Cristo e o Câncer

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English: Christ and Cancer

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Por John Piper Sobre Sofrimento

Tradução por Alan Andrioni

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Romanos 8:18-28

Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada. A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto. E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção dos nossos corpos. Pois nessa esperança fomos salvos. Mas, esperança que se vê não é esperança. Quem espera por aquilo que está vendo? Mas se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente. Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus. Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.

Antes de eu entrar para a faculdade eu dificilmente pensava em câncer e doenças terminais. Mas desde aquele tempo de faculdade a morte por doença tem andado ao meu lado pelo caminho. Dois dos meus colegas de faculdade morreram de leucemia e câncer no pâncreas antes de completarem 22 anos. No seminário eu vi Jim Morgan, meu professor de teologia sistemática, murchar e morrer em menos de um ano de câncer no intestino. Ele tinha 36 anos. Na minha pós-graduação na Alemanha meu orientador, professor Goppelt, morreu repentinamente pouco antes de eu terminar. Ele tinha 62 anos – um forte infarto. Depois eu vim para Bethel! Eu ensinei por seis anos e vi estudantes, professores e administradores morrerem de câncer: Sue Port, Paul Greely, Bob Bergerud, Ruth Ludeman, Graydon Held, Chet Lindsay, mary Ellen Carlson – todos cristãos, todos mortos muito cedo. E agora eu vim para Bethlehem e Harvey Ring se foi. E você poderia multiplicar a lista dez vezes.

O que nós devemos dizer diante dessas coisas? Algo deve ser dito porque doenças são um perigo para nossa fé no amor e poder de Deus. E eu considero como minha responsabilidade primária como pastor alimentar e fortalecer a fé no amor e no poder de Deus. Não há arma como a Palavra de Deus para se evitar perigos para a fé. Então eu quero que nós escutemos hoje, cuidadosamente, ao ensino da escritura sobre Cristo e o câncer, o poder e o amor de Deus sobre as doenças dos nossos corpos.

Eu considero a mensagem de hoje crucial como uma mensagem pastoral porque você precisa saber a posição do seu pastor sobre os assuntos de doenças, cura e morte. Se você pensasse que a minha concepção é que toda doença é um julgamento divino para um pecado específico, ou que a falha em ser curado após alguns dias de oração é um sinal claro de uma fé inautêntica, ou que Satanás é, de fato, o regulador deste mundo e Deus pode apenas observar impotentemente enquanto seu inimigo devasta seus filhos – se você pensasse que quaisquer dessas fossem minhas idéias, você se relacionaria comigo muito diferente na doença de como você faria se você soubesse o que eu realmente penso. Logo, eu quero lhes dizer o que eu realmente penso e tentar lhes mostrar pela Escritura que esses pensamentos não são apenas meus mas também, eu creio, os pensamentos de Deus.

Tabela de conteúdo

Seis afirmações com respeito à teologia do sofrimento

Eu gostaria que todos que têm uma Bíblia abrissem comigo em Romanos 8: 18-28. Há seis afirmações que resumem minha teologia sobre doenças e ao menos a semente para cada uma dessas afirmações está aqui. Vamos ler o texto:

Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada. A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto. E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo. Pois nessa esperança fomos salvos. Mas, esperança que se vê não é esperança. Quem espera por aquilo que está vendo? Mas se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente. Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus. Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.

1. Toda a criação foi submetida à inutilidade

Minha primeira afirmação é essa: a era em que nós vivemos, que vai da queda do homem ao pecado até a segunda vinda de Cristo, é uma era na qual a criação, incluindo nossos corpos, foi “submetida à inutilidade” e “escravizada na decadência”. Versículo 20: a criação foi submetida à inutilidade. Versículo 21: a criação será libertada da escravidão da decadência. E o porquê nós sabemos que isso inclui os nossos corpos é dado no versículo 23: Não apenas o restante da criação, mas nós mesmos (cristãos) gememos interiormente esperando nossa adoção como filhos, a redenção dos nossos corpos. Nossos corpos são parte da criação e participam em toda a futilidade e corrupção às quais a criação foi submetida.

