A Vida Sob um Senhor Soberano

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English: Life Beneath a Sovereign Lord

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Por Scott Hubbard Sobre Santificação e Crescimento

Tradução por Camila Milet Leal

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Tabela de conteúdo

Como O Seu Poder Nos Liberta

Recebemos em nossas mentes algumas verdades sobre Deus da mesma maneira que receberíamos um hóspede – esperando que ele se comporte bem e, de maneira geral, mantenha os móveis no lugar. Porém, mais cedo ou mais tarde, ouvimos barulho de brocas e serras. Ouvimos o barulho do sofá sendo arrastado pelo chão, e então descobrimos que acolhemos não a um hóspede, mas a um construtor civil.

Para muitos de nós, uma dessas verdades é a soberania de Deus. Que Deus “faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade” (Efésios 1:11) pareceu-me, a princípio, como biblicamente simples e doce de se experimentar. Eu me tornei um Calvinista quase sem perceber. Mas com o tempo, nenhuma verdade me causou mais angústia mental, e até mesmo aflição, do que esta doutrina da soberania total e invencível de Deus. Imaginei-me o anfitrião calmo desta verdade, até que a minha mente se tornou uma zona de construção.

Muitos poderiam testemunhar uma experiência semelhante de renovação da mente. Abra a porta para a soberania de Deus, e as muralhas da suposta racionalidade podem desmoronar. As escadas do instinto podem ser viradas de ponta cabeça. Um novo andar de possibilidades pode ser acrescentado. Você emergirá “renovado no modo de pensar” (Efésios 4:23), mas o processo pode às vezes parecer uma martelada na cabeça.

Quão Soberano Ele é?

Qualquer que seja o lugar que a soberania de Deus ocupe em nosso quadro mental atual, podemos encontrar ajuda em Atos 4:23-31, uma passagem que tem renovado muitas mentes. Talvez não haja em nenhum outro lugar nas Escrituras, um senso tão arrebatador da soberania de Deus em um espaço tão pequeno.

A igreja primitiva ora: “Ó Soberano, tu fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há!” (Atos 4:24). Este “Ó Soberano” não é outro senão o Criador soberano de Gênesis 1: aquele que fala com as estrelas, criador das montanhas, escultor dos oceanos, artesão das criaturas. E como o resto das Escrituras celebra, o mesmo Deus que falou o mundo à existência, continua falando, sustentando “todas as coisas por Sua palavra poderosa” (Hebreus 1:3). Sua soberania sobre a criação continua a cada segundo. Nem uma folha de grama cresce sem a Sua permissão.

Mas a Sua soberania não termina com a criação. “Ó Soberano... Tu falaste pelo Espírito Santo por boca do teu servo, nosso pai Davi: ‘Por que se enfurecem as nações, e os povos conspiram em vão?” (Atos 4:24-25). Os acontecimentos da Sexta-Feira Santa podem ter parecido para alguns uma tragédia caótica, como a inocência presa nas engrenagens da morte da corrupção política; mas os crentes dizem: “não, a morte de Cristo cumpriu a história do antigo salmo de Davi. Por mil anos, os fios da história têm corrido em direção à cruz.” A história, para eles, foi profetizada, predestinada, planejada (Atos 2:23; 4:28).

E não apenas os acontecimentos da história, mas também os desejos e impulsos dos corações humanos. “De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com os povos de Israel nesta cidade, para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. Fizeram o que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse.” (Atos 4:27-28). Por que Judas traiu o seu Senhor? Por que Herodes zombou do Rei dos Reis? Por que Pilatos, conhecendo seu dever, deixou a justiça ser pisoteada pela multidão furiosa? Por um lado, porque Judas queria dinheiro, porque Herodes queria “vê‑lo realizar algum milagre” (Lucas 23:8), porque Pilatos temia o homem. Estes eram “homens perversos” (Atos 2:23), totalmente responsáveis por seus pecados. Mas, por outro lado, em um nível mais elevado, eles agiram daquela maneira porque era isso que Deus havia predestinado para acontecer.

Então aqui está o radicalismo da soberania de Deus no espaço de alguns versos. Deus reina sobre a criação, sobre a história e sobre os corações. E este reinado não pode ficar sem renovar as nossas mentes.

Renovação da Mente

Uma das características maravilhosas de Atos 4:23-31 é que esses crentes não apenas afirmam a soberania completa de Deus, mas também nos ensinam como aplicá-la. E como precisamos deste ensinamento! Inúmeros erros se insinuam nas mentes e nas igrejas quando tomamos a verdadeira doutrina da Escritura, sem também permitir que a Escritura conduza a maneira em que a aplicamos. E poucas doutrinas são mais propensas à má aplicação do que a soberania de Deus.

A oração de Atos 4, se repetida, internalizada, abraçada, nos protegerá de vários perigos e nos manterá no caminho nivelado de Deus, mesmo que o processo doa. Pois a verdade pode parecer “dolorosa em vez de agradável” por um período. Mas, como disciplina paterna de Deus, “mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados” (Hebreus 12:11).

Aqui então, estão três novas categorias (entre outras) que a soberania de Deus constrói na mente daqueles que a acolhem.

