O Senhor, um Deus Compassivo e Misericordioso
De Livros e Sermões BÃblicos
Por John Piper
Sobre A Graça de Deus
Uma Parte da série Hallowed be Thy Name: Eight Sermons on the Names of God
Tradução por Rosane Andrade
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Êxodo 34:1-10
Disse o Senhor a Moisés: “Talhe duas tábuas de pedra semelhantes às primeiras, e nelas escreverei as palavras que estavam nas primeiras tábuas que você quebrou. Esteja pronto pela manhã para subir ao Monte Sinai. E lá mesmo, no alto do monte, apresente-se a mim. Ninguém poderá ir com você nem ficar em lugar algum do monte; nem mesmo ovelhas e bois deverão pastar diante do monte.” Assim Moisés lavrou duas tábuas de pedra semelhantes às primeiras e subiu ao Monte Sinai, logo de manhã, como o Senhor lhe havia ordenado, levando nas mãos as duas tábuas de pedra. Então o Senhor desceu na nuvem, permaneceu ali com ele e proclamou o seu nome: o Senhor. E passou diante de Moisés, proclamando: "Senhor, Senhor, Deus compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e de fidelidade, que mantém o seu amor a milhares e perdoa a maldade, a rebelião e o pecado. Contudo, não deixa de punir o culpado; castiga os filhos e os netos pelo pecado de seus pais, até a terceira e a quarta gerações" Imediatamente Moisés prostrou-se, rosto em terra, e adorou. E ele disse: “Senhor, se de fato me aceitas com agrado, acompanha-nos o Senhor. Mesmo sendo esse um povo obstinado, perdoa a nossa maldade e o nosso pecado e faze de nós a tua herança.” E o Senhor disse, “Faço com vocês uma aliança. Diante de todo o seu povo farei maravilhas jamais realizadas na presença de nenhum outro povo do mundo. O povo no meio do qual você habita verá a obra maravilhosa que eu, o Senhor, farei.”
Êxodo 34 é A Prova da Misericórdia de Deus
O simples fato de que Êxodo 34 existe é a prova de que Deus é um Deus de misericórdia. Esta é a segunda vez que Deus encontrou Moisés no monte para fazer uma aliança com o povo de Israel. Quando Moisés desceu do monte pela primeira vez, o povo havia se apaixonado pelas obras de suas próprias mãos. Eles estavam adorando um bezerro de ouro.
A aliança que Deus fez com o povo no monte, na primeira vez, foi assim: “Agora, se me obedecerem fielmente e guardarem a minha aliança, vocês serão o meu tesouro pessoal dentre todas as nações. Embora toda a terra seja minha, vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êxodo 19:5-6) Mas, em vez de descansar no valor de Deus, o povo ficou inquieto e ansiava pelo valor de sua própria obra. Então eles trocaram a glória do Deus invisível pela imagem de sua própria glória—um bezerro de ouro.
Eles estavam descrentes no Mar Vermelho. Eles tinham murmurado contra Deus no deserto. Assim, esta rebelião com o bezerro de ouro deveria ter acabado com a paciência de Deus. O suficiente com este povo de dura cerviz!
Mas aqui estamos novamente no monte, aguardando a revelação de Deus. O povo não foi destruído. O simples fato desta reunião é a prova de que Deus é misericordioso.
Deus Proclama Seu Nome a Moisés
Mas há algo ainda mais surpreendente do que o simples fato de que Deus está disposto a encontrar Moisés novamente e renovar a aliança: ou seja, o conteúdo do que Ele revela. Êxodo 34:5 diz “Então o Senhor desceu na nuvem, permaneceu ali com Moisés e proclamou o seu nome: o Senhor.”
Deus clama no versículo 6: "Senhor! Senhor!” E então ele explica o significado desse nome em palavras cuja doçura nunca foi superada, nem mesmo no Novo Testamento: “Um Deus compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e de fidelidade, que mantém o seu amor a milhares e perdoa a maldade, a rebelião e o pecado.”
Dois Problemas na Autodescrição de Deus
Deus é O SENHOR—o Deus que é, o Deus que é livre, o Deus que é todo poderoso e o Deus que é misericordioso. Há uma conexão entre Sua existência absoluta e Sua liberdade soberana e Sua onipotência e misericórdia transbordante. Mas antes de nos concentrarmos nisso, há dois problemas para lidar neste texto:
1. Quem Deus perdoa e não perdoa
Primeiro, depois de declarar o fato de que Deus "perdoa a maldade, a rebelião e o pecado" (v. 7), o texto continua a dizer: "Contudo, não deixa de punir o culpado." Então o problema é: Como ele pode perdoar os culpados e ainda não deixar de punir os culpados? Ou: quem é o culpado que Ele perdoa e quem é o culpado que Ele se recusa a perdoar?
