A paixão pela supremacia de Deus — Parte 2

De Livros e Sermões Bíblicos

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English: Passion for the Supremacy of God, Part 2

© Desiring God

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Por John Piper Sobre Hedonismo Cristão
Uma Parte da série Passion 97

Tradução por Desiring God


Tabela de conteúdo

Revisão da Paixão pela Supremacia de Deus – Parte 1

Deus é o Deus centrado nele mesmo

Ontem, em uma tentativa de derreter a geleira e difundir uma paixão pela supremacia de Deus em todas as coisas para a alegria de todos os povos, procurei dizer que Deus faz tudo para a glória de seu nome. Deus magnifica a si mesmo. O coração mais apaixonado em todo o universo por Deus é o próprio coração de Deus. Esse foi o principal conceito. O tema da Conferência da Paixão 97, como compreendo, é sobre a paixão de Deus por ele mesmo. Tudo que ele faz, da criação à consumação, faz com uma visão de manifestar e sustentar a glória de seu nome.

A centralidade de Deus nele mesmo não é odiosa

O segundo conceito de ontem é que a centralidade de Deus nele mesmo não é odiosa. A razão por que não é odioso Deus exaltar a si mesmo dessa forma é devido ao fato de que conhecer a Deus e ser elevado para os louvores de Deus é o que satisfaz a alma humana. “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Salmo 16,11). Portanto, se a autoexaltação de Deus — com a extensão que podemos vê-lo pelo que ele é — satisfaz nossas almas, então, Deus é o único ser em todo o universo para quem a autoexaltação é a mais sublime virtude e a essência do amor.

Você não pode imitá-lo nesse aspecto. Mesmo que um pouco, se você se exalta para que outra pessoa o aprecie, você se torna odioso — não amável —porque a distrai do único ser que pode satisfazer a alma dela. Portanto, não podemos imitar a Deus em sua divindade. Ele é um e o único ser absolutamente incomparável em todo o universo para quem a autoexaltação é a essência e o fundamento do amor. Deve ser assim se ele é Deus.

Podemos querer que ele ame à semelhança dos humanos, fazendo os outros o centro de tudo; mas ele não pode fazer isso e ainda ser Deus. Ele é infinitamente precioso em si mesmo. Não há outro além de Deus. Por conseguinte, ele está — para expressar essa verdade claramente — comprometido em ser magnificente, glorioso, todo suficiente e autossuficiente sem qualquer necessidade de você. Esse é o fundamento da graça. Se você tentar fazer de si mesmo o centro da graça, ela cessa de ser graça. A graça centrada em Deus é a graça bíblica.

Meu prazer não está em Deus fazer-me o centro do universo. Meu prazer está em Deus ser o centro do universo para sempre e por me elevar para a sua comunhão, para vê-lo, conhecê-lo, apreciá-lo e valorizá-lo, ser satisfeito nele por todos os dias da eternidade.

Essa foi a mensagem de ontem.

A implicação da centralidade de Deus para a humanidade

Agora, hoje... se aquilo que disse até agora é verdadeiro, se aquilo que disse é bíblico, então há uma implicação impressionante para sua vida. A implicação é esta: quando deixar este lugar e retornar à sua Igreja ou aos seus campi, você deveria fazer disso sua vocação: ser tão feliz quanto puder... em Deus. Assim, meu desafio para você agora, em nome do Deus todo-poderoso é que faça disso sua vocação eterna — buscar o prazer com todo o poder que Deus eficazmente inspire em seu ser.

Meu problema na vida, e o seu, não é que você busca seu prazer quando deveria estar cumprindo seu dever. Essa não é a minha avaliação, ou a de Deus, ou a da Bíblia de seu problema. C. S. Lewis teve o conceito exato em seu sermão que transforma vida, chamado “Peso de Glória” quando afirma que nosso problema é que ficamos muito facilmente satisfeitos, não devido ao fato de buscarmos nosso prazer com muita avidez. Ele afirma que somos semelhantes às crianças brincando com areia na favela porque não podemos imaginar como seria passar as férias na praia. Nosso problema é que nos agarramos a ídolos de lata quando a realidade de ouro está diante de nós. Ficamos muito facilmente satisfeitos. O problema com o mundo não é o hedonismo. Por acaso é fracasso do hedonismo procurar por aquilo que verdadeiramente satisfaz? Esse é o meu conceito esta manhã.

