Protegendo-se, com a intenção de sofrer
De Livros e Sermões BÃblicos
Por John Piper
Sobre Sofrimento
Uma Parte da série 1 Peter: Grow in the Grace & Knowledge of Christ
Tradução por Vitor Visconti
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1 Pedro 4:1-6
Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este mesmo pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado; Para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus. Porque é bastante que no tempo passado da vida fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, glutonarias, bebedeiras e abomináveis idolatrias; E acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução, blasfemando de vós. Os quais hão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos. Porque por isto foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito.
A grande comissão e o sofrimento
Encontram-se bons motivos nas escrituras para crer que a Grande Comissão não será completada sem sofrimento. Um deles é que Jesus, quando disse que o Evangelho seria pregado no mundo como um testemunho para todas as nações, disse também na mesma ocasião "Vocês serão odiados por todas as nações" (Mateus 24:9,14). Em outras palavras, onde quer que se vá, os esforços de levar as boas novas sobre a vida eterna serão recebidas com alegria por alguns, e raiva, por outros.
Outro motivo para acreditar que a Grande Comissão não será completada sem sofrimento é o que Paulo chama de evangelismo "preenchendo o que falta nas aflições de Cristo" (Colossos 1:24). Em outras palavras, o propósito de Deus é de que as aflições de Jesus, que providenciaram nossa salvação, sejam imitadas e demonstradas, em favor da propagação da salvação.
O terceiro motivo para acreditar que a Grande Comissão não será cumprida sem sofrimento é que Jesus enviou os primeiros evangelistas ao dizer, "assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós." (João 20:21). "Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?" (Mateus 10:25).
A quarta razão é que Paulo disse a Timóteo, enquanto ele continuava o trabalho de criar igrejas em Éfeso, e espalhando o Evangelho pela Ásia (Atos 19:10), "Não se envergonhe, mas divida o sofrimento pelo Evangelho no poder de Deus... Tome sua parte de sofrimento, como um bom soldado de Cristo... Suporte o sofrimento, faça o trabalho de um evangelista" (1:8, 2:3, 4:5).
Esses são os quatro motivos pelos quais a Bíblia – e há muitos mais – porque deveríamos esperar sofrer se somos parte de uma operação avançada de resgate Divina – o que Paulo chama de transformar as pessoas "da escuridão para a luz, e do poder de Satã para Deus" (Atos 26:18). Eu sei que quero fazer parte dessa operação, e eu acredito que você também. É por isso que o primeiro livro de Pedro é tão relevante para nós atualmente. Sua principal meta é ajudar os Cristãos a suportar o sofrimentos, e escolher o sofrimento ao pecado e ao silêncio.
Mais cinco partes de uma blindagem contra o sofrimento
No texto de hoje Pedro nos dá mais cinco encorajamentos para nos ajudar a escolher o sofrimento pelo bem de um testemunho autenticamente cristão. O principal trecho do texto está no verso 1: "Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este mesmo pensamento". Pensamentos e propósitos nos protegem. Nos protegem e nos ajudam a vencer. O propósito que Pedro tinha em mente é o propósito de sofrer se Deus o deseja. Se você escolher esse propósito, você estará protegido. Um dos motivos disso é que você não será pego desprevenido. Outro motivo é que você estará preparado para o que está por vir.
E é para isso que esse texto e sermão servem. Para ajudá-lo a fazer isso, e assim prepará-lo para estar bem armado quando chegar o momento da luta.
Existem quatro tipos de encorajamentos – nós poderíamos chamá-los de cinco partes da blindagem.
1º Parte : Cristo sofreu
Verso 1: “ Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este mesmo pensamento.” Nosso primeiro encorajamento para escolher o sofrimento é que Cristo o fez. Isso simplesmente não aconteceu, ele escolheu. “Ninguém tira minha vida de mim, mas eu de mim mesmo a dou” (João 10:18)
Richard Wurmbrand, um pastor romeno que passou 14 anos numa prisão, escreveu em seu livro “Cem meditações de prisão”
Eu aceitei essa proposta. Os cristãos devem ter a mesma vocação que o seu Rei, aquela de carregar a cruz. É essa consciência de um chamado e de uma parceria com Jesus que traz alegria nas tribulações, e que faz os Cristãos se tornarem prisioneiros de sua fé, com a alegria de um noivo que entra na sala de noivado.[1]
O fato é que nosso texto é parte principal de nossa armadura. Jesus – o criador do universo, o sustentador de todas as coisas, o Salvador do mundo, o perfeito Inocente, Filho de Deus - escolheu o sofrimento como sua vocação e nos chamou para carregarmos sua cruz e o seguir, e então encontrar a vida real e duradoura. Nosso propósito é sofrer com ele.
