Misericórdia Devastadora
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Jon Bloom Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Isadora Glielmo
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Como Jesus Redime Nossos Fracassos
Por mais simples que os Evangelhos pareçam, o Jesus multidimensional que encontramos neles é tudo menos simples. Podemos ver isso nas variadas (poderíamos até dizer extremas) maneiras pelas quais Jesus estende a misericórdia.
O que provavelmente vem à mente da maioria de nós quando pensamos na misericórdia de Jesus são expressões de gentileza. Pensamos em sua mansidão semelhante a um cordeiro durante seu julgamento injusto e em sua morte sacrificial e substitutiva na cruz para expiar todos os nossos pecados. Podemos pensar no Sermão da Montanha, que está repleta de uma misericórdia multifacetada (Mateus 5:2–12). Jesus nos convida a afastar a raiva (Mateus 5:21–26), a responder ao mal com bondade (Mateus 5:38–42) e a amar nossos inimigos (Mateus 5:43–48). Podemos pensar no tipo de bondade que atraiu todos os tipos de pessoas doentes e desordenadas a ele para serem curadas (Mateus 8:1–17) e todos os tipos de pecadores a ele para serem perdoados (Mateus 9:10–13).
Essas são as grandes misericórdias em Cristo, mas não são as únicas expressões de sua misericórdia. Sua misericórdia nem sempre foi gentil. Às vezes, sua misericórdia podia ser devastadora. E é importante entendermos isso porque, como o apóstolo Pedro descobriu, às vezes a misericórdia de que mais precisamos de Jesus vem em uma forma severa.
Sinceramente Enganado a Si Mesmo
Pedro amava Jesus. Jesus sabia disso. Mas antes do julgamento e crucificação de Jesus, Pedro acreditava que amava Jesus mais do que amava sua própria vida — em outras palavras, mais do que realmente amava. E assim Jesus, para preparar Pedro para o chamado de sua vida (e até mesmo para sua morte), estendeu misericórdia a ele — uma espécie de misericórdia que Pedro não esperava ou reconhecia como misericórdia no momento.
Durante sua última refeição da Páscoa com os Doze, Jesus anunciou que um deles o trairia. Todos responderam com choque e onze com tristeza (Mateus 26:21–22). Eles também responderam com orgulho, o que foi em si uma revelação. A notícia levou cada um deles a questionar a lealdade dos outros e a se afirmar como o maior (Lucas 22:23–24). Onze desesperadamente não queria ser aquele cara, e ninguém queria que os outros caras pensassem que ele era aquele cara.
Depois de terminar misericordiosamente esse debate inútil, Jesus se virou para Pedro e disse: “Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E, quando você se converter (novamente), fortaleça os seus irmãos". (Lucas 22:31-32).
Pedro ficou atordoado. Quando me converter novamente? Isso implicava que ele se afastaria de Jesus. Ele estava incrédulo. Mesmo que todos os outros se afastassem, ele absolutamente não o faria (Mateus 26:33). E ele disse:
Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte. (Lucas 22:33)
Jesus sabia que Pedro era sincero, mas também enganava a si. Pedro não sabia o quão equivocada era sua autoconfiança. Então, Jesus jogou a bomba: “Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces." (Lucas 22:34). Para Pedro, isso parecia impossível, especialmente depois de tudo o que passaram juntos. Então ele jurou: “Não te negarei”, e assim fizeram os outros (Marcos 14:31).
Misericordiosamente Devastado
E então, em questão de horas, após o sincero voto de amor leal de Pedro até a morte, a profecia de Jesus se cumpriu. Tudo o que foi necessário foi a acusação pública de uma criada, e Pedro ouviu a si mesmo dizer a única coisa que jurou nunca dizer: “Não o conheço” (Lucas 22:57).
Após mais duas negações, o galo cantou, e Pedro teve que encarar uma verdade inescapável e dolorosa: ele não amava Jesus tanto quanto pensava. Quando chegou a hora da verdade e sua própria vida poderia estar em risco, ele foi um covarde e traiu seu Senhor — aquele que ele sabia ser “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16). Foi a pior coisa que ele já fez. Provavelmente uma das piores coisas que alguém já fez. Ele falhou miseravelmente, pecou imensamente e não havia como voltar atrás.
Isso era verdade: não dava para voltar atrás. Mas ele poderia ser redimido. Poderia ser usado para tal bem pelo Espírito Santo que daria o fruto de um amor mais forte que a morte — o próprio amor, de fato, que Pedro pensava ter antes de negar Jesus. Que é precisamente o que Jesus tinha em mente — o que ele havia orado por Pedro.
