Seu trabalho em casa não é em vão
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Courtney Reissig Sobre Trabalho e Vocação
Tradução por Aline Araujo
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Todo dia, perto das seis horas, tem um barulho que acaba comigo. Não é um alarme para voltar ao trabalho. Não é, necessariamente, uma coisa que os de fora veriam como algo capaz de derrubar alguém. Mas para mim (e meu marido), pode arrancar suspiros profundos de pura exaustão.
É o barulho da caixa de brinquedos sendo despejada pelo chão.
Nós temos três filhos de até quatro anos (um par de gêmeos e um filho único). Geralmente, depois do jantar, eles brincam sozinhos enquanto nós arrumamos a cozinha. Na falta da supervisão de um adulto, um dos nossos filhos inevitavelmente decide esparramar todos os brinquedos pelo chão. Sem nenhum motivo ou lógica. Para ele, é pura e simples diversão. Mas para nós, significa mais trabalho. E assim, quando encaramos a maratona da hora de dormir, a bagunça do jantar e mais a missão de supervisionar a coleta dos brinquedos recém-espalhados, nos sentimos derrotados pelas tarefas à nossa frente.
Esses momentos geralmente nos fazem sentir que nosso trabalho em casa é feito em vão. Brinquedos espalhados assim que terminamos de guardá-los. Macarrão jogado por todo o chão limpo. Manchas na calça que você acabou de lavar. Ervas daninhas que crescem mais rápido do que a grama. Um projeto de final de semana que acaba se tornando um empreendimento de um mês inteiro.
Que esperança temos diante da futilidade do nosso trabalho em casa? Isso é algo que me pergunto quase todo dia. Talvez você também.
Correndo Atrás do Vento
Se você, assim como eu, também tem dificuldade com as partes do trabalho do seu dia-a-dia que parecem inúteis, o livro de Eclesiastes é uma boa fonte de encorajamento. Ele nos ajuda a compreender e nomear os sentimentos de insignificância com os quais lutamos todos os dias. Ao longo de todo o livro, o autor (alguns suspeitam que tenha sido o rei Salomão) luta entre o que ele sabe ser verdade e o que ele vivencia no mundo ao seu redor.
Ele sabe que Deus nos deu boas coisas para usufruirmos. Ele sabe que Deus nos deu um bom trabalho para fazer (como visto em Gênesis 1-2). Ele sabe que esta vida não é tudo o que existe. Mas ao se deparar com a queda, o pecado e a futilidade, surge a pergunta: será que tudo isso é em vão? Geralmente, é isso que sentimos.
Ele retrata a futilidade da vida em um mundo marcado pela queda como uma corrida atrás do vento (Eclesiastes 1:14, 2:11). Você não pode pegá-lo. Você não pode nem vê-lo. É um esforço que não dá nenhum resultado e te deixa exausto no processo. De muitas formas, o livro de Eclesiastes captura nossa própria experiência a respeito do trabalho. Nós vemos alegria e vemos dor - muitas vezes em um mesmo dia. Nós sentimos propósito e também insignificância dentro de segundos. Eclesiastes nos lembra que nós ainda não vivemos no paraíso. Nós vivemos em um mundo quebrado, onde as coisas geralmente não são como queremos.
Trabalho do Novo Mundo
Embora os sentimentos de inutilidade que marcam nosso dia-a-dia pareçam nos consumir por completo, eles não são a história final do nosso trabalho. Nossos sentimentos em relação ao trabalho não alteram a verdade sólida de que ele está nos conduzindo a um propósito maior. Ele não terminará quando Cristo voltar para renovar nosso mundo quebrado, pois trabalho é ideia de Deus. Ele simplesmente fará parte do processo de renovação. Isso significa que nosso trabalho é importante agora e também na eternidade.
A vida num mundo quebrado significa que nós nem sempre conseguimos enxergar essa esperança, mas ela está sempre presente. Em Isaías 65, depois de uma sucessão de capítulos marcados por aflições, juízos e dores de um mundo rebelde e em queda, Isaías nos dá uma ilustração desta graça vindoura.
"Construirão casas e nelas habitarão;
plantarão vinhas e comerão do seu fruto.
Já não construirão casas para outros ocuparem,
nem plantarão para outros comerem.
Pois o meu povo terá vida longa como as árvores;
os meus escolhidos esbanjarão o fruto do seu trabalho.
Não labutarão inutilmente,
nem gerarão filhos para a infelicidade;
pois serão um povo abençoado pelo Senhor,
eles e os seus descendentes." (Isaías 65:21-23, NVI)
Deus criará novos céus e uma nova terra (Isaías 65:17). Esta vida, em todas as suas dimensões, será feito nova. O que está quebrado, aquilo que é doloroso, o que é fútil aqui na terra será esquecido - e somente a esperança, a alegria e o trabalho livre do pecado permanecerão. Para o cristão, nosso trabalho não é definido pela maldição, mas sim pela cruz. Segundo Randy Alcorn, o que Cristo conquistou no calvário são "as primícias de todo o cosmos".
A nova vida que Jesus garantiu para nós com a sua morte e ressurreição é uma pequena amostra do que ele fará com todo o resto. No Senhor Jesus, nosso trabalho não é em vão. Pois nele, todo nosso esforço está nos conduzindo a algo melhor, e um dia será restaurado ao seu propósito original (1 Coríntios 15:58).
Os Dias de Futilidade Estão Contados
O que meu marido e eu sentimos quando os brinquedos caem no chão pouco antes da hora de dormir, não é um julgamento sobre o trabalho que fazemos em nosso lar. Os brinquedos esparramados podem afetar nosso humor e nossa compreensão do trabalho, mas eles não alteram o seu valor. A vida em um mundo marcado pela queda significa que vivenciamos a maldição de inúmeras formas em nosso trabalho, até mesmo no trabalho de casa.
Sentimos como se nada disso importasse. Pecam contra nós. Pecamos contra os outros. Sentimos como se Deus tivesse se esquecido de nós. Mas a promessa de uma nova vida nos novos céus e em uma nova terra nos faz lembrar que, não somente nosso trabalho será redimido, mas nós também estaremos com Deus para sempre (Apocalipse 22:3-4). O Deus que andou entre Adão e Eva no seu jardim, um dia andará no meio de nós na Nova Jerusalém (Apocalipse 21:2-3; 22:5).
Não mais seremos atormentados pela futilidade. Nós estaremos com aquele que nos criou e nos projetou para o trabalho satisfatório. E nós veremos a razão para tudo isso em uma glória livre do pecado. O dia virá quando o barulho dos brinquedos sendo esparramados pelo chão não provocarão sentimentos de pavor e inutilidade. Num piscar de olhos estaremos lá. Até lá, trabalhemos fielmente nesta vida, aguardando ansiosamente a vida perfeita que há de vir.