Sabáticos das Telas
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Scott Hubbard Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Michael Suzigan
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Uma Proposta Modesta para um Mundo Digital
Há alguns anos, um grupo de psicólogos cognitivos e comportamentais reuniu quinhentos estudantes universitários, dividiu-os em três grupos e fez dois testes. Os grupos eram iguais em todos os aspectos, exceto em um: a disposição de seus telefones. O primeiro grupo estava com seus celulares sobre a mesa, com a tela virada para baixo; o segundo estava com seus celulares no bolso; o terceiro não estava com seus celulares. Você provavelmente já conseguiu ver onde isso vai chegar.
Embora os celulares de todos os três grupos estivessem no modo silencioso, e embora poucos alunos dissessem que se sentiam distraídos pelos seus celulares, o resultado dos testes seguia uma relação inversa com a proximidade do dispositivo. Em média, quanto mais próximo o celular, menor a nota. Nicholas Carr, que discute este estudo no posfácio de 2020 de seu livro The Shallows, resume a conclusão preocupante dos psicólogos:
Os smartphones ficaram tão presos em nossas vidas que, mesmo quando não estamos olhando nem mexendo neles, eles atraem nossa atenção, desviando recursos cognitivos preciosos. O simples ato de suprimir o desejo de verificar um celular, o que fazemos rotineira e subconscientemente ao longo do dia, pode debilitar nosso pensamento. (230)
A descoberta — corroborada por estudos semelhantes — expressa claramente o sentimento vago que muitos têm: nossos celulares não somente nos moldam, talvez nem mesmo principalmente, pelo conteúdo que nos entregam, mas também pela mera presença de algo tão agradável, pouco exigente e infinitamente interessante. Os smartphones, embora pequenos, exercem uma atração gravitacional (subconsciente) na nossa atenção, puxando nossos pensamentos e sentimentos para sua órbita, mesmo quando suas telas estão inativas.
Isso significa que, se os cristãos atenderem ao chamado de Romanos 12:2 na era dos smartphones — “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento” — precisaremos fazer mais do que resistir ao falso conteúdo em nossos aparelhos. Precisaremos resistir à falsa presença gravitacional que nossos telefones exercem tão sutilmente sobre nós.
E para isso, podemos encontrar ajuda em uma prática antiga: o sabático.
Nosso Companheiro Íntimo
Antes de considerar o que o sabático pode significar para nossas telas, faça um novo balanço sobre onde estamos. O smartphone surgiu em 2007; em 2011, a maioria de nós tinha um. Agora, pouco mais de uma década depois, a maioria de nós sequer consegue se lembrar da vida sem ele. As telas se tornaram onipresentes, aparentemente inevitáveis — Alexandres digitais que dominaram nossa consciência da noite para o dia.
Para muitos, nossos celulares são o primeiro rosto que vemos pela manhã, o último à noite e, de longe, o mais frequente durante o dia. Nos tornamos um mar de pessoas cabisbaixas com polegares doloridos, hábeis em navegar pelas calçadas e corredores de lojas com a nossa visão periférica. Os celulares se tornaram tão profundamente conectados à mente e ao corpo que muitos sentem vibrações fantasma e a mão se contraindo repetida e involuntariamente em direção ao bolso. De dois anos para cá, o americano gasta em média pelo menos metade das horas em que está acordado em uma tela (The Shallows, 227).
Para onde devemos ir para fugir desse espírito digital? Ou para onde fugir de sua presença? Se subirmos ao céu, os aviões oferecem wi-fi. Se arrumarmos nossa cama no escuro, algo vibra na mesa de cabeceira. Se tomarmos as asas da alva e habitarmos nas extremidades do mar, mesmo lá a cobertura 5G nos manterá ao alcance.
A prevalência estupenda de nossos celulares poderia não ser um problema se soubéssemos que uma existência saturada de telas melhoraria nossa qualidade de vida e nos ajudaria a seguir Jesus com mais fidelidade. Infelizmente, temos muitas razões para pensar que não.
