A Definição do Novo Nascimento

De Livros e Sermões Bíblicos

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English: The New Birth Defined

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Por William S. Plumer Sobre Salvação
Uma Parte da série Fe Para Hoje

Tradução por Editora Fiel


Do começo ao fim, a salvação é inteiramente pela graça. Paulo disse: “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 3.3-6). Esta passagem deixa claro que, pela graça e mediação de nosso Senhor Jesus Cristo, o Espírito Santo é enviado para regenerar nossa natureza e realizar em nós o novo nascimento. O perdão salva um pecador da maldição da Lei e do lago de fogo; a aceitação por meio de Cristo lhe concede a entrada no céu; mas na regeneração o domínio do pecado começa a ser destruído, e a alma passa a ser ajustada para o uso do Senhor.

O novo nascimento é um grande mistério, mas as Escrituras se referem a ele com persistência. “O lavar regenerador” é tão necessário quanto o lavar do sangue de Cristo. “O lavar renovador do Espírito Santo” é tão essencial quanto a “justificação que dá vida”. No espaço de quatro versículos, nosso Senhor declara três vezes a importância do novo nascimento para que alguém seja salvo. Escute o que Ele diz: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus... Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo” (Jo 3.3, 5, 7). O campo de pousio[1] deve ser arado, pois, do contrário, a boa semente não é arraigada em nosso coração. A oliveira brava deve ser enxertada na boa oliveira ou permanece sem valor. Toda a Escritura ensina essa doutrina. Cristo não via como surpreendente o fato de que um vil pecador tinha de passar por uma grande mudança espiritual, antes de tornar-se idôneo para servir a Deus.

Talvez não exista um erro mais absurdo do que o ensino de que o batismo com água é a regeneração sobre a qual Jesus Cristo e seus apóstolos insistiam. Quando os homens confundem “o lavar regenerador” com o lavar por meio da água, estão plenamente prontos a seguir (e, de fato, estão seguindo) os passos daqueles que confundiram a “circuncisão... que é somente na carne” com a circuncisão que é “do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus” (Rm 2.29). Por semelhante modo, talvez não exista um erro mais prejudicial do que este. É monstruoso que tal erro e loucura sejam ensinados em países onde a Palavra de Deus é tão conhecida.

Alguns acrescentam ao batismo uma mudança exterior e insistem que isso deve ser admitido como suficiente. Supondo que isto fosse o que Cristo e seus apóstolos queriam dizer, seria impossível defendê-los da acusação de usar linguagem muito enigmática para comunicar uma idéia tão simples. Entretanto, tal crença nunca foi acolhida por aqueles que têm um respeito apropriado pela Palavra de Deus. Portanto, este assunto não exigirá mais atenção neste momento.

Teólogos sensatos têm concordado notavelmente em nos dizer o que é a regeneração. O Dr. Witherspoon disse: “O novo nascimento envolve uma mudança total; alcança a pessoa por inteiro, não alguma particularidade, mas toda a pessoa, sem exceção”. Ele mostra de forma detalhada que o novo nascimento não é parcial, externo, imperfeito, e sim total, interno, essencial, completo e sobrenatural.

Charnock disse: “A regeneração é uma mudança imensa e poderosa realizada na alma pela obra eficaz do Espírito Santo, na qual um princípio vital, um novo comportamento, a Lei de Deus e uma natureza divina são colocados e formados no coração, capacitando a pessoa a agir com santidade, de um modo que agrada a Deus, e fazendo-a crescer nisto para a glória eterna”.

