Por que a pregação expositiva particularmente glorifica a Deus?

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English: Why Expositional Preaching Is Particularly Glorifying to God

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Por John Piper Sobre Pregação e Ensino
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Tradução por Desiring God


Há quatro divisões nesta mensagem. Primeiro, vou refletir sobre o tipo de pregação que anelo ver Deus despertar em nossa época — o tipo que é moldado pela influência da glória de Deus. Segundo, tentarei descrever a glória de Deus, que influencia a pregação dessa forma. Terceiro, vou oferecer minha compreensão bíblica de como as pessoas são despertadas para essa glória e são transformadas por ela. Finalmente, explicarei por que todos esses apelos para um tipo de pregação que chamo exultação expositiva.

Tabela de conteúdo

Reflexões sobre o tipo de pregação produzida pela influência da glória de Deus

George Whitefield acreditava na pregação e dedicou sua vida a isso. Por meio dessa pregação, Deus realizou uma obra poderosa de salvação em ambos os lados do Atlântico. Seu biógrafo, Arnold Dallimore, narrou o efeito admirável que a pregação de Whitefield teve na Grã-Bretanha e na América, no século 18. O efeito foi como a chuva na terra seca e fez o deserto florescer com as flores da justiça. Dallimore ergueu seus olhos do deserto transformado do tempo de Whitefield e expressou seu anseio que Deus pudesse fazer isso novamente. Ele clama por uma nova geração de pregadores como Whitefield. Suas palavras me ajudam a expressar que anelo pelas gerações de pregadores que virão da América e do mundo. Ele disse:

Sim... veremos o grande Cabeça da Igreja uma vez mais... levantar para si certos jovens a quem ele poderá usar nesse glorioso serviço. E que tipo de homens eles serão? Homens poderosos nas Escrituras, suas vidas dominadas por um senso da grandiosidade, majestade e santidade de Deus e suas mentes e corações abrasados com as grandes verdades das doutrinas da graça. Eles serão homens que sabem o que é morrer para o eu, para as metas humanas e ambições pessoais; homens que estão dispostos a serem “loucos por causa de Cristo”, que suportarão injúria e calúnia, trabalharão e sofrerão e cujo supremo desejo será não receber a aprovação terrena, mas receber a aprovação do Mestre quando eles comparecerem ao julgamento. Eles serão homens que pregarão com coração quebrantado e olhos cheios de lágrimas e, sobre esses ministros, Deus concederá uma extraordinária efusão do Espírito Santo que testemunhará com sinais e maravilhas que se seguirão à transformação de multidões de vidas. 1

Poderosos nas Escrituras, abrasados com as grandes verdades das doutrinas da graça, mortos para o eu, dispostos a trabalhar e a sofrer, indiferentes à aprovação humana, quebrantados pelo pecado, e dominados por um senso da magnificência, majestade e santidade de Deus. Dallimore, como Whitefield, cria que a pregação é a proclamação da palavra de Deus desse tipo de coração. A pregação não é conversação. Pregação não é discussão, não é conversa casual sobre assuntos religiosos, não é simplesmente ensino. A pregação é a proclamação da mensagem permeada pelo senso da magnificência de Deus, sua majestade e santidade. O tópico talvez seja nada debaixo do sol, mas é sempre exposto à luz flamejante da magnificência e majestade de Deus em sua palavra. Essa é a forma como Whitefield pregava.

No penúltimo século, alguém que incorporou perfeitamente bem essa visão foi Martyn Lloyd-Jones, servindo como pastor da capela de Westminster, em Londres, por 30 anos. Quando J. I. Packer era um estudante de 22 anos, ele ouviu Lloyd-Jones pregar todo domingo à noite em Londres durante o ano letivo de 1948 a 1949. Ele disse que “jamais havia ouvido pregação como aquela”.