Digitalizado, Desumanizado
Eu não sou poupado da ironia de estar olhando para uma tela neste momento, assim como você (muito provavelmente). Para não atirar contra meu próprio pé, que seja dito: nossos celulares e outras telas são presentes pelos quais devemos agradecer a Deus. Muitas coisas boas podem ser feitas por eles e através deles. A necessidade do momento não é matar esses cavalos selvagens, mas domá-los e controlar seu poder.
Mas ah, como eles precisam ser domados. Jean Twenge, em seu livro cuidadosamente pesquisado iGen, inclui um gráfico que mostra o quanto certas atividades na tela (como jogos, mensagens de texto e redes sociais) e certas atividades fora dela (como se exercitar, ler e passar tempo com amigos) contribuem para a felicidade dos adolescentes. Ela escreveu:
Os resultados não poderiam ser mais claros: os adolescentes que passam mais tempo em atividades na tela... são mais propensos a serem infelizes, e aqueles que passam mais tempo em atividades fora da tela... são mais propensos a serem felizes. Não há uma única exceção: todas as atividades na tela estão ligadas a menos felicidade, e todas as atividades fora da tela estão ligadas a mais felicidade. (77-78)
E assim como com a felicidade, o mesmo acontece com outras categorias de saúde mental: “Mais tempo de tela causa mais ansiedade, depressão, solidão e menos conexão emocional” (112).
Como cristãos, não podemos testemunhar uma correlação semelhante entre as telas e a vida espiritual? Embora os celulares possam servir à nossa fé em Jesus de algumas maneiras (como nos dando acesso fácil às Escrituras e às ferramentas de estudo bíblico), eles o fazem a um custo alto. Em vez de nos ajudar a meditar, muitas vezes nos interrompem, chamam nossa atenção para outras coisas e cultivam hábitos de leitura superficial. Em vez de nos ajudar a orar, eles muitas vezes preenchem os espaços em branco dos nossos dias. Em vez de nos ajudar a evangelizar, eles muitas vezes nos fazem olhar para baixo enquanto passamos por nossos vizinhos.
Aqueles com uma antropologia bíblica robusta não se surpreendem com os efeitos prejudiciais de nossos celulares. Não somos criaturas sociais, feitas para uma comunhão que vai além da que caneta e tinta, da tela e tecla (2 João 12)? Não somos criaturas encarnadas, feitas para se deleitar com o mundo de Deus com todos os cinco sentidos (Gênesis 2:7; Salmo 104)? Não somos criaturas intelectuais, feitas para pensar profundamente nas coisas e não apenas superficialmente (2 Timóteo 2:7)? E também não somos primeiramente criaturas de Deus, feitas para viver coram Deo (Colossenses 3:17) e não coram smartphone?
Talvez, em um mundo digital como o nosso, alguns cristãos possam proteger e desenvolver sua natureza social, corporal, intelectual e voltada para Deus, sem precisar de contramedidas extremas. Para mim, esse esforço é como tentar dormir com as luzes acesas: possível, mas mais difícil do que precisa ser.
Sabáticos da Tela
Veja o Sábado. A partir do êxodo, o sábado de Israel serviu como um lembrete semanal da Realidade. E não apenas um lembrete da Realidade (como se o sábado fosse apenas um exercício mental), mas uma noção sentida dela. Deus se revelou como o Criador de Israel que descansa (Êxodo 20:11) e Redentor que provê o descanso (Deuteronômio 5:15). Mas, dado o quão profundamente haviam sido moldados pelo Egito, que era obcecado pelo trabalho, e dada a inclinação de seus próprios corações para a inquietação, eles precisavam de uma prática que fizesse sua confissão penetrar nos nervos e tendões da alma.
Assim, Deus lhes deu o sábado, um dia que deslocou o centro gravitacional para longe do Egito com seu Faraó inquieto e em direção à Realidade com seu Deus sereno, trocando uma semana de trabalho de sete dias pelo próprio padrão de seis por um de Deus (Gênesis 2:1–3). Como tal, o sábado toma seu lugar ao lado dos festivais e festas de Israel, da meditação diária do salmista (Salmo 1:1–2), da oração de Daniel de joelhos (Daniel 6:10) e da solitude matinal de Jesus (Marcos 1:35; Lucas 5:16), como uma prática da resistência disciplinada contra a influência atmosférica do mundo.
