Sinais e Maravilhas: Antes e Agora
De Livros e Sermões BÃblicos
Por John Piper Sobre Dons Espirituais
Tradução por Desiring God
Parte 1: Maravilhas são contra a Palavra?
Eu sou uma daquelas pessoas da Conferência Geral Batista que crê que "sinais e maravilhas" e todos os dons espirituais de 1 Coríntios 12:8-10 são validos para hoje, e devem ser "procurados com zelo" (1 Coríntios 14:1), para a edificação da igreja e divulgação do evangelho. Eu concordo com as palavras de Martyn Lloyd-Jones, pregadas em 1965:
Está perfeitamente claro que na época do Novo Testamento, o evangelho era autenticado dessa forma por sinais, maravilhas e milagres de várias personagens e descrições. . . . Isso estava destinado a ser realidade somente para a igreja primitiva? . . . As Escrituras nunca, em lugar algum, dizem que essas coisas eram apenas temporárias – nunca! Não há tal afirmação em nenhum lugar. (The Sovereign Spirit, pg. 31-32 - "O Espírito Soberano", ainda sem tradução em português)
Meu propósito aqui não é defender qualquer padrão de ministério contemporâneo. Em vez disso, quero dar razões bíblicas para minha convicção e respostas bíblicas para algumas objeções. Essa convicção flui do meu compromisso calvinista, centrado em Deus e baseado na Bíblia com a soberania de Deus e a supremacia da sua Palavra revelada. Não é o afastamento de qualquer verdade que eu tenha defendido no passado.
Esta questão determina meu ponto de partida: A experiência de sinais e maravilhas é prejudicial à centralidade da Escritura e da pregação? Em outras palavras, isso deprecia o poder sobrenatural da Palavra de Deus escrita e pregada? Isso contradiz a suficiência do evangelho para salvar pecadores? A procura por sinais significa uma perda de confiança na palavra da cruz?
A razão pela qual levo essa questão tão a sério é que ela está enraizada nos textos bíblicos. Romanos 1:16 diz, "O evangelho é o poder de Deus para salvação". O evangelho, não sinais e maravilhas. Paulo diz, "Os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; Mas nós pregamos a Cristo crucificado . . . o poder de Deus . . ." (1 Coríntios 1:22-23). A "palavra da cruz é . . . o poder de Deus" (1 Coríntios 1:18). A busca por sinais é um desvio do poder de Cristo crucificado. Então, Jesus mesmo disse, "Uma geração má e adúltera pede um sinal" (Mateus 12:39; 16:4).
Mas há uma falha fatal em trazer esses textos contra todo anseio por sinais e maravilhas. Eles provariam demais. Se desejar sinais e maravilhas dilui o poder do evangelho – então os primeiros Cristãos e os próprios apóstolos eram imorais e adúlteros, porque eles apaixonadamente queriam que Deus fizesse sinais e maravilhas juntamente com sua poderosa pregação.
Por exemplo, Pedro e João e os discípulos oraram em Atos 4:29-30, "Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; Enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus." Aqui temos homens e mulheres de Deus orando para que sinais e maravilhas aconteçam no nome de Jesus. E Lucas não os retrata como uma "geração ímpia e adúltera" por fazer isso. Eles são exemplares.
Não somente isso, mas o próprio Lucas trabalha no livro de Atos para mostrar como sinais e maravilhas são valiosos em ganhar pessoas para Cristo. Ele não os retrata como uma ameaça ao evangelho, mas como testemunhas do evangelho. A razão pela qual a igreja orou tão apaixonadamente em Atos 4:29-30 para que sinais e maravilhas acontecessem, é porque Deus estava usando-os para trazer multidões a Cristo.
