Jesus é o fim do etnocentrismo
De Livros e Sermões BÃblicos
Por John Piper Sobre Harmonia Racial
Tradução por Vitor Visconti
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Domingo da harmonia racial
Lucas 4:16-30
E ele veio a Nazaré, aonde Ele foi criado; e como era de costume, entrou na sinagoga no Sábado, e levantou-se para ler. 17 E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. E quando desenrolou o livro, achou o lugar aonde estava escrito, 18 "O espírito do Senhor repousou sobre mim, porque ele me ungiu para pregar o Evangelho aos pobres. Ele me enviou para anunciar aos cativos redenção, aos cegos vistas, e a pôr em liberdade os quebrantados, 19 e proclamar o ano favorável do Senhor." 20 E ele fechou o livro, o devolveu para o assistente, e sentou-se; E quantos havia na Sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21 E Ele começou a dizer para eles, "Hoje essa Escritura foi cumprida em seus ouvidos" 22 E todos estavam falando bem Dele, se maravilhando com as graciosas palavras que saíam de Seus lábios; e eles diziam, "Não é este o filho de José?" 23 E Ele disse a eles, "Sem dúvidas vocês irão citar esse provérbio para Mim, 'Médico, cura-te a ti mesmo! Todas aquelas grandes coisas que ouvimos dizer, que fizeste em Cafarnaum, faze-as também aqui em sua pátria.'" 24 E Ele prosseguiu "Na verdade vos digo, que nenhum profeta é bem-vindo na sua pátria. 25 " Na verdade vos digo, havia tantas viúvas em Israel nos dias de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, quando uma grande fome assolou suas terras; 26 e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma mulher viúva de Sarepta de Sidônia. 27 "E havia tantos leprosos em Israel nos tempos do profeta Eliseu; e nenhum deles foi limpo, senão Naaman, da Síria." 28 E todos os que estavam na sinagoga se encheram de ira ao ouvir aquilo; 29 e levantaram-se e expulsaram-no da cidade, e conduziram-no ao topo da colina sobre a qual a cidade fora fundada, para o precipitarem. Mas ele, passando por eles, se retirou.
No último Domingo eu tentei chamar a atenção para uma visão que eu chamei de "Cultivando uma Paixão". Podemos nos tornar uma congregação unida, juntar as mãos por um sonho, e em 2002, cultivar uma igreja em outro lugar nas Cidades Gêmeas – ou mais do que isso (como em Charlotte, uma nova igreja para coincidir com a mudança da Associação Evangélica de Billy Graham para lá)? Eu a chamei de "Cultivando uma Paixão" para deixar claro que esse é um foco específico, baseado na declaração da missão de nossa igreja: Nós existimos para espalhar uma paixão pela supremacia de Deus em todas as coisas e pela alegria de todas as pessoas, através de Jesus Cristo. Mas eu deixei claro que o objetivo não é cultivar qualquer tipo de igreja. Eu a descrevi detalhadamente: Centrada em Deus, exaltadora de Cristo, baseada na Bíblia, mobilizadora de missões, conquistadora de almas, que busca justiça, etc.
Em busca da justiça
Quando usei o termo "que busca justiça," tinha em mente pelo menos duas questões: o foco desse Domingo de harmonia racial e o foco, no próximo Sábado, da santidade da vida. A justiça racial e a justiça dos vindouros são duas grandes questões vigentes em nosso país nesse início do século 21. Eu acredito que há uma relação entre uma igreja que busca justiça e uma que é centrada em Deus, exalta Cristo, e baseada na Bíblia.
Precisamos nos aproximar mais de Deus, exaltar Cristo ainda mais, e nos enriquecer com a Bíblia
Um dos motivos pelos quais a igreja evangélica – especialmente a igreja evangélica branca (até mesmo esse nome é lamentável, tanto quanto "igreja negra") – Não buscamos justiça racial e justiça pelos vindouros com tanta paixão quanto poderíamos porque não estávamos tão centrados em Deus, exaltando Cristo, e lendo a Bíblia tanto quanto pensávamos.
Quando dizemos, "Nós existimos para espalhar uma paixão pela supremacia de Deus sobre todas as coisas e pela alegria de todas as pessoas," será que realmente pensamos a fundo em como Deus se faz supremo nas relações raciais? Será que pensamos em como Cristo está sendo exaltado nas relações raciais? Nos perguntamos como a Bíblia está saturando os nossos pensamentos, sentimentos e ações em relação aos relacionamentos étnicos, questões de raça na educação, moradia, economia e a composição do corpo de Cristo? A supremacia de Deus, a glória de Cristo, e mensagem radical da Bíblia modela os nossos pensamentos, sentimentos, e atitudes em "todas as coisas e pela alegria de todas as pessoas,"?