1. Deus é soberano — então ore com ousadia.

Notavelmente, a soberania elevada que encontramos em Atos 4 não vem a nós em um tratado, uma confissão, um debate, ou até mesmo em um sermão, mas em uma oração. Enquanto alguns ouvem falar de soberania e se perguntam que diferença suas orações poderiam fazer, a igreja primitiva recebeu a soberania como um motivo para orar. Aqui, eles se ajoelham diante de um “Senhor Soberano” (Atos 4:24); eles suplicam sob sua providência.

A soberania de Deus comunica corretamente algo de Sua transcendência, grandeza e santidade. Mas os crentes em Atos 4 sabem algo além sobre Deus: na sua transcendência, Ele permanece profundamente pessoal com o Seu povo. Ele fala e ouve, nos convida a orar e responde às nossas orações — enquanto isso, de alguma maneira, Ele tece tudo no seu “plano definitivo” (Atos 2:23).

Compreendida corretamente, a oração de fé depende tanto da transcendência de Deus como da sua proximidade. Se Deus fosse apenas transcendente, Ele não se curvaria para ouvir nossas orações; se Ele fosse apenas pessoal e próximo, Ele não seria capaz de responder às nossas orações. Mas se Deus é transcendente e pessoal, poderoso e próximo, então ele pode ouvir as nossas petições e agir. Não precisamos saber exatamente como Ele soberanamente insere nossas orações em seus planos. Basta sabermos que Ele faz.

2. Deus é soberano — então tome uma atitude.

Os primeiros crentes eram herdeiros, como nós, da promessa de Jesus de edificar a Sua igreja (Mateus 16:18). Enquanto o reino se propaga por todo o livro de Atos, eles sabem que eles não são os verdadeiros autores dessa propagação. Tal expansão foi obra de Jesus ressuscitado, que derramou o seu Espírito sobre o Seu povo (Atos 1:1-8). Assentado em Seu trono, Ele estava soberanamente cumprindo Sua promessa de construir a Igreja contra as portas do inferno.

Mas, sabendo disso, a igreja não se tornou passiva ou complacente. Eles não meramente esperaram e assistiram ao agir do Espírito Santo. Em Pentecostes, Pedro se levanta e prega (Atos 2:14). Diante do Concílio, Pedro e João respiram fundo e obedecem a Deus e não ao homem (Atos 4:19-20). E, quando perseguida, a Igreja ora por ousadia e continua “anunciando a palavra de Deus” (Atos 4:31). Eles confiaram que Deus soberanamente cumpriria Suas promessas — e, então, agiram como se Ele o fizesse através de seus esforços.

Para esses crentes, uma porta aparentemente fechada (“não falem mais com ninguém sobre esse nome”, Atos 4:17) não era motivo para recuar e observar; era motivo para orar por ousadia, levantar-se e girar a maçaneta. Eles confiavam que a mesma “mão” que governava a história ainda estava com eles, pronta a “estender-se” não antes, mas precisamente “enquanto” saíam e falavam (Atos 4:28-30). Portanto, ao se deparar diante de alguma oportunidade para o evangelho, mesmo que apareçam muitos obstáculos no caminho, tome coragem na soberania de Deus e aja.

3. Deus é soberano — então se aproxime.

Em meio à sua aflição, poderíamos ter esperado que os crentes se dirigissem a Deus como algo diferente de “Senhor soberano” – talvez “Senhor compassivo” ou “Senhor misericordioso” ou “Senhor amoroso”. Estes títulos são certamente apropriados, e as escrituras os propõem em outras passagens aos que sofrem (Hebreus 4:15; 2 Coríntios 1:3). Mas desta vez, em sua dor, esses cristãos se aproximaram do soberano Senhor. Eles o fizeram por pelo menos dois motivos.

Primeiro, eles sabiam que só um Deus soberano poderia pegar as injustiças cometidas contra nós e usá-las para nosso benefício. Compaixão, misericórdia e amor são qualidades preciosas em nosso Deus, mas sua preciosidade diminui se Ele não puder realmente fazer algo sobre a nossa dor. Mas Ele pode!

O Deus a quem servimos foi capaz de aproveitar o pior momento da história do mundo e transformá-lo em um momento de recordação eterna (Atos 4:27-28). E a igreja primitiva sabia que se Deus pôde fazer isso na cruz, então Ele poderia fazê-lo em todo e qualquer lugar e para qualquer um, não importa quão grande fosse a tristeza ou quão profunda, a perda. Conforme fez na pior sexta-feira do mundo, Ele pode pegar nossos dias mais despedaçados, reorganizar as peças e fazê-las soletrar ótimo.

Segundo, quem é este “Senhor Soberano”? Ele não é apenas o Deus que tornou aquela sexta-feira em algo bom; Ele é o Deus que sentiu a dor mais aguda daquela sexta-feira. Em Sua soberania, Deus poderia ter ficado distante de nós, elaborando Seu plano de Seu alto e sublime trono. Mas Ele não o fez. Em vez disso, em Sua soberania, Ele se vestiu de carne e osso. Ele tomou as profecias sombrias dos sofrimentos do Messias e colocou-as sobre os seus próprios ombros humanos. Ele recebeu os açoites, os pregos e os espinhos. Em Sua soberania, Ele se tornou um Senhor com cicatrizes. E, portanto, Ele é, e continua a ser, o refúgio mais forte para os santos sofredores.

Receba, então, esta doutrina renovadora da soberania invencível de Deus. Observe como ela inspira as suas orações, encoraja o seu testemunho e, depois, no abismo de sua mais profunda dor, leva-o Àquele que morreu em sofrimento, e agora vive para sempre como Senhor de tudo.