Por Que Grupos Pequenos?/Por Que Grupos Pequenos?

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English: Why Small Groups?/Why Small Groups?

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Por C.J. Mahaney Sobre Grupos Pequenos
Capítulo 3 do livro Por Que Grupos Pequenos?

Tradução por Fabiano Medeiros

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― Você enxerga, mas não observa ―disse Sherlock Holmes a seu leal amigo, dr. Watson.― A distinção é clara. Por exemplo, muitas vezes você enxergou os degraus que dão para este quarto, começando no saguão.
― Muitas vezes.
― Quantas vezes?
― Bem, umas cem vezes.
― Então quantos degraus há?
― Quantos? Não sei.
― Exatamente! Você não observou. Mas você enxergou. É exatamente o que estou tentando demonstrar. Agora, já eu sei que existem dezessete degraus, porque não somente vi, mas observei.[1]

Se você já leu algum dos clássicos contos de detetive de sir Arthur Conan Doyle, sabe que Sherlock Holmes não raro repreende dr. Watson por falta de percepção. Mas Watson não era nenhum tolo. Como eu, e possivelmente como você, ele simplesmente não tinha os dons extraordinariamente acentuados de observação e dedução que Holmes detinha. Ele era capaz de presenciar exatamente as mesmas situações que Holmes sem perceber detalhes importantes. Como declarou Holmes, Watson enxergava... mas não observava.

A propósito... se eu estivesse na pele de Watson, era possível que eu tivesse dado ao famoso detetive uma resposta um tanto diferente. Pelo menos eu teria tentado dizer: “Quantos degraus? Que importa? Contente-se em resolver o caso, meu amigo!”.

Mas importava para Holmes. A observação era uma ferramenta vital a seu ofício. É fundamental também para nós ao examinarmos o assunto dos grupos pequenos. Perceba: muitos de nós enxergam os grupos pequenos à maneira que Watson enxergava a escada. Vemos sem observar. Participamos de um grupo sem entender seu real propósito. Deixamos de compreender por que razão nosso grupo pequeno existe.

E se desconhecemos o propósito de Deus para os grupos pequenos, jamais alcançaremos tal propósito.

Tabela de conteúdo

Os grupos pequenos são elementares, meu caro Watson

Pelo menos desde meados da década de 1970, a igreja estadunidense tem se fascinado com os grupos pequenos. A maior parte das igrejas ao menos fez uma experiência com grupos pequenos, e muitas há que ainda conservam esse ministério em vários formatos.

Segundo minha limitada perspectiva, no entanto, várias dessas igrejas, ao iniciarem seus grupos pequenos, nunca chegaram, depois de algum debate, a uma definição clara do propósito e dos objetivos bíblicos. Algumas chegaram a uma definição, e são dignas de minha consideração. São essas igrejas que sem dúvida têm tido o maior sucesso com seus grupos pequenos. Outras, porém, começaram os grupos simplesmente porque eram populares ―a nova moda da igreja. Naturalmente, essa não é uma razão suficiente. As tendências modernas raramente oferecem fortes fundamentos à igreja. O ministério de grupos pequenos não será eficaz no final das contas se não existir para alcançar objetivos estabelecidos pelas Escrituras.

Muitos grupos pequenos patinaram por falta de um propósito e de um mandato bíblico. Outros grupos foram gravemente prejudicados pela falta de bons materiais sobre o assunto. Não é exagero dizer que a maioria dos livros e guias mais populares sobre o assunto dos grupos pequenos carecem, assustadoramente, de sã doutrina. Não faço essa afirmação de modo leviano. Eu analisei essas obras durante anos, e encontrei maior ênfase na psicologia e na sociologia modernas do que numa teologia bíblica integral.

A maioria desses materiais é bem-produzida. Eles apresentam inúmeras perguntas e ilustrações que incitam a reflexão. Sem dúvida alguma os editores desejam ajudar os cristãos a crescer. No entanto, sem um conteúdo bíblico sólido, esses recursos podem na verdade atrapalhar as intenções de Deus para nós como indivíduos e como grupos.

A despeito dessas preocupações, vejo os grupos pequenos como prioridade para cada cristão e cada igreja. Por quê? Porque as Escrituras constantemente ressaltam a centralidade dos relacionamentos. J. I. Packer concorda, quando diz:

Não deveríamos considerar nossa comunhão com outros irmãos um luxo, um complemento opcional ao exercício das devoções que fazemos em secreto. Comunhão é uma das grandes palavras do Novo Testamento: denota algo vital à saúde espiritual do cristão, e central à verdadeira vida da igreja... A igreja florescerá e os cristãos serão fortes somente quando houver comunhão.[2]

A verdadeira comunhão não se dá facilmente numa multidão de 200 ou 2 000 pessoas. Por essa razão é que creio firmemente que as igrejas precisam criar grupos pequenos em que os cristãos possam desenvolver relacionamentos íntimos, onde possam “conhecer e ser conhecidos”. A igreja que segue um modelo bíblico não apenas “terá” grupos pequenos. Não apenas “oferecerá” grupos pequenos. Antes, será constituída de grupos pequenos.

Como afirmei acima, no entanto, os grupos pequenos somente servirão à igreja se estiverem alicerçados na sã doutrina e sustentados por um claro propósito bíblico. Isso nos leva ao título deste livro: Por que grupos pequenos?

