Serei solteiro para sempre?
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Stephen Witmer Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Juan Flavio De Sousa De Freitas
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Fui solteiro durante todos os meus vinte anos e gostei muito disso. Quando eu queria uma comida específica para o jantar, eu a comia. Quando eu queria tirar uma semana para caminhar uma seção de 160 quilômetros da Trilha dos Apalaches, eu caminhava. Quando me senti chamado para fazer estudos de pós-graduação em outro país, eu fui. E houve outros benefícios menos egoístas, inclusive mais tempo e energia para fazer amizades profundas e ministrar de forma frutífera.
Mas, no geral, achei a solteirice muito difícil. Houve épocas de terrível solidão em que eu me perguntava se Deus algum dia me daria uma companheira para toda a vida. Às vezes, eu era como uma linha de energia cortada, a voltagem do desejo não satisfeito me fazia ter acessos de raiva que machucavam os outros. Às vezes, eu tinha inveja de amigos casados. Nem sempre eu navegava pela solteirice com graça, equilíbrio, fé profunda e alegria inabalável. Em vez disso, eu me atrapalhava entre o prazer e o arrependimento, a felicidade e o desejo, a pureza e o pecado.
Gostaria que alguém tivesse me ajudado a entender e depois viver minha solteirice à luz da eternidade. Acho que isso teria me ajudado a desfrutar de uma vida mais divina, mais produtiva e mais satisfeita durante aqueles anos.
Um terreno estável para uma esperança crescent
A eternidade muda tudo, inclusive nossa solteirice. Por “eternidade” quero dizer a futura nova criação que Deus descreve na Bíblia. Esse é um futuro que vai além de nossas mais loucas imaginações e esperanças mais fervorosas. É este mundo atual renovado, restaurado e refeito em um lugar perfeito, sem mais pecado, sofrimento, quebrantamento, lágrimas, dor ou morte.
A nova criação será muito melhor até mesmo do que o Éden original, porque (1) Jesus estará fisicamente presente lá (Apocalipse 22:1) e (2) durará para sempre, com seus habitantes nunca caindo em pecado; ao contrário de Adão e Eva. Em outras palavras, o futuro perfeito do mundo será melhor do que seu passado perfeito. O Éden era uma fragilidade encantadora. A nova criação será uma estabilidade maravilhosa. O Éden era como uma requintada tigela de porcelana; linda, mas quebrável. A nova criação será como os Alpes; de tirar o fôlego e inamovível.
Somos pessoas imperfeitas vivendo em um mundo imperfeito, mas esse futuro perfeito se torna o nosso futuro quando nos unimos a um Salvador perfeito por meio da fé. Assim, podemos ter certeza absoluta de que esse futuro é nosso. Na Bíblia, essa firme certeza é chamada de esperança.
A esperança cristã é a confiança de que um futuro incrivelmente bom é seguramente nosso, e essa esperança muda a maneira como vemos nosso presente. Ela nos fortalece e nos capacita em todas as situações da vida, inclusive na solteirice. Ela aumenta nossa inquietação pela nova criação, e essa inquietação nos deixa mais satisfeitos.
Para crescer mais contento, fique mais inquieto
Um dos sentimentos que tive com frequência quando era solteiro foi a falta de satisfação. Até mesmo algumas de minhas aventuras mais agradáveis e experiências mais doces eram marcadas pelo desejo de compartilhá-las com outra pessoa.
Um forte anseio pela eternidade nos ajuda com nosso descontentamento, aumentando nossa inquietação. Isso parece uma contradição, mas não é. O apóstolo Paulo era uma pessoa tremendamente inquieta, que dizia se esforçar e ansiar pelo futuro final de Deus (Filipenses 3:13-14). E, no entanto, ele também disse que havia aprendido o segredo do contentamento em qualquer circunstância (Filipenses 4:12). Afinal, as duas coisas estão intimamente relacionadas.
A razão pela qual ficamos descontentes com nossa solteirice (ou com nosso emprego, casamento, carro, filhos ou qualquer outra coisa) é porque essa pessoa ou coisa (seja o que for) parece tão grande e a eternidade parece tão pequena. Se você segurar uma moeda bem perto de seu rosto, ela obscurecerá o horizonte de uma cidade inteira.
Quando nossas circunstâncias atuais parecem maiores do que a eternidade, perdemos a perspectiva. Quando perdemos a perspectiva, tendemos a carregar muito de nosso contentamento em algo que nunca foi projetado para suportar o peso. Esperamos que um cônjuge, um amigo, férias ou uma conquista nos dê a felicidade que eles nunca poderão nos dar.
Seu estado civil no céu
O problema com esse modo de vida é que ele leva a um descontentamento perpétuo. Se Deus nos der um emprego melhor, mas ainda estivermos vendo o nosso emprego como maior, mais importante e mais significativo do que a nova criação, sacrificaremos tudo para nos destacarmos nele ou seremos destruídos se o perdermos.
Se formos solteiros e tudo o que pudermos ver for o nosso desejo de ter um cônjuge em vez da eternidade com Cristo, sobrecarregaremos um cônjuge enviado por Deus com o peso esmagador de uma expectativa carente ou nos tornaremos solteiros ressentidos, cínicos ou com o coração partido. Uma pessoa solteira descontente se tornará um cônjuge descontente e depois um pai descontente... até que a eternidade entre em cena e se torne o centro.
Deus está mais preocupado com uma mudança em nossa perspectiva do que com uma mudança em nosso estado civil. Se a eternidade estiver no centro e um marido, uma esposa ou um filho nos faltar ―ou se não tivermos o marido, a esposa ou os filhos que desejamos― será doloroso, mas ficaremos bem, porque sabemos que uma eternidade perfeita ainda é nossa. Há lastro em nosso barco, e ele nos manterá firmes durante as decepções, oportunidades perdidas e tragédias desta vida.
Quanto mais inquietos estivermos pela nova criação ―quanto mais nossos pensamentos e emoções forem cativados por ela― menos seremos abalados pelo desapontamento nesta vida e mais veremos cada bênção presente não como um destino final, mas como um sinal que aponta para a eternidade. Quanto mais inquietos nos tornamos, mais satisfeitos ficamos.
Talvez, se você for solteiro, sua identidade como “solteiro” tenha se tornado o centro de sua maneira de pensar sobre si mesmo. Mas, pelo ensinamento de Jesus, parece que na eternidade todos nós seremos solteiros. Não haverá casamento na nova criação. O que nos definirá para sempre não será o nosso estado civil, mas o fato de desfrutarmos da presença perfeita de Cristo.
Isso significa que uma pessoa solteira que ama Jesus é muito mais parecida com uma pessoa casada que ama Jesus do que com uma pessoa solteira que não o conhece. Conheceremos Jesus para sempre e seremos amados por Ele por toda a eternidade. Isso é muito mais importante para nossa identidade do que nosso estado civil. Não pense que você é indesejado por qualquer cônjuge em potencial. Saiba que você é amado para sempre por Jesus.
É provável que, para muitos (não todos) solteiros, haja momentos e épocas de solidão e saudade; momentos em que parece estranho ser a única pessoa solteira na mesa ou na festa. Essa foi certamente a minha experiência. Mas conhecer nosso Deus e seu futuro final para nós, além de conhecer a nós mesmos à luz desse futuro, pode produzir um profundo contentamento em nosso presente