Eu contei pelo menos 17 vezes onde milagres ajudam a levar a conversões no livro de Atos. Os exemplos mais claros estão em Atos 9:34-35 e 9:40,42. Pedro cura Enéias, e Lucas diz, "E viram-no todos os que habitavam em Lida e Sarona, os quais se converteram ao Senhor." Pedro levanta Tabita dos mortos, e Lucas diz, "E foi isto notório por toda a Jope, e muitos creram no Senhor."
Não há dúvida que a operação de milagres, sinais e maravilhas ajudaram a trazer pessoas a Cristo. Isso é o que Lucas quer que nós vejamos, e é por isso que os Cristãos oraram para que sinais e maravilhas acontecessem.
Isso levanta duas perguntas: 1) Por que a oração por sinais e maravilhas em Atos 4:29-30 não era imoral e adúltera, tendo em vista o que Jesus disse em Mateus 12:39? e 2) Por que a busca e ocorrência de sinais e maravilhas, no esforço missionário dos cristãos do primeiro século, não contradiz a suficiência do evangelho como o poder de Deus para salvação?
A resposta para a primeira pergunta vem do contexto da acusação de Jesus sobre a busca de sinais. Buscar sinais de Deus é "imoral e adúltero" quando a demanda por mais e mais evidências vem de um coração resistente, e quando simplesmente mascara uma falta de vontade de acreditar. Se estamos tendo um caso de amor com o mundo, e nosso esposo, Jesus, depois de uma longa separação, vem a nós e diz "Eu te amo e te quero de volta", uma das melhores formas de proteger nossa relação adúltera com o mundo é dizer, "Você não é meu marido; você não me ama de verdade. Prove. Me dê algum sinal." Se esse é o modo como exigimos um sinal, então somos um geração imoral e adúltera.
Mas se nos aproximamos de Deus com um coração dolorido ansiando pelo louvor da sua glória e salvação de pecadores, então não somos imorais e adúlteros. Somos uma esposa fiel, querendo somente honrar nosso esposo.
A resposta para a segunda pergunta – a pergunta, por que sinais e maravilhas não precisam diminuir o poder do evangelho – vem da própria explicação de Lucas de como as maravilhas e a palavra estão relacionadas. Em Atos 14:3 ele diz que Paulo e Barnabé "Detiveram-se, pois, muito tempo [em Icônico], falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à palavra da sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios". Isso é absolutamente crucial: sinais e maravilhas são testemunhas de Deus para sua palavra. Eles não estão em competição com a palavra. Eles não são contra a palavra. Eles não estão acima da palavra. Eles são testemunhas divinas para o valor, verdade, necessidade e centralidade da palavra (veja também Hebreus 2:4; Marcos 16:20).
Sinais e maravilhas não são a palavra salvífica da graça; eles são o testemunho secundário de Deus à palavra da sua graça. Sinais e maravilhas não salvam. Eles não são o poder de Deus para salvação. Eles não transformam o coração – não mais do que música ou arte ou drama que acompanham o evangelho. Sinais e maravilhas podem ser imitados por Satanás (2 Tessalonicenses 2:9; Mateus 24:24), mas o evangelho é totalmente contrário à sua natureza. O que transforma o coração e salva a alma é a glória auto-autenticadora de Cristo vista na mensagem do evangelho (2 Coríntios 3:18-4:6).
Mas mesmo que sinais e maravilhas não possam salvar a alma, eles podem, se Deus quiser, quebrar a casca de desinteresse; eles podem quebrar a casca do cinismo; eles podem quebrar a casca da falsa religião. Como qualquer outro bom testemunho da palavra da graça, eles podem ajudar o coração caído a fixar seu olhar no evangelho, onde a glória do Senhor auto-autenticadora e que salva a alma, brilha. Portanto, a igreja primitiva ansiava que Deus estendesse sua mão para curar, e para que sinais e maravilhas fossem realizados em nome de Jesus.