Medite em Mateus 7.24-27. O que Jesus promete àqueles que constroem sobre o alicerce de sua Palavra?

MOMENTOS DA HISTÓRIA DOS GRUPOS PEQUENOS QUE PRECISAM SER LEMBRADOS
Com um sincero desejo de que nosso grupo pequeno tivesse a oportunidade de evangelizar, ano passado sugeri a famigerada “Parada Cantante de 4 de Julho” [data da celebração da independência americana]. Reconheço que a maioria das pessoas estava um tanto relutante (dentre as quais minha esposa, que deveria ter me alertado), embora a garotada tivesse achado que era uma idéia extraordinária. No 4 de Julho vestimos chapéus de festa e coletes vermelhos, brancos e azuis [cores da bandeira americana]. Carregando balões coloridos, marchamos pela vizinhança entregando folhetos e parando nas casas para cantar músicas patrióticas como Já refulge a glória eterna e Yankee doodle dandy.
Como eu estava tão satisfeito com minha idéia tão criativa, não percebi os olhares que minha mulher e outros membros do grupo perceberam à medida que percorríamos as ruas. Aliás, eu não ficaria surpreso se, quando meus vizinhos me virem, digam: “Lá vai aquele doido!”.
― John Masanotti (Mesa, Arizona)

A fim de responder à pergunta do título, permita-me apresentar o que considero quatro alvos claramente bíblicos: santificação gradativa, cuidado mútuo, comunhão e o ministério do Espírito Santo.

Santificação, o que é...e o que não é

Para estudar depois: Leia 1João 1.7. Para que a comunhão seja possível, como os cristãos devem se relacionar uns com os outros?

O teólogo Wayne Grudem oferece uma excelente e concisa definição dessa importante doutrina: “Santificação é a obra gradativa de Deus e do homem que nos torna cada vez mais livres do pecado e semelhantes a Cristo em nosso viver”.[1] Esse é o alvo da vida cristã, não é mesmo? Crescente liberdade em relação ao pecado e crescente semelhança a Jesus. Os grupos pequenos oferecem o ambiente ideal para que isso ocorra.

Nem todo grupo pequeno, no entanto, está decidido a cumprir esse propósito. Alguns têm por prioridade a socialização e não a santificação. Outros se destacam em ter seus membros falando aberta e francamente sobre tudo e ouvindo de forma empática e sensível, mas jamais combatem o pecado ou desafiam os membros à mudança.

Aí está algo inaceitável. O grupo com um propósito não-bíblico pode mais causar danos que contribuir com benefícios. Os grupos que se reúnem sem o propósito definido pelas Escrituras ―buscar o desenvolvimento do caráter― terão a tendência de reforçar o pecado e o egoísmo já presentes em nós, em vez combatê-los. Nenhum de nós precisa ter esses pecados reforçados. Antes, precisamos ser instigados e desafiados pelos outros a fim de que possamos mudar para a glória de Deus.

Gostaria de fazer aqui uma inserção muito importante antes de prosseguir. Já conversei com muitos cristãos que, quer percebam, quer não, desconhecem a diferença entre a doutrina da santificação e a doutrina da justificação. Uma vez que essa confusão pode gerar conseqüências espirituais graves, vou gastar um instante para distinguir entre essas duas verdades de fundamental importância. Por favor, acompanhe-me de perto ―o restante deste livro (e o resto de sua vida espiritual!) depende de uma nítida compreensão dessas duas doutrinas.

Se alguém em seu grupo chamasse sua atenção para algo que essa pessoa considera ser um pecado em sua vida (sem antes ter pedido permissão por escrito para fazê-lo), como você reagiria?

  • Eu ficaria ofendido sem o declarar.
  • Ficaria ofendido e declararia isso à pessoa.
  • Eu me desmancharia em lágrimas.
  • Chamaria a atenção dela para os pecados inegáveis da vida dela.
  • Agradeceria pelo cuidado e pela preocupação demonstrados por ela.

Acima citei a definição de santificação sugerida pelo dr. Grudem. A doutrina da justificação é definida por ele da seguinte forma:

Justificação é o ato de Deus, legal e imediato, pelo qual ele 1) considera nossos pecados perdoados, tendo-nos sido outorgada a justiça (ou retidão) de Cristo e 2) nos declara justos a seus olhos.[1]

A justificação diz respeito à posição do cristão diante de Deus. No momento em que você nasceu de novo, Deus o justificou. Com base na obra consumada de Cristo, Deus considerou seus pecados perdoados e o declarou justo.

Medite em Romanos 5.1,2. Em três palavras, resuma os benefícios da justificação que você acredita terem sido apresentados nessa passagem.

