Os Primeiros Passos Da Fé/Quem dá o primeiro passo?
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Steve Shank
Sobre Predestinação e Eleição
Capítulo 3 do livro Os Primeiros Passos Da Fé
Tradução por Fabiano Medeiros
Moro a vinte minutos do mar com minha família. A cada ano, por várias vezes, passamos a mão em nossos baldinhos e pás, pranchas, filtro solar, toalhas, saquinhos de batata frita, refrigerantes e seis pares de nadadeiras e seguimos em direção à praia, para brincar na areia e surfar sobre as ondas.
Os mais novinhos adoram brincar comigo no mar. Com o papai, forte e corajoso, podem aventurar-se mar adentro, indo mais longe do que iriam se estivessem sozinhos. (Mal sabem que o Papai, forte e corajoso, é na verdade um Papai covarde e paranóico no que se refere a crianças pequenas expostas aos perigos do mar.)
Certo dia, minha filha Janelle e eu nos afastamos da praia em direção às ondas que não cessavam de subir, descer e quebrar na praia. Como tínhamos feito isso muitas vezes antes, não fiquei surpreso quando ela começou a apresentar sua rotineira especialidade... bem no meu ouvido: gritos e berros acutíssimos. “Não, papai, eu quero voltar. Papai, a gente tá muuuito looonge da praia!!! Não!! NÃO!! AAAAAAAAAI!!!... Puxa, papai, foi demais! Mais uma vez, vai!” Então repetíamos aquilo muitas e muitas vezes, e toda vez Janelle continuava a gritar histérica e estridente (mas adorando).
Depois de alguns instantes, porém, outro comportamento se repetia sempre. Logo antes de ser atingida pela onda, Janelle (com apenas 7 anos e 20 quilinhos) puxava o braço, não deixando mais que eu agarrasse seu punho com minha mão firme, só aceitando que ela mesma se agarrasse a mim. Toda vez que eu tentava segurá-la de novo, ela se soltava e se agarrava a mim. Logo, logo percebi claramente que ela confiava mais na capacidade dela de se agarrar a mim do que na minha de segurá-la.
Bem... por acaso tenho quase 2 metros. Meus dedos compridos quase são capazes de contornar por completo a cintura de Janelle, quanto mais seu pulso. Mas, diante do perigo, minha menininha sentia-se mais segura de se agarrar aos meus dedos escorregadios, cheios de filtro solar, do que em ser segurada pelo papai. Ao refletir sobre isso, o Senhor me mostrou: “Meu filho, muitos filhos meus se relacionam comigo da mesma maneira. Confiam na capacidade que eles têm de se agarrar a mim em vez de confiarem que eu sou quem os está segurando”.
Essa brincadeira nas ondas com Janelle serviu para me fazer entender de forma bem vívida uma verdade fundamental. Sendo criaturas caídas, costumamos achar que temos a responsabilidade de nos agarrar ao nosso Pai celeste. Quando temos sucesso na luta contra as ondas da tentação e das tribulações, sentimo-nos em paz com Deus. Nossa relação com ele parece segura. Mas, quando não atingimos o padrão de Deus, podemos sentir-nos distantes ou mesmo expulsos de sua presença. Em suma, a pergunta que devemos fazer é: “Quem está agarrando quem?”. Estamo-nos segurando a um Deus difícil de tratar, que vai reagir com repulsa toda vez que não agirmos como ele espera? Ou será que é ele que está nos segurando?
Na noite em que entreguei a vida a Cristo, achei que estava dando o primeiro passo. Pensei ter estendido a mão para agarrar a de Deus. Como muitos cristãos novos, achei que tivesse “encontrado o Senhor”. Nem sequer passava pela minha mente que Deus havia estendido sua mão e me havia encontrado.
No entanto, um estudo cuidadoso da Bíblia mostra que Deus é quem dá o primeiro passo, atraindo as pessoas para si. Ele enviou seu Filho, Jesus Cristo, para morrer na cruz por nossos pecados. Foi a ação dele a nosso favor, movido pela graça que também advém dele, que nos fez chegar ao ponto de sermos salvos, e são suas mãos que agora nos seguram de maneira firme e forte. Correspondemos a essa iniciativa dele, mas até mesmo essa nossa resposta foi possível por tudo o que ele já tinha feito em nossa vida. Deus merece todos os créditos.
