Uma Colheita Amarga?
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Paul Tripp Sobre Perdoar Outros
Tradução por Mônica Couto Valadares
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A Bíblia é muito clara sobre três coisas:
- O caminho de Deus é sempre o melhor caminho (Salmos 119:160).
- O caminho de Deus nem sempre parecerá ser o melhor caminho (provérbio 14:12).
- O que você plantar, você colherá (Gálatas 6:7).
Em todos os relacionamentos, todos os dias você colhe o que plantou anteriormente e planta o que um dia colherá. Quando a divisão e a aspereza ocorrem em um relacionamento, não estamos vivenciando dificuldades misteriosas. Não, infelizmente, estamos colhendo o que semeamos.
Neste mundo corrompido, onde somos sempre pecadores nos relacionamentos com outros pecadores, uma das coisas mais belas e protetoras que Deus nos chama a praticar, é o perdão. Mas o perdão nem sempre nos parece bonito. Às vezes, nos apegar a um erro parece ser o melhor caminho. Não é surpreendente que nós, que apoiamos e celebramos o perdão que nos foi concedido, frequentemente achamos o perdão difícil e pouco atraente!
O perdão e a falta de perdão não são neutros; cada um planta determinada semente e cada um produz um determinado tipo de colheita. Portanto, é importante levar em consideração os estágios prejudiciais da colheita da falta de perdão. Estou profundamente convencido de que muitas, muitas pessoas estão de alguma forma seguindo esse caminho e muitas delas não sabem disso.
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1) Imaturidade e Fracasso
Não só todas as pessoas em relacionamentos são pecadoras, mas a maioria de nós vive em nossos relacionamentos de maneira muito casual e ingênua. Frequentemente temos uma atitude imatura em relação aos relacionamentos em nossa vida. Por causa disso fazemos coisas estúpidas, egoístas e pecaminosas—coisas que nenhum de nós pensava que o outro pudesse fazer. Em nossa surpresa e mágoa, damos lugar à acusação, culpa, julgamento e punição, mais do que ao confronto honesto, confissão e perdão.
O que não percebemos é que, não só estamos respondendo mal ao momento presente, como também estamos começando a definir o rumo da relação. Cada ato egoísta seguido de uma resposta amarga prejudica o afeto e a lealdade que temos uns pelos outros e a união e o respeito que deveríamos desfrutar.
2) Caindo em Padrões Confortáveis
Uma vez que o confronto, a confissão e o perdão dão muito trabalho, é mais fácil dar lugar a impulsos inferiores. É mais fácil resmungar e virar as costas, repassar mentalmente os erros do outro, elaborar sua lista, gritar de raiva e fazer uma ameaça. Muitas pessoas se permitem cair em padrões confortáveis, mas com padrões de relacionamento destrutivos. Enquanto isso, o afeto e o respeito entre eles estão enfraquecendo e a distância entre eles está aumentando.
3) Estabelecendo Defesas
Ao invés da esperança e coragem crescerem como resultado de um estilo de vida de relacionamento íntegro, de honestidade e perdão, muitas pessoas aprendem a construir muralhas de defesa contra as acusações irritadas umas das outras. E logo aprendemos que a melhor defesa é um ataque, por isso enfrentamos a crescente crítica do outro, recorrendo à lista que compilamos e lembrando ao outro o quão imperfeito ele ou ela é e, portanto, quão difícil é ter um relacionamento com eles.
Essa combinação de presunção (convencer a nós mesmos de que não somos o problema) e acusação (dizer à outra pessoa que ele ou ela é o problema) inviabiliza o relacionamento. Não estamos juntos tentando defender esse relacionamento contra ataques. Não, estamos nos vendo como adversários e levantando muros de defesa uns contra os outros.
4) Nutrindo Antipatia
Porque nos permitimos meditar sobre o que há de errado no outro, em vez de celebrar o bem que Deus fez nele e através dele, a nossa perspectiva torna-se cada vez mais negativa. Uma vez que os seres humanos não vivem dos fatos da sua experiência, mas da sua interpretação dos fatos, esta avaliação globalmente negativa torna-se a lente interpretativa através da qual começamos a ver tudo o que a outra pessoa diz e faz. Então, o que antes não teríamos visto como negativo, agora interpretamos como negativo.