Embora certamente não parecesse assim no momento, esse momento devastador de fracasso provou ser uma imensa misericórdia a Pedro. Pois ele não sabia o quão fraco ele realmente era por conta própria — quão suscetível ele era à sua natureza pecaminosa. E assim, como faria com o apóstolo Paulo algumas décadas depois, Jesus concedeu um mensageiro satânico para fazer com que Pedro se tornasse humilde e o ajudar ver que apenas a graça de Deus é suficiente — que seu poder é mais claramente visto e experimentado naqueles que conhecem sua fraqueza (2 Coríntios 12:7–10).
Pedro precisaria dessa força espiritual verdadeira, o que ele mais tarde chamaria de “a força que Deus provê” (1 Pedro 4:11), para a futura designação que Jesus lhe daria. Jesus havia orado para que a fé de Pedro não falhasse. Na misericórdia de Deus, esse fracasso disciplinaria Pedro, não o definiria. Ele se converteria novamente — e quando o fizesse, estaria mais pronto ainda para fortalecer seus companheiros crentes.
Misericordiosamente Restituído
A restituição de Pedro ocorreu após outra refeição com Jesus, um café da manhã pós-ressurreição na praia (João 21:15–19). Três vezes, Jesus lhe fez alguma variação desta pergunta: “Simão, filho de João, tu me amas?” Embora as perguntas doessem a Pedro, ainda terno com pesar doloroso, todas as três vezes Pedro afirmou seu amor sincero por Jesus. Três momentos misericordiosos: uma afirmação amorosa de seu Senhor para cada terrível e desamorosa negação.
Mas Jesus não apenas perdoou os pecados de Pedro e redimiu suas negações naquela manhã; ele também profetizou misericordiosamente a morte que Pedro um dia sofreria (João 21:18–19). Como isso foi uma misericórdia? Lembre-se daquela noite terrível em que Pedro declarou com paixão: “Estou pronto a ir contigo à prisão e à morte.” (Lucas 22:33)? Naquele momento, Jesus restituiu a Pedro a honra de um dia cumprir seu voto.
E, por último, Jesus restaurou Pedro ao seu chamado ministerial. Pedro estava profundamente humilhado; ele estava mais fraco, o que o tornava mais forte da maneira que importava mais. Pedro havia se afastado de Jesus, mas agora havia retornado, e foi recebido por Jesus de braços abertos. Pedro, tendo experimentado tão profundamente a graça de Jesus, estava agora mais preparado do que nunca para fortalecer seus irmãos, alimentar o rebanho de Jesus com o evangelho da graça e fazê-lo na força que Deus provê (João 21:17). Então, Jesus terminou o serviço de restauração de Pedro com talvez as palavras mais misericordiosas que ele poderia dizer a um discípulo amoroso que havia falhado tão dramaticamente: “Segue-me” (João 21:19).
O Senhor Te Restituirá
Em toda a experiência de Pedro — desde a vergonha de seus fracassos até a doçura de sua restauração — vemos a misericórdia de Jesus em sua ampla gama de expressões. Pedro foi misericordiosamente devastado e misericordiosamente restituído. Não era a experiência de misericórdia que ele provavelmente queria, mas era a misericórdia que ele precisava. E tudo era incomensuravelmente gentil, mesmo em seus momentos mais devastadores.
Todos nós, à nossa maneira única, precisamos ser devastados assim pelo amor misericordioso de Jesus. “O Senhor disciplina aquele que ama” (Hebreus 12:6). Tal disciplina pode até envolver “peneiramento” demoníaco, como aconteceu com os discípulos. Mas o Senhor sabe do que precisamos e visa nos dar o que, em última análise, nos encherá de sua alegria (João 15:11) e nos tornará mais frutíferos (João 15:5).
A experiência dolorosa e humilhante de Pedro não apenas modelou esse tipo de misericórdia para nós, mas também o equipou maravilhosamente para nos pastorear ao longo de nossas experiências da misericórdia devastadora de Jesus. Para qualquer um que tenha sido igualmente humilhado, ele promete em 1 Pedro 5:10,
Depois de ter sofrido um pouco, o Deus de toda a graça, que o chamou para sua glória eterna em Cristo, ele mesmo o restaurará, confirmará, fortalecerá e estabelecerá.