Ame Aquele Que Está Com Você
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Jon Bloom Sobre Questões de Igreja
Tradução por Mônica Couto Valadares
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Pode ser muito difícil amar a igreja. Todo cristão, que tem sido um por muito tempo, sabe disso.
A Igreja na terra sempre foi um grupo heterogêneo. Nunca foi o ideal. O Novo Testamento existe porque as igrejas, em diferentes graus, sempre foram uma confusão — uma gloriosa confusão de santos ainda poluídos pelo pecado remanescente, afetados por genes, cérebros e corpos deficientes e influenciados por passados que moldaram a vida.
Esta confusão raramente nos parece gloriosa de perto. Parece muito pecado e muito sangue, suor e lágrimas investidos em muita futilidade. Muitas vezes parece algo que preferimos fugir à aderir.
Mas é assim que deve ser. Porque a confusão é o que atrai a única coisa que faz avançar a missão da igreja mais do que qualquer outra coisa. E esse é o motivo pelo qual não devemos, por razões egoístas, deixar a igreja.
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A Igreja Que Não Escolhemos
Os primeiros discípulos de Jesus não puderam escolher uns aos outros. Jesus os escolheu (João 15:16). Eles simplesmente foram colocados juntos.
A geração seguinte dos primeiros cristãos também não teve a oportunidade de escolher uns aos outros. Eles também foram colocados junto com outros que provavelmente não teriam escolhido: Judeus Palestinos e Helenistas, Judeus e Gentios, instruídos e não instruídos, escravos e proprietários de escravos, pobres e aristocratas, ex-zelotes e ex-cobradores de impostos, ex-prostitutas e ex-fariseus.
E Jesus deu a esses primeiros discípulos, e a todos os discípulos seguintes, uma ordem impossível: amem uns aos outros (João 15:17). Tinha que ser impossível obedecer em mero poder humano, porque esse amor era para dar testemunho de Jesus no mundo (João 13:35), e para dar evidência visível do Deus invisível (1 João 4:12). Tinha que demonstrar que "o que é impossível com o homem é possível com Deus" (Lucas 18:27).
E Jesus deu aos seus discípulos um contexto impossível pelo qual deveriam realizar esse mandamento impossível: a igreja (Mateus 16:18) — uma comunidade de indivíduos diversos, poluídos pelo pecado e deficientes, de todos os tipos de passados que moldam a vida, vivendo juntos em um amor impossível.
Então Jesus deu à sua igreja uma missão impossível: pregar o evangelho em todo o mundo que rejeita a Deus e odeia a Cristo (Lucas 21:17; João 15:18), e colocar comunidades impossíveis entre todos os povos onde indivíduos diversos, poluídos pelo pecado e deficientes, de todos os tipos de passados que moldam a vida, pudessem viver o mandamento impossível de Jesus de amar uns aos outros (Mateus 28:19–20).
Amor impossível, comunidade impossível e missão Impossível: este é um plano fadado ao fracasso. Não há como isso funcionar, a menos que exista um Deus que torne possível o humanamente impossível.
E aqui estamos nós, dois mil anos depois. A missão impossível produziu comunidades impossíveis que cumprem essa ordem impossível em grande parte do mundo. Apesar de todos os problemas da igreja, e eles são muitos, algo milagroso está acontecendo aqui.
Comunidade Milagrosa E Em Dificuldades
Mas a Igreja raramente parece milagrosa em um determinado momento. "A igreja", como a experimentamos mais diretamente, parece ser menos perfeita que a igreja local a qual pertencemos, composta por pessoas comuns que lutam para se entender, lutam para descobrir como "fazer a igreja" em um mundo de constantes mudanças, e lutando para fazer sua parte para cumprir a Grande Comissão.
Lutar não é parecido ou sentido como algo milagroso. É cansativo, frustrante e, por vezes, irritante. Lutar pode nos fazer querer desistir.
Mas não devemos desistir da igreja. Porque são as coisas confusas — aquelas coisas extraordinariamente difíceis e dolorosas que podem nos enlouquecer — que proporcionam as próprias oportunidades para que o amor humanamente impossível de Cristo seja exercido, dando visibilidade à existência do Deus invisível.