A maneira mais frutífera que encontrei para responder a isso é ver como os outros escritores do Antigo Testamento usaram esta passagem. Vejamos Joel e Jonas, por exemplo.
O uso de Joel dessa passagem
Em Joel 2:12-13 Deus diz ao povo rebelde: “Voltem-se para mim de todo o coração, com jejum, lamento e pranto, rasguem o coração, e não as vestes.” E Joel continua a encorajar o povo: "Voltem-se para o Senhor, para o seu Deus, pois ele é misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor; arrepende-se, e não envia a desgraça."
Em outras palavras, Joel usa Êxodo 34:6 para encorajar o povo que, se eles voltarem para o Senhor, ele desviará o mal que ele está prestes a trazer sobre eles. Portanto, a suposição é que as pessoas que o Senhor não perdoará são as pessoas impenitentes que não voltarão a Deus de todo o coração. É assim que Joel entendeu Êxodo 34:5-7. O perdão é para o arrependido. A recusa do perdão é para os impenitentes.
O uso de Jonas dessa passagem
Jonas vê as coisas da mesma maneira. Depois que ele prega aos ninivitas, eles se arrependem, Deus os poupa, e Jonas está zangado com Deus por ser tão misericordioso. Em Jonas 3:10 e 4:2, diz:
Quando Deus viu o que eles fizeram, como eles se desviaram de seu mau caminho, Deus se arrependeu do mal que ele tinha dito que lhes faria; e ele não o fez. Mas isso desagradou muito a Jonas, e ele ficou zangado. E orou ao Senhor, e disse: "Senhor, não foi isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que promete castigar mas depois se arrepende."
Aqui Jonas cita Êxodo 34:6 para explicar por que Deus havia desviado sua ira de um povo pecador que se arrependeu de seu mau caminho. Esta é a natureza de Deus. É o seu nome. Mas note que Jonas concorda com Joel que se Deus perdoa os ninivitas ou não, depende se os ninivitas se arrependem ou não, e se voltam de seus maus caminhos.
Deus perdoa pessoas culpadas que se arrependem
Agora vamos voltar às palavras de Deus no Monte Sinai em Êxodo 34:6-7. Por um lado, o Senhor diz que "perdoa a maldade, a rebelião e o pecado". Por outro lado, ele diz que "não vai deixar de punir o culpado". No entanto, todos os pecadores são culpados. Então, quais culpados ele perdoará? E quais culpados não perdoará?
A resposta de Joel e Jonas é que ele perdoará os culpados que se convertem de seus pecados e se voltam para Deus com todo o coração. E os culpados que rejeitam a sua oferta de misericórdia, ele não vai de modo algum deixar de punir.
Esse é o primeiro problema e a solução de Jonas e Joel.
2. Os pecados dos Pais e os pecados dos Filhos
O segundo problema neste texto vem das próximas palavras no versículo 7. Diz que Deus "castiga os filhos e os netos pelo pecado de seus pais, até a terceira e a quarta gerações.” Mas Ezequiel 18:20 diz: "A alma que pecar morrerá. O filho não levará a culpa do pai, nem o pai levará a culpa do filho.” Como estes dois textos podem evitar contradizer-se um ao outro?
O que Ezequiel tem em vista
A coisa mais crucial a ver é que Ezequiel tem em vista um filho que não segue os passos pecaminosos de seu pai, mas Êxodo tem em vista filhos que continuam nos passos pecaminosos de seus pais.
Ezequiel 18:19 diz: "Uma vez que o filho fez o que é justo e direito e teve o cuidado de guardar todos os meus decretos, com certeza ele viverá." Em outras palavras, ele não morrerá pelos pecados de seu pai porque ele não está seguindo os passos de seu pai.
O que Êxodo tem em vista
Mas o paralelo ao Êxodo 34:7 em Êxodo 20:5 diz que Deus “castiga os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam". Em outras palavras, os filhos participam do castigo do pai porque compartilham dos pecados do pai.