O fato de que os primeiros Cristãos oraram tão fervorosamente por sinais e maravilhas (Atos 4:29-30) é ainda mais impressionante quando você percebe que eles, de todas as gerações, não estavam tão necessitados de autenticação sobrenatural. Essa era a geração cuja pregação (de Pedro, Estevão, Filipe e Paulo) era mais ungida do que a pregação de qualquer geração seguinte. Se alguma pregação foi o poder de Deus para salvação e não precisou do acompanhamento de sinais e maravilhas, foi essa pregação.
Além disso, essa era a geração que tinha provas mais imediatas e convincentes da verdade da ressurreição do qualquer geração desde então. Centenas de testemunhas oculares da ressurreição do Senhor estavam vivas em Jerusalém. Se alguma geração na história da igreja conhecia o poder da pregação e a autenticação do evangelho por provas em primeira mão da ressurreição, foi essa. Contudo, foram eles que oraram apaixonadamente para que Deus estendesse a mão em sinais e maravilhas.
Portanto, concluo que em nosso zelo pela centralidade da palavra, não devemos ir além da palavra, fazendo sinais e maravilhas inimigas da palavra da cruz. Ninguém foi mais zeloso pelo poder da palavra do que Paulo. Contudo, ele descreveu sua missão como Cristo trabalhando através dele "pelo poder dos sinais e prodígios" (Romanos 15:19). Seria este o exclusivo "sinal de um apóstolo" e portanto, não válido para nós? Eu não penso assim. Essa será a pergunta respondida na próxima seção.
Parte 2: Sinais e Maravilhas e "os Sinais do Apóstolo"
Na seção anterior eu argumentei que quando os primeiros Cristãos oraram por sinais e maravilhas (Atos 4:29-30) eles não eram "maus e adúlteros"; nem estavam abandonando a centralidade da pregação da cruz. Sinais e maravilhas testemunharam à palavra da graça (Atos 14:3); eles não a substituíram. Eles não salvaram; eles ajudaram abrir as pessoas ao evangelho que é o poder de Deus para salvação.
Outra objeção levantada contra os sinais e maravilhas é que aqueles que os perseguem, não levam a sério a futilidade de um mundo caído, o chamado cristão para sofrer, e o "ainda não" do reino. Essa é uma objeção muito importante, porque vivemos em um mundo fútil e caído (Romanos 8:21-22). Nós gememos em corpos que não serão redimidos antes da segunda vinda (Romanos 8:23). O poder de Cristo se aperfeiçoa em nossa fraqueza (2 Coríntios 12:9-10). Por muitas aflições nos importa entrar no reino (Atos 14:22). E nossa tribulação produz para nós um peso eterno de glória (2 Coríntios 4:17).
A resposta à essa objeção é que sinais e maravilhas acontecem dentro do sofrimento ministerial, não em vez disso. Perceba que todos os textos citados no parágrafo anterior sobre o papel do sofrimento vem de Paulo. Isso não é surpreendente, porque bem no início do seu ministério, Jesus disse, "E eu lhe mostrarei [Paulo] quanto deve padecer pelo meu nome" (Atos 9:16). A vida de Paulo foi uma longa experiência de sofrimentos - fisicamente, emocionalmente, espiritualmente e relacionalmente.
Por isso perguntamos: Isso tornou os sinais e maravilhas inconsistentes no seu ministério? Não. Ele resumiu seu ministério dessa forma: "Porque não ousarei dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para fazer obedientes os gentios, por palavra e por obras; pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus" (Romanos 15:18-19).
Em outras palavras, uma vida de sofrimento e um ministério de sinais e maravilhas não eram inconsistentes para o apóstolo. C. K. Barrett colocou assim no seu Comentário de 2 Coríntios: "Milagres não eram contradição da teologia da cruz que Paulo proclamou e praticou, uma vez que eles não foram realizados em um contexto de triunfante sucesso e prosperidade, mas no meio da aflição e da calúnia que ele foi obrigado a encarar" (p. 321).