De acordo com o Novo Testamento, o sucesso de uma igreja não se mede pelo número de seus frequentadores, pelo tamanho de seu orçamento, pela excelência da produção dos seus eventos ou pelo alcance da sua influência pública. Seu sucesso é medido pela qualidade de seu amor. Uma igreja que mais eficazmente testemunha Jesus no mundo persegue o amor da seguinte forma:
- Honrando uns aos outros (Romanos 12:10),
- Contribuindo para satisfazer as necessidades uns dos outros (Romanos 12:13),
- Mostrando hospitalidade para com os outros (Romanos 12:13),
- Alegrando-se uns com os outros (Romanos 12:15),
- Chorando as dores uns dos outros (Romanos 12:15),
- Buscando a harmonia uns com os outros, apesar das diferenças (Romanos 12:16),
- Não excluindo os membros mais humildes (Romanos 12:16),
- Sujeitando-se uns aos outros (Efésios 5:21),
- Esforçando-se persistentemente para um acordo sobre questões polêmicas (2 Coríntios 13:11),
- Usando a liberdade individual em Cristo para servir uns aos outros (Gálatas 5:13),
- Suportando as fraquezas, deficiências e imaturidade uns dos outros (Efésios 4: 2),
- Cobrindo com o perdão os inúmeros pecados uns dos outros (1 Pedro 4:8; Colossenses 3:13),
- Incentivando uns aos outros a prosseguir na missão do amor (Hebreus 10:24),
- E não deixando de se reunir regularmente (Hebreus 10:25).
E o que desperta tanto amor? Leia cada linha novamente e pergunte quais situações levam a tais oportunidades de amar. A resposta curta é: muitos e variados tipos de luta. São as lutas confusas que chamam pelo amor.
As igrejas são projetadas para serem comunidades de amor impossível que só funcionam se Deus for real, se o sacrifício de Cristo for real, e se o céu for real. No vazio do amor, a comunidade desmorona ou degrada em eventos de consumo, formalismo vazio, "espiritualidade" sem forma, grupos de defesa social ou reuniões essencialmente cívicas — tudo restos moribundos ou mortos de uma energia passada.
Comunidade Graciosamente Desiludida
Jesus não concebeu a igreja para ser um lugar onde nossos sonhos se tornam realidade. Na verdade, é onde muitos dos nossos sonhos se desiludem e morrem. E isso é mais uma graça para nós do que provavelmente imaginamos, porque nossos sonhos geralmente são muito mais egoístas do que percebemos.
As nossas expectativas pessoais tornam-se facilmente tiranas para todos os outros, porque todos os outros não as cumprem. Quando estamos mais focados na forma como as deficiências e fraquezas dos outros obstruem a comunidade ideal que queremos buscar do que em servir esses outros e buscar seu bem e alegria, as nossas expectativas podem matar o amor, o que impede a verdadeira missão.
Jesus projetou a igreja para ser um lugar onde o amor se torna realidade, onde deixamos de lado nossas preferências em deferência aos outros. Ela foi criada para ser um laboratório vivo de amor, um lugar onde há tantas oportunidades, grandes e pequenas, de darmos nossas vidas uns pelos outros, que o amor de Cristo se torna um espetáculo público.
É por isso que, quando se trata da igreja nesta era, a imagem de comunidade que devemos ter em nossas mentes não é uma harmonia utópica, mas o Gólgota. Ao viver a vida juntos, morremos todos os dias (1 Coríntios 15:31). Nós damos nossas vidas uns pelos outros (1 João 3:16).
Ame Aquele Que Está Com Você
Há mais de quarenta anos, Stephen Stills cantou, "Se você não pode estar com quem ama, querida, ame quem está com você." Embora ele certamente não tenha escrito isso tendo em mente a igreja, podemos fazer uma aplicação redentora.
Existem inúmeras razões legítimas para deixar uma igreja, e partidas são mais uma oportunidade confusa para ampliar o amor generoso. Mas temos de ter uma suspeita saudável dos nossos motivos se a desilusão, a inquietação, o tédio, o descontentamento, o esgotamento, o conflito relacional e as expectativas frustradas estão alimentando o nosso impulso para sair. Muitas vezes, esses frutos têm raízes em solo egoísta. Não devemos amar a igreja com a qual não podemos estar — aquela comunidade idealizada da nossa imaginação. Devemos amar aquele com quem estamos.
Não somos nós que escolhemos os discípulos com quem vivemos; é Jesus que escolhe. Somos jogados em um grupo heterogêneo de santos poluídos pelo pecado e falhos, entre os quais, à nossa maneira, somos os mais poluídos e falhos (1 Timóteo 1:15).
O que temos é o incrível privilégio e uma infinidade de oportunidades de amar esses discípulos como Jesus nos amou. Podemos amá-los, com todos os seus defeitos. Porque é através do amor mutuamente abnegado, indulgente, e misericordioso que os calejados discípulos têm uns pelos outros, que Jesus é mais claramente apresentado ao mundo e sua missão avança mais poderosamente.