Estar solteiro é um dom?

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English: Is My Singleness a Gift?

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Por Ryan Griffith Sobre Relacionamentos

Tradução por Jonathan Jerdan

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Comentaristas cristãos estão sempre observando que o casamento nos Estados Unidos está passando por um declínio histórico (alguns diriam, vertiginoso). Isso é, sem dúvida, devido ao espírito da nossa era, marcado pelo egoísmo, hedonismo, foco em experiências e aversão a compromissos. A pornificação da cultura, o adiamento do primeiro casamento, o materialismo desenfreado e a devastação das famílias desestruturadas servem como alertas para que os cristãos reforcem a imagem do casamento bíblico tanto na igreja quanto na sociedade.

Por isso, muitos textos são escritos encorajando os homens na casa dos vinte anos a "virarem homens". Os homens deveriam se casar cedo, não por uma questão de números, mas para evitar a pornografia, assumir responsabilidade, não virar pessoas rabugentas, conseguir a ajuda de que desesperadamente precisam na pessoa de uma esposa e desafiar o feminismo cultural. Tudo isso é válido, até certo ponto.

Recentemente, no entanto, me deparei com um artigo que questionava se a Bíblia sequer considera o "estar solteiro" um dom. O autor afirmava que, em 1 Coríntios 7, Paulo identifica um “dom” de celibato, não de "estar solteiro" — que a ideia de um dom de "estar solteiro" “não seria algo bíblico”.

Embora o argumento exegético seja problemático, o que me chamou particularmente a atenção foi o conselho dado aos solteiros que desejam muito se casar. Para aqueles que anseiam pela felicidade conjugal, o estar solteiro deve ser enfrentado como mais uma das várias provações necessárias na vida cristã. Deus está usando até mesmo esse sofrimento para o seu bem.

Mas será que Deus quer que consideremos o fato de estar solteiro (mesmo de maneira indesejada) como sofrimento? Isso é um dom ou uma provação?

Estar solteiro é bíblico

Em 1 Coríntios 7, Paulo contesta uma declaração ascética em uma carta que recebeu dos coríntios. A igreja em Corinto havia escrito o seguinte para Paulo: “é bom que o homem não toque em mulher” (1 Coríntios 7:1, minha tradução). Essa atitude, característica de muitos opositores do evangelho no primeiro século, argumentava que a negação do prazer promovia a santidade. Assim, a autonegação extrema produziria uma espiritualidade superior. Em outros lugares, Paulo condena isso como “doutrinas de demônios” (cf. 1 Timóteo 4:1–5) e algo contrário à obra consumada de Cristo (Colossenses 2:16–19).

Em sua resposta aos coríntios, Paulo rebate dizendo que as tentações sexuais são, na verdade, uma razão válida para buscar o casamento (1 Coríntios 7:2). Contra o ascetismo, ele argumenta que o prazer sexual em si não é algo mau, mas um bem dado por Deus quando buscado no contexto do casamento. Paulo enfatiza isso ao argumentar que o sexo é uma obrigação justa e contente para os casados. Assim, ninguém se torna mais santo ao privar o cônjuge dos direitos conjugais (1 Coríntios 7:3–5). Paulo chega a dizer que a abstinência temporária para fins de oração é apenas uma concessão, visto que tal abstinência pode provocar uma tentação maior (1 Coríntios 7:6). No casamento, o sexo, não o celibato, é algo santo.

Mas, para que o pêndulo não se mova para o extremo de considerar o casamento como o único estado plenamente satisfatório para o cristão, Paulo argumenta que também há grande alegria e propósito no estar solteiro, por meio do celibato. Ele apresenta a si mesmo como exemplo: “Gostaria que todos os homens fossem como eu. Mas cada um tem o seu próprio dom da parte de Deus; um de um modo, outro de outro.” (1 Coríntios 7:7). Aqui, Paulo também é cauteloso em identificar seu dom e os benefícios que vê nele como um mandamento de Deus (7:6).

Mas Paulo certamente afirma que algo ali é um dom. Alguns querem argumentar que ele está se referindo ao celibato que acabou de mencionar (1 Coríntios 7:1–5). Outros sugerem que se trata de seu próprio status de solteiro (e o de outros), que ele está prestes a discutir (7:8). Qualquer que seja a interpretação, dado o que ele argumentou (7:1–5), não podemos separar o celibato do estado de "solteiro". E, se não podemos fazer isso, é legítimo dizer que Paulo vê o celibato de alguém que está solteiro como um dom.