O que isso significa é que muitos curandeiros extravagantes de hoje estão longe do espírito de Paulo. Mas isso significa também que a oração por sinais e maravilhas hoje, não é, necessariamente, uma negação do chamado Bíblico ao sofrimento. O ministério de Paulo (para não mencionar o de Jesus) prova isso. Se virmos um homem em uma cadeira de rodas realizando um ministério de cura para os outros, que não estejamos entre aqueles que se afastam e dizem as ameaçadoras palavras, "Médico, cura-te a ti mesmo." O "espinho" de Paulo, sem dúvida, se aprofundou mais ainda com cada cura que ele realizou.
Agora a pergunta surge: Os milagres de Paulo eram o único "sinal de um apóstolo"? Será que devemos evitar orar por sinais e maravilhas hoje, uma vez que eles foram feitos para autenticar a autoridade dos apóstolos que eram, de uma vez por todas, a fundação da igreja (Efésios 2:20)?
Em 2 Coríntios 12:11-12, Paulo está defendendo seu apostolado. Ele diz, "Em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos, ainda que nada sou. Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas." Observe as palavras com cuidado. Os "sinais do apóstolo" não são equivalentes a sinais e maravilhas. Os "sinais do apóstolo" são feitos "por (ou com) sinais, maravilhas e prodígios." (Cuidado: a NVI perde totalmente a construção grega!)
Isso provavelmente significa que "sinais, maravilhas e prodígios" eram parte do trabalho de validação de Deus na vida de Paulo, mas de jeito nenhum sua totalidade. Por exemplo, Paulo chama o poder transformador da sua pregação de "selo do apostolado": "Não sou eu apóstolo? . . . Vós [meus convertidos] sois o selo do meu apostolado" (1 Coríntios 9:1-2; veja também 2 Coríntios 3:2). Ele também diz que a maneira que ele trabalha sem pedir por pagamento, é uma maneira de mostrar sua autenticidade (2 Coríntios 11:7-12); e todos os sofrimentos que ele suporta pelo evangelho, são mencionados como evidência da sua vindicação sobre os "falsos apóstolos" (2 Coríntios 11:22-33). Charles Hodge sugere oito evidências do apostolado que devem ser incluídos no "os sinais do apóstolo" (Commentary on 2nd Corinthians, pg 291 - "Comentário sobre 2 Coríntios", ainda sem tradução em português).
O texto não exige que "sinais e maravilhas" sejam únicos aos apóstolos. Por exemplo, se eu digo, "O sinal de um ciclista profissional são coxas fortes," eu não quero dizer que nenhum não-profissional tem coxas fortes. Eu só quero dizer que os profissionais tem, e que quando tomado juntamente com outras evidências, isso pode te ajudar a saber que uma pessoa é um ciclista profissional. Paulo não está dizendo que somente os apóstolos podem realizar sinais e maravilhas. Ele está dizendo que os apóstolos certamente podem, e que juntamente com outras coisas, isso ajudará os Coríntios a saberem que ele é um verdadeiro apóstolo.
Considere uma analogia com a operação de milagres de Jesus. Era um sinal do seu messiado? Sim, era. Em Mateus 11:2, os discípulos de João Batista perguntaram, "És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?" A resposta de Jesus foi, "Anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho." Em outras palavras, seria justo dizer que os milagres de Jesus eram "os sinais do messiado."
No entanto, em Mateus 10:8 Jesus envia os doze e diz, "E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios." Eles deveriam fazer os milagres que ele estava fazendo. Mas isso não prova que cada um dos doze era o Messias. Então de alguma forma os milagres de Jesus podiam evidenciar seu messiado, apesar de que os não-messias poderiam realizá-los. A razão é que os próprios milagres são somente parte da evidência. Tomados juntamente com outras coisas, eles confirmam seu messiado. O mesmo acontece com "os sinais do apóstolo". Não é que somente os apóstolos podem realizá-los, mas é que eles são uma parte crucial da evidência.