A paralisia da imperfeição
Não pensamos em cultivar uma igreja porque chegamos, e portanto, estamos prontos para nos reproduzir. Se esperarmos pelo momento em que ousaremos fazer isso, nunca o faremos – e vocês nunca irão casar, ou ficar casados, ou conseguir o primeiro emprego ou mantê-lo, ir a missões ou ficar aqui, ou decidir ter crianças, ou começar sacerdócio. Poucas coisas paralisam mais as boas pessoas do que suas imperfeições. Que Deus levante um povo disposto a ouvir, e que aprenda a deixar de ouvir a crítica paralisante dos negativistas. Nós não planejamos plantar uma igreja porque possuímos a perfeição, mas porque temos um sonho: de que uma nova igreja, num novo lugar, com diferentes líderes, fará melhor do que nós algumas coisas que fazemos aqui, atraídos pela mesma visão Bíblica.
Viva por uma grande causa, não por um grande conforto.
Eu vejo "Cultivando um Paixão" como um cultivo pessoas que estão comprometidas a viver por uma grande causa, não por um grande conforto. Eu venho pregando sob o slogan: Ser um Cristão é ir atrás do que não é confortável. Levantar de manhã e ir dormir à noite sonhando, não em como ir atrás de mais conforto, mas como avançar em direção a uma causa centrada em Deus. "Cultivando uma paixão" significa cultivar pessoas que não se desgastam, dia e noite, perseguindo a auto preservação, exaltação e recreação, mas aqueles que perseguem algo maior do que eles mesmos, ou suas famílias, ou sua igreja.
Qual é a maior causa pela qual você vive? Nesse domingo e no próximo, pergunto, alguns de vocês estarão aqui – centenas de vocês – que dirão, "A grande causa da minha vida é engrandecer Jesus Cristo através da aproximação em Deus, leituras bíblicas, justiça racial e social para os vindouros" Que Deus se levante contra todos os egoísmos, lealdades temporárias e devoções indisciplinadas, homens e mulheres que apoiam uma grande causa, não pela adrenalina, mas sim pelo coração! A adrenalina produz um surto de energia e depois deixa o corpo. O coração continua bombeando vida para o corpo, nos bons e maus momentos, no inverno e no verão, quando estamos infelizes e felizes, fracos e fortes, doentes ou saudáveis! Que tenhamos mais Cristãos coronários pela causa da justiça, e não apenas cristãos cheios de adrenalina.
Precisamos de William Wilberforces
Quais de vocês são os Williams Wilberforce de nossos tempos? Ele era profundamente cristão, vibrantemente evangélico, e nutriu uma longa paixão pela causa da justiça racial na Inglaterra. Em 28 de Outubro de 1787, com 28 anos, escreveu em seu diário, "Deus todo poderoso colocou diante de mim dois grandes objetivos: a supressão do tráfico de escravos e a reforma moral” (John Pollock, Wilberforce, p. 69). Batalha após batalha no Parlamento, ele foi derrotado: O tráfico negreiro era de grande interesse financeiro para a nação. Mas ele nunca desistiu e nunca se sentou. Ele não era um cristão cheio de adrenalina, mas sim coronário. Em 24 de Fevereiro de 1807, às 4:00 da manhã, vinte anos depois de ter escrito em seu jornal, o voto decisivo foi lançado e o tráfico de escravos se tornou ilegal. Ainda assim, o trabalho não foi cumprido depois de 20 anos de perseverança. E a posse do escravos? Em 26 de Julho de 1833, 16 anos depois, e três dias antes dele morrer, a escravidão se tornou ilegal, na Inglaterra e em suas colônias.
Portanto, quando penso em "Cultivando uma paixão", eu penso em cultivar uma igreja para produzir esse tipo de paixão – do tipo coronário, e não cheio de adrenalina. Centrada em Deus, que exalta Cristo, baseado na Bíblia, que busca justiça, e de incansável comprometimento a uma grande causa, e não pelo conforto.
Portanto, se quisermos colocar Deus no centro, exaltar Cristo e nos enriquecer com a Bíblia. Vamos ler o Evangelho para ouvir Jesus dar um fim ao etnocentrismo. Etnocentrismo – a convicção ou o sentimento de que o meu grupo étnico deveria ser tratado como se fosse superior ou privilegiado.
Lucas 4:16 – 30: O reino é etnicamente diferente do que vocês pensam.
Nos começaremos em Lucas 4:16-30. Ali, o garoto caseiro está voltando a sua pátria, Nazaré, depois de ser reconhecido em Cafarnaum. Ele vai à sinagoga no sábado, e uma multidão surge para ouvi-lo. E o que ele faz nessa passagem é quase incrível. Ele quase incita um tumulto. E ele faz isso intencionalmente. Primeiro, lhe dão o papiro do profeta Isaías para ler, e ele escolhe o capítulo 61. É sobre a chegada do Redentor que irá libertar os oprimidos e proclamará o ano ano favorável ao Senhor (vv. 18b-19); e ele alega que ela estava sendo cumprida durante aquela audição. Verso 21: “E ele disse a eles, 'Hoje essa Escritura foi cumprida durante a sua audição “ Isso foi impressionante. Manchetes: “Garoto caseiro afirma ser o Messias.” Mas isso não iria causar um tumulto. Verso 22: “E todos falavam bem Dele, se maravilhando com as palavras graciosas que saíam de Seus lábios.” Até aqui tudo bem.