Quem é esse no versículo 20 que submeteu a criação à inutilidade e a escravizou na decadência? É Deus. Os únicos outros possíveis candidatos a se considerar seriam Satanás ou o próprio homem. Talvez Paulo pensou em Satanás, ao trazer o homem ao pecado, ou no homem, ao escolher desobedecer a Deus – talvez um deles é a quem se refere como aquele que sujeitou a criação à futilidade. Mas a referência não pode ser a Satanás nem ao homem por causa das palavras “na esperança” no fim do versículo 20. Essa pequena frase, “na esperança”, nos dá o propósito daquele que submeteu a criação à futilidade. Mas não era a intenção do homem e nem de Satanás trazer a decadência ao mundo de modo que a esperança da redenção fosse acesa no coração do homem e que um dia a “gloriosa liberdade dos filhos de Deus” brilhasse mais reluzentemente. Apenas uma pessoa poderia submeter a criação à futilidade com esse propósito, a saber, o justo e amoroso criador.

Portanto, eu concluo que este mundo encontra-se sob a sentença judicial de Deus sobre uma humanidade rebelde e pecadora – uma sentença de decadência e futilidade universal. E ninguém está excluído, nem mesmo os preciosos filhos de Deus.

Provavelmente a futilidade e corrupção da qual Paulo fala refere-se à ruína física e espiritual. Por um lado o homem em sua condição caída está escravizado a uma percepção defeituosa, objetivos errados, comportamentos tolos e insensibilidade espiritual. Por outro lado há enchentes, fome, vulcões, terremotos, ondas gigantes, pragas, picadas de cobra, acidentes de carro, quedas de avião, asma, alergias, gripe e câncer, todos despedaçando e destruindo o corpo humano com dor e trazendo o homem – todos os homens – ao pó.

Enquanto estivermos no corpo seremos escravos da decadência. Paulo disse essa mesma coisa em outro lugar. Em 2 Coríntios 4:16 ele disse: “Não desanimamos. Embora exteriormente (o corpo) estejamos a desgastar-nos (decaídos) interiormente estamos sendo renovados dia após dia.” A palavra que Paulo usa para desgaste aqui é a mesma usada em Lucas 12:33 quando Jesus disse: Cuidem-se para que seu tesouro esteja nos céus “onde ladrão algum chega perto e nenhuma traça destrói.” Assim como uma roupa em um armário quente e escuro será comida e destruída pelas traças, assim nossos corpos nesse mundo caído serão destruídos de uma maneira ou de outra. Pois toda a criação foi submetida à futilidade e escravizada na decadência enquanto durar esta era. Essa é minha primeira afirmação.

2. Haverá um tempo de libertação e redenção

Minha segunda afirmação é esta: Chegará um tempo quando todos os filhos de Deus, que resistiram até o fim na fé, serão libertos de toda futilidade e corrupção, espitualmente e fisicamente. De acordo com o versículo 21, a esperança na qual Deus sujeitou a criação era de que um dia “a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. E o vers[iculo 23 diz que “nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo”. Não aconteceu ainda. Nós aguardamos. Mas acontecerá. “A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. (...) ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso.” (Filipenses 3:20-21). “...num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados”(1 Coríntios 15:52). “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou.” (Apocalipse 21:4).

Chegará o dia em que cada muleta será esculpida e cada cadeira de rodas fundida como medalhões de redenção. E Merlin e Reuben e Jim e Hazel e Ruth e todos os outros entre nós entrarão felizes e saltitantes no Reino dos Céus. Mas não ainda. Não ainda. Nós gememos, esperando pela redenção de nossos corpos. Mas o dia chegará e essa é minha segunda afirmação.

3. Cristo conquistou, demonstrou e nos deu um antegosto dela

O terceiro ponto é que Jesus Cristo veio e morreu para conquistar nossa redenção, para demonstrar o caráter dessa redenção espiritual e física, e para nos dar um antegosto dessa redenção. Ele conquistou nossa redenção, demostrou seu caráter e nos deu um antegosto dela. Por favor preste atenção, pois essa é uma verdade gravemente distorcida por muitos curandeiros de nossos dias.

O profeta Isaías predisse o trabalho de Cristo da seguinte forma em 53:5-6 (um texto que Pedro aplicou a Cristãos em 1 Pedro 2:24):

Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe a paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós.

