Quando Devemos Orar Para que Deus Nos Leve Para Casa?

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Sobre esta tradução
English: When Should We Pray for God to Take Us Home?

© Desiring God

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Por John Piper Sobre Sofrimento
Uma Parte da série Ask Pastor John

Tradução por Jaianny Apolinario

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Audio Transcrição

O e-mail de hoje veio de um ouvinte do podcast, o Austin: “Querido Pastor John, tenho dezessete anos e sou portador de câncer em estado terminal. Os médicos dizem que meu câncer voltará e que meu corpo não aguenta mais nenhuma sessão de quimioterapia ou de transplante de medula. Deus usou os cinco anos de minha luta para fazer com que eu me achegasse a ele. Também usou minha situação para trazer outras pessoas para mais perto de si. Entretanto, me sinto cansado e estou pronto para ir para casa. Não gosto de admitir isso, mas oro para que Deus me leve para casa; entretanto, ele continua me sustentando. Claramente, sua resposta é 'não' ou 'ainda não.’ Como manter minha alegria mesmo quando a vida é tão difícil e dolorosa?”

Sinto como se estivesse entrando em terra santa ao abordar essa pergunta. Me refiro a uma terra às portas do paraíso, como se estivesse a um passo de distância do céu. É como se aqui onde eu estou de pé fosse a margem e o céu tivesse santificado essa terra. É como se eu estivesse dando conselhos enquanto estou às portas do templo de Deus e ele pudesse ouvir o que estou falando. Claro que ele pode ouvir o que falo a todo momento, porém há algo de sagrado ao falar com alguém que provavelmente está prestes a ficar diante de Jesus em pouquíssimo tempo.

Quero que o Austin saiba que minha fé é fortalecida e que meu amor por Deus é intensificado ao ouvir sua pergunta, do jeito que ela foi feita. Principalmente porque você, Austin, não expressou raiva ou mágoa para com Deus. Você pode até ter expressado em algum ponto e é claro que ele sabe lidar com isso. Mas aqui, você não o fez. Você parece falar com uma fé extraordinária. Assim, o aroma do céu já está presente em você e isso é muito revigorante para mim.

Então, deixe-me focar em suas últimas palavras. Você diz "me sinto cansado e estou pronto para ir para casa. Não gosto de admitir isso, mas oro para que Deus me leve para casa; entretanto, ele continua me sustentando. Claramente, sua resposta é 'não' ou 'ainda não.’ Como manter minha alegria mesmo quando a vida é tão difícil e dolorosa?”

Talvez, o primeiro encorajamento que eu possa te passar é de que você não precisa se envergonhar de admitir que tem orado para que Deus te leve para casa. Ao menos não precisa ter vergonha disso comigo. Eu mesmo já orei por isso e me ofereci para ir muitas vezes. Na verdade, mais vezes do que orei para partir caso minha partida causasse um efeito maior que minha vida. “Senhor, eu sou teu. Tu sabes o que anseio em minha vida. Se não ter minha vida ajudar isso a acontecer, estou pronto. Me leve.”

Honestamente, Austin, acho que uma pessoa que siga Jesus já há algum tempo e que nunca tenha orado para ir para casa, para o céu com ele, ou não viu Jesus claramente, ou nunca esteve envolvida na miséria causada pelos nossos próprios pecados e pelos pecados dos outros. Paulo não tinha vergonha alguma de declarar que desejava morrer e estar com Cristo (Filipenses 1:23). Para Cristo, é uma honra ver que desejamos deixar esta vida e estar com ele. Mas você, Austin, claramente está certo ao acreditar que esta decisão cabe a Deus, não a você. Suicídio — seja ele assistido, por misericórdia, ou como for — não é apenas um auto assassinato; é trocar de lugar com Deus. E você está certo em deixar isso com ele. Sendo assim, seu maior desafio é aguentar até o dia em que for da vontade de Deus, seja ele qual for, com alegria quando sua vida é tão dolorosa.

Muitas coisas poderiam ser ditas, porém direi aquilo que mais precisa ser direcionado. Estou lendo a biografia de John Knox.  Deixarei que John Knox conclua isso para mim. Quando John Knox, o grande reformador da Escócia, estava prestes a morrer em 1572, pediu que sua esposa lesse duas coisas para ele. Primeiro, ele disse, “Vá para o lugar onde eu primeiro pus minha âncora,” referindo-se aos primeiros sermões que ele pregou, de João 17: “Depois de dizer isso, jesus olhou para o céu e orou: ‘Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te glorifique. Pois lhe deste autoridade sobre toda a humanidade, para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste’” (João 17:1–3).

Depois, Knox pediu que sua esposa lesse os sermões de João Calvino sobre Efésios 1:3–6, que diz, “Bendito seja o Deus e Pai de nosso senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado.”

Assim, Knox desejava morrer com a rocha do amor e da graça eletiva de Deus sob seus pés. Ele desejava ouvir de João 17:2, da boca do próprio Jesus: dou vida eterna a todos os que me deste. Ele queria ser lembrado de que Deus o havia escolhido e o dado ao Filho, e que o Filho tem autoridade infalível de dar vida eterna a todos os que Deus escolhera e lhe dera. Também queria ouvir do apóstolo Paulo que antes da fundação do mundo havia sido escolhido, para o louvor da sua gloriosa graça.

Nunca estive no lugar de Austin, exceto talvez durante algumas semanas após ser diagnosticado com um câncer há alguns anos atrás, que acabou sendo tratável. Mas John Knox peregrinou este mesmo caminho até o fim. Portanto, talvez esse simples vislumbre de sua transição até a presença de Jesus no fim possa servir de ajuda.

Alguém pode dizer, “mas como a doutrina da eleição incondicional pode ajudar alguém que está morrendo?” Minha resposta é dividida em três partes

  1. Nada me faz ver tão claramente que nenhum pecado meu poderia fazer com que Deus se recusasse a me escolher. Ele me escolheu incondicionalmente — absolutamente incondicionalmente antes do meu nascimento. Sendo assim, nenhum pecado previsto poderia impedi-lo de me escolher.
  2. Nada me faz ver tão claramente que minha salvação é pela graça, só pela graça, somente pela graça, que o fato de que eu fui escolhido antes de ter feito qualquer coisa boa ou ruim — antes mesmo da fundação do mundo.
  3. Nada é mais profundo, mais forte e mais certo que os eternos propósitos de Deus. E é este tipo de certeza que precisamos no momento da morte.

Assim, Pai, oro por Austin, por outros como ele e por todos nós que eventualmente tomamos ciência de que temos pouco tempo. Oro para que o Senhor abra para ele as portas do céu deixe que a luz de sua gloriosa e soberana graça o guie de volta para casa.