A esperança torna o coração partido maior
De Livros e Sermões BÃblicos
Tradução por Laís Pereira da SilvaPor Scott Hubbard
Sobre Esperança
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Dois anos depois dele perder seu filho dava para perceber que ele mudou. A morte roubou sua família e o trespassou, o destroçou e o quebrou. Mas gradualmente, hesitantemente, ele se levantou daquele poço e mancou entre os vivos novamente. E com o tempo, os amigos puderam ver que ele falava menos rápido, ouvia com mais paciência e estava se tornando um refúgio para os feridos e enlutados. Seu coração, embora machucado e dilacerado, cresceu por conta da sua dor.
Anos depois de seus próprios testes traumáticos, era possível perceber que ela também havia mudado. Ela ainda era sociável, mas o sarcasmo parecia contaminar a maioria das conversas. Os amigos não podiam mais conversar profundamente com ela, pelo menos não com segurança. Ela andou pelo mundo como uma Mara, sem esperança de se tornar Noemi novamente (Rute 1:20). Seu coração, agora protegido por camadas de superficialidade, lentamente calejou.
Embora alguns detalhes nesses dois retratos sejam imaginários, as pessoas por trás deles não são. Quase uma década depois, os rostos deste homem e desta mulher permanecem gravados na minha memória: o primeiro chorando com uma fé de coração partido, o segundo sorrindo com destacado cinismo. Sem dúvida, muitos de nós podemos nos lembrar de rostos e histórias semelhantes, histórias de como o sofrimento amoleceu ou endureceu alguém. Como o sofrimento nos amoleceu ou endureceu.
Quando as ondas e os solavancos da tristeza nos atingem, alguns se perdem em um mar sem fim de desesperança. E outros, através de suspiros agonizantes, dizem à sua alma: “Ponha sua esperança em Deus, pois eu ainda o louvarei. Ele é o meu Salvador e o meu Deus!” (Salmos 42:5–6).
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Esperança contra esperança
As páginas das Escrituras estão cheias de tais esperançosos: salmistas que se lembram das obras de Deus à meia-noite (Salmos 77), profetas que cantam durante as fomes (Habacuque 3:17–19), adoradores que confiam em Deus, embora ele os mate (Jó 13:15). Como Abraão, todos estes “na esperança... creram contra a esperança” (Romanos 4:18) de que as promessas de Deus, embora ameaçadas por todo o mundo, de alguma forma ainda se tornariam realidade.
Para aqueles que vivem deste lado da cruz, uma das declarações mais simples e poderosas de esperança sofredora vem do apóstolo Paulo: “Nós nos alegramos na esperança da glória de Deus” (Romanos 5:2). De onde vem a alegria sobrenatural, o tipo de alegria que permite adorar enquanto chora e depois emergir do sofrimento com um coração suave e confiante? Somente da persistente esperança na glória vindoura de Deus.
A GLÓRIA POR VIR
Nós nos alegramos na esperança da glória de Deus (Romanos 5:2).
A história das Escrituras é uma história de glória. Deus nos coroou com glória na criação (Salmos 8:5). Nós perdemos esta glória na queda (Romanos 1:23; 3:23). Cristo recuperou nossa glória no evangelho (2 Coríntios 3:18; 4:6). E agora esperamos na "glória que em nós será revelada" (Romanos 8:18).
Está chegando o dia em que a glória de Cristo inundará nosso triste mundo como o barulho de muitas águas. Jesus dará a palavra e um bilhão de Lázaros sacudirão suas mortalhas e nunca mais as usarão. Jesus colocará sua mão sobre nossa terra quebrada e, como um paralítico curado, ela se levantará, pegará sua cama e caminhará para a plenitude da liberdade dos filhos de Deus. E então nós, estando com corpos glorificados sobre uma terra glorificada, contemplaremos a própria Glória (Apocalipse 22:4).
Embora a glória às vezes possa soar vaga, etérea, nebulosa, a glória vindoura será tudo menos isso. Será a glória que cada um de nós, mais desesperadamente precisa: o bálsamo para cada ferida não curada, o gesso para cada osso ainda quebrado (Apocalipse 21:4). Como a voz de Jesus a Maria no jardim da ressurreição, a glória falará nosso nome e porá fim a todo o nosso choro (João 20:15).
Por enquanto, alguns sonhos permanecem despedaçados, alguns relacionamentos permanecem quebrados, algumas cicatrizes nunca desaparecem. Mas quando Jesus vier em glória, ele fará um túmulo para todas as nossas tristezas.
