Como as pessoas serão salvas? Parte 2
De Livros e Sermões BÃblicos
Por John Piper
Sobre Evangelismo
Uma Parte da série Romans: The Greatest Letter Ever Written
Tradução por Editora Fiel
Romanos 10:13–21
Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Pergunto mais: Porventura, não terá chegado isso ao conhecimento de Israel? Moisés já dizia: Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é nação, com gente insensata eu vos provocarei à ira. E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim. Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente. (Romanos 10.13-21)
Neste capítulo vamos prosseguir no estudo de Romanos 10.13-21 tendo em visto o meio que Deus usa para operar a salvação. Ressaltei no capítulo anterior que após a morte e ressurreição de Jesus por nossos pecados, existem cinco coisas que Deus começa a colocar no lugar para que as pessoas sejam salvas. Paulo as men- ciona nos versículos 13-15: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?”
Portanto, a salvação vem de: 1) invocar a Cristo, 2) crer nele 3) ouvir o evangelho a seu respeito, 4) alguém que pregue a Cristo, 5) e Deus enviar o pregador.
No capítulo anterior, eu descrevi o que significa crer e invocar o Senhor. Voltarei a esse assunto adiante quando tratar dos três últimos entre esses cinco passos. Mas primeiro, há mais duas questões que este texto traz à frente. Uma é a incredulidade do povo de Israel, e a outra é a soberania de Deus em relação à responsabilidade humana. Trataremos destes antes de voltar ao assunto de ouvir, pregar e enviar.
A Incredulidade de Israel
Este tem sido o tema sofrido, de coração quebrantado, de Romanos 9 e 10 desde que começamos em Romanos 9.3, onde Paulo disse: “eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne”. É uma terrível realidade com a qual Paulo luta nos capítulos 9 e 10 de Romanos. Como entender, como explicar, como sentir e como responder à incredulidade e condição perdida do povo escolhido de Deus – Israel. Porque rejeitaram a Jesus como Salvador, Messias, Senhor e Tesouro – eles são anátema, cortados da vida eterna.
Paulo volta ao assunto muitas vezes. Romanos 9:27: “Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo”. Romanos 10.1-2, “Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos. Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento” Romanos 10.16: “Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação?” E o verso 21: “Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente”.
Este é o peso de Paulo até o final do capítulo 11. Observe esse capítulo começa: “Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim”. Noutras palavras, a presente descrença e rebeldia de Israel não é toda a história, nem é o final da história. Veja o aviso para nós cristãos gentios em Romanos 11.25: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios”.
Do começo até o final no trecho de Romanos 9-11 o peso de Paulo é: O que significa Israel ser incrédulo, rebelde contra seu Messias, amaldiçoado e separado de Cristo?
Uma das principais coisas que Paulo quer dizer nestes capítulos é que a incredulidade e perdição de Israel não significam que a palavra de Deus tenha falhado! Romanos 9:6 faz ressoar o sino central: “Não pensemos que a palavra de Deus haja falhado”. O primeiro argumento para esta verdade central está edificado sobre a doutrina da eleição soberana, gratuita, incondicional do capítulo 9. Noutras palavras, a condição perdida e de incredulidade de Israel não solapa os planos de Deus, porque ele é soberano sobre essa descrença, tendo-a incluído em seus planos desde o princípio. “Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão”. Assim, pois, não depende do esforço humano de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia (Romanos 9:15-16).
Alguns de nós temos sido abalados até as bases, no decorrer da vida, por essa verdade sobre a soberania de Deus acima da fé e da incredulidade do homem. Fugimos dela, fingimos que não está aí, argumentamos contra ela, choramos por ela, e finalmente, curvamos as cabeças e os corações diante dela, descobrimos que essa verdade é uma das pedras fundamentais mais firmes e profundas de nossa frágil fé. Vemos agora, tremendo de alegria, que sem ela não teríamos crido e não permaneceríamos até o fim para sermos salvos. Vemos isto de maneira especial no capítulo 9 de Romanos.