Quem está agarrado quem? A resposta a essa pergunta é de fundamental importância para nossa nova vida em Cristo. Há uma enorme diferença entre estarmos seguros no amor de Deus e lutarmos com afinco para ser aceitos por ele. Por essa razão exploraremos nas primeiras páginas deste volume os componentes da conversão: os “8 ingredientes da salvação”. Quando tivermos concluído, tenho a esperança de vê-lo motivado a descansar nas mãos firmes desse Deus de amor.
Primeiro ingrediente: Escolhidos por Deus
O primeiro passo de nossa salvação ocorreu milhares de anos antes de nascermos:
Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça... (Ef 1.4,5)
Pense nisso por um instante. Muito antes de você ser gerado, Deus visualizou a cronologia aqui na Terra e contemplou sua vida. Ele dirigiu seus afetos a você antes de você dar os primeiros suspiros. “... todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir”, escreveu Davi (Sl 139.16). Antes de seus avós nascerem —antes mesmo de Adão e Eva serem criados—, Deus visualizou o dia em que você nasceria e o escolheu para ser seu filho.
Por que ele o escolheu? Certamente não foi porque você tivesse um grande potencial. Não foi porque seus pais o apresentaram a Deus diante do altar quando pequeno. Porque gritou pedindo ajuda, desesperado e enterrado no lixo de sua vida pecaminosa. Nem foi uma recompensa por algo que tenha feito. Na verdade, como acabamos de ver, Deus escolheu você sem que você mesmo nem ninguém o influenciasse de algum modo. As Escrituras dizem que Deus “nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos...” (2Tm 1.8,9; grifo do autor).
Seria interessante pensar que a nossa sabedoria ou grande percepção é que nos levariam a seguir a Cristo, mas isso simplesmente não é verdade. “Como está escrito: ‘Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus’” (Rm 3.10,11). O coração humano não busca a Deus nem se submete a ele com naturalidade. Bem ao contrário, para dizer a verdade. Portanto, ainda que seja um pouco difícil aceitar essa verdade, entenda por favor: o seu desejo de conhecer a Deus e de se reconciliar com ele não tem origem em seu coração. Origina-se em Deus. Trata-se de prova maravilhosa de que ele o escolheu e foi atrás de você mesmo muito antes de você sequer pensar em procurá-lo.
Em sua misericórdia infinita, Deus escolheu você para ele e pôs em funcionamento os fatores que levaram você à conversão. Como Jesus disse, “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi...” (Jo 15.16). Permita que sua mente descanse na verdade segundo a qual, desde os tempos eternos, o Deus soberano do universo o escolheu por sua graça para que você fosse um de seus filhos.
Meus ossos não estavam escondidos de ti
quando em secreto fui formado
e entretecido como nas profundezas da terra.
Os teus olhos viram o meu embrião;
todos os dias determinados para mim
foram escritos no teu livro
antes de qualquer deles existir.
Deus decidiu qual célula do corpo de sua mãe e qual do corpo de seu pai uniriam os códigos genéticos exclusivos para formar aquele ser único que você é. Se duas outras células se unissem, não seria você. Pareceria outra pessoa, sentiria como outra pessoa, pensaria como outra pessoa, seria outra pessoa. Você é quem é por uma única razão: Deus quis fazê-lo dessa forma.
Nenhuma vida é um acidente, ainda que sejam desastrosas as circunstâncias da concepção. Já ouvi falar de uma jovem que uma vez se encolheu no corredor da igreja, soluçando incontrolada. Suas lágrimas não davam conta de derramar os anos de dúvida, os anos de culpa. Veja só... ela havia feito sua auto-imagem girar em torno de um fato terrível: o estupro desumano da mãe. Apesar de terem exigido que abortasse a criança, essa mãe tomou a difícil decisão de deixá-la viver. Agora a filha precisava saber que não era fruto de um equívoco. Precisava ser assegurada de que havia uma razão e um plano para a vida dela.
