Você não precisa compreender agora
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Jon Bloom Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Daniele Weidle
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Jesus falou muitas palavras profundas e importantes para os seus discípulos na noite anterior à sua crucificação. Mas há uma declaração que facilmente passa despercebida, por causa do contexto em que Ele a fez. No entanto, tem um significado pessoal para cada um de nós, seus seguidores:
“O que eu faço você não compreende agora, mas vai entender depois” (João 13:7, NAA).
Nessa única frase, Jesus fala sobre uma realidade profunda que é nossa experiência frequente e, em certa medida, contínua como cristãos: não compreender o que Deus está fazendo (ou não fazendo) e por quê. É fundamental compreendermos as implicações mais amplas do que Jesus disse aqui, pois, se o fizermos, isso nos ajudará imensamente nos momentos em que nos perguntamos por que nosso Bom Pastor está nos conduzindo por caminhos tão confusos e dolorosos.
Frequentemente não sabemos agora o que Deus está fazendo. E a verdade é que não precisamos saber o que Deus está fazendo para termos fé Nele, para segui-Lo.
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Você não compreende agora
Durante aquela última ceia, Jesus fez algo estranho. Ele tirou suas vestes, amarrou uma toalha na cintura, pegou uma bacia com água e começou a lavar os pés de cada discípulo. Duvido que isso nos atinja com a mesma força com que atingiu os discípulos, já que os costumes culturais daquela região e época são tão distantes e estranhos para nós. Para os discípulos isso soou mais do que estranho, isso foi desorientadoramente inadequado.
Com certeza foi assim com Pedro. Durante toda a sua vida, ele compreendeu que lavar os pés de outra pessoa era uma tarefa tão degradante quanto qualquer outra que alguém pudesse realizar, uma tarefa adequada apenas a escravos ou, na falta deles, para crianças. Teria sido vergonhoso para homens de honra. Então, ao observar Jesus, a Pessoa mais honrada do mundo, humilhando-se ao assumir o lugar de um escravo comum, lavando com suas próprias mãos sagradas (Deus sabe quais impurezas estavam grudadas naqueles pés), ele ficou indignado. Isso estava completamente errado! Se fosse para fazer alguma coisa, Pedro deveria estar de joelhos lavando os pés de seu Senhor.
Quando Jesus chegou em Pedro, o discípulo sincero recuou os pés e perguntou: “Senhor, vai lavar meus pés?”. Jesus olhou para Pedro e, com paciência e gentileza, respondeu: “O que eu estou fazendo você não compreende agora, mas vai entender depois” (João 13:7).
E aí está: um princípio fundamental para a vida de fé de todo cristão, na verdade, um resumo de um tema presente em toda a Escritura, do início ao fim, capturado em uma resposta simples à pergunta de um discípulo confuso.
O legado do pouco entendimento
Pedro, ao não compreender o motivo de Jesus estar fazendo isso naquele momento, estava em boa companhia. A história da redenção reconta história atrás de história de santos encontrando-se nessa mesma posição de perplexidade, sendo forçados a confiar em Deus, pois mais tarde faria sentido. Pense:
- Abraão, tendo esperado tanto tempo por Isaque, apenas para ser instruído por Deus a oferecê-lo como sacrifício (Gênesis 22);
- Jacó lutando com Deus e ser ferido no quadril, pouco antes de se encontrar com Esaú (Gênesis 32);
- José imaginando o que Deus estava fazendo enquanto sua juventude era desperdiçada em uma prisão egípcia (Gênesis 37-41);
- Moisés não compreendendo por que Deus o escolheria para liderar a saída do povo de Israel do Egito (Êxodo 3-4);
- Gideão recebendo muito mais do que ele poderia suportar (Juízes 7);
- Josafá sendo instruído a enviar um coral como sua vanguarda militar para enfrentar um adversário poderoso (2 Crônicas 20);
- Neemias tendo que lidar com adversidade e obstáculos aparentemente desnecessários e ineficientes que desaceleraram o trabalho de reconstrução dos muros de Jerusalém (Neemias 4);
- José tentando lidar com tantos imprevistos e confusões nos primeiros anos da vida de Jesus (Mateus 1-2);
- O homem nascido cego, que até a meia-idade não sabia quais propósitos Deus poderia ter em seu sofrimento (João 9);
- E a perplexidade e o luto de Marta e Maria sobre por que Jesus não veio curar Lázaro (João 11).