Existem boas razões bíblicas para pensar que sinais e maravilhas não são destinados por Deus para serem únicos aos apóstolos. Eu vou mencionar quatro.
- Jesus enviou os setenta, não somente os doze apóstolos, "E curai os enfermos" (Lucas 10:9). E quando eles voltaram, eles disseram que os demônios foram sujeitados a eles no nome de Jesus (Lucas 10:17). Esses milagres no nome de Jesus mostram que os sinais e maravilhas apostólicos não são únicos aos apóstolos.
- No livro de Atos, Estêvão "fazia prodígios e grandes sinais entre o povo" (Atos 6:8), mesmo estando na categoria de "diácono", e não na categoria de apóstolo (Atos 6:5). Semelhantemente o livro diz que "as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia" (Atos 8:6). Filipe não era um apóstolo, mas realizou sinais milagrosos.
- Paulo escreve a todas as igrejas da Galácia e diz, "Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, fá-lo pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?" (Gálatas 3:5). O ponto é que Deus está, agora, dando seu Espírito aos Gálatas e operando milagres entre eles quando ele não está lá. Hans Dieter Betz observa que "o [presente] particípio 'dá' (epichoregon) sugere um suprimento contínuo mais do que um 'derramamento' inicial e momentâneo" (Hermenia, Galatians, pg. 135 - "Gálatas - Hermenia", ainda sem tradução em português). E Ernest Burton diz, "Tendo em vista o dativo 'vos' depois de 'dá', supõe-se que as 'maravilhas' não devem ter sido operadas principalmente por Paulo, mas pelos próprios Gálatas, como 1 Coríntios 12:10, 28, 29 sugere que foi o caso entre os Coríntios" (I.C.C., Galatians, pg. 152 - "Gálatas", I.C.C., ainda sem tradução em português).
Peter Masters não lida adequadamente com esse fato gramatical, quando ele diz que esses milagres se referem aos próprios milagres de Paulo, os quais ele tinha operado entre os Gálatas quando ele estava recentemente entre eles (The Healing Epidemic, pg. 134 - "A epidemia da cura", ainda sem tradução em português). Burton também luta com nossa mesma questão a respeito dos "sinais do apóstolo" e astutamente observa, "2 Coríntios 12:12 de fato sugere que tais coisas foram sinais do apóstolo; contudo, provavelmente não no sentido de que ele só os operou, mas que os poderes miraculosos do apóstolo foram, de alguma forma, mais notáveis, ou que eles constituíram uma parte da evidência do seu apostolado" ("Gálatas", pg. 152)
- Finalmente, 1 Coríntios 12:9-10 diz que entre os dons espirituais dados aos membros da igreja em Corinto estavam "dons de cura" e "operação de maravilhas." Então (como Burton sugere) esses "sinais e maravilhas" não eram o "sinal do apóstolo" no sentido de que somente os apóstolos poderiam realizá-los. Vários membros abençoados da igreja foram também habilitados nesse sentido. Isso é confirmado nos versos 27-29, onde esses dons são distintos do dom do apostolado.
Portanto, se sinais e maravilhas não eram limitados em função de validar o ministério de Jesus e dos apóstolos, mas tinham um papel na edificação e no trabalho evangelístico da igreja em geral, então há uma boa razão para confiar em Deus para seu uso adequado hoje. Na próxima seção, veremos que o Novo Testamento apela para isso mesmo.
Parte 3: Sinais e Maravilhas até que Jesus Venha
Na seção anterior, eu argumentei que "sinais e maravilhas" no Novo Testamento não eram privilégios somente dos apóstolos. Os "setenta" os realizaram (Lucas 10:9, 17), diáconos os realizaram (Atos 6:8, 8:6), gálatas cristãos os realizaram (Gálatas 3:5), coríntios cristãos os realizaram (1 Coríntios 12:9-10). Já que sinais e maravilhas não eram privilégios dos apóstolos, não há garantia no Novo Testamento para se deduzir que esses milagres cessariam depois da era apostólica.