O Dr. Thomas Scott cita, e aprova, outra definição, mas não revela o nome do autor. Ele disse: “A regeneração pode ser definida como uma mudança realizada pelo poder do Espírito Santo no entendimento, na vontade e nas afeições de um pecador, o que consiste no início de um novo tipo de vida e dá outra direção à sua opinião, aos seus desejos, às suas buscas e à sua conduta”

Embora esta mudança seja chamada por vários nomes, a doutrina bíblica referente a ela é uniforme. Às vezes, é chamada de santa vocação, criação, nova criação, transportar, circuncisão do coração, ressurreição. Entretanto, seja qual for o nome, o verdadeiro sentido é comunicado em toda a Escritura, em termos muito solenes e como um rico fruto da graça de Deus. Assim diz Paulo: “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim...” (Gl 1.15-16). Mais uma vez: “[Deus] que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2 Tm 1.9). E Pedro diz: “O Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória” (1 Pe 5.10).

As igrejas mais puras jamais duvidaram da necessidade desta mudança. Elas também concordam quanto à natureza de tal mudança. A Assembléia de Westminster[2] ensina que Deus “se agrada em chamar [os eleitos], de um modo eficaz, no tempo que Ele estabeleceu, por meio de sua Palavra e Espírito, do estado de pecado e morte, no qual, por natureza, encontram-se, para a graça e salvação por intermédio de Jesus Cristo. Deus faz isso iluminando a mente deles, de forma espiritual e salvífica, para que entendam as coisas de Deus; tirando deles seu coração de pedra e dando-lhes um coração de carne; renovando-lhes a vontade; induzindo-os, por seu imenso poder, àquilo que é bom e levando-os com eficácia a Jesus Cristo. Mesmo quando se chegam a Cristo o mais livremente possível, ainda estão recebendo, pela graça de Deus, esta disposição”.[3]

A Segunda Confissão Helvética [4] diz: “Na regeneração, o entendimento é iluminado pelo Espírito Santo, para que possa compreender os mistérios e a vontade de Deus. E a vontade em si mesma não somente é mudada pelo Espírito, mas também é dotada de habilidades, de modo que, por iniciativa própria, possa querer e fazer o bem”.[5] E cita como prova Romanos 8.4; Jeremias 31.33; Ezequiel 36.27; João 8.36; Filipenses 1.6, 29; 2.13.

O Sínodo de Dort[6] diz: “Esta graça regeneradora de Deus não age nos homens como se eles fossem seres inanimados; não anula a vontade nem as características da vontade deles; e não a constrange com violência, mas vivifica espiritualmente, cura, corrige e, com poder, embora gentilmente, submete-a; a fim de que, onde a rebeldia da carne e a obstinação antes dominavam sem controle, agora comece a reinar uma obediência disposta e sincera ao Espírito. Esta mudança constitui o resgate e a liberdade verdadeira e espiritual de nossa vontade...”[7]

A verdade é que, se ignoramos a regeneração, a única esperança de um pecador ser novamente santo ou feliz acaba para sempre. A Igreja da Irlanda[8] defende que “todos os eleitos de Deus são, em seu tempo, inseparavelmente unidos a Cristo, pela influência vital e eficaz do Espírito Santo, procedente dEle, como cabeça, para cada membro verdadeiro de seu corpo espiritual. Assim, tendo sido feito um com Cristo, os eleitos são verdadeiramente regenerados e transformados em co-participantes dEle, bem como de todos os seus benefícios”.[9] De fato, nada aflige mais uma pessoa que considera, de forma correta, o estado de perdição em que se encontra do que ver destruída ou seriamente abalada a esperança que brota da doutrina da regeneração... Cada homem que já teve seus olhos abertos para contemplar sua própria miséria e vileza concordará com a declaração de Usher: “Não é uma pequena transformação que salva o homem, não, nem toda a moralidade do mundo, nem todas as graças comuns do espírito de Deus, nem a mudança externa da vida; tudo isso não é suficiente, a menos que sejamos vivificados e que uma nova vida seja produzida em nós”

Em sua idade avançada, quando não enxergava mais o suficiente para ler, John Newton ouviu alguém repetir o seguinte texto: “Pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15.10). Ele permaneceu calado por alguns instantes e, como se falasse consigo mesmo, disse: “Eu não sou o que devo ser. Ah! quão imperfeito sou! Não sou o que desejo ser. Abomino o que é mau e anelo apegar-me ao que é bom. Não sou o que espero ser. Logo me despirei da mortalidade e, com ela, de todo pecado e imperfeição. Embora não seja o que devo ser, o que desejo ser e o que espero ser, ainda posso dizer, em verdade, que não sou o que fui outrora, escravo do pecado e de Satanás; posso, sinceramente, unir-me ao apóstolo e reconhecer: ‘Pela graça de Deus, sou o que sou’”.