2º Parte: Rompendo com o pecado
Versículo 1b: "Armai-vos também vós com este mesmo pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado;". Eu não tenho certeza absoluta, mas acredito que isso significa que se você acredita em Deus a ponto de sofrer por fazer o que é correto (como 3:17 diz), então você rompeu com o pecado.
Em outras palavras, escolha o sofrimento, porque caso o contrário você escolherá o pecado. Mas se você o fizer, terá que provar que a sua servidão ao pecado foi rompida. Admita o propósito e a ideia de que vale a pena sofrer por Cristo, trabalhe essa convicção quando a vier o tempo de escolher entre o sofrimento e o pecado; e no sofrimento, o pecado será derrotado, e você triunfará. Se você chegar ao ponto de sofrer pelo bem da justiça, você se livrou do pecado – não à perfeição, mas numa clara ruptura com o passado de pecados.
Essa ruptura está descrita no versículo 2: "Para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus." Sofrer pelo que é justo é um sinal de que você renunciou aos desejos pecaminosos do ser humano, e adotou a vontade de Deus como um valor maior. Então, pelo bem da justiça e liberdade do pecado, protejam-se com esse propósito.
3º Parte: Qualquer quantidade de pecados é o suficiente
Versículo 3: "Porque é bastante que no tempo passado da vida fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, glutonarias, bebedeiras e abomináveis idolatrias;". Essa é uma frase simples e notável: O tempo que já passou é o suficiente para o pecado. É o suficiente. Não o faça mais. Sofra, se necessário. Mas você não deve mais pecar.
Proteja-se com esse pensamento: Qualquer quantidade de pecados realizados é o suficiente. Se você não pecou muito antes de ser convertido, é o suficiente. Se você pecou muito, e durante muitos anos antes de sua conversão, é o suficiente. Você nunca pode pecar tão pouco a ponto de dizer, "Eu preciso de mais tempo para pecar." Quantas pessoas dizem, "Eu sei que preciso ficar de bem com Deus e parar de pecar. Mas só mais um pouco. Um pouco mais de tempo para pecar." Pedro diz, proteja-se com esse pensamento: o tempo que você gastou pecando é o suficiente. Rompa; escolha a vontade de Deus. E sofra por isso, se necessário.
O sofrimento que ele tem em mente é mencionado no verso 4: " E de tudo isso, eles estão surpresos pois vocês não competem com eles pelo mesmo tipo de excessos, e eles maldizem você." Aqui está – eles maldizem você. Eles te caluniam. Fazem-no parecer um tolo. Melhor aceitar isso como fez Jesus, se for a vontade de Deus, do que escolher o pecado. O tempo que você gastou pecando é o suficiente. É o suficiente.
4º Parte: Os adversários serão julgados
Quando você sofre pelo bem da justiça, não precisa recorrer à pecaminosa vingança. Você não tem a última palavra. Ou o último olhar fixo. Deus está pronto para fechar todas as questões. E ele fará isso muito melhor do que nós.
Versos 5: "Mas eles [isso é, aqueles que maldizem você] prestarão contas à Ele, que está pronto para julgar os vivos e os mortos." Uma das maiores tentações que sofremos ao tentar fazer as coisas justas é reclamar que estamos sendo injustiçados e colocar a culpa em outras pessoas. Há momentos em que é certo fazê-lo: Pais devem fazer isso as crianças desobedientes (Provérbios 13:24), os policiais devem fazer isso aos cidadãos fora da lei (Romanos 13:4); empregadores devem fazer isso na falta de funcionários(2º Epístola ao Tessalonicenses 3:10); e os idosos devem fazer isso no ensino eclesiástico (Hebreus 13:17). Mas na maioria das vezes que você sofre pelo bem da justiça, a vontade de Deus não é a de que você o chame para prestar contas, mas de que você entregue para que ele julgue com justiça, como disse Pedro em 1 Pedro 2:23. "Eles devem prestas contas a Deus."
