O Livro de Jó: Porque o Justo Sofre?

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English: The Book of Job: Why Do the Righteous Suffer?

© Ligonier Ministries

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Por R.C. Sproul Sobre Sofrimento
Uma Parte da série Right Now Counts Forever

Tradução por Roberto Freire

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Na área de estudos bíblicos, existem cinco livros que são geralmente incluídos sob a categoria de “literatura de sabedoria” ou de “livros poéticos do Velho Testamento”. São eles os livros de Provérbios, os Salmos, o Eclesiastes, os Cantares de Salomão e o livro de Jó. Desses cinco livros, um se destaca com nítido relevo, manifestando-se significativamente diferente dos demais. A sabedoria que encontramos no livro de Jó, não é comunicada em forma de provérbios. Em vez disso, o livro de Jó lida com questões de sabedoria no contexto de uma narrativa que trata com a profunda angústia e com a excruciante dor de Jó. O cenário dessa narrativa é a era patriarcal. Algumas questões têm surgido com respeito ao propósito do autor para esse livro: se uma narrativa sobre um personagem histórico real, ou se é um drama, com um prólogo que inclui a abertura do cenário, no céu, envolvendo um discurso entre Deus e Satanás, e movendo-se para o clímax num epílogo, enquanto se completam todas as mais dolorosas perdas de Jó no transcurso de sua aflição.


O cerne da mensagem do livro de Jó é a sabedoria que responde à questão do envolvimento de Deus com o problema do sofrimento humano. Em todas as gerações, protestos se levantam dizendo que, se Deus é bom, então não deveria existir dor, nem sofrimento ou morte no mundo. Acompanhando esse protesto, quanto ao fato de que o mal atinge também as pessoas boas, tentativas têm sido feitas para criar uma escala de dor, pelo qual se assume que o índice do sofrimento de um indivíduo, está em proporção direta com o grau de sua culpa ou com a gravidade do seu pecado cometido. A resposta rápida a essa questão encontra-se no capítulo nove do evangelho segundo João, onde Jesus responde a seus discípulos a questão concernente à origem do sofrimento do homem nascido cego.


No livro de Jó, o personagem é descrito como sendo um homem justo. Na verdade, o homem mais justo que existia em toda a terra, mas, de quem Satanás dizia que era justo apenas porque recebia bênçãos das mãos de Deus. Deus havia posto uma cerca ao redor de Jó e o havia abençoado acima de todos os mortais e, como resultado, o diabo o acusa de servir a Deus apenas em razão da generosa recompensa que recebia do seu Criador. O desafio, assim, procede do Maligno que desejava que Deus removesse a cerca de proteção, para ver se Jó não começaria, então, a maldizer a Deus. Conforme a história se desenvolve, o sofrimento de Jó segue em rápido progresso de mal para pior. Seu sofrimento foi tão intenso, que o encontramos sentado em um monte de esterco, amaldiçoando o dia em que nasceu e gemendo sob uma dor sem tréguas. Seu sofrimento é tão grande, que, até mesmo sua mulher, o aconselha a amaldiçoar a Deus e, desta maneira, morrer, aliviado de sua agonia. O que se segue é o aconselhamento dos amigos de Jó, Elifaz, Bildade e Zofar, cujos testemunhos demonstram quão vazia, e quão superficial, era a lealdade deles para com seu amigo e quão presunçosos eram em assumir que a indescritível miséria de Jó, se devia à degeneração radical de seu caráter.


O aconselhamento de Jó alcança um nível mais elevado com uma reflexão perspicaz pronunciada por Eliú. Este contribui com diversos discursos que trazem, em si, muitos elementos de sabedoria bíblica. A sabedoria final, porém, a ser encontrada nesse grandioso livro, vem, não dos amigos de Jó ou de Eliú, mas de Deus mesmo. Quando Jó demanda uma resposta de Deus, Ele lhe responde com esta repreensão: “Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Cinge, pois, os lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me responderás” (Jó 38:2-3). O que resulta dessa reprimenda é uma interrogação sobremaneira intensa, jamais imposta pelo Criador. Achamos, à primeira vista, que Deus está provocando Jó, a ponto de perguntar “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra?” (verso 4). Deus levanta questão após questão tais como: “Ou poderás tu atar as cadeias do Sete-estrelo ou soltar os laços do Órion? Ou fazer aparecer os signos do Zodíaco ou guiar a Ursa com seus filhos?” (versos 31 – 32). Obviamente, a resposta a essas questões retóricas, que se seguem rapidamente como tiros de uma metralhadora, seria sempre, “Não, não, não”. Deus malha, com insistência em seu contínuo interrogatório, o aspecto da inferioridade e dependência de Jó, e, pergunta após pergunta questiona a habilidade de Jó para fazer coisas que ele evidentemente não pode fazer. Coisas que só mesmo Deus, claramente, é capaz de realizar.


No capítulo 40, Deus, finalmente, diz a Jó: “Acaso, quem usa de censuras contenderá com o Todo-Poderoso? Quem assim argúi a Deus que responda” (verso 2). Agora, a resposta de Jó, já não é mais uma demanda desafiadora buscando respostas à sua miséria. Ao contrário, ele replica: “Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Uma vez falei e não replicarei, aliás, duas vezes, porém não prosseguirei” (Versos 4 e 5). E Deus, conhecido em Jó como El Shaddai, recomeça sua interrogação e segue, ainda com mais profundidade, um tiroteio de perguntas que demonstram o imenso contraste entre o Seu poder e a impotência de Jó. Finalmente, Jó confessa que essas coisas são por demais maravilhosas. Ele diz: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (42:5, 6).


O admirável nesse drama é que Deus nunca responde diretamente às perguntas de Jó. Ele não diz, “Jó, a razão porque tu sofres é esta ou aquela”. Em vez disso, o que Deus faz, no mistério da injustiça de tão profundo sofrer, é responder a Jó com Sua própria Pessoa. E esta é a resposta sábia à questão do sofrimento – não a resposta sobre porque temos que sofrer de alguma maneira particular, em determinado tempo e em circunstâncias peculiares, mas onde nossa esperança descansa em meio ao sofrimento.


Essa resposta vem diretamente da sabedoria do livro de Jó, que concorda com as demais promessas da literatura de sabedoria: o temor do Senhor, a veneração e a reverência diante de Deus, é o princípio da sabedoria. Quando desnorteados neste mundo, e confusos por coisas que não podemos entender, nós não devemos procurar por respostas específicas a questões específicas, mas pelo conhecimento de Deus em Sua santidade, Sua justiça, Sua retidão e Sua misericórdia. Aí está a sabedoria encontrada no livro de Jó.