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English: ‘It Doesn’t Make Sense’

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Por Jon Bloom Sobre Sofrimento

Tradução por Jaianny Apolinario

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Tabela de conteúdo

Quando um suicídio nos pega de surpresa

“Não faz sentido algum e não parece ser verdade.” Mais um suicídio.

Um amigo meu me enviou esta mensagem. Ele tinha um amigo, um cristão cuja fé parecia ser autêntica e vibrante, mas que sucumbiu a uma obscuridade incompreensível e a um desespero incomunicável. Desespero este que fez com que ele pensasse (ao menos no momento da decisão final) não ser mais capaz de viver com aquilo. Meu amigo ficou muito abalado após ser pego de surpresa por uma tragédia que desafia qualquer explicação.

Chamamos de “problema do mal” a tentativa de conciliar a existência do mal e do sofrimento em um mundo governado por um Deus onipotente, onisciente e benevolente. Referir-se a essa questão como um “problema” é apenas o começo da questão quando se trata de descrever nossas experiências neste mundo corrompido.

Devolva o fruto

Aquele amigo animado de repente tira sua própria vida. Um filho querido morre de alguma doença. Testemunhamos torturas. O conjugue em quem confiamos nos abandona. As torres, arruinadas pelos aviões, desabam em cima de três mil almas. O abuso que sofremos nos deixa cobertos de vergonha por décadas. Tragédias e pecados como estes quase nunca fazem sentido para nós. Quanto mais próximo estamos da destruição causada pelo mal, mais caótico e sem sentido tudo isso nos parece.

Em experiências como essas, podemos ver a real natureza do mal — e ela é pior do que imaginávamos. Os próprios eventos ruins, assim como a boa escolha divina de não os impedir de acontecer (especialmente quando Deus escolheu livrar outras pessoas) excedem os limites de nossa capacidade racional. Somos deixados com perguntas angustiadas e perturbadoras que só podem ser respondidas por Deus. Na maioria das vezes, ele sequer as responde — ao menos, não especificamente. Raramente ele revela seus propósitos específicos para ter permitido nossas tragédias específicas e toda a destruição que resulta delas.

Descobrimos que simplesmente não somos capazes de suportar o peso do conhecimento do bem e do mal. É um conhecimento complexo demais para aguentar. Excede completamente nossos limites. E a verdade misericordiosa é que Deus não nos pede para suportá-lo. Ele pede que o confiemos a ele. Ele pede que devolvamos o fruto.

A misericórdia do mistério

Há mistérios que são grandes bênçãos. Grandes, grandes bênçãos.

O fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal continha um segredo — segredo este que Deus disse que deveria permanecer um mistério. Deus avisou o homem e a mulher que seria melhor se os dois não comessem daquele fruto. Caso contrário, morreriam. Deus desejava que eles confiassem a ele o mistério e a administração deste conhecimento (Gênesis 2:17).

Entretanto, satanás disse a eles que este fruto não os mataria, mas abriria seus olhos para a magnitude do conhecimento de Deus, tornando-os tão sábios quanto Deus (Gênesis 3:4–5). Eles acreditaram nele, por isso comeram. Então, seus olhos foram abertos e eles conheceram o bem e o mal de maneiras como nunca antes haviam conhecido. Eles não estavam equipados para lidar com tal conhecimento, e desde então, temos vivido debaixo deste conhecimento.

Além do nosso entendimento

Como resultado deste primeiro pecado, Deus submeteu o mundo à inutilidade (Romanos 8:20) e foi concedido ao maligno um tipo de poder para governar (1 João 5:19). O pecado nos infectou profundamente. Nossos olhos se abriram para um tipo de conhecimento que excedia nossa capacidade de compreensão, mas também nos tornamos extremamente suscetíveis ao engano.