Ouvi a afirmação certa vez de que não existem filhos ilegítimos, mas, sim, pais ilegítimos. Há aspectos do plano de Deus que permanecem envoltos em mistério. No entanto, podemos nos firmar na verdade segundo a qual Deus é plenamente confiável. Ele reina em poder e soberania. E, a despeito das circunstâncias de quando você foi concebido, Deus estava no comando, criando-o para seu deleite. Ele aproxima-se até mesmo da situação mais aterradora e a redime para a glória dele e para o nosso bem.
Saber que Deus o criou deve proporcionar enorme paz e segurança. No entanto, também gera um sentimento de humildade. Se você tivesse simplesmente evoluído a partir de um macaco ou de um feixe de algas, estaria livre para fazer o que quisesse na vida. Mas você é obra das mãos de seu Criador. Tomando por empréstimo uma ilustração do profeta Isaías, poderíamos dizer que você é um vaso nas mãos do grande Oleiro. Em sua misericórdia, ele formou você para um nobre fim (Rm 9.21).
Terceiro ingrediente: Nossa situação
A maioria das pessoas não entende muito bem a situação delas perante Deus. Admitem-se pecadoras, mas somente até certo ponto. Pensam muito nos pecados como se fossem “grandes” e “pequenos”. Se tudo o que fizeram foi sonegar o imposto de renda ou mentir a um supervisor, consideram-se superiores à pessoa que sai por aí cometendo assassinatos a sangue frio. Em outras palavras, entendem que Deus se satisfaz com quem é fundamentalmente uma “boa pessoa”.
Esse pensamento revela um grave desconhecimento a respeito da Palavra de Deus. Não somos pecadores porque pecamos; a Bíblia afirma que pecamos porque somos pecadores. Nosso pecado é uma enfermidade herdada. Quando Adão e Eva desobedeceram a Deus, o pecado poluiu o tanque genético da humanidade. Toda criança nascida neste planeta, com exceção de Jesus Cristo, nasce com uma constituição totalmente deformada e pecaminosa. São características presentes desde o momento da concepção. Todo ato pecaminoso —mentira, ódio, ciúme, ira, orgulho, lascívia, egoísmo e assassinato— tem origem nessa degeneração que os teólogos denominam “pecado original”.
Veja agora o diagnóstico que a Bíblia faz da situação humana:
- Irremediavelmente separados de Deus (Ef 2.1-3; Cl 1.21; Rm 6.23). Simplesmente não há como nos tornar aceitáveis ao Deus santo e todo-poderoso.
- Mortos espiritualmente (Rm 5.12; Ef 2.1; Cl 2.13).
- Hostis em relação a Deus (Rm 5.10; Cl 1.21). Se dependesse de nós, todos mostraríamos os punhos cerrados e teimosos ao Rei, Senhor e Mestre de nossa vida.
- Cegados e escravizados por Satanás (2Co 4.3,4; 2Tm 2.24-26).
- Incapazes de vencer o pecado (Rm 1.28-32; 5.6; Jo 8.34).
- Impossibilitados de entender as coisas de Deus (Pv 14.12; Is 55.8,9; 1Co 2.14).
- Inaptos para ter uma vida espiritualmente frutífera e significativa (Jo 15.4-6). [4]
Aí está um quadro bem triste, não é verdade? A Bíblia não classifica os pecados da mesma maneira que nós. Não há uma curva com níveis de gravidade. Ela simplesmente considera na mesma condição sonegadores de impostos e assassinos em série. Qualquer pessoa que se considere “no fundo uma boa pessoa” está redondamente enganada. Sem Cristo, somos todos mortos, perdidos, impotentes, ímpios, irremediáveis, cegos e inimigos de Deus.
A avaliação que as Escrituras fazem pode ser deprimente, mas o objetivo é libertá-lo. Quando você percebe sua real situação diante de Deus, pára de fazer o que minha filha faz. Pára de se agarrar a Deus e percebe que depende completamente de que ele o segure. Sua única esperança —e que esperança segura e inegável!— reside no fato de que Deus projetou um meio para libertá-lo dessa sua situação de perdido e pecador. Vamos examinar isso juntos.
