Por que você quer ser feliz?
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Randy Alcorn Sobre Gozo
Tradução por Bruno Pontes
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Com base em livros que li, sermões que ouvi e conversas que tive, fica claro que muitos cristãos acreditam que o desejo de felicidade da humanidade nasceu na queda e faz parte da maldição. Daí, o desejo de ser feliz é com frequência entendido como o desejo de pecar.
Mas, e se o nosso desejo de felicidade fosse um dom elaborado por Deus antes de o pecado entrar no mundo? Se acreditássemos nisso, de que modo isso afetaria nossas vidas, nossa maneira de educar os filhos, nosso ministério, nosso entretenimento e nossos relacionamentos? Como isso afetaria nossa abordagem ao partilhar o evangelho?
Um anseio gravado em nossos corações
Agostinho perguntou retoricamente: “Uma vida feliz não é a coisa que todos desejam, e existe alguém que absolutamente não a deseje?” Acrescentou ele: “Mas onde as pessoas obtiveram o conhecimento dela, já que tanto a desejam? Onde elas a viram, já que tanto a amam?” (Confissões).
Deus gravou sua lei em nossos corações (Romanos 2:15). Uma forte evidência aponta que ele também gravou em nossos corações um poderoso desejo de felicidade. De fato, esse tem sido o consenso dos teólogos ao longo da história da igreja. Considerando que herdamos nossa natureza pecaminosa de Adão, é provável que também tenhamos herdado um senso da felicidade de Adão e Eva anterior à queda. Por qual outro motivo nós ansiamos por algo melhor do que o único mundo em que já vivemos?
Antes da queda, Adão e Eva sem dúvida anteviram boa comida, que provavelmente era ainda mais saborosa do que eles imaginaram. Mas após a queda, o contrário tornou-se verdade. Nós esperamos da comida, do trabalho, dos relacionamentos e de todo o resto mais do que o que experimentamos. Vivemos em um mundo escurecido, mas nossas decepções demonstram que conservamos as expectativas e esperanças de um mundo mais claro.
A evolução não tem um Éden
Se fôssemos meramente o produto da seleção natural e da sobrevivência do mais apto, não teríamos razões para crer na existência de qualquer antiga felicidade. Mas mesmo aqueles que nunca foram ensinados sobre a queda e a maldição sabem por instinto que algo neste mundo está seriamente errado. Sentimos nostalgia por um Éden do qual experimentamos apenas sugestões. Essas sugestões são gotejos d'água em nossas bocas ressequidas, que nos levam a ansiar e buscar rios de água pura e fresca.
O bispo anglicano J.C. Ryle (1816-1900) escreveu: “Felicidade é o que toda a humanidade quer obter - o desejo dela está plantado fundo no coração humano” (Religião Prática).
Se esse desejo está “plantado fundo” em nossos corações, quem o plantou? Quem, senão Deus? Satanás? O diabo não é feliz e não tem felicidade para dar. Ele é um mentiroso e um homicida, distribuindo veneno para rato em embalagens atraentes. Ele odeia Deus e a nós, e sua estratégia consiste em nos convencer a procurar a felicidade em todos os lugares, menos na sua única e máxima Fonte.
As boas-novas da felicidade de Deus
Adão e Eva desejaram a felicidade antes de pecar? Eles desfrutaram a comida que Deus proveu por ela ser doce? Eles sentaram ao sol por ele ser cálido, ou pularam na água por ela ser refrescante? E Deus se agradou ou se desagradou quando eles fizeram essas coisas? Nossas respostas vão afetar de maneira dramática o modo como vemos tanto Deus quanto o mundo. Se acreditarmos que Deus é feliz, então faz sentido que uma parte de ser feito à sua imagem e semelhança consiste em ter tanto o desejo quanto a capacidade de ter felicidade.
Infelizmente, seguidores de Cristo rotineiramente dizem coisas como: “Deus não quer que você seja feliz, ele quer que você seja santo”. Mas santidade e felicidade são dois lados da mesma moeda - não ousamos pôr uma contra a outra.
Nem todas as tentativas de alcançar a santidade honram a Deus, assim como nem todas as tentativas de alcançar a felicidade o honram. Os fariseus tinham um desejo ardente de ser santos nos seus próprios termos e para sua própria glória. A resposta de Cristo? “Vocês são do Diabo, o pai de vocês, e querem fazer o que ele deseja” (João 8:44). Deus quer que busquemos a verdadeira felicidade, centrada em Cristo, nele, enquanto Satanás quer que busquemos uma falsa santidade com orgulho auto-congratulatório.
Já outros cristãos dizem: “Deus quer você abençoado, e não feliz”. Ou: “Deus está interessado no seu crescimento, e não na sua felicidade”. Tais declarações até podem soar espirituais, mas não são. A falsa mensagem de que Deus não quer que sejamos felizes realmente promove o que as Escrituras chamam de “boas-novas da felicidade” (Isaías 52:7), ou ela na verdade obscurece o evangelho?
Qual bom pai não quer que seus filhos sejam felizes - que se deleitem em coisas boas? Se dissermos às nossas igrejas e filhos que Deus não os quer felizes, o que estamos lhe ensinando? Que Deus não é um bom Pai? Devemos ficar surpresos quando crianças criadas com essa mensagem se afastam de Deus, da Bíblia e da igreja, para buscar do mundo a felicidade que nosso Criador as programou para querer? Como escreveu Tomás de Aquino: “O homem é incapaz de não desejar ser feliz” (Suma Teológica).
Felicidade em Jesus
Ao criar uma distância entre o evangelho e a felicidade, passamos a mensagem não-bíblica de que a fé cristã é entediante e miserável. Devemos falar contra o pecado mas exibir Cristo como a felicidade pela qual todos anseiam. Se não o fizermos, então nos tornamos parcialmente responsáveis pela visão trágica e mal concebida que o mundo tem de que o cristianismo afasta a felicidade, em vez de trazê-la.
Separar Deus da felicidade e do nosso anseio por felicidade mina o poder de atração de Deus e o apelo da visão de mundo cristã. Quando passamos a mensagem de que “Deus não quer que você seja feliz”, poderíamos muito bem dizer que “Deus não quer que você respire”. Quando dizemos “Pare de querer ser feliz”, é como dizer “Pare de sentir sede”.
As pessoas devem respirar e beber e buscar a felicidade porque foi assim que Deus nos fez. A verdadeira questão é se vamos respirar ar limpo, beber água pura e buscar nossa felicidade em Jesus.