Cristãos medusas
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Greg Morse Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Juan Flavio De Sousa De Freitas
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Os custos de um cristianismo magro
Foi uma repreensão empolgante no meio do sermão, do tipo que faz você se sentar em seu banco.
“Jesus, tendo sido aperfeiçoado”, continuou o pregador, “tornou-se a fonte da salvação eterna para todos os que lhe obedecem. E esse Jesus foi, é claro, designado por Deus como sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque...”.
A congregação não esconde a expressão de perplexidade. Ele faz uma pausa.
Melchize - quem? Seus rostos sonolentos se perguntavam.
“Ordem de Melquisedeque” ...
…O Rei de Salém... “Rei da Justiça”?
…Sacerdote do Altíssimo que abençoa Abrão?
…Em cuja linhagem o Messias servirá como sacerdote para sempre?
Talvez se ele tivesse dito “Ordem da Fênix”, alguns poderiam ter se lembrado melhor, mas “Melquisedec” não era muito conhecido.
Com isso, ele se afasta de seu manuscrito, caminha ao redor do púlpito e vê nos olhos deles:
A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir. Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido (Hebreus 5:11-14; ARA).
Esses homens e mulheres adultos, cristãos há algum tempo, começaram bem (Hebreus 10:32-34), mas ainda precisavam de leite doutrinário, e não de alimento sólido. Embora a essa altura eles já devessem estar bem informados sobre como o cristão deve ler o Antigo Testamento, seus ouvidos entorpecidos (literalmente “preguiçosos”) os tornaram estudantes perpétuos, fazendo os mesmos cursos repetidamente. O autor de Hebreus esperava que eles descobrissem os tesouros messiânicos, apontando irreversivelmente para Jesus, nas profundezas da palavra de Deus; em vez disso, eles ainda estavam pisando na superficie da água.
Crentes na garrafa
Textos como Hebreus 5:11-14 não justificam para sempre o estudo cuidadoso da palavra de Deus, uma adesão sincera a todo o conselho de Deus, uma obediência alegre à plenitude de seus ensinamentos? Se as especificidades de uma figura enigmática em Gênesis 14 e no Salmo 110 ―alguém que muitos hoje podem ser tentados a considerar obscuro ou irrelevante― têm seu lugar apropriado na mente cristã, quanto mais os pontos mais conspícuos?
No entanto, quantos grupos pequenos, escolas dominicais ou estudos bíblicos em todo o mundo ocidental hoje sabem muito (se é que sabem alguma coisa) sobre o Salmo 110:4 e a ordem sacerdotal de Melquisedeque? Qual a sua importância em comparação com a ordem aarônica? A questão se torna mais aguda, entretanto, quando perguntamos: Quantos querem saber? Quantos de nós, por desobediência e estagnação, tornaram-se de “audição fraca”?
Algumas mentes modernas parecem consagrar a ignorância dos pontos mais sutis do pensamento e da doutrina cristãos como uma virtude cristã. Eles consideram que as particularidades do dogma cristão só servem para fraturar, engrandecer ou tornar uma pessoa inútil neste mundo. Os seminários, na opinião deles, são mais bem chamados de “cemitérios”, pois a educação superior é o lugar onde a paixão e o amor vão morrer.
A verdade de Deus ―essa realidade teimosa e imperecível que sobreviverá às estrelas― passou por momentos difíceis para eles. Eles não desejam traçar linhas desconvinháveis e, além disso, acreditam que isso seja uma coisa muito caridosa e bonita no mundo. Eles parecem totalmente orgulhosos de sua fé não denominacional, não doutrinária, não distintiva e não divisiva. Isso, segundo eles, é o cristianismo em sua melhor forma. Morte, gritam eles, às voltas e voltas em debates intermináveis sobre textos e jargões teológicos. Voltemos ao que Jesus nos deu: uma religião de amor.
Já existem muitas brigas; eles pregam a união. Em toda parte, eles veem amargura e raiva; por que deveriam discutir? A coisa mais conveniente a fazer, em um mundo de opiniões conflitantes ―especialmente sobre religião― é lançar ao mar as particularidades da interpretação cristã e, em alguns casos, a própria religião.
Amantes do primer grau
“Levados por uma suposta liberalidade e caridade”, escreveu J.C. Ryle em 1877, “eles parecem pensar que todo mundo está certo e ninguém está errado, que todo clérigo é íntegro e nenhum é insensato, que todo mundo será salvo e ninguém se perderá. Sua religião é composta de negativas; e a única coisa positiva sobre eles é que não gostam de distinção e acham que todos os pontos de vista extremos, decididos e positivos são muito perversos e muito errados!” (Santidade, 278).
O que significa o fato de Deus predestinar para a salvação, que Cristo é o único caminho, que você deve nascer de novo, que pelas obras da lei ninguém será justificado, que o desígnio de Deus implica diferenças entre homens e mulheres; parece tão pequeno de sua posição elevada. Eles ouvem fracamente o chilrear dos combatentes sobre pontos de vista específicos, mas o que é isso para eles? Católicos, protestantes, “espirituais, mas não religiosos”; eles não veem nada realmente tão diferente no final das contas. Eles podem chamar isso de diferentes tons de cinza.
