Ninguém Conhece A Minha Dor
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Vaneetha Rendall Risner Sobre Sofrimento
Tradução por Mônica Couto Valadares
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Como o Orgulho se Esconde no Sofrimento
Uma das minhas amigas mais queridas perdeu ambos os pais por suicídio. Seu pai morreu quando ela era adolescente e sua mãe faleceu mais recentemente. Fiquei atordoada e sem palavras quando ela me contou sobre a morte de sua mãe. Como é que alguém suporta esse tipo de perda?
Eu tinha certeza de que minhas palavras seriam inadequadas e inúteis, no entanto, minha amiga continuava ligando, pedindo meu conselho, deixando-me ministrar para ela. Ela, humildemente, dividiu tanto a sua dor como as suas lutas. Ela confessou sua raiva pela resposta insensível de seus irmãos e me pediu para orar por ela. Quando ela me disse que as nossas conversas a tinham ajudado, fui condenada pela forma como raramente deixava as pessoas entrarem na minha dor. Eu muitas vezes deduzi que, se eles não tivessem vivenciado o que eu vivenciei, não seriam capazes de compreender.
Em vez de convidar os outros para a minha dor e tristeza, muitas vezes os afastei. Eu sentia um vago senso de autojustiça, confiante de que ninguém poderia se meter na minha vida, exceto o próprio Deus. Eu descartei as experiências dos outros, até mesmo o conforto dos amigos, porque eles não conseguiam se identificar totalmente com o meu sofrimento.
Tentação de se Isolar
Pouco antes da morte do meu filho, meu marido e eu passamos por uma luta conjugal significativa que se entrelaçou com a minha dor. Confusa e atrapalhada, existiam partes da minha dor que eu sentia que não podia compartilhar com os outros, então eu tinha certeza de que ninguém poderia saber como eu me sentia. Eu me isolei da comunidade, hesitante em compartilhar profundamente com os outros — sentia-me demasiadamente vulnerável para me expor. Além disso, eu parecia mais forte e mais espiritual quando não deixava as pessoas se aproximarem.
A minha atitude, inconscientemente, intensificou a minha dor, interrompendo um importante meio de graça e salvação de Deus: o seu povo. Minha dor me isolou, me conduzindo a um silo silencioso no qual me senti compelida (ou talvez com o direito) de lidar sozinha com minha luta. Eu disse que estava cansada de ouvir banalidades, mas, na verdade, estava cansada de ouvir qualquer coisa. Eu afastei todos e ninguém se atreveu a entrar.
Esta tentação de se isolar, de se afastar da comunidade, supondo que ninguém pode ajudar, é comum no sofrimento. Então, como é que combatemos esta tentação para o orgulho — de acreditar que ninguém nos compreende e, portanto, ninguém pode nos ajudar?
Dor, Perda e Pecado
Como alguém que lidou com várias perdas, eu já vi essa tentação de orgulho e isolamento mais de uma vez. A dor, como o pecado, tem um jeito de endurecer o meu coração e me cegar para a minha verdadeira necessidade.
Quando eu era uma mãe solteira lidando com uma deficiência física significativa, eu estava menos preocupada em ser resgatada do meu pecado do que ser elogiada pela minha fé. Na verdade, eu me via como uma vítima justa em qualquer coisa relacionada ao meu sofrimento. Contudo, mesmo aqueles elogiados por Deus por sua justiça não eram sem pecado, pois todos pecaram e estão aquém da glória de Deus (Romanos 3:23). Por exemplo, embora Jó fosse um homem justo, seu sofrimento o humilhou e ele se arrependeu em pó e cinzas por falar com orgulho do que não sabia (Jó 42:5–6).
Eu não tinha considerado totalmente o meu próprio pecado como relacionado ao meu sofrimento até que ouvi Joni Eareckson Tada compartilhar sobre como a dor e a perda a santificaram. Ela ficou paralítica em um acidente de mergulho aos 17 anos e muitas vezes falou sobre como Deus a mudou, transformando seu temperamento antes amargo e rabugento à medida em que se entregava diariamente a Jesus. A maioria de nós aguardaria, ou pelo menos desculparia, uma tetraplégica com uma atitude irritável, mas Joni estava determinada a deixar que Deus usasse sua deficiência para refinar seu caráter. Ela escreve em Achados e Perdidos,
Senti vergonha da minha origem de amargura e da minha essência de lamentação. Eu não quero ser assim, eu orei a Deus. Se eu quisesse me encontrar, eu precisaria me livrar desses pecados e muito mais. (28)
Meu Maior Problema
Eu percebi, como Joni, que, independentemente do que eu esteja sofrendo, o meu maior problema na terra é o meu pecado. Quando Jesus curou o paralítico, ele primeiro perdoou seus pecados porque, como nós, ele precisava de uma cura muito maior do que a recuperação da sua condição física (Lucas 5:17–26). A nossa necessidade mais profunda é estarmos bem com Deus, sermos resgatados do nosso pecado — e o sofrimento pode nos ajudar a enxergar isso. O sofrimento muitas vezes expõe o nosso pecado pelo que é, mostrando-nos a nossa necessidade da Graça de Deus.