A santificação, por sua vez, refere-se a nossa prática diante de Deus. Trata-se do processo constante de lutar contra o pecado e se tornar mais semelhante e Jesus. Embora a santificação seja a evidência e o alvo de nossa justificação, jamais podemos considerá-la o fundamento de nossa justificação. É nesse ponto que muitos cristãos entram em confusão. Tentam adquirir aquilo que já lhes foi dado como dom gratuito. Como declarou Martinho Lutero, “A única contribuição que damos a nossa justificação é o pecado que Deus tão graciosamente perdoa”. Existem outras distinções fundamentais. Justificação diz respeito a ser declarado justo; santificação diz respeito a se tornar mais justo. A justificação é imediata; a santificação é gradativa. A justificação está concluída no momento em que Deus nos declara justos. Não ocorre em estágios. A santificação, no entanto, é um processo que dura enquanto vivemos. Por fim, embora cada cristão tenha o mesmo grau de justificação, variamos no que diz respeito à santificação. Você jamais será mais justificado do que já é neste exato momento, porque a justificação é um ato de Deus. Mas, pela graça de Deus, você se tornará cada vez mais santificado à medida que cooperar com o Espírito de Deus no processo de mudança.

A glória do evangelho é Deus ter declarado que os cristãos, apesar de seus pecados, estão num bom relacionamento com ele. Nossa grande tentação e erro, porém, é tentar importar o caráter para dentro da obra de graça de Deus. Quão facilmente caímos na armadilha de supor que somente nos mantemos justificados à medida que haja fundamentos em nosso caráter para essa justificação. Mas o ensino de Paulo é que nada que façamos jamais contribui para nossa justificação.
― Sinclair Ferguson [1]

Embora seja importante distinguir entre justificação e santificação, essas duas doutrinas são inseparáveis. Deus não justifica alguém sem santificá-lo também. A santificação não é opcional. Se alguém foi verdadeiramente justificado, isso se evidenciará por meio de uma obra gradual de santificação em sua vida. Os grupos pequenos contribuem para essa obra extraordinária e gradativa da graça em nossa vida.

Não tente isso sozinho

Medite em Hebreus 10.24,25. Que benefícios você tem extraído de outras pessoas à sua volta que te “impulsionam” na fé?

Ainda que continue a ser de fundamental importância que assumamos a responsabilidade pela nossa santificação, ela não se obtém isoladamente da igreja local. As Escrituras ensinam com clareza que a santificação deve se dar na igreja local ―e os grupos pequenos contribuem de modo inestimável nesse processo. Examine essas refelxões perspicazes do teólogo Bruce Milne:
A vida cristã é inescapavelmente coletiva. O ensinamento a respeito da santidade cristã não raras vezes têm se focado quase exclusivamente no “homem santo” ou na “mulher santa”, negligenciando-se a preocupação bíblica com o “povo santo” ou a “santa igreja”. O ideal do “cristão ‘omnicompetente’”, capaz de lidar com cada desafio espiritual e levar uma vida de vitorioso invicto contra o pecado e o diabo, sem dúvida produziu exemplos notáveis de caráter cristão; no entanto, como cada conselheiro cristão sabe, essa ênfase tem levado muitos a uma luta solitária que acaba em desespero e desilusão, ou, o que é ainda pior, na hipocrisia de uma vida pautada por duplos padrões.
Toda essa visão precisa ser reexaminada. Na essência, o ensino neotestamentário sobre a vida cristã, incluindo as importantes seções que tratam da santidade, ocorre em cartas dirigidas a grupos, a igrejas. Todas as principais exortações para que tenhamos uma vida santa estão no plural: “nós”, “vocês” (Rm 6.1-23; Gl 5.13―6.10; Ef 4.17―6.18) [...] De semelhante modo, todas as promessas neotestamentárias de vitória são coletivas (1Co 15.57; 1Jo 5.4; Ap 15.2). Em outras palavras, os apóstolos visualizavam a vida cristã e a santificação cristã no ambiente de uma comunidade de amor e cuidado. [1]

Pela graça de Deus, experimentei o que Milne apresenta acima. Muitas das mudanças mais significativas em minha vida cristã se deram na comunhão da igreja local ―especificamente, nos grupos pequenos. Em muitas ocasiões, membros do meu grupo pequeno, com amor (mas firmeza), mostraram o meu pecado e continuaram me acompanhando à medida que eu buscava mudar. Claro que o Espírito Santo é diretamente responsável por me convencer dessas coisas, mas mal posso suspeitar onde estaria sem esses amigos fiéis. Deus os usou vez após vez para tratar de pecados em minha vida que eu jamais teria percebido se estivesse isolado.

Se há algo revelador que me faz parar para refletir com seriedade, é a observação de pessoas que escolheram não participar de uma igreja local ou de grupos pequenos. Essas pessoas têm demonstrado uma inegável falta de crescimento. O que é pior: nem têm consciência de seu estado espiritual e de sua estagnação.

Para estudar depois: De acordo com Efésios 4.15, quais são os dois ingredientes que precisam estar presentes em nossa comunicação com outros cristãos?

Os grupos pequenos oferecem o incentivo, a correção e a prestação de contas que nos impedem de ser levados pela corrente. Por mais importante que seja cultivar um relacionamento pessoal com Deus pela prática das disciplinas espirituais, precisamos das pessoas para nos ajudar em nossa busca pela santificação.