Quarto ingrediente: Chamados por Deus
Uma vez, quando ainda menino, vi o gato de meu vizinho ser atropelado por um carro. Embora eu não gostasse muito de gatos (e aquele não era nenhuma exceção), senti um quê de tristeza quando o vi correr para em meio a uns arbustos. Então ajudei meu vizinho a procurá-lo. “Vem cá, gatinho, vem; gatinho, gatinho”, eu o chamava. Enquanto isso, eu pensava: “Se depois de toda a violência que pratiquei com esse gatinho, ele ainda assim vier comigo, é que está mesmo ferido”.
Quando finalmente o encontramos, o pobre gato estava tão morto quanto as múmias do Egito. Nenhum chamado poderia tê-lo feito ressurgir. Eu poderia ter chamado “Vem cá, gatinho, vem; gatinho, gatinho” a semana toda sem obter nenhuma resposta daquele felino atropelado.
Antes de você se tornar cristão, estava, espiritualmente falando, na mesma situação do gato de meu vizinho: mortinho-da-silva, incapaz de reagir de qualquer jeito. Não leve para o lado pessoal. A Bíblia diz o mesmo sobre todos os que ainda não se converteram: “Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver...” (Ef 2.1,2). Seu espírito não estava apenas em coma ou inconsciente. Não estava débil e sem energia. Estava morto. Embora Deus o tivesse escolhido e criado, seu estado pecaminoso o separava dele.
A história teria parado por aí não fosse a misericórdia de Deus. Você consegue perceber o que ele fez? “Quando vocês estavam mortos em pecados [...], Deus os vivificou em Cristo...” (Cl 2.13) Por quê? “... pelo grande amor com que nos amou [...] pela graça vocês são salvos” (Ef 2.4,5). Você tinha feito alguma coisa para merecer isso? “... não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou...” (Tt 3.5).
Certo dia, em seu tempo perfeito, Deus tocou no cerne morto e frio de seu ser espiritual e o fez viver. Você foi nascido de novo. (Os teólogos dão a esse fato o nome de regeneração. Trata-se de palavra muito importante; você a encontrará muitas vezes neste livro.) O novo nascimento é o maior milagre que você jamais experimentará. Enquanto você ainda estava morto espiritualmente, incapaz de corresponder a Deus e aguardando a condenação de seu pecado, Deus o chamou para si por meio da mensagem do evangelho, e essa chamada produziu vida, fé e arrependimento. (Algo que o meu “Vem cá, gatinho, vem; gatinho, gatinho” jamais teria conseguido!) A chamada de Deus que dá vida, à qual alguns denominam chamada eficaz, é “esse ato de Deus, misterioso, divino e humanamente inexplicável, por meio do Espírito Santo, que nos põe em comunhão viva com Jesus Cristo, nosso Senhor”. [6]
Os gatos mortos, quando chamados, não saem engatinhando de entre os arbustos. No entanto, quando a chamada de Deus penetrou o estado de morte e escuridão em que sua alma se encontrava, ela soou com o poder vivificador da regeneração. Você foi trazido da morte para a vida, não por seus esforços, mas por meio de uma obra milagrosa e misericordiosa de Deus.
- Alguém falou de Jesus diretamente a você.
- Você foi à frente num culto público.
- Deus falou a você por meio da Bíblia ou de outro livro.
- Você passou por um orelhão e ouviu o telefone tocar.
- Outra forma: _____________________________
Quinto ingrediente: Cooperando com Deus
De todos os bilhões de bebês já nascidos, nem um sequer foi capaz de levar os créditos de sua concepção. Semelhantemente, nenhum cristão pode alegar responsabilidade em sua regeneração. Apenas Deus seria capaz de fazer viver seu espírito morto. Uma vez realizada essa obra milagrosa, porém, era necessário que você cooperasse com ele por meio da conversão.