E a implicação é que, se isto é verdadeiro, você deve acordar de manhã e, como George Mueller afirma, antes que ele saia, e fazer alguma coisa “Preciso ter meu coração feliz em Deus ou não serei útil para ninguém. Eu os usarei e tentarei fazer com que satisfaçam meus anseios e vazios”. Se você deseja ser uma pessoa de amor, se deseja ser liberto para entregar sua vida por outras pessoas, você precisa ter o propósito de ser feliz em Deus. É a mensagem de hoje: ficamos satisfeitos muito facilmente.

Estabelecemos prazeres pequenos, de curta duração, inadequados, e insatisfatórios que nossas capacidades para a alegria são tão atrofiadas ao ponto que tornamos o dever sem alegria a essência da virtude a fim de ocultar nossos corações transformados que não podem ser movidos por Deus. Você percebe o quanto isto é escapista? Estou em uma campanha esta manhã contra os estoicos e Immanuel Kant, o filósofo do iluminismo, que disse que o pouco que você busca seu benefício em qualquer ato moral, você diminui essa virtude. Isso não está na Bíblia… e destrói a adoração, a virtude, a coragem e a centralidade de Deus em todo aspecto. Essa filosofia eleva o homem, o virtuoso que cumpre seu dever sem ter visão alguma com respeito a Deus para satisfazer sua alma. Fora com isso! Que essa filosofia desapareça de nossos corações para sempre.

Estou em uma campanha contra o que paira no ar evangélico. Estou nessa campanha há aproximadamente 25 anos e estou nisso desde então, tentando educar minha família nisso bem como edificar uma igreja, escrever livros e tentar viver isso. Pouco a pouco, as objeções surgem. Esta é a forma como você cresce. Muitos de vocês dizem para mim que sentem como o mundo de vocês é transformado por essa conferência. Paradigmas são abalados. Revoluções copérnicas são iminentes e é dessa forma que você começa a mudar. Essa mudança pode levar 15 anos... Objeção após objeção. Em 1968, comecei a ver algumas dessas coisas com a ajuda de Dan Fuller, C. S. Lewis, Jonathan Edwards, o rei Davi, São Paulo e Jesus Cristo. E do modo como minha mente trabalha surge uma objeção depois da outra e eu me prostro, então vou para a Bíblia; choro, clamo, luto, pergunto, oro e falo. Então, gradualmente as objeções refinam a visão.

Objeções

  1. A Bíblia realmente ensina que se deve buscar sua alegria com todo seu coração, mente, alma e força. Ou isso é apenas o método homilético inteligente de João Piper de atrair atenção?
  2. Que dizer sobre abnegação? Jesus não disse: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue”?
  3. Isso não coloca muita ênfase na emoção? O cristianismo é essencialmente uma questão de vontade, por meio do qual fazemos compromissos e tomamos decisões?
  4. Que fazer com o nobre conceito de servir a Deus como um dever quando é difícil e você sente que não gosta de cumpri-lo?
  5. Isso precisamente me coloca — e não Deus — no centro das coisas?

Resposta às objeções

1. A Bíblia realmente ensina que você deve buscar sua alegria?

Minha resposta é sim, e ela o faz pelo menos de quatro maneiras:

a) Com mandamentos

Considere o Salmo 37,4: “Agrada-te do Senhor”. Isso não é uma sugestão, é um mandamento. Se você crê que o mandamento: “Não adulterarás” é algo que você deve obedecer, então você deve obedecer: “Agrada-te do Senhor”.

Ou o Salmo 32,11: “Alegrai-vos no Senhor e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de coração”, ou o Salmo 100: “Servi ao Senhor com alegria”. Isto é um mandamento: “Servi ao Senhor com alegria”! O pouco que você for indiferente e se serve ao Senhor com alegria ou não, você é indiferente em relação a Deus. Ele disse que você precisa servi-lo com alegria. Ou Filipenses 4,4: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos”.