A bênção do perdão e a bênção da cura física foram conquistadas por Cristo quando ele morreu por nós na cruz. E todos aqueles que dão suas vidas a ele terão esses benefícios. Mas quando? Essa é a questão presente. Quando seremos curados? Quando nossos corpos não serão mais escravos da decadência?

O ministério de Jesus foi um ministério de cura e perdão. Ele disse aos discípulos de João Batista: “Vão e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos vêm, os aleijados andam, os que têm lepra são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres; e abençoado é aquele que não se sente ofendido por mim1.” (Mateus 11:4-6).

Ofensa? Por que alguém se sentiria ofendido por outro que ressuscita os mortos e introduz o reino por tanto tempo esperado? Fácil – ele rescuscitou apenas umas três pessoas. Ele deixou centenas nos túmulos ao redor dele. Por quê? Porque nem todos tinham fé? Oh não! Quando Jesus ressuscitou o filho da viúva em Lucas 7:13-14, ela não o conhecia. Não foi por causa de sua fé. Apenas é dito: “Ele teve compaixão dela.” E então? Ele não se compadecia de todos os outros consternados em Israel?

A resposta do por que Jesus não ressuscitou todos os mortos é que, contrário às expectativas dos judeus, a primeira vinda do Messias não era a consumação e completa redenção desta era caída. A primeira vinda foi, na verdade, para conquistar essa consumação, ilustrar seu caráter e trazer um antegosto dela para seu povo. Logo, Jesus ressuscitou alguns dos mortos para ilustrar que ele tem esse poder e um dia virá novamente e o exercerá para todo seu povo. E ele curou os doentes para ilustrar que assim será em seu reino final. Não haverá mais choro ou dor.

Mas nós temos um antegosto da nossa redenção agora nesta era. Os benefícios conquistados na cruz podem ser usufruídos de certa maneira mesmo agora, incluindo cura. Deus pode curar e cura os doentes agora em resposta às nossas orações. Mas não sempre. As pessoas dos nossos dias que são obsecadas por milagres dos nossos dias, que garantem que Jesus quer você bem agora e empilham culpa sobre culpa nas costas do povo de Deus afirmando que a única coisa entre eles e a cura é a falta de fé, têm falhado em entender a natureza dos propósitos de Deus nesta era caída. Eles têm minimizado a profundidade do pecado e a crucialidade da disciplina purificadora de Deus e o valor da fé através do sofrimento. Eles são culpados por tentar forçar nesta era o que Deus reservou para a próxima.

Note a sequência de pensamento em Romanos 8:23-24: “Nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo. Pois nessa esperança fomos salvos.” Porque Cristo conquistou a redenção, os crente já receberam o Espírito Santo. Isso é como um pagamento antecipado da nossa completa redenção, mas é apenas os primeiros frutos, um antegosto. E quando Paulo enfatiza que nós, mesmo nós, que temos o Espírito gememos esperando a redenção dos nossos corpos, você pode dizer que ele está alertando contra a falsa inferência de que porque nós fomos salvos, logo nosso gemido em corpos decaídos acabou. Então, ele continua no versículo 24, “Pois nessa esperança fomos salvos.” Nossa salvação não está concluída, está apenas iniciada. Nós somos salvos apenas em esperança. Isso é verdade moralmente; Paulo diz em Gálatas 5:5, “Pois é mediante o Espírito que nós aguardamos pela fé a justiça, que é a nossa esperança.” E é verdade fisicamente; Nós esperamos a redenção dos nossos corpos. Cristo conquistou essa redenção e demosntrou sua realidade física em seu ministério de cura e tem nos dado um antegosto dela curando muitas pessoas em nossos dias, mas algumas bem devagar, outras apenas parcialmente, e outras não curando. Essa é minha terceira afirmação.