É tanto insensato quanto anticristão supor que faremos muito progresso em nossa santificação se nos isolarmos da igreja visível. De fato, é comum ouvir as pessoas declarar que não precisam se unir à igreja para serem cristãs. Afirmam que a devoção delas é pessoal e particular, não institucional ou coletiva. Esse não é o testemunho de grandes santos da história; é a confissão de tolos.
―R. C. Sproul[1]

Se você tem um fervor por experimentar transformação ―e deve ser assim com todo cristão―, você então ficará feliz quando desafiado a crescer. Isso não deveria ser encarado como algo anormal, ou como o domínio daqueles com um nível incomum de maturidade. Deve ser encarado como o processo normal que se segue ao novo nascimento, expresso num desejo de se conformar à imagem de Jesus Cristo. Devemos estar comprometidos com a mudança de modo sério e natural.

Onde está o seu profeta Natã?

ESSES CAMARADAS NÃO BRINCAVAM EM SERVIÇO!
No começo do século 18, Samuel Wesley (irmão de John Wesley) formou uma sociedade religiosa com reuniões regulares de grupos pequenos. Denominados “Bandas”, esses grupos que reuniam membros de mesmo sexo tinham por objetivo facilitar a mútua prestação de contas. Todos os que desejassem participar deviam responder às perguntas abaixo como evidência de justificação e num desejo complementar de crescer em Deus: * Você tem paz com Deus por meio do Senhor Jesus Cristo? * Você deseja que suas faltas sejam abordadas? * Você deseja que cada um de nós lhe revele, vez por outra, tudo o que esteja em seu coração a respeito de você? * Avalie! Você desejo que lhe digamos tudo o que pensamos, tudo o que tememos, tudo o que ouvimos a seu respeito? * Você deseja que, ao fazê-lo, nos aproximemos o máximo possível, coloquemos o dedo na ferida e vasculhemos o seu coração até o fundo? * É seu desejo e intenção aqui e em todas as demais ocasiões estar inteiramente aberto a ponto de revelar tudo o que está em seu coração sem exceção, sem disfarces, sem reserva?

Depois de se filiar, podiam-se fazer as perguntas acima aos membros do grupo “com a freqüência que a ocasião exigir”, ao passo que as perguntas abaixo eram feitas na própria reunião:

* Que pecado não-oculto você cometeu desde nossa última reunião? * Com que tentações você deparou? * Como você foi liberto dessas tentações? * O que você pensou, disse ou fez que lhe deixou dúvida de ser ou não um pecado? [1]

Caim, quando questionado por Deus sobre o assassinato de Abel, tentou negar que fosse o responsável por seu irmão (Gn 4.9). Mas ele era. Todos somos. Temos a responsabilidade de ajudar nossos irmãos e irmãs a seguirem a vontade de Deus. O termo comum que denota esse ato é “prestação de contas”. É um meio específico em que os relacionamentos nos ajudam a obter a santificação.

Charles Swindoll disse: “Prestação de contas inclui abrir a vida para alguns confidentes cuidadosamente selecionados e de confiança, os quais falem a verdade ―com o direito de examinar, inquirir, aprovar e dar conselho”. Don Cousins explicou assim a prestação de contas: “Permitir que alguém lhe faça perguntas pungentes, às vezes incômodas, com o objetivo de o desafiar ao crescimento”.

A vida do rei Davi e a de seu filho Salomão ilustram a importância da prestação de contas. Quando Davi cometeu adultério com Bate-Seba e lhe encomendou o assassinato do marido, Urias, ele foi desafiado ―levado a prestar contas ou dar satisfações― pelo profeta Natã (v. 2Sm 11 e 12). Conseqüentemente, ele se arrependeu de seu pecado e recebeu o perdão de Deus. O que Davi teria se tornado sem Natã em sua vida?

Já Salomão, ao que tudo indica, não tinha ninguém como Natã que o levasse à prestação de contas quando ele começou a desobedecer às ordens de Deus. No final, ele foi severamente disciplinado por Deus por causa de seu pecado. O que Salomão teria se tornado se tivesse alguém como Natã em sua vida? Uma pergunta de ainda maior aplicação a você seria: “O que você se tornará sem um Natã em sua vida?”.

Basta você analisar o que disse o próprio Salomão: “É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se!” (Ec 4.9,10). O homem falava de experiência própria. Se Salomão ―o homem mais sábio (depois do Senhor Jesus) que jamais existiu― precisava de prestação de contas, então todos precisamos, da mesma forma.

Para estudar depois: O trágico relato do declínio espiritual de Salomão acha-se em 1Reis 11.1-3.

Existe alguém que possa questionar (e de fato questione) suas motivações e assim peça explicação de seus atos quando necessário? É a esse alvo que queremos caminhar nos grupos pequenos. Assim como as “Bandas” de Wesley (v. “Esses camaradas não brincam em serviço!”, p. 7?.), queremos que as reuniões de nosso grupo pequeno cumpram Provérbios 27.17: “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro”.

Espelho, espelho meu...

Os relacionamentos são um dos meios vitais para a santificação; a Palavra de Deus é outro. Nada nos transforma mais eficazmente do que a aplicação da Escritura. Tomo consciência disso toda vez que prego. Que responsabilidade, pois sempre me põe no meu lugar e me leva a pensar! E sei também, contudo, que as minhas palavras ―por mais apaixonadamente que eu as comunique ou por mais persuasivas que soem― muitas vezes não darão fruto. Isso é porque não basta simplesmente ouvir a Palavra de Deus. Ela somente dá frutos quando a aplicamos. E, como veremos em instantes, os grupos pequenos são um ambiente perfeito para a aplicação da Palavra de Deus.