Eles estão por toda a Bíblia. Estamos falando de mandamentos. Este é o primeiro modo como a Bíblia ensina isto.

b) Com ameaças

Jeremy Taylor certa vez disse: “Deus ameaça fazer coisas terríveis se não formos felizes”. Pensei que essa afirmação fosse brilhante quando a ouvi pela primeira vez. Mas não é brilhante... ela é uma citação de Deuteronômio 28,47: “Porquanto não serviste ao Senhor, teu Deus, com alegria e bondade de coração... Assim… servirás aos inimigos que o Senhor enviará contra ti”. Deus ameaça fazer coisas terríveis se não formos alegres nele. É uma justificativa para o hedonismo ou o quê? É uma justificativa para tornar sua vocação de vida buscar sua alegria em Deus com toda sua força?

c) Pela apresentação da fé salvadora que o torna satisfeito com tudo o que Deus representa para você em Jesus

Por exemplo, Hebreus 11,6: “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que recompensa os que o buscam”. Se você deseja agradar a Deus, precisa ter fé. Que é a fé? Aproximar-se de Deus com a profunda convicção que ele vai me recompensar por me aproximar. Se você não cresse nisto, ou se vai até Deus por qualquer outra razão, você não agrada a Deus.

Ou considere João 6,35: “Declarou-lhes, pois, Jesus: ‘Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede’”. Marque isto: aquele que crê em mim jamais terá sede. O que isso quer dizer sobre a fé? O que é fé? Fé, na teologia de João, é a vinda de Jesus para satisfação de nossas almas de tal modo que nada mais possa satisfazer. Isso é fé. Fé não é nada mais que eu caminhar. Estou apresentando o cristianismo básico em uma linguagem que não é muito familiar a você.

d) Por definir o pecado como a insanidade de desprezar a busca de seu prazer em Deus

Pecado é a insanidade de desprezar a busca de seu prazer em Deus. Aqui está o texto: Jeremias 2,12-13: “Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois males acometeram o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas rotas, que não retêm as águas”. Diga-me o que é mal? A definição de mal, que espanta o universo; que leva os anjos de Deus a dizerem: “Não! Não pode ser… o que é isso?” Contemplamos a Deus, a fonte de toda água viva que proporciona toda satisfação e dizemos: “Não, obrigado” e nos voltamos para televisão, sexo, festas, bebida, dinheiro, prestígio, uma casa nos subúrbios, férias, um novo programa de computador, e dizemos: “Sim!” Isso é insano! E faz com que todo o céu fique espantado, de acordo com Jeremias 2,12.

Nessas quatro maneiras, pelo menos, a Bíblia afirma que João Piper ensina a verdade quando diz para devotar a vida na busca de sua satisfação em Deus. Portanto, a objeção número 1 caiu.

2. O que dizer sobre a abnegação?

Jesus não disse em Marcos 8,34: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz”. A cruz é um lugar onde você morre, um lugar de execução. Ela não é uma sogra mal-humorada ou um péssimo colega de quarto, ou uma enfermidade nos seus ossos. Ela é a morte do eu. Portanto, Piper, você é um herege ao nos desafiar a buscar a satisfação de nossas almas como uma vocação de vida. Sinto isso… e então leio o restante do versículo (às vezes, é útil ler contextos): “Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa... salvá-la-á”. Qual é a lógica aqui? Qual é a lógica de Jesus nesses versículos?

A lógica é esta:

“Ó, meus discípulos, não percam suas vidas. Não percam suas vidas. Salvem suas vidas! Salvem suas vidas!”

“Como? Como Jesus?”

“Perca a vida”.

“Não compreendo isto... Não compreendo isto Jesus”.

O que desejo dizer é — meus discípulos, meus amados — percam suas vidas no sentido que vocês percam tudo, exceto eu. “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só, mas, se morrer, produz muito fruto” (João 12,24). Morra para o mundo. Morra para o prestígio, morra para a riqueza, morra para o sexo pecaminoso, morra para a trapaça usada para prosperar, morra para a necessidade de ter a aprovação das pessoas. Morra, e me tenha”.

Creio em abnegação. Negue a você o zinco para ter ouro. Negue a você a areia para permanecer na rocha. Negue a você mesmo a água salobra para ter vinho. Não há renúncia definitiva, nem Jesus jamais quis expressar isso assim. Creio na renúncia. Creio nesta palavra sobre Jesus dita pelo próprio Jesus: “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo”. Você chama isso de abnegação? Sim! Ele vendeu tudo. Ele considerou tudo como refugo e escória para que possa ganhar a Cristo.

