Conversa Inútil
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Greg Morse Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Rosane Andrade
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Como Deus Pesa Nossas Palavras
Algumas pessoas escreveram best-sellers documentando sua entrada no céu. Eles afirmam ter morrido e voltaram para nos contar o que viram. Basta dizer que seus relatos raramente correspondem aos relatos de eventos semelhantes registrados nas Escrituras. Aqueles levados para a sala do trono – como Isaías, por exemplo – não nos dizem sobre ver seus entes queridos ou comer seus lanches favoritos.
"No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi o Senhor assentado num trono alto" (Isaías 6:1), Isaías começa. Ele detalha como a aba da veste deste Rei enchia todo o templo. Ele documenta poderosos seres flamejantes, voando ao redor do trono do Rei, proclamando: "Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos." “Ao som das suas vozes os batentes das portas tremeram” (Isaías 6:1-4).
Isaías não suspira com alívio, ou assobia para seu cão há muito perdido. Os olhos do trono o atravessam como golpes de espada. O profeta, em resposta, invoca uma maldição sobre si mesmo: "Ai de mim! Estou perdido!" (Isaías 6:5).
Isaías se desvenda diante do Santo que o conhece completamente: todo pecado, todo motivo distorcido, todo ato secreto. Ele bate o martelo sobre si mesmo e imediatamente se declara culpado. Será que ele não sabia o que era pecado antes deste momento?
E como Isaías vê o que eu considero ser o Filho pré-encarnado no trono (João 12:41), e ele se pune por, entre todas as coisas, usar sua língua.
Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! (Isaías 6:5)
Seus olhos veem o Santo Rei de Israel, o Deus dos exércitos, e ele não corre para sentar-se em seu colo, mas cai diante de seu rosto, confessando o mal, não só de sua língua, mas das línguas entre as quais ele viveu na terra. Aqui ele não lamentou que ele habitasse entre um povo que praticava imoralidade sexual, assassinato ou idolatria. O que ele disse, e o que o povo disse, a conversa deles, o horrorizaram diante do Justo.
O Pecado da Fala Descuidada
Se cada um de nós visse o Senhor hoje, temeríamos quão impuras nossas bocas têm sido. Faça um inventário de si mesmo: palavras precipitadas, palavras ofensivas, palavras violentas, palavras lascivas, palavras blasfemas, palavras falsas, palavras mentirosas, palavras de fofoca, palavras lisonjeiras, palavras duras e depreciativas. Quantos ratos saíram desse esgoto?
Paulo, ao trazer toda a humanidade sob condenação diante de Deus, cita os Salmos para nos indiciar:
"Sua garganta é um túmulo aberto;
com a língua enganam."
"Veneno de víboras está em seus lábios."
"Sua boca está cheia de maldição e amargura." (Romanos 3:13-14)
Mas este é o Antigo Testamento, podemos pensar. Isaías e os salmistas não conheciam a Cristo como nós. Seu Deus, todo relâmpago e trovão, ainda não havia revelado plenamente Seu lado misericordioso.
Mas ouça o que o próprio Cristo diz:
Mas eu digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e por suas palavras serão condenados (Mateus 12:36–37)
Ao confrontar os fariseus sobre blasfemar contra o Espírito Santo, Jesus, argumentando do menor para o maior, acrescenta uma categoria ao nosso discurso obscuro: palavras inúteis. Mesmo palavras impensadas - não apenas blasfêmias contra o Espírito Santo - serão medidas e pesadas. As pessoas darão conta de cada uma. Todos elas. Milhões e milhões saindo de cada boca. Gravadas. Lembradas. Exigidas no tribunal do Deus de Isaías.
Afinal, Apenas Humanos
O que exatamente são palavras inúteis?
