Os Fiéis Parecerão Tolos — por Enquanto
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Jon Bloom Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Lucas Faria
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A sabedoria de Deus comumente só é percebida em sua completude no futuro. Quando a sabedoria do homem sai de moda, a verdade de Deus permanece firme como uma montanha. Enquanto o tempo expõe a sabedoria mundana, ele apenas ratifica a de Deus — e a de qualquer pessoa que a tenha declarado fielmente ao mundo.
Se você quiser ter uma boa ideia de como a igreja é vista diante do mundo, pense em Jesus diante de Pôncio Pilatos. Coloque-se como um observador na sede do governador naquela manhã, testemunhando a interação entre os dois. Quem parecia fraco e quem parecia forte? Quem soava tolo e quem soava sensato? Quem parecia estar em busca do bem maior para todos os envolvidos?
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O Governador e o Senhor
“Você é o rei dos judeus?” (Jo. 18:33, NVI).
“O meu reino não é deste mundo” (Jo. 18:36).
Você só pode estar brincando! Pilatos esfregou os olhos, em sinal de cansaço.
Para Pôncio Pilatos, o homem diante dele era um grande inconveniente. A agenda do governador romano para o dia não incluía julgar um rabino rebelde que tinha problemas com o Sinédrio. Ainda mais pela manhã! O conselho queria que ele declarasse esse homem culpado por crime capital. Hoje. Antes da Páscoa. Pilatos sucumbiu à pressão. Sua paciência estava esgotada.
Ele já havia escutado sobre esse Jesus controverso antes, mas não sentiu necessidade de incomodá-lo. As informações que ele teria recebido se enquadravam no perfil de apenas mais um mestre místico judeu. Alguns afirmavam que ele tinha poderes milagrosos. Porém, não havia relatos de Jesus denunciando o imperador ou incitando revoltas contra Roma. Aparentemente, ele teria até inspirado alguns soldados romanos, mas não havia nenhuma evidência de traição como consequência disso.
Uma Simples Saída
Não é que Pilatos tivesse escrúpulos em despachar um judeu encrenqueiro quando necessário. Mas essa situação lhe deu um mau pressentimento. Jerusalém estava repleta de celebrantes da Páscoa — um momento nada apropriado para um exílio político. Se o próprio Jesus não tinha movimentado uma revolta, a sua execução iria. Ele era popular entre os camponeses, e os fanáticos judeus aproveitariam qualquer momento oportuno.
Embora Jesus não estivesse ajudando a si mesmo, ele não tinha nenhum parâmetro? Ao perguntar, “Você é o rei dos judeus?” Pilatos ofereceu-lhe uma saída imediata da execução. Tudo que Jesus precisava era apresentar algumas negações breves e objetivas e ele estaria livre das excruciantes garras de Roma. O Sinédrio teria que resolver seu próprio problema, e o governador poderia continuar com o importante trabalho previsto para o dia.
Mas a resposta de Jesus — “O meu reino não é deste mundo” — só tornou a situação desnecessária pior. Vamos lá, amigo. Se você não quer morrer, não mencione um reino — imaginário ou não — para o governador romano! Agora Pilatos era forçado a ir a fundo nas investigações.
Quem Era Iludido?
“Então, você é rei?” Pilatos perguntou. Ao que Jesus respondeu, “Tu [corretamente] dizes que sou rei.” Para isto nasci e vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem” (Jo. 18:37).
Pilatos não pôde conter um riso sarcástico. Exatamente o que ele pensava: um místico judeu com a cabeça nas nuvens. Iludido? Certamente. Mas de fato uma ameaça política para Roma ou quem quer que seja? Certamente, não. Jesus era um Rei da Verdade cujos únicos súditos eram aqueles inclinados a ouvir a sua voz. Pilatos imaginou que eles nunca seriam numerosos o suficiente para formar uma rebelião. Além do mais, os servos de Jesus não lutariam contra poderes mundanos (Jo. 18:36). Isso era loucura religiosa, e não uma contravenção. Jesus não precisava ser morto.
Então Pilatos teve uma ideia. Havia uma saída para essa confusão, uma maneira de libertar Jesus fazendo com que Roma parecesse benevolente, o Sinédrio se redimisse e as massas judaicas fossem aplacadas: a libertação do prisioneiro na Páscoa! Ao se erguer para apresentar a ideia aos judeus, ele indagou sarcasticamente ao Rei da Verdade: “O que é a verdade?” (Jo. 18:36).
O Mundo e a Igreja
Sentado em sua sede naquela manhã, Pilatos tinha toda a autoridade do Império Romano por trás dele. Jesus parecia não ter ninguém; ele se manteve lá “desprezado” e “rejeitado” (Isa. 53:3).
As palavras de Pilatos devem ter soado justas, dado o contexto aparente. As palavras de Jesus devem ter soado ilusórias e estranhas. Pilatos parecia estar em busca de uma solução politicamente pragmática que evitaria uma execução injusta, frustrando, mas não alienando, o conselho judaico e mantendo a paz civil em Jerusalém. Jesus inexplicavelmente parecia não fazer nada para evitar a crucificação.
Contudo, com o benefício da contemporaneidade, vemos que Jesus era forte e Pilatos era covarde. Pilatos só exerceu autoridade por decreto de Deus (Jo. 19:11). Nós vemos que Jesus era sábio e Pilatos era tolo: o governador só considerou as palavras de Jesus ininteligíveis porque ele as ouviu como as de um “homem natural” (1 Cor. 2:14). E vemos que Jesus, não Pilatos, sabia o que fazer em prol do bem maior de todos os envolvidos: Pilatos não tinha ideia da paz que Jesus estava buscando para bilhões de pessoas, enquanto ele almejava meramente manter a paz da cidade.
É assim que a igreja se posiciona diante do mundo. Embora Deus coloque seu povo em lugares de influência governamental como “José”, “Daniel” e “os da casa de César” (Filip. 4:22), a igreja não exercerá o poder do mundo. Ela permanecerá nos lugares fracos, proclamando verdades que soam ilusórias para as autoridades do mundo e buscando propósitos que serão mal compreendidos e mal interpretados. Mas a posição da igreja, na verdade, será forte, porque “a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem” (1 Cor. 1:25).
Vocês Serão Minhas Testemunhas
Como Jesus testemunhou perante as autoridades do governo, e como Paulo testemunhou (e lhe disseram “Você está louco, Paulo!” At. 26:24) assim nos diz Jesus, “vocês serão minhas testemunhas” (At. 1:8). Para alguns de nós, isso significará literalmente que “Por [sua] causa, [seremos] levados à presença de governadores e de reis como testemunho a eles.” (Mc. 13:9).
Mas, quer sejamos chamados a nos apresentar diante de funcionários do governo, colegas de trabalho, vizinhos ou membros da família, o que temos a dizer muitas vezes soará estranho dentro de um contexto limitado. Perceberemos o quão bobo isso pode soar para eles e nos daremos conta da nossa posição aparentemente frágil.
É nesse momento que precisamos nos lembrar de Jesus perante Pilatos. O que importa não é como as coisas parecem e soam em um momento constrangedor ou mortalmente sério. O que importa é ser fiel à verdade — ainda que uma declaração audaciosa provoque apenas uma risada irônica. O que importa, em última instância, é que o que Deus está fazendo em determinado momento só é visto futuramente.