De fato, nessa seção quero discutir que o Novo Testamento ensina que os dons espirituais (incluindo aqueles mais óbvios, sobrenaturais ou reveladores como profecia e línguas) continuarão até que Jesus venha. O uso de tais dons (milagres, fé, curas, profecia, etc) dá origem ao que, algumas vezes, pode ser chamado de "sinais e maravilhas." Portanto, sinais e maravilhas são parte da bênção que devemos buscar em oração hoje.
Não há nenhum texto no Novo Testamento que ensine a cessação desses dons. Mas mais importante do que esse silêncio, é o texto que explicitamente ensina a continuidade deles até que Jesus venha, a saber, 1 Coríntios 13:8-12.
O ponto principal dessa passagem é que o amor é superior aos dons espirituais como "profecias" e "línguas" e "conhecimento". O argumento base para a superioridade do amor é que ele dura para sempre, enquanto esses dons não. Eles cessam "quando vier o que é perfeito," mas o amor continua para sempre. O motivo dado por que esses dons cessam é que eles são "imperfeitos". Mas quando o "perfeito" vier, o imperfeito desaparecerá. Assim a questão chave é: Quando é que o "perfeito" vem, que marca o fim dos dons imperfeitos como o da profecia?
A resposta está clara no texto se seguirmos a linha de raciocínio de Paulo. Versículo 8 diz, "O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá" (ARC). Por que esses dons são temporários? A resposta é dada no verso 9: "Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos." Assim, a razão pela qual esses dons espirituais são temporários é sua incompletude ou imperfeição.
Quanto tempo então, eles vão durar? O versículo 10 dá a resposta: "Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado." Mas quando será isso? Quando o perfeito virá? A resposta é dada no verso 12: "Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido." O "agora" da incompletude e imperfeição se contrasta com o "então" de se ver face a face, e conhecer assim como somos conhecidos.
Desse modo, a reposta à questão de quando o perfeito virá e quando os imperfeitos dons espirituais desaparecerão é o "então" do verso 12, a saber, o tempo de ver "face a face" e "conhecer como somos conhecidos." Quando isso acontecerá?
Ambas estas frases ("ver face a face" e "conhecer como somos conhecidos") são esticadas além do ponto de ruptura se dissermos que elas se referem ao fechamento do cânone do Novo Testamento ou o fechamento da era apostólica. Ao invés disso, elas se referem à nossa experiência na segunda vinda de Jesus. Aí então, "assim como é o veremos" (1 João 3:2). A frase "face a face" no Velho Testamento Grego se refere a ver Deus pessoalmente (Gênesis 32:30; Juízes 6:22). O comentário centenário de Thomas Edwards está certo ao dizer que "Quando o perfeito vier no advento de Cristo, então o cristão conhecerá Deus intuitivamente e diretamente, ainda que ele já fosse conhecido de Deus" (First Epistle to the Corinthians, pg, 353, itálicos adicionados - "Primeira Epístola aos Coríntios", ainda sem tradução em português).
Isso significa que o verso 10 pode ser parafraseado: "Quando Cristo voltar, o imperfeito desaparecerá." E como "o imperfeito" se refere aos dons espirituais, como profecia e conhecimento e línguas, podemos parafrasear mais além: "Quando Cristo voltar, então profecia, e conhecimento, e línguas desaparecerão."
Aqui está uma afirmação definida sobre o tempo da cessação dos dons espirituais, e esse tempo é a segunda vinda de Cristo. Richard Gaffin não faz justiça ao próprio texto do verso 10 quando ele diz, "O tempo da cessação da profecia e línguas é uma questão aberta até aqui, no que diz respeito a esta passagem" (Perspectives on Pentecost, pg. 111 - "Perspectivas sobre o Pentecostes", publicado em português pela editora Os Puritanos). Não é uma questão aberta. Paulo diz, "Quando o perfeito vier [naquele tempo, não antes ou depois], o imperfeito [dons como profecia e línguas, etc.] desaparecerão."