Aconselhei muitas pessoas, que antes tinham grande apreço e respeito umas pelas outras, que simplesmente não gostam mais umas das outras. Na verdade, já me disseram que é difícil para eles olhar para trás e lembrar de quando a relação era pacífica e boa.
5) Sentindo-se Sobrecarregado
Em algum momento, estar em um relacionamento com alguém de quem você não gosta muito e sentir a necessidade de se defender diariamente contra ataques, torna-se muito cansativo e desanimador. As mesmas ofensas são cometidas e as mesmas acusações são feitas repetidamente. O mesmo debate sobre quem é o mais difícil de se relacionar acontece repetidas vezes. Você chega ao ponto de temer ver a pessoa e evita isso, se possível. Você anda sobre cascas de ovos, imaginando quando a próxima bomba vai cair e destruir o pouco de paz que resta.
6) Inveja dos Outros
É difícil quando você vive de forma a evitar olhar por cima da cerca ou do outro lado da sala e invejar relacionamentos que parecem ter tudo o que você não tem. E quando você faz isso, é tentador duvidar do amor e da sabedoria de Deus, quando você sente que foi escolhido para enfrentar dificuldades que os outros não estão enfrentando.
Comparar seu relacionamento com a imagem pública distante e retocada de outro relacionamento é sempre perigoso, mas particularmente destrutivo para um relacionamento em que, dia após dia, você já não está dando a si mesmo muitas razões para continuar.
7) Fantasias de Fuga
Se mantida isolada, a falta de perdão sempre parece levar a esse ponto. Você está com raiva, machucado e sobrecarregado. Você realmente não gosta muito da outra pessoa e não fica ansioso pelos momentos em que estão juntos. Você se sente sobrecarregado e sufocado. Você diz a si mesmo que é vítima diária do pecado do outro. Você não pode imaginar que a outra pessoa realmente vai mudar. Tudo parece impossível, então você começa a fantasiar sobre a fuga.
No início, são apenas os devaneios irreais dos cansados, mas torna-se mais do que isso. O caminho entre a fantasia e a obsessão ou a fantasia e a determinação muitas vezes não é muito longo. Você está numa posição muito suscetível a desistir, permitindo que essa relação seja mais uma vítima em sua história de relacionamentos.
Você pode estar pensando: "Uau, Paulo, esse é um quadro muito sombrio!" Bem, eu lhe perguntaria o seguinte: você tem um relacionamento em sua vida que está seguindo ou já seguiu por esse caminho?
O Deus do perdão e da graça te capacita, por meio do seu perdão e graça, a viver em relações de perdão e graça. Por Sua graça, você pode plantar sementes de perdão que cultivem relações de apreço, respeito e amor, mesmo que esteja sempre se relacionando com pecadores.
Pela graça de Deus, você não precisa carregar a dor de ontem para o relacionamento de hoje. Jesus morreu, não só para te perdoar, mas pela sua morte que venceu o pecado, para te permitir perdoar os outros. Por Sua graça, a reconciliação e a restauração são realmente possíveis. Ele é realmente o Príncipe da Paz.
Por onde você deve começar? Você começa aceitando seu pecado e sua fraqueza. E só quando você aceitar sua necessidade, que você ficará então animado em buscar o perdão e o poder Dele.
Quando você faz isso, outra coisa acontece; você se lembra que a outra pessoa não é o único pecador no relacionamento. Isso te permite admitir que você é mais parecido com a outra pessoa do que diferente dela. É então que você começa a perceber que a única maneira de dois pecadores forjarem um relacionamento de respeito, admiração e paz é quando eles confiam na graça de Deus e estão comprometidos em dar graça um ao outro.
Pela Sua poderosa graça, você realmente pode evitar o caminho triste e a colheita amarga, que é a condição de muitos relacionamentos deste lado da eternidade.