A razão pela qual muitas pessoas dizem tantas coisas depreciativas e tolas sobre a pregação é porque jamais ouviram verdadeira pregação. Elas não têm base para avaliar a utilidade da pregação. Packer disse que a pregação veio a ele “com a força do choque elétrico”, trazendo “muito do senso da presença de Deus mais que outro homem” que ele havia conhecido. 2 É o que Whitefield quis expressar. Ó, que Deus levante pregadores jovens que deixem seus ouvintes com uma sensação de choque espiritual com o senso da presença de Deus — algum senso do peso infinito da realidade de Deus.

Esse é o meu anelo para nossa época — e para você. Que Deus levante milhares de pregadores quebrantados, saturados da Bíblia e sejam dominados por um senso da magnificência, majestade e santidade de Deus, revelado no evangelho de Cristo crucificado, ressurreto e que reina com absoluta autoridade sobre toda nação e todo exército e toda religião falsa e todo terrorista e todo tsunami e toda célula cancerígena e toda galáxia no universo.

Deus não ordenou a cruz de Cristo ou criou o lago de fogo 3 a fim de transmitir a insignificância do desprezo de sua glória. A morte do Filho de Deus e a danação dos seres humanos impenitentes são os gritos mais altos debaixo do céu demonstrando que Deus é infinitamente santo e o pecado é infinitamente ofensivo e a ira é infinitamente justa e a graça é infinitamente preciosa e nossa vida breve — e a vida de cada pessoa em sua igreja e em sua comunidade — conduzem para a alegria eterna ou o sofrimento eterno. Se nossa pregação não influencia essas coisas em nosso povo, o que influenciará? Histórias de vegetais? Rádio? Televisão? Grupos de discussão? Conversações inesperadas?

Deus planejou que seu Filho fosse crucificado (Apocalipse 13,8; 2 Timóteo 1,9) e que o inferno fosse terrível (Mateus 25,41) para que tivéssemos o mais claro testemunho sobre o que está em risco quando pregamos. O que confere à pregação sua seriedade é o manto do pregador estar molhado com o sangue de Jesus e chamuscado com o fogo do inferno. Esse é o manto que transforma meros tagarelas em pregadores. Contudo, é trágico que algumas das mais proeminentes vozes hoje diminuem o horror da cruz e o horror do inferno — uma é despojada de seu poder para suportar nossa punição e o outro é desmitologizado 4 na desumanização do eu e nas misérias sociais deste mundo. Ó, se as gerações emergentes vissem que o mundo não transborda o senso da seriedade sobre Deus. Não há excesso na igreja do senso da glória de Deus. Não há excesso de seriedade na igreja sobre o céu, o inferno, o pecado e a salvação. E, portanto, a alegria de muitos cristãos é escassa. O povo aos milhões se divertem até a morte com DVDs, televisões de 107 polegadas e jogos em seus telefones celulares e adoração cômica, enquanto os porta-vozes de uma religião secularizada e amorfa escrevem cartas para o Ocidente nas principais publicações dizendo: “O primeiro apelo que fazemos a você é o islamismo... esta é a religião que prescreve o bem e proíbe o mal que se faz com a mão, a língua e o coração. O islamismo é a religião do Jihad da forma como Alá deseja para que a Palavra e a religião de Alá reinem supremas”. 5 E, em seguida, esses porta-vozes abençoam os homens-bombas que explodem crianças em frente a mercearias de comida árabe e chamam isso de o caminho para o paraíso. Esse é o mundo onde pregamos.

E, ainda, incompreensivelmente, nesta era que extermina a alma e menospreza a Cristo, livros, seminários, escolas de teologia e especialistas em crescimento de igreja se empenham a dizer aos pastores jovens para “se alegrarem”, “serem cômicos”. “Façam algo divertido”. Quanto a isso, eu pergunto: onde está o espírito de Jesus? “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mateus 16,24-25). “Se o teu olho direito te faz tropeçar; arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno” (Mateus 5,29). “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14,33). “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14,26). “Segue-me, e deixa aos mortos sepultar os seus próprios mortos (Mateus 8,22). “E quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos” (Marcos 10,44). “Temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo (Mateus 10,28). “Matarão alguns dentre vós… Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça. É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma” (Lucas 21,16-19).