4.  Deus controla todo sofrimento para o bem de seu povo

O quarto ponto é que Deus tem o controle de quem fica doente e quem fica bem, e todas as suas decisões são para o bem de seus filhos, mesmo se elas forem muito dolorosas e duradouras. Foi Deus quem sujeitou a criação à futilidade e corrupção, e é ele quem pode libertá-la. Em Exôdus 4:11, quando Moisés recusou ir falar com o Faraó, Deus disse a ele, “Quem deu boca ao homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede vista ou torna cego? Não sou eu, o Senhor?” Por trás de toda doença está finalmente a mão soberana de Deus. Deus fala em Deuteronômio 32:39, “Vejam agora que eu sou o único, eu mesmo. Não há Deus além de mim. Faço morrer e faço viver, feri e curarei, e ninguém é capaz de livrar-se da minha mão.”

Mas e Satanás? Não é ele o grande inimigo da nossa integridade? Ele náo nos ataca moralmente e fisicamente? Não foi Satanás que tormentou Jó? Sim, foi. Mas Satanás não tem nenhum poder além daquele que é dado por Deus a ele. Ele é um inimigo acorrentado. De fato, para o escritor do livro de Jó não estava errado dizer que as feridas afligidas por Satanás foram enviadas por Deus. Por exemplo, em Jó 2:7 nós lemos, “Saiu, pois, Satanás da presença do Senhor e afligiu Jó com feridas terríveis, da sola dos pés ao alto da cabeça.” Depois quando sua mulher o diz para amaldiçoar Deus e morrer, Jó diz “Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?” E se pensarmos que Jó errou ao atribuir a Deus suas feridas afligidas por Satanás, o autor acrescenta no versículo 10, “Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios.” Em outras palavras, não é pecado reconhecer a mão soberana de Deus mesmo por trás de uma doença da qual Satanás seja o causador mais imediato.

Satanás pode ser astuto mas em algumas coisas ele é burro, porque ele não vê que todas as suas tentativas de afligir os santos são simplesmente transformadas pela providência divina em ocasiões para purificação e fortalecimento da fé. O objetivo de Deus para seu povo nesta era não é primariamente livrá-los de donças e dor, mas lavar-nos de todo vestígio de pecado e fazer com que, em nossa fraqueza, apeguemo-nos a ele como nossa única esperança.

Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho... Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados. (Hebreus 12:5,6,10,11)

Toda aflição que vem aos filhos de Deus, através de perseguição ou doença, é pretendida por Deus para aumentar nossa santidade fazendo-nos confiar mais no Deus que ressuscita os mortos (2 Coríntios 1:9). Se tivermos raiva de Deus por nossas doenças estaremos rejeitando seu amor. Pois é sempre em amor que ele disciplina seus filhos. É para o nosso bem e nós devemos buscar aprender valiosas lições de fé através disso. Então diremos com o salmista, “Foi bom para mim ter sido castigado, para que aprendesse os teus decretos... Sei, Senhor, que as tuas ordenanças são justas, e que por tua fidelidade me castigaste” (Salmos 119:71, 75). Esta é minha quarta afirmação: Em última instância Deus controla quem fica doente e quem é curado e todas as suas decisões são para o bem de seus filhos, mesmo que a dor seja grande e a doença seja longa. Pois como diz o último versículo de nosso texto, Romanos 8:28, “Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.”

5. Nós deveríamos orar por um poder que cura e uma graça que sustenta

A quinta afirmação é que, portanto, deveríamos orar para Deus curar e para fortalecer nossa fé enquanto não formos curados. É aceitável que um filho peça ao pai por alívio durante um problema. E é aceitável que um Pai amoroso dê ao seu filho apenas o que for melhor. E é isso que ele sempre faz: às vezes curando agora, às vezes não. Mas sempre, sempre o que é melhor para nós.

Mas, às vezes, se é melhor para nós não sermos curados na hora, como sabermos o que orar? Como sabermos quando parar de pedir por cura e apenas pedir por graça para confiar em sua bondade? Paulo enfrentou esse mesmo problema em sua jornada. Vemos em 2 Coríntios 12:7-10 que Paulo, não diferente de Jó, recebeu um espinho na carne que ele chamou de “mensageiro de Satanás.” Não sabemos que tipo de dor ou doença era, mas ele diz que orou três vezes para ver-se livre dele. Mas então Deus lhe deu a certeza que apesar de não curá-lo, ainda sua graça seria suficiente e seu poder seria manifestado não na cura mas no fiel serviço de Paulo através do sofrimento.