A Soberania de Deus em Relação à Responsabilidade do Homem
Hoje, aqui neste texto, sem perder de vista aquilo que ele voltará a tratar imediatamente no capítulo 11, Paulo diz algo crucial e muito diferente para equilibrar nosso modo de pensar quanto à soberania de Deus diante da incredulidade de Israel. Estou passando aqui para o segundo ponto deste estudo. O primeiro foi da incredulidade de Israel. O segundo é a soberania de Deus em relação à responsabilidade humana. Paulo diz que a incredulidade de Israel não é devida à ausência do que ela necessita para ser responsável por crer.
É este o ponto importante dos cinco passos dos versículos 14-15. Para ser salvo é preciso invocar a Cristo. Para invocá-lo, é preciso crer nele. Para crer, é necessário ouvir a palavra de Cristo. Para ouvir, é preciso que alguém proclame a mensagem de Cristo. E para proclamar com autoridade divina, o pregador tem de ser enviado por Deus. A razão de dizer tudo isso é enfatizar o seguinte ponto: isso aconteceu com Israel! Sendo assim, a sua incredulidade não é devida à ausência de qualquer coisa de que precise para ser responsável.
Veja o versículo 18: “Mas pergunto: Porventura, não ouviram?” Noutras palavras, “Tais condições de enviar e pregar e ouvir já não foram cumpridas?” Paulo responde: “Sim, por certo” e em seguida usa as palavras do Salmo 19.4 para enfatizar isso. “No entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo”.
Não tenho certeza se Paulo quer que entendamos essas palavras no contexto do Salmo (revelação geral na natureza) ou se apenas está usando as palavras (sem dizer que as está citando dentro do contexto) para enfatizar a ampla extensão do evangelho no mundo para que todo Israel ouça. Mas o ponto principal está bem claro: A mensagem de Cristo foi pregada a Israel, que a ouviu, po tanto Israel é responsável por sua incredulidade.
Paulo destaca isso nos versículos 19-20: “Eu pergunto mais: Porventura, não terá chegado isso ao conhecimento de Israel? Moisés já dizia: Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é nação, com gente insensata eu vos provocarei à ira. E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim”. O fato de que gentios pagãos, incircuncisos, imundos, sem instrução, estavam crendo no Messias e herdando as promessas feitas a Israel ter sido predito por Moisés, e estar acontecendo ao redor deles deveria fazê-los despertar para a verdade do evangelho que estão rejeitando. Sua responsabilidade é maior em razão da resposta gentílica.
Ele o diz novamente no versículo 20: “E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim”. Noutras palavras, os gentios estão encontrando a salvação em Jesus Cristo, o Messias judaico, do jeito que Isaías profetizou. Estão sendo salvos somente pela fé, não por obras da lei. Isso tudo foi como um megafone tornando a mensagem da graça gratuita mediante o Messias Jesus compreensível a Israel.
Paulo mostra o triste resultado no verso 21: “Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente”. Ou seja, todas as profecias e tudo que deveria ser cumprido, bem como todo o evangelho que Israel ouviu não foi acreditado pela maioria deles.
Note, contudo, como Paulo descreve sua incredulidade. É muito diferente de Romanos 9. Ali ele disse: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (v. 15). Deus demonstra com absoluta soberania sobre a vontade e a incredulidade humana. Mas olhe e indague como Romanos 10.21 descreve a relação de Deus para com a incredulidade de Israel – e a nossa. Deus diz, “Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente”. Temos aqui um retrato de Deus instando, chamando, convidando, persuadindo mediante seus profetas e pregadores. Mas os ouvintes não creram – são rebeldes e contradizentes.
Minha meta neste capítulo não é analisar como isso acontece, mas insistir que todos nós acatemos o paradoxo da soberania de Deus e da responsabilidade do homem. O que é triste é que algumas pessoas acatam a soberania de Deus sobre a vontade humana e dizem: “É errado apresentar Deus de braços estendidos, convidando, chamando”. Outros abraçam a responsabilidade humana dizendo: “Se Deus convida, chama e conclama, então na verdade ele não pode ser soberano sobre a von- tade do homem, e em última instância o homem é que controla e determina para si o que quer, e Deus, na verdade, não controla todas as coisas”.