Nossa natureza pecaminosa também afetou nossa habilidade de compreender e apreciar o bem. É por isso que precisamos “compreender . . . o amor de Cristo que excede todo conhecimento” (Efésios 3:18–19). É por isso que devemos buscar, através da oração intencional, “a paz de Deus, que excede todo entendimento” quando estivermos ansiosos (Filipenses 4:7). É por isso que precisamos do “espírito de sabedoria e de revelação” para iluminar “os olhos dos [nossos] corações . . . a fim de que [nós] conheçamos a esperança para a qual ele [nos] chamou” (Efésios 1:17–18). A bondade de Deus ultrapassaria nossa imaginação mesmo se não cometêssemos nenhum pecado. Porém, ela se torna ainda maior perante nossas inevitáveis falhas (1 Coríntios 2:9).

Abrimos mão de uma grande bênção ao acreditar que poderíamos ser tão sábios quanto Deus, abrindo assim a caixa de Pandora do mistério do conhecimento do bem e do mal.

Os mistérios no sofrimento de Jó

A palavra "mistério" refere-se àquilo que existe nas dimensões da realidade para além de nossa percepção (coisas que não conseguimos ver) ou compreensão (coisas que não conseguimos entender). Algumas coisas são mistérios porque estamos alheias a elas, até que Deus decida revelá-las a nós. Já outros mistérios, podemos até estar cientes de sua existência, mas os mesmos excedem nossa capacidade de compreensão, ao menos nesta era.

O livro de Jó é uma grande obra de literatura antiga inspirada por Deus para ilustrar nossa experiência com esses mistérios e nos mostrar como a restauração de nossas almas começa ao entregarmos o fruto de volta para Deus. O propósito por trás das tragédias de Jó era um mistério para ele e seus amigos por causa daquilo que eles não podiam ver ou saber.

Os amigos de Jó pensavam que entendiam o conhecimento do bem e do mal o suficiente para diagnosticar o sofrimento de Jó. Eles estavam errados (Jó 42:7). No fim, Deus não se explicou a Jó, porém desafiou sua crença de que ele compreendia a sabedoria de Deus. Jó respondeu pondo sua mão sobre a boca e dizendo, “falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber. . . Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:3, 6), efetivamente devolvendo o fruto para Deus.

A mensagem do livro de Jó não é que Deus odeia quando as pessoas extravasam seu espanto perante as dores e tragédias da vida. Na verdade, o filho de Deus, ao se tornar carne e habitar entre nós, gritou em meio a sua agonia: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Mateus 27:46). A mensagem de Deus — que é uma mensagem central da Bíblia inteira — é esta: “confie em mim.” Se Deus não nos permite enxergar ou saber certar coisas, ele tem motivos para isso, em sua infinita misericórdia.

Quando pensamos sobre este assunto, vemos que Deus projetou o evangelho e a vida cristã no intuito de solicitar que devolvamos e continuemos devolvendo o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, — a fim de devolver a Deus aquilo que pertence a Deus, aquilo que nunca deveria ter pertencido ao ser humano.

Confie nele nos momentos sombrios

Há uma explicação para a realidade do bem e do mal ultrapassar nossas limitadas percepções, sobrecarregar nossa limitada compreensão e ameaçar sobrepujar nosso circuito emocional e psicológico. Podemos até ter sido feitos de modo especial e admirável (Salmos 139:14), porém também somos incrivelmente finitos. Há muitas coisas que são maravilhosas demais para nosso entendimento. A paz que excede todo entendimento (Filipenses 4:7), a qual tanto precisamos, está disponível para quem estiver disposto a confiar no Senhor de todo coração sem se apoiar em seu próprio entendimento (Provérbios 3:5).

Quando respondi a mensagem de meu amigo, ao vê-lo passar pelo luto causado pelo trágico suicídio de seu amigo, busquei capturar a essência destas verdades em algumas poucas frases. Ele me pediu para escrever mais sobre isso e foi o que tentei fazer aqui. Diante de uma tragédia devastadora, percebemos que simplesmente não somos equipados para aguentar o peso do conhecimento completo do bem e do mal. A verdade misericordiosa é que Deus não nos pede para suportá-lo. Ele pede que confiemos nele. Ele pede que devolvamos o fruto.