O livro de Tiago utiliza uma ilustração engraçada para demonstrar a importância da aplicação:

Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos. Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência (1.22-24).

Não conheço ninguém que acorde pela manhã, olhe no espelho e depois saia de casa sem fazer algumas mudanças estratégicas. Aliás, na nossa maioria, passamos boa parte do tempo diante do espelho cada manhã ―avaliando os prejuízos da noite anterior e fazendo os reparos necessários. De acordo com um artigo que li certa vez na revista americana Newsweek, o tempo de vida típico de um homem incluirá um total de sete anos no banheiro. Boa parte desse tempo será usada para nos olharmos no espelho à medida que tentamos com cada vez menos sucesso reduzir os prejuízos.

Mulheres, vocês podem provavelmente acrescentar perto de três anos a essa soma, arredondando para uma década justinha ―e talvez ainda seja pouco. Pode acreditar. Com todo o respeito que eu possa ter por minha mulher e três filhas, tenho provas irrefutáveis. Houve um período em minha vida, quando minhas filhas eram pequenas, que eu podia a qualquer momento iniciar espontaneamente qualquer atividade familiar. Agora, raramente conseguimos sair para tomar sorvete sem que todas primeiro façam uma escova ou chapinha!

(Que bom que as garotas apreciam meu senso de humor. Nenhum pai poderia ser mais orgulhoso da paixão que elas têm por Deus.)

Medite em Hebreus 4.1,2. Uma vez que você aplicar a Palavra de Deus em sua vida, perceberá que ela tem um poder singular de o transformar!

Você não ficaria ao menos um pouco preocupado se conhecesse alguém que se levanta todo dia, se olha no espelho e sai sem fazer nenhum ajuste? Por quanto tempo essa pessoa ficará apresentável? Quanto tempo você esperaria para lhe oferecer um pente? É uma cena absurda... não é mesmo? De acordo com Tiago, é exatamente o que ocorre toda vez que abordamos a Escritura (o espelho) e a deixamos sem fazer nenhuma mudança.

A pessoa que rotineiramente se olha no espelho sem fazer alterações não entende o propósito do espelho. Semelhantemente, a pessoa que lê ou ouve a Palavra de Deus sem aplicar o que leu ou ouviu obviamente não compreende o propósito da Escritura.

O simples fato de ler sua Bíblia e escutar uma boa pregação não o tornará como Jesus. Embora cada uma dessas disciplinas seja essencial para a vida cristã e cada uma seja um meio vital para recebermos a graça, nenhuma delas se basta em si mesma. Aliás, o conhecimento bíblico pode ser enganoso quando não se faz seguir da obediência. O propósito do espelho é levar à mudança. O propósito da Escritura é levar à obediência e produzir mudança definitiva em nossa vida.

Aqueles que meramente ouvem a Palavra, domingo após domingo, mas não a aplicam em sua vida experimentarão um grau cada vez maior de auto-engano em lugar de uma santificação gradativa. E não é interessante que se enganem a si mesmos somente? Todos os demais sabem bastante bem que estão meramente ouvindo e não obedecendo, não amadurecendo. É tão evidente para essas pessoas quanto seria se amanhã de manhã acordássemos, nos olhássemos no espelho e depois saíssemos sem nem sequer tocar no espelho, no sabonete ou na pasta de dente.

Você consegue identificar um versículo ou uma passagem da Bíblia que o incomodou para mudar? Em poucas palavras, resuma no espaço abaixo o que esse versículo ou passagem diz.

Mas o que isso tem que ver com este livro? Os grupos pequenos não têm por objetivo prioritário o ensino e a pregação; tais funções são da responsabilidade de seu pastor. Antes, os grupos pequenos têm por objetivo a aplicação. Eles proporcionam um espaço em que os cristãos podem aplicar a verdade de Deus de modo pessoal e prático. Para podermos aplicar com eficácia a Palavra de Deus, no entanto, precisamos primeiro interpretá-la com exatidão.

Independentemente de quão amplo o conhecimento bíblico que alguém detenha, ou quão impressionante sua capacidade de retenção, tais qualidades não passarão de auto-engano se não restar nada além disso... O que conta não é o que se sabe, mas o que se pratica. O verdadeiro conhecimento é o prelúdio da ação, e no fim de tudo o que conta é a obediência à palavra.
―Peter Davids[1]

Alguns grupos pensam que “estudo bíblico” significa uma troca de opiniões e preferências pessoais. Aí está um entendimento equivocado. Não nos reunimos para troca de opiniões; reunimo-nos para aprender a verdade de Deus. O primeiro passo é entender qual era a intenção original do autor quando escreveu para seu público original. Somente então podemos começar a aplicar essa verdade a nossa vida, permitindo que a Palavra de Deus nos controle e nos transforme para a glória de Deus. (Veja nas “Sugestões de Leitura”, na p. 16?, informações sobre um livro extraordinário que detalha os métodos de estudo das Escrituras.)

À medida que seu grupo pequeno se olhar no espelho da Palavra de Deus, todos deveriam fazer ajustes. A cada ano vocês deveriam ser capazes de olhar para trás e identificar áreas específicas em que vocês cresceram nos últimos doze meses. Essa é a diferença que a participação em um grupo pequeno deve fazer em nossa vida. Isso, e nada menos que isso.

