5 Erros do Evangelho da Prosperidade
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Edição actual tal como 12h16min de 9 de setembro de 2014
Por David W. Jones Sobre Teologia Bíblica
Tradução por Editora Fiel
Há mais de um século, falando à então mais numerosa congregação em toda a cristandade, Charles Spurgeon disse:
Eu creio que é anticristão e pecaminoso para qualquer cristão viver com a finalidade de acumular riquezas. Você dirá: “Não devemos lutar o quanto pudermos para conseguirmos todo o dinheiro que pudermos?” Você pode fazer isso. De qualquer maneira, não posso duvidar que ao fazê-lo, você possa servir à causa de Deus. Mas o que eu disse é que viver com a finalidade de acumular riquezas é anticristão.[1]
Ao longo dos anos, contudo, a mensagem pregada em algumas das maiores igrejas do mundo mudou — de fato, um novo evangelho está sendo ensinado a muitas congregações hoje. Muitos nomes têm sido atribuídos a tal evangelho: o evangelho do “declare e tome posse”, o evangelho do “fale e receba”, o evangelho da “saúde e riqueza”, o “evangelho da prosperidade” e a “teologia da confissão positiva”.
Não importa qual nome seja usado, a essência desse novo evangelho é a mesma. Colocando de maneira simples, esse “evangelho da prosperidade” egocêntrico ensina que Deus quer que os crentes sejam fisicamente saudáveis, materialmente ricos e pessoalmente felizes. Ouça as palavras de Robert Tilton, um dos mais conhecidos representantes do evangelho da prosperidade nos Estados Unidos: “Eu creio que é a vontade de Deus que todos prosperem, porque eu vejo isso na Palavra, não porque isso funcionou poderosamente para outra pessoa. Eu não olho para homens, mas para Deus que me dá o poder para adquirir riquezas”. [2] Mestres do evangelho da prosperidade encorajam seus seguidores a orar e até mesmo a exigir prosperidade material de Deus.
Cinco erros teológicos do evangelho da prosperidade
Recentemente, Russel Woodbridge e eu escrevemos um livro chamado Health, Wealth, and Happiness (Saúde, Riquezas e Felicidade, em tradução livre) para examinar as alegações dos defensores do evangelho da prosperidade.[3] Embora nosso livro seja demasiadamente amplo para resumi-lo aqui neste artigo, eu gostaria de rever cinco doutrinas que cobrimos em nosso livro — doutrinas sobre as quais os defensores do evangelho da prosperidade erram. Discernindo tais erros a respeito das doutrinas-chave, espero que os leitores vejam claramente os perigos do evangelho da prosperidade. As doutrinas que eu cobrirei são a aliança Abraâmica, a expiação, ofertas, fé e oração.
1. A aliança Abraâmica é um meio para o direito a bens materiais
O primeiro erro que consideraremos é que o evangelho da prosperidade vê a aliança Abraâmica como um meio para o direito a bens materiais.
A aliança Abraâmica (Gn 12, 15, 17, 22) é uma das bases teológicas do evangelho da prosperidade. É bom que os teólogos da prosperidade reconheçam que muito da Escritura é o registro do cumprimento da aliança Abraâmica, mas é ruim que eles não mantenham uma visão ortodoxa de tal aliança. Eles possuem uma visão incorreta do princípio da aliança; mais significativamente, eles possuem uma visão errônea a respeito de sua aplicação.
Edward Pousson definiu muito bem a visão da prosperidade na aplicação da aliança Abrâmica quando escreveu: “Os cristãos são os filhos espirituais de Abraão e herdeiros das bênçãos da fé [...] Tal herança Abraâmica se dá primariamente em termos de direitos materiais”.[4] Em outras palavras, o evangelho da prosperidade ensina que o propósito primário da aliança Abraâmica era Deus abençoar Abraão materialmente. Visto que agora os crentes são os filhos espirituais de Abraão, eles herdaram tais bênçãos financeiras.
O mestre da prosperidade Kenneth Copeland escreveu: “Visto que a aliança de Deus foi estabelecida e a prosperidade é uma provisão de tal aliança, você precisa perceber que a prosperidade agora pertence a você!”[5]
Para apoiar essa declaração, os mestres da prosperidade apelam para Gálatas 3.14, que se refere à “bênção de Abraão chegando aos gentios por Jesus Cristo”. É interessante, contudo, que em seus apelos em Gálatas 3.14, os mestres da prosperidade ignorem a segunda metade do versículo, que diz: “... a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. Nesse versículo, Paulo estava claramente lembrando os gálatas sobre a bênção espiritual da salvação, não a bênção material da riqueza.
2. A expiação de Jesus se estende ao “pecado” da pobreza material.
Um segundo erro teológico do evangelho da prosperidade é uma visão deficiente da expiação.