Claro, essa é uma pequena amostra. Não compreender agora o que Deus está fazendo (e ter de esperar até mais tarde para compreender) é a experiência, em maior ou menor grau, de todos os santos em todas as épocas; quer “mais tarde” signifique dentro de alguns minutos, como aconteceu com Pedro durante a última ceia, ou na era vindoura, como aconteceu com seu companheiro discípulo Tiago, que não foi poupado da execução (Atos 12:1-2). É uma parte necessária e humilde do que significa para nós o “andar pela fé, não pelo que se vê” (2 Coríntios 5:7).
Você precisa confiar em mim
Ficar satisfeito em não compreender agora não é algo natural para nós. E, com certeza, não foi para Pedro. Ele achou a resposta de Jesus confusa. E a paciência não era a sua característica mais forte, ele não queria esperar para compreender mais tarde. Por isso, ele disse: “O senhor nunca lavará os meus pés!” (João 13:8).
Na minha interpretação, acredito que Pedro não queria desonrar seu Senhor. Isso pode ter sido bem-intencionado, mas foi equivocado. Ao responder dessa forma, Pedro acabou fazendo o que ele estava tentando evitar: desonrar Jesus. Pois a grande desonra não foi Pedro permitir que Jesus lavasse seus pés, foi não confiar no que Jesus disse. E aqui está um ponto importante para nós observarmos: estamos em um terreno muito perigoso quando acreditamos que entendemos melhor do que Deus.
Acho que Jesus compreendeu perfeitamente a boa intenção de Pedro. Mas Ele também percebeu o perigo da tendência equivocada e excessivamente confiante de Pedro em confiar em seu próprio entendimento. É por isso que a resposta de Jesus foi tão séria. Isso chocou Pedro profundamente. “Se eu não lavar, você não terá parte comigo” (João 13:8). Não terá parte comigo. Desconfiar disso significava exclusão. Pedro entendeu imediatamente e arrependeu-se, exclamando: “Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça!” (João 13:9).
E qual era o argumento de Jesus? Pedro, você precisa confiar em mim. Você precisa viver segundo o antigo provérbio, confiar no que Eu falo com todo o seu coração e não se apoiar em seu próprio entendimento (Provérbios 3:5). A única maneira de vocês, como ramos, permanecerem em mim e darem frutos nesta Videira é se acreditarem na minha palavra (João 15:1-5, 7). Se você insistir que precisa entender agora antes de confiar em mim, você será como um galho quebrado e murchará espiritualmente até morrer (João 15:6).
Você não precisa compreender agora
Muitas das experiências que nos confundem ao seguirmos Jesus, parecem muito mais dolorosas e confusas do que o lava-pés. Pedro compreenderia, afinal, a maioria de suas experiências eram muito mais dolorosas e confusas do que isso. Basta pensar na desolação que se aproximava para Pedro nas horas seguintes a essa breve conversa durante a refeição. Às vezes, são as lições que aprendemos em momento menos extremos que ficam mais claras e nos ajudam a nos manter firmes durante os momentos mais extremos.
O fato é que, frequentemente não sabemos o que Deus está fazendo no momento. E a verdade é que não precisamos saber o que Deus está fazendo agora para ter fé Nele, para segui-Lo. Deus tem suas razões para ocultar seus propósitos. Às vezes, tem a ver com o Seu tempo, como aconteceu com Pedro. E às vezes, porque os caminhos e os pensamentos de Deus estão tão além dos nossos (Isaías 55:8-9), é simplesmente a misericórdia de Deus para conosco, ao nos poupar de um conhecimento que seria pesado demais para suportarmos.
Não precisamos compreender agora o propósito de Deus; o que precisamos fazer é confiar agora nos propósitos de Deus. Pois é por meio da nossa confiança, e não do nosso próprio entendimento, que Deus nos guiará ao longo dos nossos caminhos confusos (Provérbios 3:6). E podemos confiar que, mais tarde, quando chegar o momento certo, num futuro próximo ou distante, Ele nos dará toda a compreensão de que precisamos.
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