento do diálogo com aqueles de uma outra fé, nem pela habilidade de refutar essa ou aquela doutrina, nem pelo desenvolvimento de uma filosofia ou cultura cristã em especial (todas as coisas pelas quais podemos orar em certos momentos na igreja). Nada disso era parte da oração da igreja em Atos 4. Pelo contrário, eles oraram por ousadia para pregar a Palavra de Deus. Eles pediam a Deus para dar-lhes o tipo de discurso que Pedro e João tinham exibido - para testemunhar claramente sobre quem é Jesus a partir da Palavra de Deus, não importando o preço, à medida que a nova criação continua a invadir a antiga.
Será que nossas igrejas já oram assim hoje?
Será que não temos o mesmo coração? Uma perspectiva igual? Ou ambos?
E, no entanto, as nossas cidades precisam da nossa ousadia tanto quanto Jerusalém precisava nos dias de Pedro e João. Eles precisam do testemunho transparente de quem Jesus é e o que Ele veio fazer.
Orando por avivamento
E se a igreja de Jesus Cristo, em todas as suas manifestações locais, fosse marcada por uma paixão singular por conhecer Jesus e torná-Lo conhecido? Essa é a verdadeira prioridade da igreja em toda época e cultura.
Tudo em nós é sobre Jesus, e a coisa melhor e mais importante que temos a dizer é o que temos a dizer sobre Ele. Nossas falhas em viver de acordo com esse chamado são lembretes de nossa necessidade de reavivamento — de nossa necessidade de implorar a Deus por ousadia. Como a igreja primitiva, que o nosso coração bata continuamente para testemunhar a glória de Jesus e o que Ele exige do mundo. Igreja, é isso que nós somos. Restaure-a, caso necessário, e viva-a — mesmo que seja a última coisa que nossa sociedade queira ouvir de nós.
Nossa sociedade quer que a igreja seja "útil" em seus termos - o que J.I. Packer chamou de "novo evangelho", um substituto para o evangelho bíblico, em sua introdução à obra de Owen The Death of Death in the Death of Christ. Enquanto o objetivo principal do evangelho bíblico é ensinar as pessoas a adorar a Deus, explica Packer, a preocupação do substituto é apenas fazer com que as pessoas se sintam melhor. O tema do evangelho bíblico é Deus e seus caminhos; o tema do substituto é o homem e a ajuda que Deus lhe oferece. O mercado exige o substituto, e aqueles que se recusam a atendê-lo correm o risco de serem considerados irrelevantes ou pior. Contra essa pressão crescente, devemos orar para que possamos falar clara, livre e abertamente com ousadia sobre Jesus a partir da Bíblia, não importa o custo.
Não seria esse um sinal de avivamento? Será que Deus não responderia às nossas orações como fez por aquela primeira igreja?
Quando eles oraram, o lugar no qual estavam reunidos tremeu. Eles foram todos cheios do Espírito Santo e continuaram a pregar a Palavra de Deus com ousadia. (Atos 4:31)