A ORAÇÃO, O JEJUM E O CURSO DA HISTÓRIA
De Livros e Sermões BÃblicos
Por John Piper
Sobre Jejum
Uma Parte da série A Hunger for God
Tradução por Roberto Freire
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Atos 13:1-4
"Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o Tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Bernabé e Paulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram. Enviados, pois, pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre."
Começo esta manhã uma série de mensagens sobre a prática bíblica do jejum. Esse tema não é algo novo para nós emBethlehem. Já o temos ensinado anteriormente e já, em várias ocasiões, havemos convocado a igreja para jejuar. Especialmente durante a Semana de Oração, em anos passados. Mas, quando fizemos um levantamento, durante um dos cultos matutinos, algumas semanas atrás, verificamos que 40% dos presentes naquela manhã estavam nesta igreja por menos de três anos. Esse fato pode significar que jejuar é uma disciplina bíblica à qual vocês ainda não deram a devida consideração, e que, eventualmente, a têm praticado menos, por não ser, ademais, uma disciplina coletivamente divulgada no movimento evangélico.
Eu espero demorar-me nessa disciplina bíblica e espiritual tão negligenciada, pelo menos através do mês de janeiro e, talvez, mais além, se o Senhor assim nos guiar. Se você já leu o Bethlehem Star, sabe que eu estou convocando a todos nós a um período de 24 horas semanais de jejum, através deste mês em que começamos 1995, a saber, de terça-feira depois do jantar até o jantar de quarta-feira.Juntos, renunciaremos ao café da manhã e ao almoço de quarta-feira e devotaremos esses dois períodos de alimentação, se possível, à oração e ao jejum, para que 1995 venha a ser um ano de grande despertamento no corpo de Cristo; um reavivamento de santificação e felicidade, de oração e de fidelidade, frutuoso no ministério entre nós - de uns para com os outros - e no alcance dos que perecem. Minha oração é de que, por meio dessas mensagens, vocês venham a ouvir o chamado de Deus em meu apelo ao jejum.
Famintos pela direção de Deus em Antioquia
Vocês poderão entender melhor porque eu creio que essa é a vontade de Deus para nós agora, se formos diretamente ao nosso texto. A situação que aqui encontramos, era que Saulo (Paulo) e Barnabé, assim como outros líderes da igreja em Antioquia, estavam servindo – ministrando ao Senhor – e jejuando (v. 2). Julgando pelos acontecimentos, podemos assumir, eu creio, que a preocupação que os levou a jejuar foi a seguinte: “Que direção devemos tomar como igreja?” Jejuavam com o propósito de buscar a direção do Espírito Santo para um plano de missão para sua igreja. Podemos chamar a isso um planejamento mestre, se assim preferimos. O desfecho desse planejamento mestre, seria o mais espetacular esforço jamais realizado pela igreja.
Eles estavam tão esfaimados pela direção de Deus, que o quiseram demonstrar com a fome de seus próprios corpos e não somente com a fome de seus corações. “Queremos tua direção, ó Deus! Ó Santo Espírito, qual é a tua vontade quanto à missão desta igreja?”
Vocês sabem o que perturba a minha mente sobre o planejamento mestre em Bethlehem. A maioria das questões que temos que responder não está, explicitamente, respondida na Bíblia. Aquelas questões que são biblicamente claras não necessitam de um time de planejamento mestre para discerni-las. As questões que nos pressionam são aquelas que confrontavam os líderes de Antioquia: “Senhor, começaremos um projeto de missões mundial? Devemos fazê-lo agora? Enviaremos alguns dentre nossos próprios mestres? Deveria ser Saulo ou Simeão ou Níger ou Lúcio ou Barnabé? Enviaremos dois, ou três deles? De que maneira os enviaremos: por mar ou por terra? Devemos dar-lhes um suporte financeiro integral, ou devemos esperar que eles trabalhem para seu próprio sustento, ou esperaremos que alguns “filhos da paz”, nas cidades por onde eles devam ir, lhes provejam o alimento? Deverão outras igrejas juntarem-se a nós?” Etc
Muitas das questões que os times de planejamento têm que responder, são dessa natureza. Onde encontraremos as respostas? Temos nós algo para aprender do fato de que estes crentes de tempos primordiais, tão profundamente piedosos, serviam, jejuavam e oravam enquanto buscavam a direção do Senhor?
Quatro observações
Considerem essas quatro observações extraídas de Atos 13:1-4
1.Depois da vinda de Cristo
Aquele jejum foi feito depois da vinda de Cristo.
Eu digo isto simplesmente porque alguém poderá argumentar que o jejum era parte da espiritualidade do Velho Testamento e não do Novo. Essa é uma questão que consideraremos na próxima semana, “O jejuar é parte do velho odre que precisa ser abandonado a fim de que o novo vinho do Reino não o venha a romper e o vinho se perca?” A aparente resposta é de que Saulo e Barnabé, assim como os demais em Antioquia, não pensaram que jejuar fosse o velho odre.
2.Por um grupo de crentes Aquele jejum foi praticado por um agrupamento dos crentes.