Desse modo, sim. Isso é abnegação; e não, isso não é abnegação. Há um eu que deve ser crucificado: o eu que ama o mundo. Mas o novo eu — o eu que ama a Cristo acima de tudo e encontra sua satisfação nele —, não mate este eu. Esta é a nova criação. Farte este eu de Deus.

Ó, creio na abnegação. Creio na abnegação que o jovem rico não pôde entender, mas que Jesus ensinou naquele momento:

“Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me”. E ele não fez isso. E Jesus disse para seus discípulos: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus!”. E os discípulos ficaram absolutamente maravilhados e disseram: “Então, quem pode ser salvo?” E Jesus disse: “Para os homens é impossível. Ninguém pode ter a coragem para fazer o que eu peço com suas próprias forças. Mas para Deus”, Jesus diz, “tudo é possível”. E então Pedro começa a falar: “Eis que nós tudo deixamos e te seguimos”; que será, pois, de nós? Nós realmente nos sacrificamos. E Jesus respondeu — gostaria de saber o tom da voz dele — e disse: “Pedro, ninguém que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna. Você não pode sacrificar nada que não lhe seja recompensado mil vezes mais. Não tenha pena de si mesmo quando sua cabeça for decepada por minha causa” (veja Marcos 10,17-31).

Sim, acredito em abnegação. Acredito em negar a mim mesmo tudo que se interponha no caminho de ser satisfeito em Deus e é dessa maneira que entendo que a Bíblia deseja expressar por abnegação. Acredito que David Livingstone e Hudson Taylor — esses grandes missionários — foram absolutamente justos, aproximando-se o fim da vida deles e tendo perdido suas esposas, saúde e tudo mais, exceto uma coisa que devo dizer aos estudantes da Universidade de Cambridge e às pessoas em todo lugar: “Jamais fiz sacrifício”. Isso é justo! Sei o que eles significam e você sabe o que eles significam. E creio que Jim Elliot, que entregou sua vida quando jovem, foi absolutamente certo ao dizer: “Ninguém é tolo ao entregar o que não pode conservar para ganhar o que não pode perder”. É o que acredito a respeito de abnegação. Assim sendo, a objeção número 2 caiu.

3. Você não confere muita importância às emoções?

O cristianismo não é essencialmente decisão? Compromisso da vontade? As emoções não são apenas seguir de perto, opcionais, superficiais? Seu modo de falar sobre o cristianismo, Piper, penso, eleva as emoções para uma posição antibíblica de proeminência.

Porém, então, leio a Bíblia — é útil ler a Bíblia quando se está em um debate — e vi isto:

Recebemos o mandamento de sentir alegria: Filipenses 4,4, “Alegrai-vos no Senhor”.

Recebemos o mandamento de sentir esperança: Salmo 42,5, “Espera em Deus”.

Recebemos o mandamento de sentir temor: Lucas 12,5, “Temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno”.

Recebemos o mandamento de sentirmos paz: “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração” (Colossenses 3,15).

Recebemos a mandamento de sentir zelo: Romanos 12,11, “No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos [literalmente “ferver”] de espírito”. Isso não é opcional; não é superficial. É um mandamento. “No zelo, não sejais remissos”.

Recebemos a mandamento de sentir tristeza: Romanos 12,15, “Chorai com os que choram”. Você não tem uma opção. Você precisa chorar, e chorar com aqueles que choram.

Recebemos a mandamento de sentir desejo 1 Pedro 2,2, “Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual”. Não é uma opção. Você não pode dizer: “Bem, não posso manter meu desejo ativo o suficiente, assim sendo, como posso obedecer a esse mandamento? Isso não pode ser realmente um mandamento”. Errado! Sim, você não pode estimular esses sentimentos e desestimulá-los ao sabor de sua vontade. Não, eles são obrigações. Nisso reside nossa condição desesperadora que ouvimos a respeito na última noite.

