O Criador das Montanhas Está com Você

De Livros e Sermões Bíblicos

Em dias de escuridão, Deus geralmente nos envia seu conforto e força com quatro palavras simples: “Eu estou com você”.

Eu estou com você. A promessa vem ao povo temeroso de Deus ao longo do tempo e dos testamentos: a Isaque em Berseba (Gênesis 26:24), a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:12), a Davi no vale (Salmo 23:4), aos discípulos enquanto ele os comissiona (Mateus 28:20). O Deus vivo sabe do que mais precisamos em nossa angústia mais profunda: não de respostas, mas da promessa de sua presença.

No entanto, o poder dessa promessa cresce tão somente quanto nosso conhecimento daquele que a faz. A presença de uma vaga Benevolência é de pouca ajuda quando o sofrimento avança sorrateiramente sobre nós. E assim, Deus não apenas promete ao seu povo que está com eles; mas também o lembra de quem Ele é.

Quando caminhamos pelo vale das trevas profundas, indefesos como uma ovelha, Ele se chama de Pastor (Salmo 23:4). Quando nos deitamos de bruços, dominados por inimigos fortes demais para nós, Ele se chama de Redentor (Isaías 43:14). E quando nos sentimos pequenos, vulneráveis e aflitos num mundo perigoso, Ele chama a si mesmo de Criador: “Portanto, também os que padecem segundo a vontade de Deus encomendem-lhe a sua alma, como a um fiel Criador, fazendo o bem.” (1 Pedro 4:19).

Tabela de conteúdo 1 Nosso Fiel Criador 2 Soberano sobre a Criação 3 Soberano sobre Nós 4 Servos com Mãos Cicatrizadas

Nosso Fiel Criador

Pequeno, vulnerável e aflito descreve como muitos devem ter se sentido quando receberam a carta que conhecemos como 1 Pedro. Já “contristados com várias tentações”, eles não sabiam onde a sombra do sofrimento cairia a seguir (1 Pedro 1:6; 4:12). Eles eram o alvo triplo de um mundo que os caluniava, uma carne que os assediava e um diabo que andava em seu derredor (1 Pedro 4:4; 2:11; 5:8).

No meio daquele medo, incerteza e dor, Pedro faz uma promessa. Ele já os assegurou que eles são “o povo de Deus”, herdeiros do juramento “Eu estou convosco” (1 Pedro 2:10). Agora, ele ergue os olhos do povo acima de suas provações, acima de seus inimigos, até mesmo acima de todo o céu e terra, para lembrá-los de que aquele Deus que os chama de “Meu povo” também é seu “fiel Criador” (1 Pedro 4:19).

“Saibam disso, meus irmãos e irmãs”, diz Pedro na prática, “O Deus que anda com vocês, que os protege pela retaguarda e pela frente, não é apenas seu Salvador, Redentor e Senhor, mas também o Criador das montanhas, o Artesão dos céus.” E para aqueles redimidos pelo sangue de Jesus, este Criador não é apenas poderoso, mas fiel — mesmo para o menor, mais vulnerável, mais aflito entre seu povo.

Soberano sobre a Criação

Se abraçarmos a Deus como nosso fiel Criador em nosso sofrimento, começaremos a encontrar duas rochas inabaláveis sob nossos pés. Primeiro, Deus governa toda a criação, da maior à menor, da mais distante à mais próxima — das órbitas das luas em galáxias desconhecidas às sombras das folhas em nosso quintal.

O sofrimento das pessoas que ouviam Pedro pode ter parecido frustrantemente descabido. O mesmo acontece com o nosso próprio sofrimento: cônjuges cruéis e falsos "amigos", carros desgovernados e vírus que se espalham podem parecer, aparentemente, fora de controle: ameaças arbitrárias em um mundo arbitrário. Mas aqui, Pedro nos lembra que por trás de cada criatura, animada e inanimada, está um Criador — um Criador tão presente nos detalhes de seu mundo que o sofrimento nos alcança somente se Ele, em sua sabedoria e bondade, julgar “necessário” (1 Pedro 1:6; 3:17).