Agora, como podemos aplicar o princípio sabático às nossas vidas digitalmente saturadas e viciadas em telas? A proposta não é complicada nem nova: para resistir ao puxão de seus dispositivos digitais e viver como um seguidor mais presente de Jesus, tire um descanso das telas um dia por semana. Seja por 24 horas completas ou por algum outro momento protegido, desligue o celular, feche o computador e mergulhe no mundo criado por Deus, incorporado e atento às pessoas e lugares ao redor. Chame isso de sabático das telas.
Pode parecer uma ideia extrema ou impraticável em um mundo onde as telas mediam tanto a vida (Sem textos, e-mails, direções, podcasts ou câmera?). Porém, considere não apenas o que você pode perder em tal dia, mas também tudo o que você pode ganhar.
A Vida Fora da Rede
O que poderia acontecer se, por um dia por semana, você silenciasse o “zum” e escurecesse o brilho de cada dispositivo? Se você soubesse que não ouviria nenhum toque nem sentiria nenhuma vibração? Se cada impulso de enviar mensagens de texto, verificar ou de se distrair fosse frustrado por um bolso vazio? O que poderia acontecer em um dia assim?
Você pode abrir as cortinas para um brilho diferente, observando o sol começar a sua corrida matinal (Salmo 19:5). Você pode voltar a ouvir vozes tantas vezes abafadas no zumbido digital: um pássaro cantando da cerca até o galho, um coro escondido de grilos, o miado do gato do vizinho se espreguiçando. Em vez de vagar sem corpo pelo éter digital, você pode cavar com as mãos na terra ou percorrer os caminhos de sua habitação (Atos 17:26).
Ou talvez você veja seu vizinho rude, ou o pai impaciente no parque, como mais do que uma figura bidimensional e, em vez disso, comece a imaginar as esperanças e os medos batendo em seu peito. Talvez esta imagem leve à conversa, e a conversa à amizade, e a amizade a orar e testemunhar. Mais tarde, você pode se sentar do outro lado da mesa do cônjuge, amigo ou filho e encontrar o tipo de silêncio interior sem distrações que permite que se ouça, e retarda a fala (Tiago 1:19).
Ou talvez você possa descobrir uma nova paciência para ler a Bíblia e orar. Em vez de olhar de relance pela superfície de uma passagem, talvez você vire com cuidado algumas de suas pedras, meditando como o homem abençoado e tornando a si mesmo abençoado (Salmo 1:1–3). Você pode diminuir o ritmo ao responder às palavras de Deus, talvez pela primeira vez em muito tempo colocando seus cuidados diante Dele um a um (1 Pedro 5:6–7). Você pode sentir uma expiração da alma.
E quando chegar a hora de ligar o celular novamente, você pode descobrir que trouxe um pouco deste descanso do sétimo dia com você.
O Espírito do Sétimo Dia
Devemos ter cuidado com o idealismo, é claro. Um dia sem telas ainda é um dia em um mundo caído, um dia em que nossa carne se recusa a descansar e às vezes vemos, para nosso desânimo, nossa atenção dispersa e nossa devoção a Deus superficial. Certamente, no antigo Israel, os devotos às vezes deixavam o dia de sábado ainda inquietos. Com o tempo, no entanto, o sabá semanal fez algo por aqueles que o receberam pela fé: recalibrou-os lentamente em direção à Realidade centrada em Deus, enviando o espírito de descanso do sétimo dia para os seis seguintes.
O mesmo pode acontecer com um sabático das telas. Tirar um tempo disciplinado longe das telas pode não ser a única maneira de viver no mundo digital sem estar em conformidade com ele, mas é uma boa maneira. Com o tempo, a atração gravitacional de nossos celulares pode ficar mais fraca, e talvez possamos ser atraídos para uma órbita diferente e muito melhor: o sol brilhante e vivificante do próprio Deus.