A orientação para Jesus sobre o crescimento da igreja seria: “Jesus, alegre-se. Faça algo divertido”. E para o pastor jovem: “Qualquer coisa que você fizer, jovem pastor, não seja semelhante ao Jesus dos evangelhos. Alegre-se”. De minha perspectiva, que sinto ser muito próxima da eternidade esses dias, a mensagem aos pastores soa bastante insana.

Um retrato da glória de Deus

O que você crê sobre a necessidade da pregação e a natureza dela é orientado pelo seu senso da majestade e da glória de Deus e como você crê que as pessoas são despertadas para essa glória e a viver por ela. Desse modo, a próxima seção apresenta um retrato da glória de Deus e a terceira tratará de como as pessoas são despertadas para essa glória e são transformadas por ela.

Do princípio ao fim, nada na Bíblia é mais fundamental na mente e no coração de Deus que a sua glória — a beleza de Deus, a radiância de suas múltiplas perfeições. A cada momento que Deus revela sua ação, seja onde for, ele torna claro o propósito fundamental dessa ação. O propósito é sempre o mesmo: afirmar e manifestar sua glória.

Portanto, a missão da igreja é: “Anunciar entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as sua maravilhas” (Salmo 96,3).

Estes e centenas de outros textos nos fazem retroceder a lealdade de Deus. Nada influencia a pregação mais profundamente que ser impressionado quase ao ponto de ficarmos sem fala — quase — pela paixão da glória de Deus. É claro, de toda a extensão da revelação bíblica, que a lealdade fundamental de Deus é ele se conhecer perfeitamente, amar-se infinitamente e compartilhar essa experiência o quanto for possível com seu povo. Em todo o ato de Deus tremula a bandeira: “Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; por que como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem” (Isaías 48.11; confira 42.8).

Por toda eternidade, o Deus que sempre existe, jamais se torna e é sempre perfeito se conhece e ama o que ele conhece. Ele vê eternamente sua beleza e experimenta o que ele vê. A compreensão que tem de sua própria realidade é perfeita e sua exuberância por prescrevê-la é infinita. Deus não tem necessidades, porquanto ele não tem imperfeições. Ele não tem inclinação para o mal porque não tem deficiências que poderiam tentá-lo a fazer o mal. Ele é, portanto, o ser mais santo e mais feliz que existe ou possa ser concebido. Não podemos conceber uma felicidade maior que a felicidade do poder infinito deleitando-se infinitamente na beleza infinita na comunhão pessoal da trindade.

Compartilhar essa experiência — a experiência de conhecer e apreciar sua glória — é a razão pela qual Deus criou o mundo. Ele nos faria conhecê-lo e a apreciá-lo pela forma como se conhece e pelo modo como se aprecia. De fato, seu propósito é o conhecimento essencial que ele tem de si mesmo e a verdadeira alegria que tem em si mesmo serão nosso conhecimento e nossa alegria para que o conheçamos com o seu próprio conhecimento e tenhamos felicidade nele com sua própria alegria. Esse é o sentido fundamental da oração de Jesus em João 17,26 pedindo ao Pai “que o amor como ele foi amado estivesse neles e ele estivesse neles”. O conhecimento do Pai e a alegria no “resplendor de sua glória” — cujo nome é Jesus Cristo (Hebreus 1,3) — estarão em nós porque Jesus está em nós.

E se você pergunta: como o propósito de Deus em compartilhar essa experiência (de se conhecer e deleitar em si mesmo) se relaciona ao amor de Deus? A resposta é: seu propósito de compartilhar essa experiência é o amor de Deus. O amor de Deus é seu compromisso em compartilhar o conhecimento e a alegria de sua glória conosco. Quando João diz que Deus é amor (1 João 4,8-16), ele quer expressar que é da natureza de Deus compartilhar a alegria de sua glória, mesmo se isso custar a vida de seu Filho.