Quando entregamos nosso caso a Deus dessa forma, nosso sentimento judicial clama por alguma certeza de que a justiça será feita. É isso o que Pedro está dizendo no versículo 5: Eles se darão conta algum dia. Nada será varrido para baixo do tapete. Nada será esquecido. E o juiz será Deus.
E se pensarmos que a morte pode resgatar uma pessoa do julgamento, Pedro diz: Ele está pronto para julgar os vivos e os mortos. A morte não é uma escapatória para o pecador. Hebreus 9:27 diz, "E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo." A proeza do mal pode ser esquecida pelo homem por muito tempo. O arrependimento que nunca foi realizado pode ser esquecido pelos homens. A morte deverá vir após uma longa e confortável vida de pecados. Mas então vem o julgamento diante do Deus onisciente.
Portanto, quando você sofre de forma errada, e sente que alguém fica impune, deixe nas mãos de Deus. Ele irá julgar com justiça os vivos e os mortos. Armem-se com essa garantia: É melhor sofrer por fazer bem e deixar o julgamento para Deus.
Parte 5: Nós iremos triunfar sobre o mal
É difícil entender o versículo 6. Eu acho que ele se refere as pessoas que ouviram evangelho e então morreram (e não ouviram o evangelho depois de morrer), mas viveram novamente em espírito com Cristo. Ele diz,
Pois o evangelho tem para esse propósito [ou sejam se referindo ao versículo 5, salvar as pessoas do julgamento] sido pregado até mesmo para aqueles que agora estão mortos [não que estivessem mortos quando ouviram o evangelho], aquele pensamento de que eles são julgados pela carne como homens, e eles podem viver no espírito de acordo com a vontade de Deus.
O objetivo desse versículo é nos encorajar, pois mesmo que exista um julgamento após o túmulo, e mesmo que todos nos morramos, apesar disso aqueles que ouvem e acreditam no evangelho irão "viver do espírito de acordo com a vontade de Deus."
Provavelmente uma das formas pelas quais os adversários estavam difamando os Cristãos era dizendo: Ha! Vocês dizem que vocês têm boas novas. Vocês dizem que vocês irão escapar do julgamento. Dizem que o seu Deus é grande, e salva vocês, e lhes dá alegria. Bem, tudo o que precisamos dizer é isso: Vocês estão perdendo muitas festas, e vocês morrem como todo mundo. Então se você morrer e for devorado pelos vermes, e nós também, dizemos, coma, beba, e seja feliz, pois morreremos!"
A proteção de Pedro contra essa calúnia, e sua quinta frase para nos ajudar a suportar o sofrimento como Jesus é simples: O evangelho não foi pregado para os seus amigos cristãos em vão. O motivo pelo qual foi pregado àqueles que morreram é tal, que mesmo que eles pareçam ter sido julgados como quaisquer outros, não foram. Eles estão vivos no espírito. Eles estão com Deus. E os sofrimentos que eles experimentaram aqui não valem para serem comparados com a glória que foi revelada para eles (Romanos 8:17f).
Proteja-se para enfrentar o sofrimento.
A palavra do Senhor para nós hoje de manhã é: Protejam-se com o propósito de sofrer pelo bem da justiça, se é esta a vontade de Deus. As peças dessa armadura que nos apoia, encoraja e sustenta são:
1 º Parte: Cristo, aquele que amamos e seguimos sofrendo.
2º Parte: Quando sofremos, nós rompemos com o pecado.
3º Parte: Qualquer quantidade de pecados feitos é o suficiente.
4º Parte: Os adversários serão julgados.
5º Parte: Nós, que admitimos o evangelho, triunfaremos sobre a morte.
Não há condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. Sigam-no essa semana, aonde quer que ele nos guie, custe o que custar.
- ↑ Richard Wurmbrand, Cem sermões de prisão (Middlebury, IN: Living Sacrifice Books, 1982), p. 3.