Deixaria um Desconhecido Viver Consigo?
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Lisa Chan Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Andreia Frazão
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Pondo de Lado o Medo da Hospitalidade
“Eu nunca poderia ter desconhecidos a viver connosco!”
Já perdi a conta à quantidade de vezes que as pessoas me disseram isto a mim e ao meu marido. Sinto embaraço quando as pessoas manifestam este sentimento porque sei perfeitamente que elas podiam ter desconhecidos a viver com elas. Sei isto porque sou tão egoísta, receosa e exigente quanto elas. Tal como qualquer outra mulher, não gosto de pedaços de pasta de dentes no meu lavatório, de esperar para usar a máquina de lavar roupa, nem de partilhar o espaço da cozinha com um cozinheiro desleixado.
Mas a hospitalidade mudou de forma excecional a vida do meu marido quando ele era adolescente, e portanto eu acabei por perceber que sou mais capaz de ultrapassar as minhas objeções egoístas do que me tinha dado conta.
Quando o meu marido tinha 18 anos, um jovem casal da sua igreja convidou-o para viver com eles e com a sua filha bebé. Pela primeira vez na sua vida, ele testemunhou uma casa e uma família que estavam centradas em Cristo. Quando casámos, quisemos dar a mesma oportunidade a outras pessoas. Por isso, passados alguns meses do nosso casamento, abrimos a nossa porta à primeira de várias pessoas muito queridas. (E vamos ser honestos — algumas não tão queridas também.)
Com ou Sem Fé?
Para mim, a hospitalidade costumava conjurar visões de uma mesa de jantar com louça decorada da Pottery Barn, com todos os meus amigos mais estimados reunidos à sua volta para uma refeição deliciosa. Mas Deus arruinou isto — da forma mais bela.
A nossa relação com a hospitalidade é no mínimo curiosa. Por defeito, assumimos que abrir as portas das nossas casas tem de ser uma aposta segura. Queremos tomar decisões lógicas baseadas numa análise adequada do custo-benefício. Mas a Escritura diz,
Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam. (Hebreus 11:6, NVI)
Tal como tudo o que fazemos por Cristo, a verdadeira hospitalidade envolve fé. Muitas vezes, acolhemos pessoas e vimos belos resultados, resultados tangíveis. Cresceram, mudaram e alcançaram os seus objetivos. Entretanto, posso dizer-vos que também houve muitas vezes em que vimos pouco a nenhum crescimento — momentos de rejeição que foram profundamente dolorosos.
Mas nada é desperdiçado por Deus. Podemos começar por tentar aconselhar, encorajar e ajudar os outros, mas Deus acaba por nos aconselhar, encorajar e ajudar a nós. Eu acho que nos esquecemos frequentemente de que Deus está preocupado com os nossos corações! “A vontade de Deus é que vocês sejam santificados” (1 Tessalonicenses 4:3, NVI). Este verso não é da mais bela simplicidade? E ainda assim esquecemos esta verdade simples mas profunda. O objetivo da hospitalidade não é deixar-nos com uma calorosa e reconfortante sensação de bem-estar, mas sim deixar-nos cada vez mais parecidos com Jesus. Lembram-se do exemplo de Jesus?
Tristemente, parece que muitos na nossa comunidade cristã não iam querer que Jesus ficasse nas suas casas com os pecadores e marginais que ele trouxesse com ele. Jesus teve de se defender frequentemente de gente “religiosa” que não queria ter nada a ver com essa multidão. “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores” disse Jesus (Marcos 2:17, NVI). E por isso convidamos os pecadores a entrar.
“A Vossa Recompensa Será Grande”
Ainda na outra noite, eu e o meu marido estávamos a falar com os nossos filhos sobre uma decisão difícil, respeitante à hospitalidade, que nos afetaria a todos. Lembrámos-lhes de que temos de começar pela pergunta, “Isto é algo que Deus nos está a chamar a fazermos enquanto família?” Porque se a resposta for sim, não importa realmente se, no início nos apetece fazer isto ou não.
Alguns diriam que estamos a pedir aos nossos filhos que abdiquem de mais do que deviam — que é suposto pormos as necessidades deles acima das das outras pessoas. Eu sei o quão profundo pode ser o desejo de atender às necessidades dos nossos filhos e de nos curvarmos perante a ideia do seu desconforto. Tive de lutar contra a tentação de os proteger do sofrimento. A verdadeira hospitalidade muitas vezes requer sacrifício, inconveniência e renúncia. E Deus não espera menos da parte deles. Sou testemunha de que podemos, em espírito de oração, tomar decisões com sabedoria, enquanto seguimos em frente em espírito de fé.
As palavras de Jesus em Lucas 6:33–36 (NVI) sempre me tocaram:
“E que mérito terão, se fizerem o bem àqueles que são bons para com vocês? Até os ‘pecadores’ agem assim. E que mérito terão, se emprestarem a pessoas de quem esperam devolução? Até os ‘pecadores’ emprestam a ‘pecadores’, esperando receber devolução integral. Amem, porém, os seus inimigos, façam-lhes o bem e emprestem a eles, sem esperar receber nada de volta. Então, a recompensa que terão será grande e vocês serão filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso para com os ingratos e maus. Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso.”
Tal como acontece com tudo nas nossas vidas, temos a oportunidade de usar as nossas casas de uma forma que não faz sentido ao mundo. Se todo o bem que praticam nas vossas casas é para os vossos amigos e família, em que é que isso difere de todas as outras pessoas nas vossas ruas? Não há benefício — nem para vocês nem para os vossos filhos, mas também não há para um mundo que precisa desesperadamente de nos ver a fazer as coisas de maneira diferente.
Mais Abençoados para Dar Aos Outros
Vamos perguntar-nos a nós mesmos algumas coisas: Porque é que começamos com medo em vez de fé? Porque é que os nossos primeiros pensamentos giram à nossa volta e não à dos outros? Porque é que ouvimos as vozes à nossa volta em vez de nos inclinarmos para conseguirmos ouvir a voz de Deus, guiando-nos na palavra e no Espírito dele?
“Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos.” (Hebreus 13:2, NVI). Da perspetiva da eternidade, quem quer saber se os nossos sofás se estragam, ou se o filho de uma mãe solteira faz desenhos nas nossas paredes impecavelmente pintadas? Posso contar-vos um segredo da família Chan? Comprem coisas em segunda mão e aceitem coisas dadas, porque a libertação da preocupação relativamente aos nossos bens é incrivelmente revigorante.
E se estiverem à beira do precipício (por assim dizer) da hospitalidade, a arranjar coragem para saltar, deixem-me dizer-vos isto: à medida que abrimos os nossos corações e a porta da nossa casa aos outros, o que recebemos supera de longe o sacrifício e a renúncia.