Eles adoram o leite doutrinário, adoram o primer grau. Seu vago credo de amor os afasta da controvérsia, do estudo laborioso, de amar a Deus com “toda a sua mente”, de “trivialidades” como a ordem de Melquisedeque, na verdade, da própria Bíblia, além de um ou dois versículos favoritos. E alguns consideram isso mais semelhante a Cristo, porque promove melhor a unidade, segundo se pensa, do que uma religião repleta de detalhes doutrinários.
Cristianismo de Boas Vibrações
O ensino cristão de fato divide. Ele separa a “religião feita por si mesma” da celestial, todos os outros evangelhos do verdadeiro, os orgulhosos dos humildes, os falsos dos verdadeiros, os bodes das ovelhas, os insanos dos sãos, os passageiros dos eternos, os ensinamentos dos demônios e os ensinamentos de Cristo.
Os cristãos devem ser bereanos, amantes da palavra de Deus, amantes do bife. O que é verdade para o mais nobre judeu tem sido verdade para o nobre cristão ao longo da história: “Pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (Atos 17:11).
Mas o que dizer de nossa unidade? Ela é preciosa, “é bom e agradável” (Salmo 133:1), uma dádiva do alto que não se baseia em um vago espiritualismo ou em boas vibrações; a verdadeira unidade não procura descobrir quão pouco se pode acreditar. Não, nós abraçamos, ensinamos e amamos todo o conselho de Deus. O amor pelos outros é nutrido pela carne doutrinária; pela Escritura, toda a Escritura, sem abreviações ou desculpas. Como confessamos na Afirmação de Fé da Desiring God, “Nosso objetivo é incentivar uma adesão sincera à Bíblia, à plenitude de sua verdade e à glória de seu Autor” (15.2). Somente isso “estabiliza os santos nos ventos da confusão e fortalece a igreja em sua missão de enfrentar os grandes sistemas da religião falsa e do secularismo”.
Não concordaremos em todos os pontos; algumas distinções separarão alguns de nós das particularidades da comunhão semanal. Mas, mesmo assim, como Igreja, nossa unidade superior em Cristo torna nossa unidade mais forte do que jamais poderia ter sido na inverdade, no erro e na apatia, na busca pelo menor denominador comum, em vez de voltarmos nossa alma para a palavra de Deus como suprema e, então, descobrirmos quem são nossos companheiros.
Necessidade do momento
Nossas almas precisam de mais do que pouca verdade, pouca luz e pouca crença. Nossas almas precisam de um banquete de carne pura e batatas sagradas para nos preparar para as dificuldades da vida. O minimalismo teológico do tipo leite e água pode sustentar os bebês, mas não por muito tempo.
“Devemos ir ao encontro da consciência desses homens de opiniões amplas”, como disse Ryle, “e exigir uma resposta clara a algumas perguntas claras. Devemos pedir que coloquem as mãos em seus corações e nos digam se suas opiniões favoritas os confortam no dia da doença, na hora da morte, ao lado do leito de pais moribundos, ao lado do túmulo da esposa ou do filho amado. Devemos perguntar a eles se uma sinceridade vaga, sem doutrina definida, lhes dá paz em épocas como essas” (31).
E nossos vizinhos, colegas de trabalho e familiares precisam ser recebidos com verdades de peso, crenças de ombros largos e uma fé viva no Salvador vivo. Tudo isso nos dá motivos para sorrir, não para franzir a testa.
O que Ryle chama de “daltonismo” espiritual, essa “liberalidade fantasiosa”, essa “condição de alma medusa, desossada e sem nervos”, essa “pestilência que caminha na escuridão... uma destruição que mata ao meio-dia” (328); não pode ser a religião que virou o mundo de cabeça para baixo.
Observem o que estou dizendo. Se quiser fazer o bem nestes tempos, você deve deixar de lado a indecisão e adotar uma religião distinta, bem definida e doutrinária... As vitórias do cristianismo, onde quer que tenham sido conquistadas, foram conquistadas por meio de uma teologia doutrinária distinta; falando aos homens, sem rodeios, sobre a morte e o sacrifício vicário de Cristo; mostrando-lhes a substituição de Cristo na cruz e seu precioso sangue; ensinando-lhes a justificação pela fé e ordenando-lhes que creiam em um Salvador crucificado; pregando a ruína pelo pecado, a redenção por Cristo, a regeneração pelo Espírito; levantando a serpente de bronze; dizendo aos homens que olhem e vivam; que creiam, se arrependam e se convertam (328).
Atreva-se então, cristão, a ter crenças decididas neste mundo. Satanás e seus demônios são decididos. O mundo é concreto em seu credo. Os falsos mestres são ousados em suas crenças. Aqueles que tentam desvendar a realidade de Deus estão firmemente convencidos. Não estaremos nós?
E com essa coragem, não nos encontraremos sozinhos, mas sim flanqueados, por companheiros reais, com os quais sentiremos o gosto da verdadeira unidade.