O teólogo Ken Sarles escreve que “o evangelho da prosperidade afirma que tanto a cura física quanto a prosperidade financeira foram concedidas através da Expiação”.[6] Esta parece ser uma observação acurada à luz do comentário de Kenneth Copeland de que “o princípio básico da vida cristã é saber que Deus depositou os nossos pecados, doenças, enfermidades, aflições, pesares e pobreza sobre Jesus no Calvário”.[7] Tal equívoco a respeito do escopo da expiação decorre de dois erros que os defensores do evangelho da prosperidade cometem.
Primeiro, muitos que defendem a teologia da prosperidade têm uma concepção errônea da vida de Cristo. Por exemplo, o mestre John Avanzini proclamou: “Jesus tinha uma boa casa, uma casa grande”[8], “Jesus lidava com muito dinheiro”[9], e ele até mesmo “vestia roupas de grife”[10]. É fácil ver como tal visão distorcida da vida de Cristo poderia levar a uma concepção igualmente distorcida da morte de Cristo.
Um segundo erro que leva a uma visão deficiente da expiação é uma interpretação errônea de 2 Coríntios 8.9, que diz: “Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”. Embora uma leitura superficial desse versículo possa levar alguém a crer que Paulo estava ensinando sobre um aumento da riqueza material, uma leitura contextualizada revela que Paulo, na verdade, estava ensinando exatamente o princípio oposto. De fato, Paulo estava ensinando aos coríntios que, uma vez que Cristo conquistou tantas coisas por eles, através da expiação, eles deveriam esvaziar-se de suas próprias riquezas a serviço do Salvador. É por isso que, em apenas cinco curtos versículos depois, Paulo insistirá que os coríntios doem suas riquezas para irmãos em necessidade “suprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles” (2Co 8.14).
3. Os cristãos dão ofertas para ganhar compensação material de Deus
Um terceiro erro do evangelho da prosperidade é que os cristãos deveriam dar ofertas para ganhar compensação material de Deus. Uma das mais notáveis características dos teólogos da prosperidade é a sua aparente fixação com o ato de dar. Estudantes do evangelho da prosperidade são incitados a dar generosamente e são confrontados com declarações piedosas como: “A verdadeira prosperidade é a habilidade de usar o poder de Deus para atender às necessidades da humanidade em cada esfera da vida”[11]; e: “Nós fomos chamados para financiar o evangelho para o mundo”[12]. Embora tais declarações pareçam ser dignas de louvor, tal ênfase nas ofertas é construída sobre motivos que são qualquer coisa, menos filantrópicos. A força propulsora por trás desse ensino sobre dar é o que o mestre da prosperidade Robert Tilton se refere como a “Lei da Compensação”. De acordo com essa lei, que é supostamente baseada em Marcos 10.30, [13] os cristãos precisam dar generosamente a outros, porque, quando dão, Deus lhes dará mais em troca. Isso, por sua vez, levaria a um ciclo de prosperidade sempre crescente.
Como Gloria Copeland disse: “Dê $10 e receba $1000; dê $1000 e receba $100.000 [...] resumindo, Marcos 10.30 é um ótimo negócio”[14]. É evidente, portanto, que a doutrina do evangelho da prosperidade de dar é construída sobre motivos deficientes. Enquanto Jesus ensinava aos seus discípulos “dá, sem esperar nada em troca” (Lc 10.35), os teólogos da prosperidade ensinam os seus discípulos a darem, porque terão algo muito maior em troca.
4. Fé é uma força espiritual autogerada que leva à prosperidade
Um quarto erro da teologia da prosperidade é o seu ensino de que a fé é uma força espiritual autogerada que leva à prosperidade. Enquanto o cristianismo ortodoxo entende a fé como a confiança na pessoa de Jesus Cristo, os mestres da prosperidade abraçam uma doutrina bastante diferente. Em seu livro The Laws of Prosperity (As Leis da Prosperidade, em tradução livre), Kenneth Copeland escreve: “Fé é uma força espiritual, uma energia espiritual, um poder espiritual. É essa força da fé que faz as leis do mundo espiritual funcionarem. [...] Há certas leis governando a prosperidade revelada na Palavra de Deus. A fé faz com que elas funcionem”.[15] Esse é obviamente um entendimento distorcido, talvez até mesmo herético, da fé.
De acordo com a teologia da prosperidade, fé não é um ato da vontade de Deus, concedido por Deus e centralizado em Deus. Mas é uma força espiritual humanamente forjada, dirigida a Deus. De fato, qualquer teologia que vê a fé somente como um meio para o ganho material, em vez da justificação diante de Deus, deve ser julgada deficiente e inadequada.
