Como desanimar um amigo de luto
De Livros e Sermões BÃblicos
Por Vaneetha Rendall Risner Sobre Sofrimento
Tradução por Ana Sant'Anna
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Qual a melhor maneira de desanimar um amigo de luto? Vou lhe dizer o que eu fiz.
Eu fiz várias perguntas, tentando entender toda a situação. Eu mencionei outras pessoas que estão passando por lutas parecidas, exaltando sua coragem e fidelidade. Eu saí distribuindo conselhos, até mesmo pequenos sermões, para meus amigos sobre como sua situação difícil mudaria para melhor.
Eu não estava tentando desanimá-los. Eu estava tentando ajudar. Para minha surpresa, meu conselho não ajudou em nada. Minhas palavras apenas trouxeram mais dor.
Eu sei, porque também já recebi esse tipo de "ajuda".
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Deixe-os processar a situação da sua própria maneira
Aquela "ajuda" afetou-me profundamente. Ela fez com que me sentisse julgada e mal interpretada em meio à minha luta. Ela tornou meu fardo ainda mais pesado. Ela me fez sentir sozinha e isolada, imaginando com quem era seguro conversar.
Uma vez uma amiga me disse que admirava a forma como eu ficava de luto. Aparentemente, meu luto era mais uma forma de honrar a Deus do que lamentar por aqueles consumidos pela dor. A princípio, senti-me lisonjeada pela comparação positiva, porém, depois, suas palavras me perturbaram. Eu não queria ser comparada aos outros em meu luto. Não existe uma maneira "certa" de ficar de luto. Eu apenas queria a liberdade de ser honesta sobre uma futura dor sem me sentir julgada.
Quando analisamos pessoas de luto, acabamos agravando seu fardo. Cada um processa a perda de forma diferente, seja o luto por um ente querido, perda de saúde, relacionamentos perdidos ou mesmo sonhos perdidos. Dar sugestões pode parecer uma forma de julgamento e palavras ditas descuidadamente podem machucar profundamente. Podemos nos parecer com os consoladores de Jó, que continuavam indo a toda hora, falando sobre coisas que não sabiam e nem entendiam.
Respostas simples para uma dor profunda
Jó disse, como está amplamente explicado na Nova Versão Internacional: "Já ouvi muitas palavras como essas. Pobres consoladores são vocês todos! Essas palavras vãs nunca terminarão? E você, o que o leva a continuar discutindo? Bem que eu poderia falar como vocês, se estivessem no meu lugar; eu poderia condená-los com belos discursos e menear a cabeça contra vocês. Com a minha boca, porém, procuraria encorajá-los; a consolação dos meus lábios daria alívio para vocês" (Jó 16:2-5 NVI).
Jó queria que seus consoladores parassem de falar. Parem de dizer palavras vãs. Parem de criticar e julgar. Ele ansiava que eles o ouvisse. Para encorajá-lo. Para pensarem no que ele precisava em seu luto.
Eu tenho sido como os amigos de Jó por mais tempo do que consigo me lembrar. E tenho estado também no lugar de Jó. Tenho sido uma péssima consoladora e recebido um péssimo consolo. Eis o que aprendi estando em ambos os lados: quando estou passando por aflição, não quero comentários banais. Quando alguém me diz para contar minhas bênçãos, que minha situação difícil poderia ser pior, que existem órfãos morrendo de fome na África que vivem em uma situação mais difícil que a minha, eu quero gritar. É claro que tudo isso é verdade. Mas naquele momento, elas parecem irrelevantes.
Respostas simples parecem repreensões. Dizer que todas as coisas cooperam juntamente para o bem é uma verdade absoluta - e indescritivelmente preciosa - mas em um funeral parece não ser tão importante assim.
Como ampliar a dor
Aqueles de nós que tiveram suas próprias perdas podem ser os piores ofensores. É fácil esquecer da intensidade e da natureza abrangente do luto depois que se passam os anos. O luto pode ser um rolo compressor, esmagando tudo em seu caminho. Muitas vezes ficamos à sua mercê.
Algumas pessoas sentem a dor aguda do luto por anos, enquanto outras se livram rápido dela sem muito esforço. Aos olhos de muitos, aqueles que choram menos são os que têm uma fé mais forte. Cristãos animados que passam por lutas com um sorriso no rosto, que nunca parecem estar desanimados, são tidos como exemplo para os outros.
É verdade, mas minha cura pode vir não tão rápido quanto a deles. Talvez eles estejam confiando em Deus mais do que eu. Talvez sua situação seja pior do que a minha. Talvez eu esteja vivendo no passado. Mas quando meus amigos minimizam a minha luta, isso só aumenta minha dor. Eu me sinto julgada. Incompreendida. Seu menosprezo me faz querer explicar minha aflição em detalhes dolorosos, para que os outros venham a aceitar a minha luta.
A obra em andamento
Fato é, que nem sempre eu lido bem com minhas lutas. Estou destroçada. Sou uma obra em andamento. Não gosto que as coisas sejam reveladas. Posso receber algumas sugestões, mas sou frágil. Preciso de incentivo para equilibrar qualquer conselho. E geralmente preciso de graça. É difícil mostrar que sou organizada e perfeita quando a vida está me esmagando.
Mas sei que os amigos que me aconselham têm boas intenções. Eles não querem que eu fique sobrecarregada, presa às minhas lutas. Eles não querem que minhas lutam me definam. Eles querem que eu encontre alegria no presente.
Essas são metas válidas, mas ninguém deve supor que nossa percepção diminuirá a dor das pessoas. Transformar nosso sofrimento é, em última análise, a obra do Espírito Santo e não o resultado de um bom conselho. Nossa obra principal é orar.
O que é mais reconfortante
Então como devemos tratar nossos amigos de luto? Como deve ser um amigo de alguém que está passando por uma necessidade? O que devemos dizer aos nossos vizinhos que estão sofrendo?
Pela minha experiência, a coisa mais reconfortante que podemos fazer na hora é sentarmos ao seu lado e basicamente ouvir. Os amigos de Jó disseram muitas coisas danosas, mas assim que eles o viram, "os três se sentaram no chão com ele, durante sete dias e sete noites. Ninguém lhe disse uma só palavra, pois viram que o seu sofrimento era muito grande" (Jó 2:13).
Ter alguém para me ouvir quando abro meu coração me ajudou mais do que qualquer palavra dita. Eu só quero que alguém esteja lá por mim. Para lamentar comigo. Para orar comigo. Não esperando que eu tenha a teologia perfeita. Me deixando reclamar. Que bênção maravilhosa é não ser julgado por cada palavra que falo em meio ao desespero. Precisamos nos lembrar que há um mistério no sofrimento. Não compreendemos os caminhos de Deus. Os amigos de Jó pensaram que entendiam, então eles acusaram Jó injustamente por sua dor. Não existem respostas fáceis para o luto.
Diminua suas expectativas
É fácil desmotivar um amigo em dificuldade. Confie em mim, eu sei. Mas estou desafiando você, a mim, a todos nós, a diminuir nossas expectativas com relação aos nossos amigos que estão sofrendo. Vamos parar de tentar "consertá-los". Não massacre eles com teologia. Confie que Deus está trabalhando na vida deles e seja paciente enquanto eles passam pelo processo.
Ao contrário, vamos nos sentar com nossos amigos. Chorar com eles. Apoiá-los enquanto estão de luto. Eles precisam de graça para serem curados. Lembre-se, não precisamos ser um salvador para nossos amigos de luto. Eles já tem Um - e nós também.