Costumo escrever no meu diário de manhã, refletindo sobre o dia anterior e sobre as minhas reações. Enquanto escrevo, consigo perceber padrões — muitas vezes relato como as pessoas me irritaram ou me machucaram, ignorando minhas respostas indelicadas.
Certa manhã, eu estava escrevendo furiosamente sobre como me sentia incompreendida, quando li: "O amor é paciente e bondoso; o amor não inveja ou se vangloria; não é arrogante ou rude. Não insiste no seu próprio caminho; não é irritável nem ressentido" (1 Coríntios 13:4–5). Sentei-me ali, penalizada, quando percebi que estas palavras se aplicavam diretamente a mim. Eu tinha sido impaciente, indelicada, irritável e completamente indiferente, quando as pessoas tentavam me ajudar.
Uma das coisas mais cruéis que Satanás faz em nosso sofrimento é nos persuadir de que não precisamos ser resgatados do pecado, mas sim ser compreendidos, reverenciados e deixados sozinhos.
Quando Um Membro Sofre
Satanás anda ao redor, procurando nos devorar (1 Pedro 5:8). E ele gosta de usar o sofrimento, convencendo-nos de que a dor desculpa as nossas respostas insensíveis. Que não podemos ser santificados através da nossa dor. Que outras pessoas não podem e não vão nos entender.
Então, trancamos as portas quando as pessoas batem. Erguemos muros que proclamam a nossa autossuficiência. Dizemos a todos que queremos ser deixados em paz. Poucos são corajosos o suficiente para continuar batendo à porta ou chamando por cima do muro. Eles podem se sentir cada vez mais inadequados para nos ministrar, com medo de dizer algo tolo ou preocupados com a forma como responderemos. Então eles se afastam, não querendo ofender ou julgar e nós nos isolamos dos meios de graça que Deus oferece na comunidade.
Como recebemos a graça da comunidade? Temos de deixar as pessoas entrarem. Mais do que isso, precisamos convidar as pessoas para entrar, oferecendo graça quando elas estão desconfortáveis e inseguras, esperando que não atendam a todas as nossas necessidades e supondo que possam nos interpretar mal. Fomos chamados a ser o corpo de Cristo, o que significa que cada parte tem o seu próprio papel a desempenhar. Não esperamos que um joelho tenha o mesmo ponto de vista ou experiências de um olho, mas esperamos que todas as partes trabalhem juntas. Nossos irmãos e irmãs podem não ter tido as mesmas experiências que nós tivemos, mas confiamos que Jesus será nosso ministro de encorajamento através deles de uma maneira única e significativa.
Consolo para Qualquer Aflição
Sabemos que só Deus satisfaz as nossas necessidades e nos compreende perfeitamente. Ele caminha conosco pelo vale de trevas e morte (Salmos 23:4), vê todos os nossos lamentos e lágrimas (Salmos 56:8), e sabe tudo o que pensamos e dizemos (Salmos 139:1–4). Podemos confiar Nele à medida que caminhamos em direção à comunidade para a qual ele nos chamou.
Certamente, aqueles que passaram por perdas semelhantes às nossas podem ter uma percepção e experiência única e reconfortante para compartilhar, mas outros fiéis, da mesma maneira, também podem nos ministrar. Aqueles que foram consolados por Deus em sua aflição podem consolar outros fiéis em "qualquer aflição" com o consolo que receberam de Deus (2 Coríntios 1:3–4). Qualquer tribulação implica que, se alguma vez recebemos o conforto de Deus no sofrimento, podemos usar essa experiência para confortar os outros, uma vez que Deus é a fonte do verdadeiro conforto. O Senhor dá sabedoria àqueles que a pedem (Tiago 1:5), muitas vezes no momento (Mateus 10:19), então, mesmo aqueles que não compartilham a experiência da perda, podem proferir palavras dadas pelo Espírito. E essas palavras moldadas pelo Espírito trazem o conforto mais profundo e duradouro de todos.
No sofrimento, tendemos a nos interiorizar e nos isolar para nos proteger de mais dor. Satanás se aproveita desse instinto, nos convencendo de que não precisamos de mais ninguém e que os outros apenas aumentarão a nossa dor, em vez de amenizá-la. Ele quer que nos sintamos sozinhos e arrogantes em nossa dor. No entanto, ao nos apoiarmos em Deus e em seu povo, o Senhor pode nos transformar em humildes servos, santificados e moldados pelo nosso sofrimento.