Significa que o propósito de Deus é manifestar sua glória e nossa alegria nessa glória está em perfeita harmonia. Você não honra plenamente o que não se deleita. Deus não é glorificado plenamente por ser meramente conhecido; ele é glorificado por ser conhecido e por nos alegrarmos nele tão profundamente que nossas vidas se tornam uma manifestação de seu valor.

Jesus disse duas coisas para enfatizar sua função em nos conceder o conhecimento e a alegria de Deus. Ele disse: “Ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mateus 11,27). E ele afirmou: “Tenho-vos dito estas coisas para que meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo” (João 15,11). Em outras palavras, conhecemos o Pai com o conhecimento do Filho, e nos alegramos no Pai com a alegria do Filho. Jesus nos fez participantes de seu conhecimento de Deus e de sua própria alegria em Deus.

A forma como essa participação se torna visível no mundo não é principalmente por atos de profunda devoção na adoração comunitária no domingo de manhã — o quão preciosos são esses momentos — mas pelas mudanças que eles produzem em nossas vidas. Jesus declarou: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está no céu” (Mateus 5,16). A luz que brilha através de nossas obras e faz com que as pessoas vejam a Deus, não a nós, é o valor completamente satisfatório de sua glória.

Isso acontece exatamente desta forma: quando a glória de Deus é o tesouro de nossas vidas, não vamos guardar tesouros na terra, mas gastá-los para difundir a sua glória. Não cobiçaremos, mas transbordaremos com liberalidade. Não vamos implorar o louvor dos homens, mas esqueceremos de nós mesmos para louvar a Deus. Não seremos dominados por prazeres pecaminosos e sensuais, mas cortaremos suas raízes pelo poder de uma promessa superior. Não nutriremos um ego ferido ou nutriremos rancor ou um espírito vingativo, mas entregaremos nossa causa a Deus e abençoaremos aqueles que nos odeiam. Todo pecado flui do fracasso em valorizar a glória de Deus acima de tudo. Portanto, uma forma crucial e visível de manifestar a verdade e valor da glória de Deus é por meio de vidas humildes e sacrificiais de serviço que emanam somente da fonte da glória de Deus que satisfaz plenamente.

Como as pessoas se despertam para essa glória e como são transformadas por ela

Voltamos agora para a questão: como as pessoas se despertam para esta glória e como elas são transformadas por ela. Uma parte essencial da resposta é dada pelo apóstolo Paulo em 2 Coríntios 3,18; 4,6. Ele declara: “E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Ao contemplarmos a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória. Essa é a forma como Deus transforma as pessoas à imagem de seu Filho para que elas reflitam a glória do Senhor. Ao sermos transformados na forma que glorifica a Deus, fixamos nosso olhar na glória do Senhor. 6

Como isso acontece? E, com esta explicação, movemo-nos muito proximamente para as implicações da pregação. Paulo explica em 2 Coríntios 4,3-4 como contemplamos a glória do Senhor:

Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o Deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça [aqui está o cumprimento de 2 Coríntios 3,18] a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.

Contemplamos a glória do Senhor mais explicitamente e mais fundamentalmente no evangelho. Tanto assim que Paulo chama de “o evangelho da glória de Cristo”. Significa — e isto tem enormes implicações para a pregação — que, nesta dispensação, não podemos ver a glória do Senhor diretamente como veremos quando ele retornar nas nuvens; veremos isso com mais clareza por meio de sua palavra. O evangelho é a mensagem em palavras. Paradoxalmente, palavras são ouvidas e a glória é vista. Por conseguinte, Paulo afirma que vemos a glória de Cristo não fundamentalmente com nossos olhos, mas através de nossos ouvidos. “A fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo” (Romanos 10,17), porque ver a glória de Cristo vem através de ouvir e ouvir o evangelho de Cristo.