ESPERANÇA LIVRE DE VERGONHA
Nós nos alegramos na esperança da glória de Deus (Romanos 5:2).
Não vemos tanta glória agora, claro. Por enquanto, “gememos interiormente enquanto esperamos” (Romanos 8:23). Mas aqui, no gemido e na espera, a esperança ilumina a escuridão como uma grande constelação. “Esperamos o que não vemos” (Romanos 8:25), sim mas com uma esperança que “não nos envergonha” (Romanos 5:5).
Um milhão de outras esperanças nos envergonharão. Um milhão de esperanças tomarão nossos corações e os partirão em dois. Um milhão de esperanças crucificarão nossos sonhos e não conseguirão ressuscitá-los. Mas essa esperança não nos envergonhará. E por que? Poderíamos dizer que Deus nunca envergonhou ninguém que nele confiou e estaríamos certos. Mas aqui Paulo dá outra razão: “Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5:5).
Em Jesus Cristo, experimentamos um amor que não pode mentir. Este amor, derramado em nossos corações como um rio, flui para nós da fonte do Calvário, onde “Cristo, quando ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Romanos 5:6). E se o amor de Cristo encontrou uma maneira de perdoar todos os nossos pecados, mesmo aqueles que pareciam imperdoáveis, então certamente ele encontrará uma maneira de curar todas as nossas tristezas, mesmo aquelas que parecem incuráveis.
Então, não importa quão pesada seja a pedra que o sepultou na tristeza, você não é tolo em esperar que ela role para longe um dia. Tão certo quanto Jesus nos amou, isso deve rolar quando a glória chegar.
RIO DE ALEGRIA
Nós nos alegramos na esperança da glória de Deus (Romanos 5:2).
A esperança não pode enterrar nossas tristezas, somente a glória vindoura pode. Mas a esperança pode nos dar tanta confiança na glória vindoura que nos encontramos regozijando até agora.
Que alegria é essa que canta entre as ruínas do nosso sofrimento? Às vezes, essa alegria pode correr por nossas almas como um rio subterrâneo, invisível e talvez quase imperceptível. Em outras ocasiões, porém, essa alegria irromperá pela terra com uma torrente poderosa e se tornará uma alegria “indizível e cheia de glória” (1 Pedro 1:8) em outras palavras, cheia de algo da glória vindoura. Então podemos sentir a verdade das palavras de G.K. Chesterton,
"O homem é mais ele mesmo, o homem é mais humano, quando a alegria é a coisa fundamental nele, e a tristeza, a superficial. A melancolia deve ser um interlúdio inocente, um estado de espírito terno e fugaz; o louvor deve ser a pulsação permanente da alma. O pessimismo é, na melhor das hipóteses, um meio-feriado emocional; a alegria é o trabalho estrondoso pelo qual todas as coisas vivem." (Ortodoxia, 169).
A alegria será em breve a coisa fundamental em nós. Mas mesmo agora pode ser. Mesmo agora, a alegria pode superar e cantar mais alto que nossas tristezas, não ignorando-as, mas fixando nosso olhar no dia em que “a tristeza e o suspiro” não simplesmente desaparecerão, mas “fugirão” (Isaías 51:11), assim como os fugitivos que são, da face da Alegria Todo-Poderosa e Eterna.
Esperança em Deus
Alguns falam da esperança cristã como se fosse uma questão simples. Mas sejamos claros: esperar em Deus em meio ao sofrimento pode ser a coisa mais difícil que podemos fazer. É muito mais fácil se resignar ao abismo do que continuar esperando e confiando, cantando e acreditando. É muito mais fácil abraçar o cinismo do que continuar esperando contra a esperança.
Mas aqueles que esperam em Deus se unem a uma grande nuvem de testemunhas. Eles se juntam a Abraão e Sara na esperança de um filho, a Isaías na esperança do servo sofredor, a Jeremias na esperança de novas misericórdias sobre Jerusalém, a Maria na esperança de que nada seria impossível para Deus, e a milhares de outros santos cujas vidas provaram a promessa de que "a esperança não nos envergonha".
E mais do que isso, eles descobrem que a esperança tem um jeito de tornar corações partidos ainda maiores. Se dissermos às nossas almas: “Esperem em Deus”, então o sofrimento não nos deixará amargurados e quebradiços. O sofrimento nos moldará à imagem do próprio Homem das Dores, cuja esperança suportou os fardos do mundo.
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