Chamados para o cuidado mútuo

Na igreja em que sirvo, chamamos os nossos grupos pequenos “grupos de cuidado”. Não é um título originalíssimo, mas expressa outro propósito, secundário, dos grupos pequenos. Assim como o primeiro é proporcionar um ambiente onde cada membro possa buscar a santificação, o segundo é proporcionar um espaço em que cada membro possa cuidar e ser cuidado. Esse princípio brota diretamente das páginas das Escrituras:

... enquanto os que em nós são decorosos não precisam ser tratados de maneira especial. Mas Deus estruturou o corpo dando maior honra aos membros que dela tinham falta, a fim de que não haja divisão no corpo, mas, sim, que todos os membros tenham igual cuidado uns pelos outros. Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele. (1Co 12.24-26)

Os cristãos sempre se caracterizaram pelo amor sacrificial de uns para com os outros. Temos a ordem clara de cuidarmos uns dos outros sem egoísmo, sem favoritismo. “Levem os fardos pesados uns dos outros”, escreveu Paulo, “e, assim, cumprama a lei de Cristo.” (Gl 6.2).

Numa reunião dominical, nossa capacidade de manifestar esse tipo de cuidado fica obviamente limitada. Se estou no meio da mensagem e observo que alguém começou a chorar na sétima fileira de bancos, não posso parar de pregar para ministrar à pessoa. Eu gostaria, mas isso não serviria a toda a igreja. No ambiente de um grupo pequeno, entretanto, não estamos tão limitados. Ali podemos não somente cuidar, mas ser pessoal e especificamente cuidados. Ninguém precisa ficar de fora ou ser negligenciado.

É importante salientar que o cuidado mútuo e relacionamentos próximos não dependem do tamanho da igreja. Muitos supõe que seja impossível ter relacionamentos próximos numa igreja grande. Também imaginam que numa igreja pequena, os relacionamentos próximos se desenvolverão automaticamente. Ambos os pressupostos são infundados. Os relacionamentos podem florescer numa igreja grande... e estar ausentes de uma igreja pequena.

Para estudar depois: 1João 3.16 define o amor como uma disposição de entregar a vida uns pelos outros. De que maneira especialmente você poderia entregar sua vida por alguém em seu grupo pequeno?

A capacidade de se criarem relacionamentos fortes não depende do tamanho da igreja. Antes, depende do entendimento e da prática doutrinários das pessoas que constituem a igreja. Os relacionamentos florecerão em qualquer igreja, não importa o tamanho, desde que sejam ressaltados como exigência bíblica.

Na minha igreja, quem nos visita por primeira vez em geral se intimida com o nosso tamanho. Entendo por que se sentem assim. Mas, como sempre digo a todos: “Quanto mais tempo você estiver envolvido nesta igreja, menor ela se tornará para você”. É e fato! Uma igreja grande não precisa sacrificar relacionamentos de qualidade ―mas com certeza precisa oferecer os grupos pequenos e oportunidades de serviço que dão concretização ao cuidado mútuo.

Redefinindo comunhão

Para que servem os grupos pequenos? A terceira razão é comunhão. Muitos grupos pequenos usam essa palavra sem entender o que de fato significa. Conseqüentemente, deixam de experimentar uma das mais fundamentais experiências que um grupo tem a oferecer. No próximo capítulo, comunhão será examinada com profundidade; então, tentarei me limitar a apenas alguns comentários sobre esse assunto de cabal importância.

Comunhão significa participar juntos, ou comunicar coisas que temos em comum. O maior denominador comum que temos como cristãos é nosso relacionamento com Deus Pai, por meio de Deus Filho, por Deus Espírito Santo. Aí está o conteúdo da verdadeira comunhão. Nosso relacionamento com Deus deve ser o tema principal da comunicação dentro dos grupos pequenos, à medida que participamos juntos para cumprir esse propósito na igreja local.

Há um problema, porém. O grau de nosso relacionamento com Deus determina o grau de comunhão possível uns com os outros. Assim, a fim de experimentarmos a verdadeira comunhão, precisamos manter um relacionamento apaixonado com Deus e assim experimentá-lo. Talvez essa seja a razão por que é tão raro encontrarmos uma comunhão entre irmãos conforme definida pela Bíblia.

Comunhão não pode ser apenas mais um sinônimo de atividades sociais. Eu gosto muito de gastar tempo com meus amigos para assistir a algumas partidas de beisebol ou futebol americano. Isso [ou futebol!] pode bem fazer parte da vida saudável de um grupo pequeno... mas não é comunhão. E tampouco você tem comunhão debatendo a mais recente opinião de economistas, comentaristas políticos ou sociólogos. Atividades sociais não podem ter o mesmo status de comunhão, nem ser com ela confundidas. São coisas inegavelmente distintas. Nada se compara à comunhão que experimentamos quando adoramos juntos, estudamos e aplicamos as Escrituras juntos, exortamos [encorajamos] e corrigimos uns aos outros, e comunicamos uns aos outros o que no momento estamos experimentando de Deus. Nada. As atividades sociais podem proporcionar um ambiente para a comunhão, mas são apenas o ponto de partida ―não o lugar onde nos detemos.

Para estudar depois: Que teste você encontra em Efésios 4.29 para as interações entre os cristãos?

