A Graça Ainda Maravilha-te?
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Randy Alcorn Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Natalia Moreira
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Anos atrás, palestrei num grande evento onde o vocalista cantou uma das minhas músicas favoritas: Amazing Grace. Porém, fui pego de surpresa quando ouvi a primeira estrofe: “Graça Maravilhosa, como é doce o som que salvou uma alma como eu.” A palavra “alma” tinha sido substituída por “miserável”. Por quê? Porque a palavra “miserável” é considerada por alguns ser humilhante para os humanos.
Não pude deixar de pensar em John Newton, o autor dessa música. Ele foi um comerciante de escravos imoral e blasfemo — um homem que sabia que era um miserável e que havia chorado sobre a profundidade de seus pecados. Só porque ele entendia esse fato tão profundamente que ele pôde então entender por que a graça de Deus para ele era tão maravilhosa. Daí a música imortal que ele deixou como legado para nós.
Graça não minimiza nem ignora a horrível realidade do nosso pecado. Graça enfatiza a profundidade do pecado em virtude do preço impensável pago para redimi-nos dele. Paulo disse que se os homens forem bons o bastante, “Cristo morreu em vão!” (Gálatas 2:21). Se não enfrentarmos a terrível realidade de nosso próprio pecado, a graça de Deus nunca será maravilhosa.
O Chamado Dele Aos Pecadores
A palavra de Deus nos diz que Cristo morreu em nosso lugar, apesar de sermos pecadores (Romanos 5: 7-8). O fato de ele ter morrido em nosso lugar nunca é mencionado na Escritura como prova do nosso valor como pessoas maravilhosas. Em vez disso, é uma demonstração do Seu amor insondável e não merecido. Tão insondável que Ele preferiu morrer por pecadores, miseráveis como você e eu, para nos libertar do nosso pecado.
Pela graça ser tão incompreensível para nós, nós instintivamente inventamos condições para que não pareçamos tão ruins e para que a oferta de Deus não seja tão contraintuitiva. No momento que terminarmos de qualificar o evangelho, não seremos mais impotentes e indignos. Não seremos mais miseráveis. E graça não será mais graça.
A pior coisa que podemos ensinar às pessoas é que elas são boas sem Jesus. A verdade é que Deus não oferece graça às pessoas mais do que médicos oferecem cirurgias emergenciais às pessoas saudáveis. Jesus disse: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento.” (Lucas 5: 31-32).
Nosso Senhor também disse: “A quem tiver sede, darei de beber gratuitamente da fonte da água da vida.” (Apocalipse 21:6). Gratuitamente, mas com um custo inimaginável a si mesmo — o custo que será visível pela eternidade ao contemplarmos suas mãos e pés marcados por pregos (João 20: 24-29). Bonhoeffer estava certo: a graça é gratuita, mas não é barata.
Graça Que Muda a Vida
Você e eu não estamos meramente doentes por nossos pecados, mas mortos em nossas transgressões e pecados (Efésios 2:1). Isso significa que não sou só indigno de salvação, sou completamente incapaz de merecê-la. Corpos não podem se levantar por si mesmos de uma cova. Que alívio em perceber que minha salvação é totalmente resultado da graça de Deus; não pode ser merecida através de bons feitos.
Graça verdadeira reconhece e lida com o pecado da forma mais radical e dolorosa: redenção de Cristo. Há apenas um requerimento para se deliciar da graça de Deus: estando quebrado e ter ciência disso. É por isso que Jesus disse: “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o reino dos céus!” (Mateus 5:3, GNT)
Nossa justificação pela fé em Cristo satisfaz as demandas da santidade de Deus trocando nossos pecados pela justiça de Cristo (Romanos 3: 21-26). Quando Jesus nos salva, “portanto, se alguém está em Cristo, é uma nova criação” (2Coríntios 5:17). Agora nós podemos recorrer ao poder de Deus para derrotar o mal. Começamos a ver o pecado pelo o que realmente é: escravidão, não liberdade.
O sumário antigo está correto: os filhos de Deus foram salvos do pecado; nós estamos sendo salvos do poder do pecado e ainda seremos salvos da presença do pecado. Justificação, santificação e glorificação são todos solidificados no exato mesmo lugar: a graça de Deus.
A Graça de Deus Caça o Pecado
A graça de Jesus não é uma adição ou transformação que prolonga nossas vidas. Ela causa uma reforma radical — de ser escravo do pecado a alguém digno e liberto. Paulo escreve sobre a transformação de vida e a superação do pecado pelo poder da graça: “Pois a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos instrui a renunciar à impiedade, aos desejos mundanos e a viver de maneira sensata, justa e piedosa” (Tito 2: 11-12).
Nunca diga a si mesmo que você deve seguir em frente e pecar pois Deus o perdoará. Isso diminui a graça. Graça que trivializa o pecado não é graça verdadeira. Paulo deixa isso claro: “Que diremos então? Continuaremos no pecado para que a graça transborde? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como ainda viveremos nele?” (Romanos 6: 1-2).
John Piper diz: Graça não é simplesmente leniência quando pecamos. Graça é o dom de Deus que não nos permite pecar. Graça é poder, não apenas perdão.” Então enquanto Deus perdoa quando confessamos honestamente (1João 1:9), nós provamos sinceridade tomando os passos necessários para evitar a tentação. Como Jesus disse: “Pelos seus frutos vocês os reconhecerão.” (Mateus 7:16).
Não é pequeno o pecado que crucificou Cristo. Pecados importam, assim que a graça tenha poder sobre o pecado, oferecendo não apenas perdão, mas também transformando o caráter (Gálatas 5: 22-23). Todo pecado é insignificante em comparação com a graça de Deus para nós em Cristo (Romanos 5: 20-21).
Proclamando a Oferta de Graça de Deus
Há um sentido em que a graça de Deus é incondicional — nós não a merecemos. Ainda assim, em sua gentileza, Ele nos oferece. Mas em outro sentido é condicional pois, para recebê-la, devemos nos arrepender, pedir perdão e investirmos nossa fé Nele. É um paradoxo — uma aparente (mas não real) contradição. Se nós vemos Deus como aquele que faz o trabalho de convencer e nos levar ao arrependimento, isso ajuda. Nós não merecemos a salvação.
Mas mesmo que falhemos em entender esse paradoxo da graça incondicional e condicional, eu penso que Deus nos convida a acreditar nisso e a viver de acordo. Sinclair Ferguson diz: “A vida espiritual é vivida entre duas polaridades: nosso pecado e a graça de Deus. A descoberta do primeiro nos faz procurar o segundo; o trabalho do último ilumina as profundezas do primeiro e nos faz buscar mais graça.”
Quando estivermos bem conscientes de nossos próprios pecados, proclamaremos e exemplificaremos as "boas novas de felicidade" de Deus (Isaías 52:7). Faremos isso não com um espírito de superioridade, mas com o entusiasmo contagiante de um pecador salvo pela graça — uma pessoa salva da fome compartilhando a comida e bebida abundante com outros. Encararemos cada dia e cada pessoa que vemos com humildade, sabendo que nós também ainda precisamos desesperadamente da graça de Deus; tanto quanto àqueles que estamos oferecendo.