Outro argumento concernente ao jejum, é o fato de que Jesus advertiu contra jejuar para ser visto pelos homens (Mateus 6: 17-18). Ele disse: “Teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” Saulo e Barnabé, porém, claramente não tomaram as palavras de Jesus como que querendo significar que o jejum, feito por um agrupamento de crentes, fosse um mal. Naturalmente, outros saberão que você está jejuando quando o fizer como parte de um grupo – como quando a igreja toda é chamada para jejuar na quarta-feira durante o mês de janeiro.
Evidentemente, os líderes da igreja em Antioquia não tomaram as palavras de Jesus como querendo dizer que pecamos se alguém souber que estamos jejuando, mas que pecamos quando nossa motivação para jejuar é a de que sejamos aplaudidos por fazê-lo. Agrupamentos para jejuar têm sido uma marca do povo de Deus através de sua história, tanto bíblica como pós bíblica.
3.Uma ocasião para a direção do Espírito
Aquele jejum provou ser uma ocasião para receber a orientação especial do Espírito.
Os versículos 2 e 3 dizem: “E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram.”
Em assim nos informar, Lucas claramente demonstra querer que vejamos uma conexão entre a adoração, ou serviço, a oração e o jejum praticados em conjunto e, por outro lado, a decisiva direção do Santo Espírito.
Sem outra evidência contrária, eu diria que essa passagem nos ensina o valor da adoração, do jejum e da oração, praticados conjuntamente em nossa séria busca da vontade de Deus para nossas vidas e para a vida de nossa igreja.
4.Mudou o curso da história
Aquele jejum, sem dúvida, mudou o curso da história.
É quase impossível enfatizar demasiadamente, a importância histórica desse momento em Antioquia e sua influência na história do mundo. Antes dessa palavra do Espírito Santo, parece não haver existido nenhuma organização missionária da igreja para mais além da costa marítima leste do Mediterrâneo. Antes disso, Paulo jamais houvera feito qualquer jornada missionária para o oeste, em direção à Ásia Menor, à Grécia, ou Roma, ou Espanha. E, antes disso, Paulo tampouco houvera escrito qualquer de suas epístolas, as quais vieram a ser o resultado de suas viagens missionárias iniciadas nessa ocasião.
Aquele momento de oração e jejum resultou em um movimento missionário que levou o cristianismo a ser a religião dominante no Império Romano dentro de cerca de dois séculos e meio, e que viria a produzir 1,3 bilhões de aderentes à religião cristã de hoje, com um testemunho cristão em, praticamente, cada país do mundo. E 13 dos 29 livros do Novo Testamento são o resultado desse ministério iniciado naquele momento de oração e jejum.
Assim, pois, penso que é justo dizer que Deus se agradou em fazer com que adoração, oração e jejum, servissem como a catapulta para lançar uma missão que haveria de mudar o curso da história do mundo. Não há, nisso, uma lição para nós?
Isso aconteceu antes e, portanto, aconteceria repetidamente na história.
Aconteceu em 2 Crônicas 20
Por exemplo, em 2 Crônicas 20 os moabitas, os amonitas e os meunitas vieram pelejar contra Josafá, rei de Judá. Essa era uma aterrorizante horda de um povo violento. Que fazer? Que direção tomar? Nos versículos 3 e 4 lemos:
“Então, Josafá teve medo e se pôs a buscar o SENHOR; e apregoou jejum em todo Judá. Judá se congregou para pedir socorro ao SENHOR; também, de todas as cidades de Judá veio gente para buscar ao SENHOR.”
Houve um jejum de toda a nação, e o povo se juntou buscando direção e libertação. Em meio àquela assembleia, os versículos 14 e 15 informam:
“Então, veio o Espírito do SENHOR no meio da congregação, sobre Jaaziel … e disse: Dai ouvidos, todo o Judá, e vós, moradores de Jerusalém, e tu, ó rei Josafá, ao que diz o SENHOR. Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão, pois a peleja não é vossa, mas de Deus.”
No dia seguinte quando o povo de Judá saiu, descobriu que os povos de Moabe e Amon se haviam destruído uns aos outros. Levaram três dias para ajuntar os despojos, de tanto que era. O que, à primeira vista, parecia ser calamidade e derrota foi, durante uma noite, transformado em um imponente triunfo.
Outra vez, o curso da história foi mudado através do jejum do povo de Deus.
Aconteceu na Inglaterra, em 1756
João Wesley nos conta, em seu jornal, sobre uma livramento semelhante em 1756. O rei britânico proclamara um dia de solene oração e jejum, em vista da iminente invasão pelo exército da França. Assim escreveu Wesley:
“O dia de jejum foi um dia glorioso, como Londres raramente viu desde a Restauração. Todas as igrejas na cidade estavam superlotadas, e uma sobriedade solene se notava em cada rosto. Certamente Deus ouve a oração e ainda haverá um prolongamento em nossa tranquilidade.”
Então, em uma nota de rodapé, ele adicionou: “Humilhação se transformou em regozijo nacional, pois a ameaça de invasão pelos franceses foi evitada.” Não seria difícil multiplicar histórias da Bíblia, bem como de depois dos tempos bíblicos, para demonstrar que o jejum e a oração têm mudado o curso da história. Veremos, nas próximas semanas, que isso é particularmente verdadeiro na maneira como o jejum fez parte dos tempos de grande reavivamento.