Em nosso texto de Romanos 8:26-27 creio que Paulo trata da mesma questão: Enquanto aguardamos pela redenção dos nossos corpos “o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus.” Às vezes tudo que podemos fazer é suplicar por ajuda porque não sabemos de que forma a ajuda virá. O Espírito de Deus pega nossas expressões falhas e incertas e as traz diante de Deus de uma forma que está de acordo com as intenções de Deus. E Deus responde graciosamente e supre nossas necessidades. Nem sempre como esperávamos a princípio, mas sempre para o nosso bem.

Então não nos orgulhemos e fiquemos distantes de Deus, estóicos, colhendo o que destino trouxer. Ao contrário, corramos ao nosso Pai em oração e súplicas em tempo de necessidade. Essa é minha quinta afirmação.

6. Devemos sempre confiar no poder e na bondade de Deus

Finalmente, nós devemos sempre confiar no amor e poder de Deus, mesmo na hora mais escura do sofrimento. O que mais me angustia em relação àqueles que dizem que cristãos devem sempre ser milagrosamente curados é que eles dão a impressão de que a qualidade da fé só pode ser medida pelo acontecimento de um milagre de cura física, quando na maior parte do Novo Testamento você tem a impressão de que a qualidade da nossa fé é refletida na alegria e confiança que mantemos em Deus durante o sofrimento.

O grande capítulo de fé na Bíblia é Hebreus 11. Ele começa, “fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. O que, frequentemente, não se nota nesse capítulo, contudo, são os oito versículos finais onde nós temos a imagem balanceada da fé como aquela que espera em Deus pelo resgate do sofrimento, e aquela que espera em Deus por paz e esperança no sofrimento. Versículo 33-35a: “pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leõs, apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Houve mulheres que, pela ressurreição, tiveram de volta os seus mortos.” Agora se nós parássemos de ler aqui nossa idéia de como a qualidade da fé é manifestada seria muito distorcida, porque aqui parece que a fé sempre vence nesta vida. Mas aqui ocorre uma virada e nós descobrimos que a fé também o poder para perdermos nossa vida: “Pela fé...uns foram torturados e recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior; outros enfrentaram zombaria e açoites; outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltratados. O mundo não era digno deles. Vagaram pelos desertos e montes, pelas cavernas e grutas. Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé.”

A glória de Deus é manifestada quando ele cura e quando ele dá um doce espírito de esperança e paz à pessoa que ele não cura, pois isso, também, é um milagre da graça! Oh, que sejamos um povo do qual Deus está frequentemente curando as doenças, mas está sempre enchendo de alegria e paz enquanto as doenças permanecem. Se formos um povo humilde, como crianças, que suplica a Deus na necessidade e confia em suas promessas, o Espírito Santo nos ajudará e Deus abençoará nossa igreja com todas as bênçãos possíveis. Ele agirá, como diz o texto, em todas as coisas para o nosso bem.

Essa é, resumidamente, a minha teologia da doença. Primeiro, nessa era toda a criação, incluindo nossos corpos, foram submetidos à inutilidade e escravizados na decadência. Segundo, aproxima-se uma nova era quando todos os que perseverarem na fé até o fim serão libertados de toda dor e doença. Terceiro, Jesus Cristo veio e morreu para conquistar nossa redenção, demostrar seu caráter físico e espiritual e nos dar um antegosto dela, agora. Quarto, Deus controla quem fica doente e quem fica bem, e todas as duas decisões são para o bem de seus filhos mesmo que sejam dolorosas. Quinto, nós deveríamos orar pela ajuda de Deus para nos curar e para fortalecer nossa fé enquanto não formos curados, e devemos depender da intercessão do Espírito Santo quando nós não sabemos o que orar. Finalmente, nós devemos sempre confiar no poder e amor de Deus, mesmo na hora mais escura do nosso sofrimento.

Oh, que sejamos uma assembléia de santos que ecoa, do fundo dos nossos corações, a fé de Joni Eareckson depois de uma longa luta com paralisia e depressão. Ela escreveu no fim de seu livro: “A garota que tornou-se emocionalmente perturbada, e hesitou a cada nova circunstância agora está crescida, uma mulher que aprendeu a confiar na soberania de Deus” (Joni, p. 190).