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English: Brothers, Save the Saints

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Por John Piper Sobre Ministério Pastoral

Tradução por Roberto Freire

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Eu costumava dizer que o meu alvo como pastor-mestre era a salvação dos pecadores e a edificação do corpo de Cristo – ganhando os perdidos e edificando os santos. Havia, porém, uma suposição errônea por detrás deste objetivo. A suposição era de que meu papel na salvação das almas era o de pregar o evangelho aos perdidos e o de orar por eles. Depois, então, que fossem convertidos e se juntassem à igreja, minha instrumentação fundamental quanto à sua salvação estava completa e realizada. Depois disto, eu seria, simplesmente, o agente de Deus em seu grau relativo de edificação e de santificação.

Meu erro estava em pensar que somente a salvação dos perdidos dependia da minha pregação, e não a salvação da igreja.

Assim, por algum tempo, pareceu-me estranho que o pregador puritano pregasse como se a vida eterna do seu rebanho dependesse inteiramente da sua pregação. Por que Richard Sibbes (+ 1635), conhecido como o “amável conta-gotas”, implorava com tanta seriedade, aos santos, a “manter a graça de Deus em exercício”? Sua resposta seria: “porque não são os hábitos sonolentos, mas a graça em exercício, que nos preserva”.

Os puritanos criam que, sem a necessária perseverança na obediência da fé, o resultado seria destruição e não, simplesmente, menos santificação. Portanto, uma vez que a pregação, e o ministério pastoral em sua totalidade, é o grande meio para motivar a perseverança dos santos, o objetivo do pastor não é meramente a edificação da igreja, mas salvá-los. Não é difícil ver, então, porque os Puritanos eram tão sérios.

Mas não foram Sibbes, Boston, Edwards ou Spurgeon, os que causaram que eu mudasse o alvo que tinha no princípio. Paulo escreveu a Timóteo, “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.” (1ª Timóteo 4: 16). Os “ouvintes” que Paulo tinha em mente, não eram aqueles que estavam fora da igreja (como demonstra o verso 12). Nossa salvação, assim como a salvação daqueles que nos ouvem semana após semana, dependem em grande medida, da atenção fiel à nossa santificação pessoal e ao nosso ensino sadio. Em nosso trabalho, muito mais está em risco do que maior ou menor progresso em santificação. A própria salvação dos eleitos está em perigo.

Em 2ªTimóteo 2: 9 - 10, Paulo relata seus sofrimentos pelo evangelho e diz “pelo qual estou sofrendo até algemas, como malfeitor; contudo, a Palavra de Deus não está algemada. Por esta razão, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória.” Quando Paulo diz estar sofrendo pela salvação dos eleitos, ele não quer apenas se referir àqueles que ainda não estão convertidos, pois que ele mesmo declara, em Colossenses 1: 24, “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta nas aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja.” E não somente aqui, mas também no contexto imediato (2ª Timóteo 2: 12) onde ele diz: “Se perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará.” A salvação dos eleitos depende de não negarem a Cristo e de perdurar na fé e na obediência.

Já que o trabalho pastoral de Paulo era o meio de ajudar os eleitos a perseverar, por esta razão ele via o seu ministério como sendo instrumental na salvação dos mesmos. É, portanto, de admirar que Paulo gemesse sob a “pressão diária”de sua “preocupação com todas as igrejas” (2ª Coríntios 11: 28)?

Na bela passagem de 2ª Coríntios, onde Paulo ensina que Deus nos conforta com o propósito de que nós possamos confortar aos outros, ele vai mais além da questão do conforto e diz, “Mas, se somos atribulados, é para vosso conforto e salvação” (2ª Coríntios 1: 6). Outra vez, é para a salvação dos membros da igreja que Paulo sofria e labutava.

Um exemplo de como os labores pastorais de Paulo eram condutivos à salvação dos eleitos encontra-se em 2ª Coríntios, capítulo 7. Os crentes em Corinto tinham caído em pecado. Paulo, então, escreveu uma carta que os entristeceu profundamente. Paulo, porém, se regozijava, visto que a tristeza deles lhes produzia arrependimento: “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar” (v. 10).

Qual, então, era o objetivo de Paulo ao escrever essa carta tão dura? As repreensões de Paulo fizeram com que aqueles crentes tão vacilantes se tornassem sóbrios e pudessem desenvolver “sua salvação com temor e tremor” (Filipenses 2: 12). Ele converteu um pecador do erro dos seus caminhos e “salvou uma alma” (Tiago 5: 19, 20). A vida eterna de um eleito está suspensa pela eficácia do trabalho pastoral. Oh, quanto é necessário que sejamos sérios no cuidado conosco mesmos e com a sã doutrina!

É obrigação do pastor esforçar-se com diligência para que nenhum de seus irmãos ou irmãs seja destruído. O coração pastoral de Paulo parecia romper-se quando contemplou a falta de amor na igreja em Roma (Romanos 14: 15). O mais forte ostentava sua liberdade em comer comidas que, para o crente mais fraco, constituíam pecado (v. 14). Foi surpreendente o que Paulo viu estar em risco naquela situação: “Não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu” (v. 15)! “Não destruas a obra de Deus por causa da comida” (v. 20)!