Por agora, permitam-me focalizar sobre o jejum e nossa chamada para jejuar, num mais amplo contexto do que Deus parece estar fazendo hoje, e, depois, no que Ele poderá estar realizando aqui emBethlehem.
O que, aparentemente, Deus está fazendo no mundo de hoje
Em novembro passado, um de vocês veio a mim e disse crer que Deus poderia estar chamando nossa igreja para um dia de jejum. “Você poderia orar a fim de tratar de discernir se isso realmente é a vontade de Deus para nós neste tempo presente?”, perguntou-me. Recentemente, fui convidado por Bill Bright, o líder da “Campus Crusade”, para participar, juntamente com outras 600 pessoas, em Orlando, durante dois dias, de oração e jejum – de 5 a 7 dezembro - por um avivamento em nossa terra e para o progresso do Reino de Deus no mundo.
Decidi ir, com o desejo de que Deus pudesse guiar-me quanto ao lugar que o jejum deveria ocupar na história de nossa igreja no momento atual. Bill Bright disse-me haver concluído 40 dias de jejum no último verão e haver-se sentido guiado a liderar um chamado para o jejum e a oração, na esperança de reacender essa prática através da igreja na América do Norte.
O ressurgimento do culto e oração, porém, não do jejum
Uma das compreensões que me ocorreram em Orlando, foi o fato de que, em Atos 13: 1- 3, encontramos três elementos distintos: culto, oração e jejum. Em nossos dias, temos visto um excepcional ressurgimento do culto e da oração. Nesses últimos 20 anos, dezenas de milhares de congregações ao redor do mundo estão experimentando serviços de adoração mais vibrantes, mais livres e mais atraentes. E os movimentos de oração ao redor do mundo são sem precedentes, em número e em possibilidades. Em nosso próprio Estado a Coalizão de Minnesota para a Oração (Minnesota Prayer Coalition) é um movimento sem precedentes para unir o corpo de Cristo a fim de orar por um reavivamento da igreja de Cristo e para o avanço do Reino.
Mas, quando comparamos, não existe ainda um ressurgimento marcante da prática do jejum, em relação ao ressurgimento do culto e da oração. Bill Bright sugeriu que Deus bem poderá querer que todos os três elementos - culto, oração e jejum - estejam presentes, e que a igreja se humilhe e esteja faminta pela prática do jejum, antes que Ele possa abençoar tão grandemente quanto o deseja. A negligência dessa prática é sobremaneira perceptível.
Uma crescente fome pelo jejum
O que primeiro fizeram em Orlando foi abrir o acesso ao microfone a algumas pessoas, para que dissessem por que haviam vindo. Eu ouvia com meus ouvidos sintonizados em nossa situação aqui e com a questão sobre quando nós deveríamos convocar a igreja para um dia semanal de jejum. A segunda pessoa a levantar-se foi um membro da organização Promisse Keepers - (Guardadores da Promessa) que disse estar lá por que cria que jejuar era crucial e que aquela organização estava considerando seriamente chamar aos homens a jejuar um dia por semana, a saber, às quarta-feiras. Mais tarde, na reunião, Paul Cedar, da Igreja Livre, disse que, historicamente, a igreja fazia jejuns semanalmente como parte normal de sua vida. Perguntava-se se não deveria voltar a fazê-lo.
Quando voltei, Bob Hamlett mostrou-me que Promisse Keepers havia, de fato, nascido em uma atmosfera de jejum. Em sua edição de outono, a publicação Men in Action - (Homens em Ação), diz:
“Em 1990 o treinador McCartney buscou 72 homens que se comprometessem a orar e a jejuar durante o período de almoço todas as quarta-feiras”, [para o que eu, também, estou chamando agora], “orando especificamente para que o Deus Todo-Poderoso possa mover os corações dos homens a buscar a Jesus Cristo”. O conselho, equipe de liderança e muitos dos funcionários estão outra vez comprometidos com esse objetivo, e os convidam a juntarem-se a nós.
Bem, estou feliz em comunicar aos Promisse Keepers, a Bill Bright e, acredito, que a milhares de crentes ao redor do mundo, especialmente em lugares como na Coréia do Sul, que eu estou ansioso para ajuntar-me com vocês. E eu estou convidando nossa igreja para que, de igual maneira, se ajunte conosco.
Estes são dias maravilhosamente cheios de esperança em Bethlehem. Na próxima semana explicarei, com base em Mateus 9: 14 – 17, porque eu creio que um povo cheio de esperança desejará jejuar. Por enquanto, convido-os a que façam diversas coisas: comprem e comecem a ler God’s Chosen Fast, de Arthur Wallis (publicado pela Christian Literature Crusade), orem para descobrir de que maneira o Senhor quer que vocês se juntem aos tempos especiais de oração nesta semana, inclusive a noite de oração nesta sexta-feira, e busquem ao Senhor a respeito do Seu chamado, em sua vida, para o jejum.