Ambas essas ideais são tristemente erradas. É triste porque um grupo rejeita algo profundo e precioso que Deus revelou sobre si para nosso fortalecimento, nossa esperança e alegria e amor – ou seja, sua absoluta soberania. Oh, como é doce quando tudo em nossa alma cede e precisamos da rocha confiável e firme num mundo que às vezes parece completamente sem controle, sem significado, totalmente cruel. Oh, como é suave nessas horas saber que Deus não é bom e incapaz, mas bom e soberano. O outro grupo (que abraça a soberania de Deus) às vezes deixa de ver como devemos instar com as pessoas e persuadi-las, convidá-las e “cortejá-las” com lágrimas, a Cristo, e em favor de Cristo.
Minha meta aqui não é explicar esse paradoxo mas simplesmente ressaltá-lo com três outros exemplos (existem ainda muito mais exemplos), com a esperança de que Deus abra a sua mente para submeter-se à palavra de Deus, quer consiga explicar isso, quer não.
Em Mateus 11.25, Jesus diz: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos”. E no versículo 28, diz ele: Ele escondeu essa verdade de alguns,e convida a todos.
Em João 6.35 diz ainda Jesus: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede”. Mais adiante, ele ainda declara: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”.
Todos são convidados a vir a Cristo. O Pai dá alguns destes a Cristo.
Em Atos 13.38 Paulo disse na sinagoga de Antioquia: “Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se vos anuncia remissão de pecados por intermédio deste [Jesus]”...
E no verso 48. Lucas diz: “e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”. Todos que foram destinados para a vida eterna creram.” Todos são convidados a crer e receber o perdão dos pecados. Os que foram escolhidos para a vida realmente creram.
Deus é Deus. O homem não é o soberano final e ultimo sobre sua própria vida, Deus é. Deus é oleiro, nós somos o barro. “Mas por outro lado, Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”. (1Timóteo 2.4). Ele estende as mãos o dia todo aos judeus e gentios. Ele chama, conv da, insta.
Enviar, Pregar, Ouvir
Isso nos leva ao ponto final. Eu disse que terminaria voltando para os três passos dos cinco nos versículos 14-15 que não vimos no capítulo anterior. “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!”
Os primeiros dois pontos que vimos aqui se juntam para produzir o terceiro ponto. Primeiro, existe a incredulidade e a condição perdida de Israel – e do mundo sem Cristo. Segundo, existe o fato de que, embora Deus seja soberano sobre a alma humana, seja essa crente ou descrente, ele estende as mãos todo o tempo e para todos, quer crentes, quer descrentes – a seu povo judaico e gentílico, aos seus estudantes, seus idosos e seus jovens, solteiros ou casados, e a todos os grupos étnicos de perto e de longe.
Esses dois pontos se juntam, forçando a pergunta: como é ouvida a voz de Deus? Como as suas mãos estendidas são vistas? Como a sua paciência se torna conhecida? A resposta está no terceiro ponto: Ele envia os seus mensageiros e confia-lhes a mensagem da reconciliação (2 Coríntios 5.19), os quais abrem sua boca para proclamar: “ Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (2 Coríntios 5.20). As pessoas ouvem o evangelho. E no evangelho, elas ouvem a Cristo chamando, convidando e atraindo.
Os mensageiros efetivos do evangelho são enviados por Deus. Falar sobre Cristo não é mero impulso humano. Deus abençoa mensageiros do evangelho que foram enviados por Deus. Tome cuidado aqui! Não diga: “Eu não fui enviado, portanto eu não falo”. Em vez disso, diga: “Eis-me aqui, Senhor, envia-me. Envia-me aos não alcançados. Envia-me às vizinhanças urbanas de minha cidade. Envia-me a atravessar a rua em meu bairro residencial que perece. Envia-me aos do escritório. Envia-me ao telefone hoje. Envia-me!”
Sim existe um chamado divino e um envio mais oficial e vocacional – é o que tenho como pastor vocacionado por minha igreja. Alguns de vocês têm ou terão essa espécie de chamado. Mas existem chamados e envios mais espontâneos, e ocasionais. Se Cristo habita em você, você experimentará isso. Vamos orar para que isso aconteça conosco cada vez mais:
Senhor, estou aqui, envia-me a mim. Abra minha boca com o evangelho. Que muitos ouçam, creiam, clamem pelo nome de Jesus e sejam salvos. Oh! como são belos sobre os montes os pés dos que anunciam as boas novas!