A mesma admoestação foi dada aos crentes de Corinto que tinham a tendência de ostentar sua indiferença às carnes oferecidas aos ídolos. “Vede, porém”, disse-lhes Paulo, “que essa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos …. E assim, por causa do teu saber, perece (apollumi = destruir) o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu” (1ª. Coríntios 8: 9 – 11).

Não há como possamos amenizar a força desta palavra “destruir” (apollumi). A palavra contrária é “salvação”, e nada mais do que 1ª Coríntios 1: 18 e 2ª Coríntios 2: 15 para fazê-la mais clara. Se um irmão é destruído, ele estará perdido. A referência é à destruição depois da morte, porque Paulo usa a mesma palavra quando diz, “E se Cristo não ressuscitou … os que dormiram (morreram) em Cristo pereceram (foram destruídos – no inferno)” (1ª Coríntios 15: 17 - 18).

O que está em jogo na admoestação e na pregação pastoral, não é somente o progresso da igreja em salvação, mas a salvação em si.

Que grande engano seria, entretanto, se concluíssemos assim: “Então, preguemos, semana após semanas, mensagens que demonstrem somente o plano simples de salvação”. Enfaticamente, esta não seria a maneira apropriada de atender ao rebanho sobre o qual “o Espírito vos constituiu bispos” (Atos 20: 28).

Quando Pedro disse “desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para a salvação” (1ª Pedro 2: 2), ele não quis dizer, por “leite”, o que Hebreus 5: 12 o diz em contraste com “carne”. Simplesmente quis dizer que fossem famintos pela graça da Palavra de Deus (1: 25), assim como um nenê está faminto por leite, pois somente sendo alimentado pela Palavra você poderá crescer e somente crescendo é que você poderá atingir a salvação final. Uma constante dieta de “mensagens evangelísticas”, que não podem ajudar o crente a crescer e a sair de sua infância, não somente inibe seu caráter, mas, também, compromete sua salvação.

Temos que lembrar-nos disto: não existe tal coisa como ficar estagnado na vida cristã. Ou estamos avançando adiante para nossa salvação, ou estamos nos afastando para a destruição. Se não guiamos nosso povo para as inesgotáveis riquezas de Cristo, descortinando-lhe “todo o desígnio de Deus” (Atos 20: 27), então o estaremos conduzindo contra as rochas, onde certamente naufragarão em sua fé" (1ª Timóteo 1: 19).

Isto é o que Hebreus 2: 1 – 4 ensina. Existem duas possibilidades: darmos ouvidos à Palavra de Deus (vs. 1 e 3), ou nos desviarmos dela. Não há como ficarmos parados no rio da indiferença. Suas correntes nos levariam a uma queda. Portanto, o verso 3 pergunta: “Como escaparemos nós (justa retribuição divina), se negligenciarmos tão grande salvação?” Negligenciar nossa grande salvação, significa não atendermos ao que há sido revelado pelo Filho (1: 2), não fixar nossa atenção em Jesus (3: 1; 12: 2). O resultado seria afastar-nos da Palavra de Deus e, assim, afastar-nos da salvação. “Tendo cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (3: 12). “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardamos firme, até o fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos.” (3: 14). O Filho “tornou-se o autor da salvação eterna [para todos os que lhe obedecem – tempo presente, uma ação contínua]” (5: 9).

Assim portanto, a maneira de salvar-se a si mesmo e aos seus ouvintes (1ª Timóteo 4: 16 não é por deter o crescimento do seu povo por meio de uma minguada dieta de “mensagens evangelizantes”. Isto apenas serviria para enviar os “Hebreus” diretamente, e em retrocesso, à sua destruição (5: 11 – 14). A maneira de salvar os santos é alimentá-los com todas as Escrituras, porque são elas “que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2ª Timóteo 3: 15).

Uma palavra final sobre eterna segurança. É um projeto comunitário. E esta é a razão porque o ministério pastoral é totalmente sério e a razão por que nossa pregação não deverá ser divertida, ou brincalhona, mas sim séria e de todo o coração. Nós pregamos a fim de que os santos perseverem na fé em direção à glória. Não pregamos meramente para o seu crescimento, mas porque, se eles não crescem, perecem. Se você é um calvinista (como eu o sou), você descansa na soberania da palavra de Cristo: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.” (João 10: 27, 28).

Os eleitos amarão a Palavra de Deus, os eleitos crescerão, os eleitos se arrependerão e os eleitos serão, certamente, salvos (Romanos 8: 29 - 30). Mas eles não serão salvos apartados de seu ensino. Deus assim tem ordenado a existência de pastores-mestres, não somente para o fim de edificação mas, também, para o propósito de salvação. Oh, que nossas pregações possam ter o sabor da eternidade! Pois eternidade está em jogo, cada semana.