Considere como isso foi expresso na vida do profeta Samuel. Nos dias de Samuel, as visões do Senhor não eram frequentes (1 Samuel 3,1) — exatamente como hoje em que há uma fome de ver e experimentar a glória de Deus. Mas, então, Deus levantou um novo profeta. E como Deus apareceu a ele? Da mesma forma que ele aparecerá para você e seu povo. Primeiro Samuel 3,21: “Continuou o Senhor a aparecer em Siló, enquanto por sua palavra o Senhor se manifestava ali a Samuel”. Ele se revelou pela palavra. Essa é a forma como o povo contemplará a glória do Senhor e será mudado no tipo de povo que torna sua glória conhecida. E Paulo nos diz agora que a palavra que revela a glória de Deus com mais clareza e centralidade é o Evangelho (2 Coríntios 4,4).

O chamado implícito para a exultação expositiva

Isso me leva, finalmente, ao conceito conclusivo da pregação como exultação expositiva. Se esse é o propósito de Deus para que manifestemos sua glória no mundo e se a manifestarmos porque somos transformados por conhecê-la e nos alegramos nela; e se conhecemos e nos alegramos por contemplar a glória do Senhor e se contemplamos essa glória com mais clareza e centralidade no Evangelho da glória de Cristo, e se o Evangelho é a mensagem entregue em palavras para o mundo, então, o que se segue é que Deus tem a intenção de os pregadores revelarem essas palavras e exultarem por causa delas — fato que chamo de exultação expositiva.

Toda palavra tem relevância. Ela é expositiva porque há muito a respeito do Evangelho que clama para ser exposto, aberto, revelado, elucidado, explicitado, explicado, manifesto. Vemos isso quando focamos nas cinco dimensões essenciais da mensagem do evangelho.

A exposição de texto é essencial porque o Evangelho é uma mensagem que vem até nós em palavras e Deus ordena que as pessoas vejam a glória de Cristo — as “insondáveis riquezas de Cristo” (Efésios 3,8) — nessas palavras do Evangelho. Esse é o nosso chamado: revelar as sentenças, palavras e parágrafos da Escritura e manifestar “a glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”.

O fato que nos leva, finalmente, à segunda palavra da frase exultação expositiva. Ai de nós se fizermos nossa exposição de tal evangelho sem exultação — isto é, sem exultar na verdade revelada. Quando Paulo diz em 2 Coríntios 4,5: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor”, a palavra que ele emprega para “pregamos” é kerussomen — nós proclamamos a Cristo como Senhor, nós anunciamos a Cristo como Senhor. O kerux — o proclamador, o “pregador” (1 Timóteo 2,7; 2 Timóteo 1,11) — talvez tenha que explicar o que ele diz se as pessoas não entenderem (assim, a explicação pode envolver ensino). Mas o que distingue o arauto do filósofo, escriba e mestre é que ele é o arauto das novas. E, em nosso caso, boas-novas infinitamente. Infinitamente novas preciosas. As novas mais relevantes em todo o mundo.

O criador do universo — que é o mais glorioso e o mais desejado que qualquer tesouro na terra — revelou-se em Jesus Cristo para que fosse conhecido e apreciado para sempre por qualquer um no mundo que depusesse as armas da rebelião, recebesse sua anistia comprada com sangue e acolhesse seu Filho como Salvador, Senhor e Tesouro de sua vida.

Ó, irmãos, não mintam sobre o valor do evangelho mediante o tédio de sua conduta. A exposição da mais gloriosa realidade é uma gloriosa realidade. Se ela não for exultação expositiva — autêntica do coração — algo falso é dito sobre o valor do Evangelho. Não diga por meio de sua face, voz ou sua vida que o Evangelho não é o Evangelho da glória de Cristo que satisfaz completamente. Ele é. E que Deus possa levantar dentre vocês uma geração de pregadores cuja exposição é digna da verdade e cuja exultação é digna da glória de Deus.


