As ondas do luto vão ceder
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Sarah Walton Sobre Sofrimento
Tradução por Robson Pereira
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“Por que Deus me fez desse jeito? Eu O peço todos os dias para que me modifique, mas ele não me atende. Minha vida é irrelevante, não há mais por onde tentar.” Meu filho contraiu-se no chão e chorou.
Sentei-me ao seu e lado, sem palavras, enfrentando meus próprios sentimentos de desespero e cansaço. Quase onze anos depois presenciar sua enfermidade mental transformar nossa meiga, perspicaz e atenciosa criança em alguém que não tem controle sobre suas próprias palavras e ações. Dor que eu nunca imaginei que um coração humano pudesse suportar preencheu todas as fendas da minha vida.
Palavras não conseguem expressar nossa tristeza como pais, à medida que assistimos, impotentes, nosso tesouro sofrer. É uma de muitas tristezas intensas e debilitantes que cristãos vivenciam. A dor chega, ondas após ondas, até que você não consegue se lembrar de como é viver em marés calmas. Ela vai e vem à sua maneira, surge em lugares inesperados e te transforma ao longo do caminho. Você clama a Deus, pedindo-lhe que corrija esse distúrbio. Eu sei que não estou sozinha.
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Fé em meio às nossas lágrimas
Por mais que o impacto da dor ou a adrenalina do instinto de sobrevivência possam fazer-nos parecer fortes durante algum tempo, “o tormento interior que se segue após a perda de algo ou de alguém que amamos” eventualmente chegará até nós (Uma dor santificada, 9).
No livro de Jó, vemos um homem que perdeu tudo, seu rebanho, seus criados e todos os seus dez filhos. Com um golpe só, a sua riqueza, segurança e família foram-lhe retiradas. No entanto, em resposta a uma aflição impenetrável, “Jó levantou-se, rasgou o manto e raspou a cabeça. Então, prostrou se com o rosto em terra em adoração, e disse, “Nu saí do ventre da minha mãe e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou, louvado seja o nome do Senhor”. (Jó 1:20–21).
Isso é incrivelmente diferente da forma como a maioria de nós, incluindo os cristãos, reage às provações. Na cultura ocidental, muitas vezes estamos inconformados com a dor, fazendo o nosso melhor para evitar a realidade de que a morte e a decadência são provas de que este mundo está a definhar.
Em vez disso, esforçamo-nos por parecer fortes, pensar positivo e preencher as nossas vidas com o que quer que seja que ajude a disfarçar a dor. Ou ficamos de luto, acreditando que podemos ser dispensados de adorar a Deus como o fazemos (recomeçaremos a viver para ele quando nos sentirmos melhor ou a dor tiver passado). Lamentavelmente, em vez de permitir que a dor e a perda nos conduzam a uma esperança maior, muitos de nós evitam encarar o abatimento de frente, preenchendo o sofrimento profundo com qualquer coisa que possa atenuar a aflição, em vez de o fazer com Deus. Confiamos em outras coisas além do nosso grande Consolador ou da nossa família eterna.
A dor não é um sinal de incredulidade
Uma razão pela qual vemos alguns com medo de lamentar com outros cristãos, é que eles temem que possa parecer incredulidade. Mas John Piper explica uma realidade diferente quando diz:
Os soluços de tristeza e dor não são os sinais de descrença. Jó não sabe nada de uma atitude leviana, insensível, superficial “Louva a Deus de qualquer forma” como resposta ao sofrimento. A magnificência de seu culto é porque foi na dor, não porque substituiu a dor. Deixe suas lágrimas fluírem livremente quando sua calamidade chegar. E deixemos o resto de nós chorar com aqueles que choram.
A dor e as lágrimas não são sinais de fé fraca, mas respostas normais e saudáveis ao quebrantamento deste mundo. É natural lamentar as perdas e a dor que experimentamos nesta vida. Negar a nós mesmos a liberdade de sentir luto não apenas nos prejudica, mas nos nega a oportunidade de experimentar a doçura da presença de Cristo na amargura da nossa dor. Recusar-se a chorar pela perda afasta aqueles que chorariam conosco e Aquele que promete enxugar cada lágrima em nossas faces.
Inquietante Terra de Luto
Vivemos na terra entre a dor presente e a glória futura. Vivemos inquietos em nossa dor, mas em paz na presença de Cristo. Confiamos nele em nossa fragilidade, a espera pelo dia da plenitude e redenção na vinda de Jesus.
E enquanto esperamos, nós choramos na fé. Enquanto é possível desonrar a Deus permitindo que nossa tristeza dê lugar à incredulidade e amargura em relação a Deus (que é pecado), não precisamos responder assim. Quando adoramos a Deus em nossa dor e declaramos que ele é digno de nossa confiança, mesmo em nossas mais profundas tristezas, quando escolhemos descansar em sua bondade e soberania, mesmo quando nossas circunstâncias parecem sem esperança, nós trazemos glória ao seu nome. Ter esperança não significa que não iremos chorar. Ter esperança significa que choramos com a confiança de que Deus “os restaurará, os confirmará, os fortalecerá e os porá sobre firmes alicerces” (1 Pedro 5:10).
E essa tristeza pode durar mais do que o esperado. Jó não o fez, e nós também não vamos atravessar a dor da perda em uma ou duas semanas e nunca mais sentir a ausência ou a dor novamente. De fato, normalmente não sentimos todo o peso da nossa dor até que o choque passe, cessam as refeições, amigos não aparecem e o mundo parece seguir em frente enquanto nós ficamos com nossa dor, com as lembranças diárias da nossa perda. Mas é aqui, no lugar inquietante do luto, que começamos a entender a profundidade do amor e da bondade de Deus para conosco.
É aqui que começamos a entender extraordinariamente que Jesus, "um homem de dores e experimentado no sofrimento" (Isaías 53:3), não é alheio e distante à nossa dor. Ele nos deu o seu Espírito, que “nos ajuda em nossa fraqueza. Pois não sabemos como devemos orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8:26).
Não da forma como deveriam ser
Quando uma nova onda de dor chega, podemos deixar as lágrimas virem, clama ao Senhor em nossa dor e então nos lembrarmos da esperança do evangelho. Lembramos a nós mesmos, como Jó, “Quanto a mim, eu sei que o meu Redentor vive” (Jó 19:25). Nossa dor reconhece que as situações não são como deveriam ser, enquanto nossa fé no evangelho nos lembra que nossa dor não é o fim da nossa história.
Jesus pagou o preço por nossos pecados, quebrando o poder do pecado, da morte e do sofrimento. Quando ele retornar, ele redimirá o que foi perdido e restaurará o que foi quebrado. Se você está em Cristo, seu sofrimento não é mais sem sentido, mas está produzindo algo eternamente precioso para você (1 Pedro 1:6–7).