Portanto, 1 Coríntios 13:8-12 ensina que tais dons espirituais continuarão até a segunda vinda de Jesus. Não há motivo para excluir dessa conclusão os outros dons "imperfeitos" mencionados em 1 Coríntios 12:8-10. Como esses incluem milagres, fé, curas, etc., com o que nós associamos "sinais e maravilhas", há uma prova clara no Novo Testamento para esperar que os "sinais e maravilhas" vão continuar até Jesus voltar.
Agora some a essa conclusão a franca ordem em 1 Coríntios 14:1, e você verá porque alguns de nós não estão somente abertos, mas também buscando essa grande plenitude do poder de Deus hoje. Essa ordem diz, "Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar." E isso é repetido duas vezes: "Procurai com zelo os melhores dons" (12:31); "Procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas" (14:39).
Eu imagino quantos de nós disseram, por anos, que estamos abertos para o mover de Deus nos dons espirituais, mas desobedecemos a essa ordem de procurá-los com zelo, especialmente o de profecia? Eu perguntaria a todos nós: Estamos tão certos do nosso proceder hermenêutico para diminuir os dons, que correríamos o risco de andar em desobediência a uma clara ordem das Escrituras? "Procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar."
Cheguei ao ponto de ver que o risco toma outro rumo. Seria um risco não buscar os dons espirituais para mim mesmo e para minha igreja. Seria um risco não orar com a igreja primitiva, "Concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus." Desobediência é sempre um risco maior do que obediência.
Muito da minha experiência me indispõe a "procurar com zelo os dons espirituais", especialmente o dom da profecia. Entretanto, eu não baseio minha oração por tal fortalecimento espiritual em experiência, mas na Bíblia. As Escrituras são suficientes em todas as circunstâncias, nos ensinando os meios de graça para serem usados em todas as circunstâncias. E eu concordo com Martyn Lloyd-Jones que um dos meios de graça necessário em nossos dias é a extraordinária demonstração de poder através de sinais e maravilhas. Aqui está o que ele disse:
O que é necessário é alguma demonstração poderosa do poder de Deus, alguma realização do Todo-Poderoso, que irá forçar as pessoas a prestar atenção, e olhar, e escutar. . . . Quando Deus age, ele pode fazer mais em um minuto, do que um homem com sua organização pode fazer em cinquenta anos. (Revival, pg. 121-122 - "Avivamento" - publicado em português pela editora PES)
Lloyd-Jones chama essa poderosa demonstração de poder de "um novo batismo no Espírito Santo" e ele relaciona isso diretamente com os dons espirituais.
O propósito especial . . . do batismo com o Espírito Santos é nos capacitar para testificar, para dar testemunho, e uma das formas em que isso acontece é através da concessão de dons espirituais. (The Sovereign Spirit, pg. 120)
Através da prática desses dons, ele vê a possibilidade de "forçar as pessoas a prestar atenção" em seu rápido caminho para a destruição. Através disso, o evangelho poderia receber uma nova autenticação em nossos dias como nos dias dos apóstolos.
Está perfeitamente claro que na época do Novo Testamento, o evangelho era autenticado dessa forma por sinais, maravilhas e milagres de várias personagens e descrições. . . . Isso estava destinado a ser realidade somente para a igreja primitiva? As Escrituras nunca, em lugar algum, dizem que essas coisas eram apenas temporárias – nunca! Não há tal afirmação em nenhum lugar. (The Sovereign Spirit, pg. 31-32)
Mas agora podemos dizer ainda mais. Em 1 Coríntios 13:8-12, há um claro ensinamento que essas coisas não eram somente passageiras, mas elas foram feitas para durar até que Jesus venha.