Então Ezequiel ensina que qualquer filho que se afasta dos caminhos pecaminosos de seu pai e obedece a Deus não será punido pelos pecados de seu pai. E Êxodo ensina que qualquer filho que pecar como seu pai compartilhará o castigo do pai.
Quando Deus castiga os pecados dos pais sobre os filhos, ele não pune os filhos sem pecado pelos pecados de seus pais. Ele simplesmente deixa que os efeitos dos pecados dos pais tomem seu curso natural, infectando e corrompendo os corações dos filhos. Para os pais que amam seus filhos, este é um dos textos mais sérios de toda a Bíblia.
Quanto mais deixarmos o pecado obter a vantagem em nossas próprias vidas, mais nossos filhos sofrerão por isso. O pecado é como uma doença contagiosa. Meus filhos não sofrem porque eu tenho o pecado. Eles pegam isso de mim e depois sofrem porque eles tem o pecado.
Esperança para o Abatido na Autodescrição de Deus
Agora que esses dois problemas ficaram para trás, espero que possamos ouvir a mensagem da misericórdia de Deus com uma nova apreciação. Voltemos ao versículo 6 e à declaração do nome de Deus. O Senhor desce e proclama o seu nome: "Senhor! Senhor! Um Deus compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e de fidelidade, que mantém o seu amor a milhares e perdoa a maldade, a rebelião e o pecado.”
Há dois tipos de pessoas que são difíceis de ajudar no aconselhamento pastoral. Um pensa que ele está longe demais para ser perdoado. O outro acha que o perdão é instantâneo. Um pensa que ele é totalmente desqualificado para o reino. O outro acha que ele é um sucesso garantido. O outro acha que Deus é inflexivelmente irado. O outro acha que Deus é moleza. Um é cego para a magnificência da misericórdia de Deus. O outro é cego para a magnitude de sua própria miséria.
Eu sei que eu encaro pessoas em ambas as categorias todos os domingos de manhã. E o desafio da pregação é como falar com esperança para a primeira pessoa sem dar golpes para a segunda. Quando uma grande e variada congregação é dirigida, deve haver ira e misericórdia, ameaça e promessa, advertência e conforto. E então deve haver oração e obra do Espírito Santo para fazer com que a Palavra seja ouvida em sua correta aplicação à necessidade de cada pessoa.
Mas eu quero explicitar que o que tenho a dizer agora é para os abatidos, os humilhados, os quebrantados, os desesperados, os desencorajados – aqueles que podem sentir que estão além do alcance do perdão de Deus.
Cinco Expressões da Natureza de Deus
Se eu quisesse deixar claro aos meus filhos que eu pretendia ser seu pai e cuidar deles e tratá-los com misericórdia, eu poderia usar duas ou três expressões diferentes e talvez repetir-me para enfatizar a verdade do que eu estava dizendo. Assim, Deus é complacente em usar nossos dispositivos e em tornar sua misericórdia bem clara. Ele coloca frase sobre frase para abrir seu coração de amor.
Elas se dividem em cinco expressões:
- Um Deus compassivo e misericordioso,
- paciente,
- cheio de amor e de fidelidade,
- que mantém o seu amor a milhares,
- e perdoa a maldade, a rebelião e o pecado.
Quanto mais eu pondero como essas cinco descrições de Deus estão relacionadas, mais elas parecem se entrelaçar umas com as outras.
O Triângulo da Misericórdia de Deus
Mas deixe-me descrever uma maneira de ver seus relacionamentos uns com os outros.
Na figura um triângulo: Em ambos os lados da base estão as primeiras e últimas declarações sobre Deus, ou seja, que Ele é compassivo e misericordioso (no lado esquerdo da base) e que Ele perdoa maldade, a rebelião e o pecado (no lado direito da base).
Em seguida, no meio dos lados do triângulo de ambos os lados, imagine a segunda e quarta afirmações sobre Deus, ou seja, que ele é paciente (do lado esquerdo) e que ele mantém seu amor por milhares (do lado direito do triângulo).
Finalmente, imagine no topo do triângulo, no meio, a terceira declaração sobre Deus, ou seja, que Ele é abundante em amor e fidelidade.
Agora, o ponto desta imagem é sugerir que a primeira e a última afirmações se unam e a segunda e quarta se unam e a terceira é central para todos as cinco. Vamos começar com o centro e o topo do triângulo.