Palavras inúteis são ociosas, sem propósito, preguiçosas e fúteis. A palavra grega para "inútil" (argos) é usada para descrever os homens que ficam na praça quando deveriam estar trabalhando (Mateus 20:3-7), as pessoas que vão de casa em casa desperdiçando tempo e causando problemas (1 Timóteo 5:13), os cretenses que não produzem o bem que deveriam (Tito 1:12). Palavras ociosas vagam sendo improdutivas, viajam causando problemas, recusam-se a abençoar como deveriam. E daremos conta de cada uma.
Talvez você compartilhe minha resposta caída: Isso parece um pouco excessivo. Afinal, somos apenas humanos.
Mas, como Isaías descobriu em primeira mão, essa desculpa não funcionará. Quaisquer que fossem os pensamentos que ele tivesse antes de ver este Deus, todos eles mudaram no momento em que ele estava diante do trono. O profeta expressou a sentença de morte contra si mesmo. Quando somos tentados a pensar que este padrão é demasiado duro, João Calvino nos aponta na direção certa:
Muitos consideram isto [ser julgado por cada palavra inútil] muito severo; mas se considerarmos o propósito para o qual nossas línguas foram feitas, reconheceremos que aqueles homens que, sem pensar, dedicam a língua a tolices insignificantes, e a prostituem para tal propósito, são de maneira justa considerados culpados.
Cada um dará conta exatamente da razão que Calvino cita: nossas línguas foram feitas para propósitos gloriosos.
Fonte da Vida
Sou tentado a ter baixas expectativas de julgamento porque tenho uma visão baixa das palavras – uma visão que Jesus não compartilha. Ele revisará nossas palavras inúteis conosco, porque espera que nossas palavras se inclinem para a utilidade, produzam efeito piedoso, sejam temperadas com sal, deem graça a nossos ouvintes.
Evitar blasfêmia, calúnia e mentira é um objetivo muito pequeno para uma boca humana. Palavras tolas e descuidadas também cheiram mal como palavras pecaminosas, porque todas as nossas palavras devem valer a pena ser ditas. Elas devem trabalhar para o bem, produzir frutos, visar o benefício dos outros e permanecer em apoio incansável da glória de Deus. Cada boca, que recebeu poder de vida e morte (Provérbios 18:21), deve estar transbordando de vida – e com as palavras de Deus de vida eterna, mesmo que os ouvintes apenas ouçam a morte.
Corações redimidos e novas criaturas por si só gerarão esse tipo de discurso. Toda a humanidade, como o próprio Satanás, "fala por [seu] próprio caráter" (João 8:44). Depois de dizer aos fariseus que eles não podem falar bem porque são maus, Jesus oferece o contraste: "O homem bom do seu bom tesouro tira coisas boas" (Mateus 12:35). Boas palavras se originam de bons corações, que Deus dá no novo nascimento.
Aprendendo com os Serafins
Isaías sentiu-se esmagado pelo peso de um mundo de palavras perversas e inúteis que o pressionavam. Ver a Deus e ouvir as vozes flamejantes, singulares em propósito de louvor, expôs a própria vida de Isaías de linguagem impura. Naquela sala, a conversa profana e sem propósito não tinha lugar.
Mas isso não acabou com sua história. Julgou-se digno de morte, mas Deus tinha mais graça para dar, como faz conosco. Um mensageiro flamejante trouxe aos lábios de Isaías brasas do altar sacrificial (sobre o qual o próprio Rei - o Cordeiro de Deus - descansaria como o carneiro de Isaque, após ser imolado). E quando o Senhor pergunta a quem o céu deve enviar, Isaías deixa de amaldiçoar a si mesmo por sua boca e passa a voluntariar-se ansiosamente para falar como embaixador de Deus. "Aqui estou eu! Envia-me” (Isaías 6:8).
O perdão encontrou-o como nos encontra, reaproveitando e comissionando a boca até mesmo dos mais tolos e ociosos faladores. O que antes foi entregue às trevas agora pode ser usado para louvar a Deus e abençoar a humanidade. Ver a glória de Cristo dissipa os propósitos insignificantes das línguas redimidas. E a graça maravilhosa nos envia como serafins para falar de Cristo.
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