Tudo o que digo que você é ordenado a fazer agora, você não pode fazer neste momento por força de vontade ou decisão ou compromisso. Você pode fazer isso somente por um milagre. Você não está desesperado? Isso não é algo desesperador ser informado pelo Deus todo-poderoso que você precisa fazer o que não pode? Se seu coração fosse reto, você os cumpriria. Somos depravados e recebemos o mandamento de sentir compaixão: “Sede uns para com os outros benignos, compassivos”. Você não pode dizer que perdão significa dizer: “Sinto muito”. Você precisa senti-lo.

Recebemos o mandamento de sentir gratidão. Considere uma criança na manhã de Natal que ganha um presente da avó... e o presente é um par de meias pretas! Argh! Nenhuma criança deseja ganhar meias, muito menos pretas no dia de Natal. E então você diz à criança: “Agradeça à sua avó”. E em seguida, a criança diz: “Obrigado pelas meias”. Não é o que a Bíblia fala. A criança pode fazer isso por força de vontade. Mas ela não pode sentir gratidão por essas meias por força de vontade. Nem tampouco pode sentir gratidão a Deus por sua força de vontade de acordo com o mandamento em Efésios 5,20: “Dando sempre graças por tudo”. Bem, então, estamos liquidados a menos que o Deus todo-poderoso possa agir.

Objeção número 3? Não a aceito. Não creio que enalteço as afeições, sentimentos e emoções acima do que a Bíblia o faz. Penso que reintegro esses sentimentos de uma religião humanista americana marcada pela força de vontade, o peso do cumprimento do dever e centrada na decisão que rebaixou essas afeições e sentimentos devido ao fato de que eles estão fora de nosso controle.

4. Que dizer sobre a nobre visão de servir a Deus?

Não é um dever servir a Deus? Não soa algo parecido com o serviço pela maneira como você fala do cristianismo, Piper. Não soa o mesmo que serviço zeloso, levantando-se para o desafio de cumprir a vontade de Deus quando ela é difícil.

Pelo que sei, agora, posso responder: “Vamos examinar alguns textos que moldam a metáfora do serviço”. Todas as metáforas sobre seu relacionamento com Deus, como servo, filho, filha ou amigo, têm elementos nelas que, se você os enfatizasse, seriam falsos. Elas também têm elementos nelas que, se você os ressaltasse, seriam verdadeiros. Agora, o que é falso e verdadeiro na analogia do serviço?

Os textos que ajudam a distinguir entre que é falso e verdadeiro na analogia do serviço para que não blasfeme quando servir são textos como Atos 17,25: “Deus não é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais”. Amigos, Deus não é servido. Tome cuidado. Ele não é servido como se precisasse de você e seu serviço. Ele não precisa. Ou considere um texto como Marcos 10,45: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”. Ele veio não para ser servido. Tome cuidado! Tome cuidado! Se você se encarrega de servi-lo, então traspassa o propósito de Deus! Você está perplexo assim mesmo, ou não está? Paulo chamou a si mesmo de servo do Senhor em quase toda a carta. E aqui, em Atos 17,25 e Marcos 10,45, afirma-se que Deus não é servido e o Filho do Homem não veio para ser servido. Deve haver um tipo de serviço que é um mal e um tipo de serviço que é um bem. Que serviço é um bem?

O serviço que é um bem é o que afirma 1 Pedro 4,11: “Se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado”. Deus não é servido por mãos humanas como se precisasse de alguma coisa. Você precisa encontrar uma forma de adorar, digitar artigos, ouvir palestras, dirigir o carro, trocar uma fralda, pregar um sermão de tal modo que seja sempre o recebedor. Porque é o doador quem recebe a glória e o recebedor obtém a alegria. Em qualquer momento que encontramos Atos 17,25: “Deus não é servido por mãos humanas”, [como se ele fosse um recebedor] como se de alguma coisa precisasse, blasfemamos.

Eu divulguei a ilustração ontem, para o grupo de líderes desta conferência de Mateus 6,24 sobre o serviço, onde se diz: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de se aborrecer de um e amar o outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”. Desse modo, aqui estamos falando sobre serviço. Como você serve ao dinheiro? Você não serve ao dinheiro ao satisfazer as necessidades dele. Você serve ao dinheiro por meio de uma postura de vida inflexível, com toda sua energia, tempo e esforço para obter benefício do dinheiro. Sua mente gira em torno de como fazer o investimento mais astuto, em como encontrar o melhor negócio, como investir onde os custos são baixos para ampliar o lucro no futuro e você é consumido por como se beneficiar do dinheiro, porque o dinheiro é sua fonte.