Abundante em Amor e Fidelidade
Deus é abundante em amor e fidelidade. Duas imagens vêm à minha mente. O coração de Deus é como uma fonte inesgotável de água que brota amor e fidelidade no topo da montanha. Ou o coração de Deus é como um vulcão que queima tão quente de amor que explode o topo da montanha e flui ano após ano com a lava do amor e da fidelidade.
Quando Deus usa a palavra "abundante", ele quer que compreendamos que os recursos de seu amor não são limitados. De certa forma, ele é como o governo federal: Sempre que houver necessidade, ele pode apenas imprimir mais dinheiro para cobri-lo. Mas a diferença é que Deus tem um tesouro infinito de amor dourado para cobrir toda a moeda que Ele imprime. O governo dos EUA está em um mundo de sonho. Deus conta de uma forma muito realista com os recursos infinitos de sua divindade.
Eu disse anteriormente que há uma conexão entre os três primeiros sermões desta série e este. Deus é quem Ele é, e Deus é livre, Deus é todo- poderoso, e agora Deus é misericordioso. A conexão é que a existência absoluta, a liberdade soberana e a onipotência de Deus são a plenitude vulcânica que explode em um transbordamento de amor.
A magnificência pura de Deus significa que ele não precisa de nós para preencher qualquer deficiência em si mesmo. Em vez disso, sua infinita autossuficiência se derrama em amor em nós que precisamos dele. Podemos confiar em seu amor precisamente porque acreditamos no caráter absoluto de sua existência, na soberania de sua liberdade e na infinitude de seu poder.
Assim, no topo do triângulo está a infinita abundância do amor de Deus, derramando-se sobre cada lado para o bem de seu povo arrependido.
Paciente, Mantém o Amor
No meio de cada lado estão as segunda e quarta declarações sobre Deus em Êxodo 34:6-7. Ele é paciente, e mantém o amor a milhares. Quando Deus diz que ele mantém o amor, o foco está na durabilidade de Seu amor. Dura. Persevera. Continua a fluir.
E vejo uma conexão entre essa perseverança do amor de Deus e a afirmação de que Deus é paciente. O amor não pode durar onde a ira tem um gatilho. Se a ira de Deus tivesse um gatilho, seu amor não duraria um dia na minha vida. Se foguetes de ira disparassem dos olhos de Deus toda vez que pequei, eu seria explodido em pedacinhos antes de sair da cama pela manhã.
Mas ele grita no Monte Sinai: "Eu sou paciente!" Ele retém sua ira com o reinado de Seu amor. Ele é longânime. Ele é extraordinariamente paciente. E assim ele mantém o amor. Ele o guarda e o preserva por ser paciente.
Compassivo e Perdoador
Isso nos leva ao par final de declarações sobre Deus na base do triângulo. Se Deus é paciente, mesmo que lhe damos ampla razão para se irar conosco por causa de nosso pecado, então ele deve ser muito compassivo e perdoador -"compassivo e gracioso - perdoando a iniquidade, a transgressão e o pecado". A razão pela qual Deus é paciente não é que ele não percebe o nosso pecado, mas que ele o perdoa.
E não apenas alguns tipos de pecado. Para aqueles de vocês que sentem que há uma categoria de pecado que está além do perdão de Deus, por favor, submetam sua própria opinião e sentimento à Palavra de Deus. A razão pela qual Deus usou todas as três palavras hebraicas para o pecado aqui é mostrar que todos os tipos e graus de pecado são perdoáveis. Ele e perdoa a maldade, a rebelião e o pecado. Ele os amontoa para tornar claro o que ele quer dizer. Não há categorias de pecados imperdoáveis. O único pecado que é imperdoável é o pecado que é impenitente, não se arrepende. Se você pode se arrepender e voltar de seu pecado, você pode ser perdoado.
Jesus Cristo Confirma a Natureza Compassiva de Deus
Eu fecho com este lembrete e convite. Jesus Cristo veio ao mundo para confirmar que Deus é justamente quem ele disse quando estava no Monte Sinai: "Um Deus compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e fidelidade, que mantém o seu amor a milhares, perdoando a maldade, a rebelião e o pecado." Afaste-se do seu pecado esta manhã, confie em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor, e você encontrará uma vastidão na misericórdia de Deus como a vastidão do mar.
Se alguém lhe exigir (ou talvez você exija de si mesmo): Como você sabe que é assim que Deus é? Você pode responder, porque Jesus Cristo viveu e selou-o com seu sangue.