Quando gasto um período longo com outro cristão, meu principal desejo é que experimentemos comunhão. Desejo ouvir de seu relacionamento com Deus, e sobre como Deus está se revelando a ele. Desejo também comunicar como estou experimentando Deus, e transmitir uma renovada paixão por Deus.

É esse o seu desejo? Se alguém passasse uma tarde com você, será que essa pessoa se despediria com um renovado entendimento ou paixão por Deus? Se não, você precisa mudar.

Com base na definição do autor, quais desses temas de bate-papo conduziriam à verdadeira comunhão?

  • O cara que “se deu bem” na sua última pescaria.
  • Detalhes de como você se tornou um cristão.
  • A passagem da Escritura que você leu de manhã.
  • O site que você visitou mais recentemente na Internet.
  • Terrorismo.
  • As dificuldades de criar uma criança voluntariosa.
  • O filme mais recente a que você assistiu.
Com essa definição de comunhão em mente, analise seu grupo pequeno. Vocês estão experimentando comunhão? Quanto tempo da reunião vocês gastam falando do relacionamento que cada um tem com Deus naquele momento? Quando se encontram fora das reuniões, com que freqüência a conversa de vocês gira em torno da obra de Deus na vida de vocês? Se vocês estão mais se descontraindo juntos do que se relacionando espiritualmente, não estão desfrutando a verdadeira comunhão bíblica ―e têm algo que buscar e por que ansiar.

Experimentando e manifestando os dons do Espírito Santo

Deus concedeu dons espirituais a todo cristão (1Co 12.1-7). Ele quer que os empreguemos. Mas numa igreja, seja o tamanho que for, é simplesmente inviável que todos os membros empreguem esses dons numa manhã de domingo. Podem num grupo pequeno, porém. Nesse ambiente menor e mais pessoal, cada um pode servir de acordo com a dotação do Espírito Santo. Essa é a quarta e última razão por que os grupos pequenos existem.

Alguns cristãos definem a obra do Espírito em termos bastante estritos, causando um bocado de controvérsias desnecessárias. O professor de seminário Gordon Fee, que recentemente concluiu um estudo importante sobre os escritos de Paulo a respeito do Espírito Santo, convida a uma abordagem diferente. Preste bastante atenção a esta citação de sua obra God’s empowering presence [A presença capacitadora de Deus].

Em Paulo, não se deve entender “poder” meramente em termos daquilo que é milagroso... Paulo entendia o poder do Espírito no sentido mais amplo possível.[1]
Sou totalmente a favor do milagroso e do extraordinário, mas é fácil deixar essas coisas ocuparem o primeiro lugar. Nossos grupos pequenos precisam estar acostumados às variadas operações do Espírito. Por meio de uma combinação de estudo doutrinário, experiência e prática, deveríamos buscar entender o poder do Espírito “no sentido mais amplo possível”.

No começo de cada dia devemos fazer um esforço deliberado de reconhecer a pessoa do Espírito Santo... Devemos continuar a caminhar pelo dia afora num relacionamento de comunicação e de comunhão com o Espírito, mediado por nosso conhecimento da Palavra, descansando em cada ofício da função de conselheiro do Espírito Santo conforme mencionados nas Escrituras. Devemos reconhecê-lo como o iluminador da verdade e da glória de Cristo. Devemos olhar para ele como professor, guia, santificador, doador de certeza de filiação e posição diante de Deus, ajudador na hora da oração, e aquele que direciona e capacita o testemunho.
―Richard Lovelace[2]

Recomendo que se inicie com um estudo completo das Escrituras a respeito da pessoa e da obra do Espírito Santo. Isso inclui buscar definir, identificar e cultivar os vários dons do Espírito alistados em 1Coríntios 12.8-10 e 28, Efésios 4.11, Romanos 12.6-8 e 1Pedro 4.11. Eu também recomendaria que você estebeleça para seu grupo o mesmo alvo que a Escritura estabelece: chegar a um ponto em que cada membro tem condições de servir aos outros e glorificar a Deus com o dom exclusivo que foi dado pelo Espírito. Todos devem trazer algo para a festa!

Gostaria de fazer algumas sugestões com base na minha experiência e no meu estudo da Escritura. Em primeiro lugar, a fim de experimentar e expressar os dons do Espírito, precisamos desenvolver o hábito de ter comunhão com o Espírito Santo. Paulo conclui sua segunda carta à igreja de Corinto dizendo: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês” (2Co 13.14). A comunhão do Espírito é para você uma realidade tão presente quanto o amor do Pai e a graça de Cristo?

Em segundo lugar, precisamos evitar entristecer o Espírito. Aprecio o que Jerry Bridges diz a esse respeito:

É muito instrutivo que seja no contexto das relações interpressoais que Paulo escreve esta advertência: “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção” (Ef 4.30). Ora, todo pecado entristece a Deus, e Paulo poderia ter inserido essa advertência no contexto da imoralidade sexual (Ef 5.3-5) ou da mentira e do roubo (Ef 4.25,28). Mas ele a situa no contexto de pecados que cometemos com quase nenhum senso de vergonha ou culpa. A mensagem deveria estar clara. Deus se entristece com nossos pecados “refinados” tanto quanto se entristece com a imoralidade sexual e a desonestidade. Não estou sugerindo que estar irritadiço com o cônjuge é a mesma coisa que cometer adultério. Estou dizendo que estar irritadiço com o cônjuge é pecado, e que todos os pecados entristecem a Deus e deveriam nos entristecer.[1]

Quando pecamos, precisamos responder com rapidez à presença do Espírito que nos convence desse pecado; caso contrário, o entristeceremos e romperemos a comunhão com ele.

