Senhor, Tudo que Tenho É Teu
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Jon Bloom Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Michael Suzigan
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O encontro de Jesus com o jovem rico sempre me incomodou. Eu sou americano. Sou tão de classe média quanto os americanos podem ser, o que significa que vivo em um nível de riqueza e abundância desconhecido pela maioria das pessoas que coabitam o mundo de hoje comigo, e por uma porcentagem muito, muito menor de pessoas na história. Em termos globais e históricos, eu sou aquele jovem.
A coisa mais incômoda sobre o jovem é que ele parecia tão familiarizado com suas suposições religiosas e culturais moldadas pela sua riqueza que não percebia o quão desconectado com a realidade espiritual ele estava. Duvido que muitos ao seu redor percebiam o quanto. Dos breves vislumbres dele que captamos nos sinóticos, e pela resposta de Jesus a ele no relato de Marcos, esse homem não parece corresponder ao rico opressor arrogante que imaginamos quando lemos Tiago 5:4–6. Aqueles ao seu redor poderiam ter presumido que sua prosperidade era a bênção afirmativa de Deus.
Afinal, este homem era espiritualmente sério — correndo para Jesus e ajoelhando-se diante dele para perguntar se havia mais que ele precisava fazer para ser salvo (Marcos 10:17). Ele tinha toda a aparência de piedade — tendo seguido (ou acreditado que seguiu) os mandamentos que Jesus listou desde que era jovem (Marcos 10:19–20). E ele era sincero — Marcos registra que “Jesus, olhando para ele, o amou” (Marcos 10:21). Ele era todas essas coisas, mas não possuía o tipo de fé que salva.
Espiritualmente sincero, sério, aparentemente piedoso — talvez mais do que muitos ao seu redor. Não é assim que a fé se parece? Não necessariamente. A fé se parece com a confiança. E quando se trata do que realmente acreditamos, confiar se assemelha com estimar. Pois quando tudo está em jogo para nós, sempre confiamos no que verdadeiramente estimamos.
Mostre-me No Que Eu Confio
A coisa mais amorosa que Jesus poderia fazer por esse jovem sério e sincero era mostrar-lhe o deus em quem confiava: “Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e a dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.” (Marcos 10:21). Então o homem viu seu verdadeiro deus e se afastou do incrível convite de Jesus "entristecido". Por quê? “Ele tinha grandes posses” (Marcos 10:22), o que levou à observação devastadora de Jesus:
E Jesus olhou em volta e disse aos seus discípulos: “Quão difícil será para aqueles que têm riquezas entrar no reino de Deus! . . . É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus." (Marcos 10:23–25)
Quando tudo estava em jogo para o jovem, ele confiava em sua riqueza, em suas posses, mais do que em Deus. Sua riqueza era seu deus, e isso o impedia de entrar no reino. O problema é que ele não viu isso até realmente ter que escolher.
Você acha isso desconcertante? Os discípulos disseram: “Então, quem pode ser salvo?” (Marcos 10:26). Como um americano abastado que vive no meio de uma abundância histórica sem precedentes, eu acho. Não confio na minha autoavaliação de fé (1 Coríntios 4:3). Só posso confiar na avaliação de Deus (1 Coríntios 4:4). E uma vez que a fé é realmente provada genuína somente quando é testada (1 Pedro 1:6–7; Tiago 1:2–4; 2 Coríntios 13:5), devemos estar dispostos, como o jovem, a dizer a Jesus:
Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração. Põe-me à prova e conhece os meus pensamentos! E vê se há algum caminho mau em mim, e guia-me pelo caminho eterno! (Salmo 139:23-24)
E se Jesus não nos diz para abrir mão da nossa abundância, mas para continuar a viver fielmente nela — se quisermos realmente confiar em Deus e não na nossa abundância — então precisamos que a fé seja abundante.
Fé para Abundar
Paulo disse que aprendeu a se contentar em qualquer situação em que se encontrasse:
Sei como ser rebaixado e sei como abundar. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece. (Filipenses 4:13)
Se nos fosse dada a escolha, a maioria de nós provavelmente preferiria que a fé fosse abundante em vez da fé ser rebaixada. Acho que é porque não estamos totalmente cientes da natureza perigosa da prosperidade material. Paulo tinha convicção quando disse que é preciso a força de Deus para "enfrentar a fartura".