Assim como Deus diz aos mares: “Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se quebrará o orgulho das tuas ondas” (Jó 38:11), assim também Ele diz ao nosso sofrimento. Nenhuma calúnia corta, nenhum tumor cresce, nenhuma flecha voa e nenhuma praga se espalha um milímetro além do que decreta o Todo-Poderoso. A cada um, Deus diz: “Até aqui virás, e não além” — e a criação é fadada a obedecer.

O sofrimento pode frustrar o governo soberano de nosso Criador assim que o sol saia de seu curso, ou as estações se recusam a chegar, ou as moléculas param de ouvir a palavra daquele que sustenta o universo (Hebreus 1:3).

Soberano sobre Nós

A soberania de Deus como Criador se estende não apenas sobre a criação ao nosso redor, mas também sobre nós. Nossas almas, que frequentemente se veem tão frágeis, estão nos braços do Onipotente. E nenhum sofrimento pode alcançar estes braços para arrebatar as pessoas que Deus protege.

“Que estais guardados pelo poder de Deus” escreve Pedro, “pela fé para a salvação já preparada para se revelar no último tempo” (1 Pedro 1:5). Em todas as aflições, medos, tristezas e incertezas, o poder de Deus está a postos por nossas almas, protegendo-nos e guardando-nos — não do sofrimento em si, mas de qualquer coisa no sofrimento que acabaria por nos destruir. Ele é nosso Criador duas vezes — uma vez por nascimento, e outra por novo nascimento (1 Pedro 1:3, 23) — e não abandonará a obra de suas mãos.

Tal é o poder que sustenta a promessa no final da carta de Pedro: “Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus nos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, o mesmo vos b aperfeiçoe, confirme, fortifique e estabeleça” (1 Pedro 5:10). Depois de termos sofrido durante o “pouco tempo” desta vida, nosso Criador se curvará ao pó da terra mais uma vez e colocará sua respiração de volta nos filhos do homem. Em seguida, as pernas paralisadas voltarão a andar, os olhos cegos verão novamente, a pele cicatrizada sentirá novamente. Então os pedaços de cada coração partido serão reunidos novamente; então toda ferida, visível e invisível, será curada por toda a eternidade.

Nosso Criador tem toda a capacidade — na verdade, toda a intenção — de restaurar todas as coisas e de nos colocar em um mundo onde não há lugar para o sofrimento.

Servos com Mãos Cicatrizadas

Quando você encontrar cristãos que confiam em Deus como seu fiel Criador, você vai saber. Estes santos têm uma marca que não podem esconder. Eles não apenas passam pelo sofrimento com uma paz perene em Jesus; eles também passam pelo sofrimento com um olhar para os outros: “Que aqueles que sofrem de acordo com a vontade de Deus confiem suas almas a um Criador fiel enquanto fazem o bem.”

Ao confiar suas almas frágeis à proteção de um Criador fiel, eles encontraram a coragem de recolher os pedaços quebrados de suas vidas, entregá-los a Jesus e confiar que Ele ainda é capaz de pegar o que está quebrado e usar para nutrir multidões. Eles podem trazer conforto ao falar mesmo com um tremor na voz, ou se oferecer para outra pessoa com as mãos cicatrizadas, ou servir com feridas que não podem ser vistas e nem ser totalmente curadas nesta vida. Mas eles ainda falam, ainda alcançam, ainda servem, trazendo o tesouro de Deus para os outros em um vaso de barro.

Por quê? Porque o Criador das estrelas os mantém como a menina dos seus olhos. Porque o Arquiteto da terra conta cada fio dos seus cabelos. Porque o Criador das montanhas mantém suas almas na palma de sua mão. E com Ele, eles estão seguros.