Se isso é verdade a respeito de como você serve ao dinheiro, então como você serve a Deus? É exatamente o mesmo: sua postura, como você manipula sua vida e devota energia, esforços, tempo e criatividade para se colocar sob a cachoeira da bênção contínua de Deus de modo que ele permaneça como a fonte e você o receptor vazio. Você permanece como o beneficiário, ele permanece como o benfeitor; você permanece faminto, ele permanece o pão; você permanece sedento, ele permanece a água. Você jamais cumpre a função reversa que é de Deus, o que seria uma blasfêmia. Precisamos encontrar uma maneira de servir de forma que é na força que Deus supre. Sou o último a receber quando sirvo. Do contrário, coloco Deus na posição de um beneficiário; eu me torno seu benfeitor, e agora eu sou Deus. E há muitas religiões desse tipo no mundo. Portanto, a objeção número 4 caiu.

5. Você realmente não faz de si mesmo fundamental?

“Você fala sobre a busca de sua alegria e prazer. Você fala a respeito do dever como algo mais que sempre soubemos e diz que precisamos ser zelosos com respeito ao serviço. Parece que você manobra e manipula a linguagem bíblica apenas para se tornar fundamental”. Essa seria a crítica mais devastadora de todas, ou não?

Aqui está minha resposta: “Meu casamento completará 28 anos quando o dia 21 de dezembro chegar. Amo muito a Noel. Já passamos por muitas coisas juntos, tempos difíceis realmente e, de fato, bons tempos. Vimos nossos filhos adolescentes atravessarem os anos difíceis dessa fase. Choro mais facilmente quando penso em meus filhos e minha pequena garota. Vamos supor que no dia 21 de dezembro eu fosse para casa com 28 rosas vermelhas em minhas mãos escondidas atrás de minhas costas e tocasse a campainha. Noel vem até a porta, olha um tanto confusa sobre o porquê de eu estar pressionando a campainha de minha própria casa e eu mostraria as rosas e diria: ‘Feliz aniversário, Noel’. E ela diria: ‘Johnny, elas são bonitas! Por que você...?’ E eu digo: ‘Este é meu dever’”.

Resposta errada. Vamos reprisar.

[Ding-dong]

— Feliz aniversário, Noel.

— Johnny, elas são bonitas! Por que você...?

— Nada me faz mais feliz que comprar rosas para você. De fato, por que você não troca de roupa? Eu contratei uma babá e vamos fazer algo especial esta noite, porque não há nada que faria esta noite a não ser passá-la com você.

Resposta certa.

Por quê? Porque ela não diria: “Você é o cristão mais egoísta e hedonista que jamais conheci! Tudo em que você pensa é fazer a si mesmo feliz!”. O que está acontecendo aqui? Por que o dever é a resposta errada e o prazer é a resposta certa? Você compreende?

Se você entende essa ilustração, então compreendeu o conceito e posso voltar para Minneápolis e louvar a Deus. Minha esposa é mais glorificada em mim quando sou mais satisfeito nela. Se tento mudar nosso relacionamento em um relacionamento de serviço, em um relacionamento de dever, onde o que faço não é buscar meu prazer nela, ela será menosprezada... e assim será Deus. Quando você for para o céu e o Pai olhar para você e disser: “Por que você está aqui? Por que você entregou sua vida por mim?” Seria melhor que você não dissesse: “Foi meu dever vir, porque sou cristão”. Seria melhor que você dissesse: “Para onde mais eu poderia ir? Para quem mais eu poderia ir? O Senhor é o desejo de minha alma!” E é sobre isdo que trata esta conferência. Ela é sobre duas coisas juntas na geração 268 de Isaías 26,8: é a paixão de Deus por seu nome e reputação e a paixão de meu coração para ficar satisfeito com todos os meus desejos. Essas duas paixões são coisas inabaláveis no universo. E que espero que você tenha visto que elas são uma, porque Deus e seu nome e sua reputação são mais glorificados em mim quando estou mais satisfeito nele.