1 Dallimore, A. George Whitefield. London: Banner of Truth Trust, 1970. v. 1 . p. 16.

2 Catherwood, C. Five Evangelical Leaders. Wheaton: Harold Shaw Publishers, 1985. p. 170.

3 Jesus disse em Lucas 22,22 que a cruz estava “determinada [horismenon] por Deus” e, em Mateus 25,41, que o fogo do inferno foi preparado por Deus. “Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado pra o diabo e seus anjos’”.

4 Do cenário americano, considero este comentário impressionante por Joel Green que insulta que a igreja crê que é central para o evangelho e que é fundamentado claramente nas Escrituras (Isaías 53,4-6, 8-10; Gálatas 3,13; Romanos 8,3): “Seja qual for o sentido que a expiação teve, seria um grave erro imaginar que ela focou no apaziguamento da ira de Deus ou na conquista da atenção misericordiosa de Deus... As Escrituras como um todo não proveem base para uma descrição de um Deus irado precisando ser aplacado em um sacrifício expiatório... Seja o que for dito da compreensão de Paulo sobre a morte de Jesus, sua teologia da cruz carece de qualquer sentido de divina retribuição” (Green, J. Recovering the Scandal of the Cross: atonement in New Testament & Contemporary Context. Downers Grove: InterVarsity Press, 2000. p. 51, 56). Do contexto britânico, Steve Chalke refere-se ao ensino de que Cristo suportou a ira de Deus em nosso lugar de “abuso cósmico de criança“: “O fato é que a cruz não é uma forma de abuso infantil cósmico — um Pai vingativo, punindo seu Filho por uma ofensa que ele não cometeu. Compreensivelmente, ambos os grupos de pessoas dentro e fora da igreja consideram essa versão distorcida dos eventos e moralmente duvidosa como uma barreira enorme à fé. Contudo, mais profundo que isso é que esse tipo de conceito se acha em total contradição com a declaração de que ‘Deus é amor’. Se a cruz é um ato pessoal de violência perpetrado por Deus na humanidade, mas suportado por seu Filho, então ela zomba do próprio ensino de Jesus para amar seus inimigos e recusar pagar o mal com o mal” (The Lost Message of Jesus. Grand Rapids: Zondervan Publishing Company, 2004. p. 182-183). NT. Wright argumenta que “a maioria” (“ele quer dizer todas”?) das referências ao inferno no Novo Testamento não falam sobre um lugar de sofrimento consciente e eterno, mas que precisamos de uma “reconstrução” ou “reformulação” da doutrina do inferno “na época atual” 1) em termos de os seres humanos usarem “o dom da liberdade” que têm para desumanizar a eles mesmos completamente”, e 2) em termos de injustiça social e miséria: “Há uma doutrina bíblica do inferno igualmente adequada e mais necessária em termos de vida social e comunitária nesta terra” (Following Jesus: Biblical Reflections on Discipleship. Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 1994. p. 95-96).

5 Citado do The Islam/West Debate: documents from a Global Debate on Terrorism, U. S. Policy and the Middle East. Edited by David Blankenhorn in First Things, n. 161, p. 71, March 2006.

6 Tome cuidado por dizer: “Isso não funciona” e, então, voltar-se para outras técnicas e abandonar o método de Deus transformar pessoas. Você pode ser capaz de mudar as pessoas com métodos e meios diferentes desse processo de ver a glória do Senhor na palavra de Deus, mas será uma alteração que enaltecerá a glória de Cristo? Nem toda mudança honra a Cristo. Paulo ressoa essa advertência com as palavras no princípio de 2 Coríntios 4,3: “Mas se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto”. Em outras palavras, ele admite que seu Evangelho não mude todos. Os que se “perdem” não veem a glória de Deus no Evangelho. Paulo não muda sua estratégia por isso. Nem tampouco nós deveríamos mudar.

7 2 Timóteo 3,16-17; Romanos 15,4.