Em terceiro lugar, precisamos evitar extinguir o Espírito. Nesse caso, a melhor defesa é um bom ataque. Você está desenvolvendo os dons que Deus colocou em você? Quando ele o move para usar esses dons a serviço de outros, você obedece prontamente? Caso contrário, você está extinguindo o Espírito.

A reunião da semana que passou é história. A reunião de hoje à noite exige uma nova visitação do Espírito de Deus. Se não for sua presença, não há nenhuma razão para se reunir. Cada um de nós tem a responsabilidade de buscar o Espírito Santo e ser sensível ao que ele deseja realizar no grupo quando nos reunimos. Wayne Grudem escreve:

Medite em 1Tessalonicenses 5.19.Saber que nossas atitudes e ações podem extinguir a atividade do Espírito dentro do grupo não é algo que nos põe em nosso lugar e nos leva a pensar na seriedade disso?

Precisamos reconhecer que as atividades do Espírito Santo não devem ser desvalorizadas, e elas não ocorrem simplesmente, de forma automática, entre o povo de Deus. Antes, o Espírito Santo reflete o prazer ou desprazer de Deus em relação à fé e à obediência ―ou à descrença e à desobediência― do povo de Deus... O Espírito Santo dá evidências mais fortes ou menos fortes da presença e da bênção de Deus, de acordo com nossa resposta a ele.[1]

A expectativa serve de contexto para o dom do Espírito Santo... As pessoas que esperam que algo aconteça são especiais canditatos para receberem o Espírito Santo... Sempre que as pessoas esperaram pouco e manifestaram estarem satisfeitas com sua atual situação espiritual, receberam pouco, se é que receberam alguma coisa. Mas aqueles que esperam receber tudo o que Deus tem para dar, aqueles que desejam grandes coisas de Deus, aqueles que ficam na ponta dos pés de expectativa ―são eles que Deus tem prazer em abençoar. Espere um milagre, e os milagres começam a acontecer!
―J. Rodman Williams[2]

Qual é a resposta que você dá a ele diariamente? Durante a reunião do grupo pequeno? Até certo ponto, essa resposta determinará quanto se sentirá a presença dele no meio do grupo. Vamo-nos propor a evitar entristecer ou extinguir o Espírito, de modo que possamos experimentar a força plena de sua presença e prazer.

Em quarto lugar, devemos chegar às reuniões de nosso grupo pequeno esperando que o Espírito esteja poderosamente presente. Isso é essencial. Que diferença faz a expectativa quando começamos nossa reunião de grupo pequeno! Pode ser a diferença entre um encontro com Deus que transforma vidas e instantes de superficialidade na companhia uns dos outros sem nenhum benefício imediato ou eterno. Quando cada membro vem esperando que o Espírito Santo revele e renove, juntos experimentamos o poder da era vindoura.

Por isso temos um compromisso com os grupos pequenos. Por sua graça, estamos sendo transformados juntos na imagem de Jesus Cristo por meio da santificação gradativa. Juntos experimentamos cuidado mútuo, comunhão verdadeira e o ministério do Espírito Santo. Não mais enxergamos somente ―observamos. Não freqüentamos apenas ―participamos. Não mais simplesmente consumimos de forma egoísta ―mas estamos concretizando o propósito de Deus para nossas vidas à medida que contribuímos para a edificação da igreja local.

Medite em Salmos 42.1. Este é um versículo maravilhoso para ler a caminho de sua próxima reunião de grupo pequeno.

E você achava que era por causa dos comes-e-bebes!!

SESSÃO DEBATE

1. Qual o seu nível de observação? Sem olhar nem confirmar as informações, tente responder a estas perguntas:

2. De acordo com o autor, quais são os quatro objetivos comuns a qualquer grupo pequeno?

3. De forma bem simples, como você descreveria a diferença entre justificação e santificação?

4. Por que a vida cristã é “inescapavelmente coletiva”?

5. Que papel os cristãos desempenham em nossa santificação gradativa?

6. Você tem um Natã ―alguém a quem você preste contas de sua vida?

7. Diga como você respondeu à pergunta 2, na página 9?.

8. Por que alguns hesitam em compartilhar com o grupo suas necessidades pessoais?

9. O seu grupo experimenta comunhão de modo constante?

10. Existe algo que você mesmo possa fazer para aumentar o poder e a presença do Espírito Santo nas reuniões de seu grupo pequeno?

SUGESTÕES DE LEITURA

BRIDGES, Jerry. The discipline of grace. Colorado Springs: NavPress, 1994.

MAHANEY, C. J. & BOISVERT, Robin. How can I change? Gaithersburg: Sovereign Grace Ministries, 1993.

MCCARTNEY, Dan & CLAYTON, Charles. Let the reader understand: a guide to interpreting and applying the Bible. Wheaton: Victor, 1994.