“Abundância” (prosperidade) e “necessidade” (escassez) são circunstâncias muito diferentes. Ambas exigem fé ao serem lidadas de maneira que glorifiquem a Deus. Mas elas exigem o exercício de diferentes conjuntos de músculos da fé. A escassez requer músculos da fé para confiar em Deus em um lugar de necessidade sem esperança. A prosperidade requer músculos da fé para confiar em Deus ao invés da segurança material abundante.
Exercitar a fé na escassez não é fácil de forma alguma. A maioria de nós teme a escassez mais do que a prosperidade porque a ameaça é vista com clareza. Mas, ironicamente, essa é uma das razões pelas quais pode ser mais fácil exercer fé na escassez do que na prosperidade. Porque na escassez nossa necessidade é clara e nossas opções tipicamente são poucas. Nos sentimos desesperados para que Deus nos providencie e, por isso, somos levados a buscá-lo — a exercer nossa fé.
Mas exercer a fé na prosperidade é diferente. Este é um ambiente espiritual e psicológico mais complexo e intrincado. Requer que confiemos verdadeiramente — que valorizemos verdadeiramente — em Deus quando não nos sentimos desesperados por sua provisão, quando nos sentimos materialmente seguros, quando nada externo está exigindo que sintamos urgência. Quando temos muitas opções que parecem inócuas e podemos gastar tempo e dinheiro preciosos em todos os tipos de atividades e prazeres. Este ambiente é tão perigoso que Jesus adverte que é mais difícil para as pessoas nele entrarem no reino de Deus do que para um camelo passar pelo fundo de uma agulha. Teste a si mesmo. Quando foi que você buscou a Deus com mais fervor: em necessidade ou em abundância?
Quando Deus É Nossa Opção
Os cristãos sempre acharam mais difícil abrir mão de segurança voluntariamente do que implorar desesperadamente por ela. Confiar em Deus ao nos despojarmos da prosperidade requer um esforço diferente daquele que se faz necessário ao confiar em Deus para enfrentarmos a escassez. De certa forma, é preciso mais fé para confiar em Deus quando temos outras opções do que quando ele é nossa única opção.
É por isso que os trabalhadores são tão poucos quando a colheita é tão abundante (Lucas 10:2). Poucos querem passar pelas necessidades mundanas para ter a abundância do reino. Isso é o que torna o tipo de fé que santos como George Müller¹ e Hudson Taylor² exerceram tão notável.
Sim, eles confiaram em Deus na escassez. Mas o que tornou suas façanhas ainda mais memoráveis foi que eles poderiam ter arrecadado dinheiro de outras maneiras legítimas para apoiar seu trabalho e evitar muitos daqueles momentos de necessidade. Mas eles escolheram voluntariamente (o que é diferente de serem forçados circunstancialmente) se colocar em uma posição de desespero para demonstrar que Deus existe e recompensa aqueles que o procuram (Hebreus 11:6). Eles, como Paulo, aprenderam o segredo de enfrentar a abundância e a necessidade: confiar plenamente em Deus, seu Tesouro.
O Que For Preciso
Nós, cristãos que vivemos em abundância, precisamos prestar atenção na história do jovem rico. Precisamos que ele nos incomode. Pois toda a história da igreja é testemunha da tendência geral de que quanto mais enriquece, mais corrupta, indulgente e apática ela se torna. E menos senso de urgência pelas almas perdidas ela tem. É mais difícil para as pessoas ao nosso redor serem cristãs de verdade do que os camelos passarem pelo fundo de uma agulha.
Mas Jesus não nos deixa sem grande esperança. Ele anuncia: “Para os homens [lidar fielmente com a abundância material] é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis” (Marcos 10:27). Então, vamos nos voltar para Jesus — que tem poder para fazer o que é impossível para nós — ajoelhar-se diante dele, e suplicar:
Custe o que custar, Senhor, ajude-me a realmente confiar em Ti como meu maior tesouro. Prefiro perder minha segurança material e ganhar o reino do que ganhar o mundo e perder minha alma. Tudo o que tenho é seu — minha vida, minha família, meu tempo, meu dinheiro, minhas posses, meu futuro — e eu os manterei de acordo com a sua vontade, ainda que isso signifique perdê-los (Filipenses 3:8). E eu convido-te a examinar meu coração e colocar minha fé à prova.
Referências:
¹ George Müller:
https://www.orvalho.com/ministerio/estudos-biblicos/george-muller-conheca-a-vida-de-um-doador/
² Hudson Taylor:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hudson_Taylor