5. A oração é uma ferramenta para forçar Deus a conceder prosperidade.
Finalmente, o evangelho da prosperidade trata a oração como uma ferramenta para forçar Deus a conceder prosperidade. Os pregadores do evangelho da prosperidade frequentemente observam que nós não temos, porque não pedimos (Tg 4.2). Os defensores do evangelho da prosperidade encorajam os crentes a orar por sucesso pessoal em todas as áreas da vida. Creflo Dollar escreve: “Quando oramos, crendo que já recebemos aquilo pelo qual oramos, Deus não tem escolha a não ser fazer as nossas orações se tornarem realidade [...] Essa é uma chave para conseguir resultados como cristão”[16].
Certamente as orações por bênçãos pessoais não são inerentemente erradas, mas a ênfase demasiada do evangelho da prosperidade sobre o homem transforma a oração em uma ferramenta que os crentes podem usar para forçar Deus a conceder seus desejos.
Dentro da teologia da prosperidade, o homem — não Deus — se torna o foco da oração. Curiosamente, os pregadores da prosperidade frequentemente ignoram a segunda metade do ensino de Tiago sobre a oração que diz: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tg 4.3). Deus não responde a solicitações egoístas que não honram o seu nome.
Certamente todas as nossas petições devem ser levadas ao conhecimento de Deus (Fp 4.6), mas o evangelho da prosperidade se concentra tanto nos desejos dos homens, que pode levar as pessoas a fazerem orações egoístas, superficiais e frívolas, que não trazem a glória para Deus. Além disso, quando combinada com a doutrina de fé do evangelho da prosperidade, tal ensino pode levar as pessoas a tentarem manipular Deus para conseguirem o que querem — uma tarefa vã. Isso está muito longe da oração que deseja que a vontade de Deus seja feita.
Um falso evangelho
À luz da Escritura, o evangelho da prosperidade é fundamentalmente defeituoso. Na base, o evangelho da prosperidade é, na verdade, um falso evangelho devido à sua visão distorcida sobre o relacionamento entre Deus e o homem. Em outras palavras, se o evangelho da prosperidade é verdadeiro, a graça é obsoleta, Deus é irrelevante e o homem é o centro de todas as coisas. Quer eles estejam falando sobre a aliança Abraâmica, a expiação, as ofertas, a fé ou a oração, os mestres da prosperidade transformam o relacionamento entre Deus e o homem em uma transação quid pro quo.[17] Como James R. Goff observou, Deus é “reduzido a uma espécie de ‘serviçal cósmico’, atendendo às necessidades e desejos da sua criação”.[18] Essa é uma visão completamente inadequada e antibíblica do relacionamento entre Deus e o homem.
[1] Tom Carter, ed., 2,200 Quotations from the Writings of Charles H. Spurgeon (Grand Rapids: Baker Book House, 1988), 216.
[2] Robert Tilton, God’s Word about Prosperity (Dallas, TX: Word of Faith Publications, 1983), 6.
[3] David W. Jones and Russell S. Woodbridge, Health, Wealth, and Happiness: Has the Prosperity Gospel Overshadowed the Gospel of Christ? (Grand Rapids: Kregel, 2010).
[4] Edward Pousson, Spreading the Flame (Grand Rapids: Zondervan, 1992), 158.
[5] Kenneth Copeland, The Laws of Prosperity (Fort Worth, TX: Kenneth Copeland Publications, 1974), 51.
[6] Ken L. Sarles, “A Theological Evaluation of the Prosperity Gospel,” Bibliotheca Sacra 143 (Oct.-Dec. 1986): 339.
[7] Kenneth Copeland, The Troublemaker (Fort Worth, TX: Kenneth Copeland Publications, 1996), 6.
[8] John Avanzini, “Believer’s Voice of Victory,” programa na TBN, 20 de janeiro de 1991. Citado em Hank Hanegraaff, Christianity in Crisis (Eugene, OR: Harvest House, 1993), 381.
[9] Idem, “Praise the Lord,” programa na TBN, 15 de setembro de 1988. Citado em Hanegraaff, 381.
[10] Avanzini, “Believer’s Voice of Victory.”
[11] Kenneth Copeland, The Laws of Prosperity, 26.
[12] Gloria Copeland, God’s Will is Prosperity (Fort Worth, TX: Kenneth Copeland Publications, 1973), 45.
[13] Outros versículos sobre os quais baseiam a “Lei da Compensação” incluem Ec 11.1, 2Co 9.6 e Gl 6.7.
[14] Gloria Copeland, God’s Will, 54.
[15] Kenneth Copeland, The Laws of Prosperity, 19.
[16] Creflo Dollar, “Prayer: Your Path to Success,” 2 de março de 2009, http://www.creflodollarministries.org/BibleStudy/Articles.aspx?id=329 (acessado em 30 de outubro de 2013).
[17] A expressão tem origem latina e significa “tomar uma coisa por outra”. No uso do português tem o significado de confusão ou engano.
[18] James R. Goff, Jr., “The Faith That Claims,” Christianity Today, vol. 34, fevereiro de 1990, 21.