Se Deus É Soberano, Por Que Orar? (pt. 1)
De Livros e Sermões BÃblicos
Tradução por João Vitor Inacio dos Santos
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Por R.C. Sproul
Sobre Oração
Capítulo 0 do livro Se Deus É Soberano, Por Que Orar? (pt. 1)
De que forma a soberania divina está relacionada com nossa vida diária? Nós entendemos nas escrituras que Deus é soberano, que Ele reina e governa sobre todas as coisas para a Sua glória e para o bem do seu povo. Nós também entendemos, tendo estudado as orações do Senhor ao longo deste livro, que Deus nos convida a chegarmos até Ele em oração, trazendo conosco nossos pedidos a Ele.
Assim que colocamos estas duas ideias – a soberania de Deus e as orações do seu povo – lado a lado, chegamos em uma difícil questão teológica. Objeções se levantam em todo lugar. As pessoas dizem “Espere. Se Deus é soberano, ou seja, se Ele ordenou cada detalhe do que está acontecendo em nossas vidas, não apenas no presente mas também no futuro, por que deveríamos nos preocupar em orar? Além disso, se a Bíblia nos diz que ‘Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam’ (Rm 8.28), não deveríamos nos contentar de que o que Deus ordenou é o melhor? Não seria um exercício de futilidade, e até arrogância, presumir que devemos dizer a Deus o que precisamos ou o que gostaríamos que acontecesse? Se Ele ordena todas as coisas, e o que Ele ordena é o melhor, qual o propósito de orarmos a Ele?”
João Calvino discute brevemente esta questão da utilidade da oração à luz da soberania de Deus em suas Institutas da Religião Cristã:
Mas alguém dirá, “Porventura Deus não sabe, mesmo sem quem o lembre, não apenas quais são nossas dificuldades, como também o que nos é conveniente, de sorte que possa parecer de certo modo supérfluo que ele seja incomodado por nossas orações, como se estivesse de olhos cerrados, ou mesmo a dormir, até que seja despertado por nossa voz?” Aqueles que argumentam desta forma não atentam para que fim o Senhor instruiu os seus a orar, pois não ordenou isso propriamente por sua própria causa, mas, antes, pela nossa. (Livro III, Cap. 20)
Calvino argumenta que a oração beneficia mais a nós do que a Deus. Podemos ver isso claramente, ao menos para alguns dos elementos da oração. Considere, por exemplo, os elementos da adoração e confissão. A existência de Deus não depende da nossa adoração. Ele pode viver bem sem ela. Mas nós não. A adoração é necessária para o nosso crescimento espiritual. Se desejarmos desenvolver um relacionamento íntimo com o nosso Pai celestial, é essencial que cheguemos até Ele com palavras que expressam reverência, adoração e amor. Ao mesmo tempo, é necessário que façamos menção de nossos pecados diante de Seu trono. Ele sabe quais eles são. Na verdade, Ele os conhece mais claramente e de forma mais abrangente do que nós. Ele não ganha nada quando recitamos nossos pecados a Ele, mas nós precisamos deste ato de contrição para o bem de nossas almas.
O problema intrincado do relacionamento entre a soberania de Deus e as orações dos homens não está relacionado a adoração e confissão, mas sim a intercessão e súplicas. Quando eu vejo alguém necessitado e começo a orar por aquela pessoa, estou intercedendo por ela. Eu ofereço meus pedidos a Deus em favor dela, suplicando a Deus para agir em Sua misericórdia e fazer algo para mudar a situação daquela pessoa. Além disso, faço o mesmo por minhas próprias necessidades, quando percebo que as tenho. Entretanto, o Deus onisciente já conhece a situação de cada um, tendo a ordenado. Sendo assim, estas orações têm algum valor? Mais fundamentalmente, estas orações funcionam? Em última análise, elas têm algum impacto em minha vida e na vida dos outros por quem oro?