O teólogo Wayne Grudem define conversão como “nossa reação voluntária à chamada do evangelho, em que com sinceridade nos arrependemos dos pecados e depositamos a confiança em Cristo para obtermos salvação”.[7] A verdadeira conversão implica duas reações: fé e arrependimento. Examinemos cada uma dessas reações separadamente.
A fé requer uma crença no que a Palavra de Deus afirma sobre seu pecado e sobre o sacrifício de Jesus. Pela fé, você reconhece que seu estado é irremediável, que você é incapaz de agradar a Deus e que seu pecado provocou a santa ira dele. A fé, no entanto, também o capacita a aceitar a morte de Cristo na cruz como pagamento total, definitivo e espontâneo por seu pecado. A fé é algo fascinante. É tanto um dom de Deus (Ef 2.8) quanto um ato de sua vontade redimida. Em outras palavras, Deus lhe dá a fé, mas você tem a responsabilidade de exercê-la. Ao regenerá-lo, Deus abriu seu coração, plantando a semente da fé pela qual você confia em Jesus como a única esperança de Deus para a humanidade pecaminosa.
A fé isoladamente, porém, não basta; é também necessário à conversão que haja arrependimento. “Arrependimento” significa simplesmente mudança. Começa por uma mudança em sua forma de enxergar a Deus. Ele será agora seu Senhor, o soberano de sua vida. Arrependimento também implica uma mudança em sua forma de enxergar o pecado. Em vez de fazer tudo o que lhe satisfaz, agora você faz suas ações passar pelo filtro da Palavra de Deus para ver se elas se enquadram nas expectativas dele. Por último, o arrependimento requer uma mudança na forma de você ver a si mesmo. Antes você se exaltava e vivia para o próprio prazer; agora você está deixando sua vida de lado para agradar aquele que o criou, morreu por você e o chama para obedecer a ele.
O batismo nas águas deve ser um de seus primeiros atos de obediência como novo seguidor de Cristo (Mt 28.19). Ser batizado publicamente nas águas é um testemunho corajoso a todos os que o presenciam de que duas mudanças ocorreram em sua vida. Primeira: Deus misericordiosamente o regenerou; segunda: você conscientemente abandonou sua velha forma de vida. É um “símbolo do começo da vida cristã”, escreve Wayne Grudem. [9] Não deixe de observar, entretanto, que o batismo não salva; você foi salvo pela obra sacrificial de Jesus. Tampouco as águas batismais podem eliminar sua natureza pecaminosa ou regenerar sua alma. Antes, o batismo é um sinal de entrega a Jesus, uma declaração de que você foi unido com Cristo em sua morte e ressurreição. Jesus ordenou que ele fosse realizado, a igreja primitiva deu o exemplo ao cumprir essa ordenança e você se beneficiará grandemente em fazer o mesmo. Se ainda não foi batizado nas águas, pergunte a seu pastor como pode experimentar esse ato poderoso.
A fé em Cristo e a submissão a ele em arrependimentos são as únicas reações cabíveis à iniciativa misericordiosa de Deus a seu favor. Não são meramente bandeiras crvadas no solo de seu coração para celebrar um acontecimento do passado. Ao contrário, são as duas colunas gêmeas que sustentam sua nova vida em Cristo. Você precisa viver todos os dias cooperando com Deus, e deve fazê-lo cultivando hábitos de fé e de contínuo arrependimento.
Sexto ingrediente: Em Cristo
Como se a regeneração e a conversão não bastassem para manifestar as riquezas de sua graça, Deus fez ainda mais uma coisa. Veja se consegue matar a charada lendo este texto das Escrituras:
Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. Se dessa forma fomos unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição. Pois sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não mais sejamos escravos do pecado; pois quem morreu, foi justificado do pecado (Rm 6.3-7).
Deus o escolheu, criou-o, chamou-o para fora de seu estado de pecaminosidade e o capacitou para cooperar com sua obra por meio do arrependimento e da fé. Além disso, ele o uniu a seu Filho, Jesus Cristo. Agora você pode dizer, como o apóstolo Paulo:
Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim (Gl 2.20).