Nosso segundo nascimento nos leva a um estado de graça. É uma das misericórdias mais ricas da aliança de Deus. Quando uma pessoa nasce de novo, acontece um ataque fatal ao reino de Satanás no coração, pois “o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3.6). Esta é uma obra de poder espantoso! O Sínodo de Dort teve um bom motivo para ensinar que “Deus, ao regenerar um homem, usa uma força absoluta por meio da qual Ele é capaz de, poderosa e infalivelmente, submeter e redirecionar a vontade do homem para a fé e a conversão”.[10] Paulo usou todas as palavras fortes que ele conhecia para nos ensinar que somos renovados por poder, por uma força surpreendente. Ele orou para que os crentes de Éfeso soubessem “qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos” (Ef 1.19-20). Não conhecemos poder maior do que a força que realizou a ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Também o mesmo poder converte a alma... O Dr. Nevins diz: “Alguns pensam e descrevem a salvação de uma alma como algo fácil — a ação de subjugar a vontade — a mudança de um coração. Fácil? É a maior obra de Deus... Deus, ao salvar uma alma, empregou uma força maior do que a necessária para criar muitos mundos”. Em seu livro Views in Theology, o Dr. Beecher admite: “O poder de Deus na regeneração está entre as maiores demonstrações de sua onipotência na história do universo. Quando a formosa criação surgiu da mão de Deus, em frescor de beleza, as estrelas matutinas cantaram juntas, e todos os filhos de Deus gritaram de alegria. Entretanto, canções mais encantadoras celebrarão e brados mais sonoros se farão ouvir na consumação da redenção pelo poder do Espírito de Deus...”

William S. Plumer (1802–1880). Ministro americano da Igreja Presbiteriana, autor de Vital Godliness, The Law of God e muitos outros livros. Nasceu em Greensburg (Pensilvânia).

  1. Campo de pousio – a terra deixada sem cultivo e sem plantação durante a época de plantio para que se torne mais fértil; nãocultivada.
  2. A Assembléia de Westminster de 1643 (ou, tradicionalmente, a Assembléia dos Teólogos de Westminster) – uma assembléia de 121 teólogos designados pelo Longo Parlamento “Puritano” com a finalidade de elaborar propostas para a reforma da igreja da Inglaterra. A Assembléia produziu a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Breve, o Diretório do Culto Público e a Forma de Governo Eclesiástico.
  3. Confissão de Fé de Westminster, 10.1.
  4. Segunda Confissão Helvética — uma confissão da reforma suíça, escrita por Henrique Bullinger (1504–1575).
  5. Segunda Confissão Helvética, 9.6.
  6. O Sínodo de Dort ou Dordt – um conselho convocado para regular a séria controvérsia nas igrejas holandesas iniciadas pela ascensão do arminianismo. Os arminianos eram seguidores de Jacob Arminius, um professor de teologia na Universidade de Leiden que questionava o ensino de Calvino em certos pontos importantes.
  7. Os Artigos de Dort, 3.16
  8. Os Artigos Irlandeses – cento e quatro pontos teológicos adotados pela Igreja Episcopal Irlandesa (1615), escritos por James Usher (ver nota 14). Estes artigos influenciaram muito a Confissão de Fé de Westminster.
  9. Artigos de Religião Irlandeses 33
  10. Cânones do Sínodo de Dort: Rejeição de erros nos capítulos três e quatro, nos nove artigos.