O que está claro como cristal é que Paulo não é um masoquista estraga-prazeres que deseja que os outros se juntem a ele em seu suposto sofrimento de uma sexualidade não correspondida. Ele não parece ver o fato de alguém estar solteiro ou ser celibatário como obstáculos para a alegria. Afinal, quem fala mais sobre alegria do que este apóstolo solteiro? Paulo tem amigos em toda cidade. Suas cartas são entusiásticas, cheias da alegria de um homem cuja vida em Cristo é também cheia de relacionamentos significativos. Ele não tem esposa, mas tem incontáveis filhos (espirituais). Apesar de seus inúmeros sofrimentos, ele preferiria viver mais um dia pela alegria da igreja do que estar na presença de Cristo (Filipenses 1:24–26). Sua vida de solteiro não é um inverno sombrio que aguarda a primavera do casamento. Paulo não apenas considera o estado de solteiro como legítimo, mas também “belo” (kalon, 1 Coríntios 7:8).

Estar solteiro é um bem positivo

Além disso, a vida de solteiro pode ser bela, na visão de Paulo, por causa do momento histórico em que vivemos. A ressurreição vitoriosa de Jesus dentre os mortos, sua ascensão e entronização como Senhor inauguraram uma nova etapa na história redentiva. Este mundo, como é conhecido, está passando (1 Coríntios 7:31). As nações, antes escravizadas e incapazes de receber a mensagem do amor de Deus, agora estão sendo levadas aos milhões para o reino de Deus (Apocalipse 20:1–3). O derramamento do Espírito não apenas mudou a dinâmica da santificação (João 14:25–27; Romanos 8:1–5); ele constituiu radicalmente uma nova família formada não por laços genéticos, mas pela comunhão com Cristo Jesus — a igreja.

Assim, Paulo pode argumentar que o dom de estar solteiro é uma liberdade para agradar a Cristo sem distrações (1 Coríntios 7:32). Essa “plena consagração ao Senhor” (1 Coríntios 7:35) pode se refletir em atividades como oração fervorosa, mas também certamente inclui o tipo de serviço que o próprio Paulo ofereceu: pregação, ensino, evangelismo, treinamento, correspondência, discipulado, encorajamento, organização, interpretação bíblica e muito mais. Sem as preocupações imediatas de prover para uma esposa e filhos, Paulo podia dedicar suas energias à igreja com atenção total. E o que dizer desses esforços (Romanos 15:17–19)? O estar solteiro, mesmo para aqueles que desejam casar e não conseguem, não é uma provação a ser suportada; é um bem positivo. É um dom a ser valorizado e maximizado. Não devemos desperdiçar nossa condição de solteiros encarando-a como um sofrimento a ser suportado.

Estar solteiro não é algo inferior

Para muitos (talvez a maioria), o casamento é o contexto para uma vida cristã fiel. Paulo argumenta que alguns, por causa da tentação sexual, precisam se casar (1 Coríntios 7:9). Infelizmente, a cultura (e, às vezes, infelizmente, até a cultura da igreja) argumenta que a realização sexual é essencial para a felicidade humana. Embora Paulo rejeite a superespiritualidade rígida do ascetismo, ele também não cede espaço à ideia de que a vida sem casamento (e sexo) é incompleta. O sexo no casamento não é um estágio superior, no qual chegamos depois de passarmos do patamar inferior do celibato. Não é uma conquista que torna a vida mais plena ou a pessoa mais sábia ou mais qualificada para a liderança na igreja.

Isso ocorre porque o sexo, apesar de toda a evidência atual em contrário, não define o que significa ser humano. O prazer sexual é, como qualquer outro dom benéfico, um bem temporário a ser desfrutado em seu contexto adequado. Ele não é eterno nem absoluto. Devemos ter em mente que o mesmo apóstolo que nos traz algumas das reflexões mais profundas sobre o propósito do casamento (Efésios 5:22–33) também deseja que os cristãos vivam “como eu mesmo sou” (1 Coríntios 7:8). E Paulo não está sozinho nessa questão. Ele ecoa alguém que parece acreditar que estar solteiro e ser celibatário com um propósito é bíblico: "Quem puder aceitar isso, aceite" (Mateus 19:12).