Agora vive em você Jesus Cristo — aquele que triunfou sobre o pecado e a morte. Como fica claro em Romanos 6, isso traz enormes implicações para sua vida espiritual. Em Cristo, sua velha e pecaminosa forma de vida foi crucificada e você foi ressuscitado com ele numa nova vida. Não precisa mais ocupar a mente com as coisas do passado. Você foi liberto da escravidão do pecado (v. 6). Recebeu nova natureza que o capacita a vencer o pecado. Em Cristo, você está morto para o pecado e vivo para Deus (v. 11). Seu Pai celeste não mais o enxerga nos andrajos esfarrapados de seu estado de rebeldia e pecaminosidade. Ele o vê agora “em Cristo”. Agora sua identidade brota de sua viva união com o Filho de Deus.
“Nessa união não somos eliminados”, escreve Robin Boisvert, “mas Cristo nos foi acrescentado [...] Ninguém veio nos entregar um guia impresso, mandando que achássemos o caminho do céu. O que ocorreu foi que recebemos o Guia que nos acompanhará até lá pessoalmente”. [10]
Por que Deus se deleita em estar com você em suas devoções diárias? Porque você está em Cristo. Por que ele lhe perdoa quando você peca? Porque você está em Cristo. Por que ele jamais o deixará nem o abandonará? Por que ele assumiu a responsabilidade de guiá-lo em sua boa e perfeita vontade? Por que ele o abençoa com toda sorte de bênção espiritual? Por que você pode descansar de modo seguro em seu amor? Por causa da iniciatiava feita por ele de uni-lo para sempre a seu Filho perfeito, Jesus Cristo!
Sétimo ingrediente: Purificados por Deus
Se eu estivesse lendo a afirmação de Paulo em Romanos 6 pela primeira vez, posso muito bem prever o tipo de resposta que eu daria nesse ponto: “Liberto do pecado? Eu? Lembre-me disso a próxima vez que eu acertar a trave ou ficar para trás no trânsito. Não sou exatamente perfeito, sabe como é?”.
Que verdade. Embora nossa união com Cristo nos dê poder para vencer o pecado, ainda assim chafurdaremos em muito lodo. Por isso é tão importante que compreendamos o fato misericordioso do perdão de Deus:
Antes vocês estavam separados de Deus e, na mente de vocês, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês. Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação (Cl 1.21.22).
Um dos primeiros versículos bíblicos que memorizei quando me converti foi 1João 1.9: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça”. Pela morte na cruz, Jesus comprou nosso perdão. Ele pagou o preço por todo o nosso pecado —do passado, do presente e do futuro. Confie em seu Deus misericordioso, que diz: “‘Sou eu, eu mesmo, aquele que apaga suas transgressões, por amor de mim, e que não se lembra mais de seus pecados...’” (Is 43.25).
Além de ser perdoado, você foi justificado por Deus. Aí está uma palavra muito importante. Por isso reflita sobre ela comigo por um momento. “Justificação” significa que Deus o declarou justo, como se você nunca tivesse pecado. Ele jogou fora toda a sua ficha da vida velha. Toda a ficha. Ele saldou sua dívida. Por incrível (e totalmente imeritório) que pareça, ele o enxerga agora da mesma forma que seu Filho.
Por meio da justificação, Deus imputou a justiça perfeita e imaculada de Jesus Cristo a você. Como ele consegue isso? Por que ele o veria como justo se suas ações ainda estão “infiltradas pelo pecado”? Por uma única razão: porque você está em Cristo.
Oitavo ingrediente: Transformados por Deus
Antes de começar a ler este livro você tinha consciência de quanto Deus realizou em e por você? Você foi totalmente transformado! Antes estava morto no pecado e condenado à destruição eterna. Agora está vivo em Cristo e destinado a passar a eternidade na gloriosa presença de Deus. Trata-se de uma grande mudança, como explica a Bíblia: “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo...” (2Co 5.17,18).
A maioria dos cristãos é feliz só por saber que Deus lhe retirou os pecados. Mas aí está apenas metade da boa notícia. Não apenas algo foi retirado, mas algo foi acrescentado também. Como agora você está unido com Cristo, a natureza divina dele está em você:
Seu divino poder nos deu tudo de que necessitamos para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude. Dessa maneira, ele nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça (2Pe 1.3,4).
É a isso que chamamos TRANSFORMAÇÃO!
Como já tratamos de vários assuntos só neste primeiro capítulo, vamos encerrar com uma breve recapitulação. Antes mesmo de Deus criar o mundo, ele escolheu a você para ser seu filho. Ele participou intimamente do ato de criar você de acordo com seus desígnios singulares. Mas seu estado o afastou de Deus; você estava morto no pecado, incapaz de se salvar ou mesmo de buscar a Deus. Então, num ato de misericórdia infinita e imerecida, Deus o chamou para si pelo evangelho e o fez viver espiritualmente por meio da regeneração.
Você correspondeu à chamada dele por meio da conversão, quando depositou sua confiança em Cristo (fé) e começou uma vida de obediência e submissão (arrependimento). Agora você está em Cristo, unido a ele para sempre. Deus o justificou e o purificou, retirando a mancha do pecado. Por causa da obra de Cristo em você, você foi drasticamente transformado. Você é nova criação!
Antes você estava morto espiritualmente; agora está espiritualmente vivo. Antes era inimigo de Deus; agora ele o tornou seu amigo. Antes era incapaz de agradar a Deus; agora seu poder divino está operando em você, ajudando-o a ser triunfante sobre o pecado. A cada passo, Deus tomou a iniciativa de efetuar sua salvação! Lembre-se disso a próxima vez que pecar. Lembre-se disso quando as ondas da vida se avolumarem contra você com força demolidora. Lembre-se disso e esteja em paz, sabendo que seu Criador e Salvador o segura eternamente em suas mãos.
SESSÃO DEBATE
- Cite uma única coisa que você realmente faça bem. Cite uma coisa que você não seria capaz de fazer se sua vida dependesse disso.
- O que motivou Deus a escolher você?
- Você estaria disposto a ler a resposta que deu à primeira pergunta deste capítulo, na p. 0?
- Você se surpreendeu com a apresentação que a Bíblia faz da condição humana? Ficou ofendido?
- O que aconteceu para torná-lo espiritualmente vivo?
- Cite e explique as duas reações que você deve ter diante da iniciativa de Deus (p. 8,9).
- Você consegue pensar em que aspectos sua vida mudaria se de repente você fosse “unido” a um bilionário?
- O que Deus enxerga quando olha para seus pecados? (p. 10,11)
- Quem tem mais poder de atração, você ou Deus?
SUGESTÕES DE LEITURA
FERGUSON, Sinclair. The Christian life: a doctrinal introduction. Carlisle: Banner of Truth Trust, 1989. MAHANEY, C. J. & BOISVERT, Robin. This great salvation. Gaithersburg: PDI, 1992. SPROUL, R. C. Eleitos de Deus: o retrato de um Deus amoroso que providencia salvação para seres humanos caídos. 2. ed. Trad. Gilberto Carvalho Cury. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. WHITNEY, Donald. How can I be sure I’m a Christian? Colorado Springs: NavPress, 1994.
- ↑ Transforming grace, Colorado Springs: NavPress, 1991, p. 73.
- ↑ Salvos pela graça, ?, p.?.
- ↑ An exposition of the Sermon on the Mount, Grand Rapids: Baker, 1953, p. 16.
- ↑ Lista adaptada de Self-confrontation: a manual for in-depth discipleship, de John Broger (Nashville: Thomas Nelson, 1994, lição 1, p. 3).
- ↑ Teologia sistemática, São Paulo: Vida Nova, ?, p. ?.
- ↑ J. Norval GELDENHUYS, in: Carl F. H. HENRY, org., Basic Christian doctrines, Grand Rapids, Baker, 1962, p. 179.
- ↑ Op. cit., p. ?.
- ↑ Teologia concisa?, São Paulo: Cultura Cristã, ?, p. ?.
- ↑ Op. cit., p. ?.
- ↑ C. J. MAHANEY & Robin BOISVERT, How can I change?, Gaithersburg: PDI, 1992, p. 32.
- ↑ Op. cit., p. ?.
- ↑ Op. cit., p. 39.