Mas vejam o que ele diz depois. Totalmente inesperado! Inexplicável, se o que você quer é ser seguido. Inexplicável se você quer apenas o crescimento de uma igreja. Ele decide contar duas estórias do Velho Testamento que vão de encontro ao rosto do etnocentrismo de sua própria cidade natal. Ele não poderia ser mais ofensivo. Ele sabe qual será a resposta deles, pois ele diz, no verso 24, "' Em verdade vos digo, nenhum profeta é bem-vindo em sua cidade natal.Em outras palavras, sim, vocês estão falando bem de mim agora (v.22) enquanto têm sua própria concepção daquilo que o Messias fará, e de como será o seu reino. Mas esperem até eu contar para vocês o que estou prestes a fazer, e como será o meu reino.
Então ele conta a estória número um. Versos 25-26, tirado de Reis 17: "'Na verdade vos digo, que nenhum profeta é bem-vindo na sua pátria. 25 " Na verdade vos digo, havia tantas viúvas em Israel nos dias de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses, quando uma grande fome assolou suas terras; 26 e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma mulher viúva de Sarepta de Sidônia.Do nada, ele conta um estória sobre Deus, que passa por todos os judeus étnicos para trazer uma miraculosa benção a um estrangeiro, um Gentil do reino da Sidônia (Fenícia). E ele faz isso abertamente, energicamente, sem suavizar ou explicar: Há muitas viúvas em Israel, e Deus abençoou um estrangeiro.
E como se isso não fosse o suficiente, ele conta uma segunda estória no verso 27 de 2 Reis 5: "E havia tantos leprosos em Israel nos tempos do profeta Eliseu; e nenhum deles foi limpo, senão Naaman, da Síria." Novamente, o que importa é: de todas as pessoas a quem Deus poderia ter curado a lepra, foi escolhido um rei estrangeiro, um sírio, e não um judeu.
Essas duas estórias não foram perdidos no etnocentrismo de Nazaré. Verso 28: ". Eles entenderam, e não gostaram. E todos os que estavam na sinagoga se encheram de ira ao ouvir aquilo; 29 e levantaram-se e expulsaram-no da cidade, e conduziram-no ao topo da colina sobre a qual a cidade fora fundada, para o precipitarem. Mas ele, passando por eles, se retirou.” Eles entenderam, e não gostaram.
Qual é o sentido dessa estória? É o seguinte: O reino que estou trazendo, diz Jesus, é etnicamente diferente daquele que vocês imaginam. O lugar escolhido como Israel não produziu humildade e compaixão, mas orgulho e desprezo. Jesus é o fim do etnocentrismo. Olhe para mim. Aprendam comigo, ele diz, eu vim para redimir o povo de todos os grupos étnicos, e não apenas de um ou poucos. Ai de vós para a sua incapacidade de ver na justiça e misericórdia de Deus o seu zelo para juntar entre todos os povos um reino de pregadores e amigos.
Mateus 8:5 -13: Fé em Jesus é a solução para as etnias
Fui muito longe em dizer "ai dessas pessoas de Nazaré"? Decidam enquanto levam em conta outra estória, dessa vez de Mateus 8:5-13. Jesus termina o sermão da Montanha em Mateus 5-7, e então, em Mateus 8:1-4, toca num leproso, a pessoa mais desprezada e marginalizada de Israel, e o cura. Então, em Mateus 8:5 ele entra em Cafarnaum e encontra o segunda tipo de pessoa mais desprezada e ofensiva – um centurião romano. É como um Marine norte-americano para um soldado do Talibã. O fato do centurião ter um certa popularidade entre os judeus (Lucas 7:3-5) é omitido por Mateus. Ele não é relevante por causa disso. O homem é um estrangeiro, não é judeu. Esse é o ponto que Mateus deixa claro.
Qual será o sentido dessa estória? O centurião implora a Jesus, "Senhor, meu servo está em minha casa, paralisado, terrivelmente atormentado." Sem a menor dúvida ou hesitação, Jesus diz, no verso 7, "Eu irei até lá e o curarei." Então o centurião diz algo que surpreende Jesus. Verso 8: "Senhor, eu não sou digno de recebê-lo em minha casa, apenas diga a palavra, e meu servo será curado. (9) Pois eu sou também um homem sujeito à autoridade, com soldados sob meu comando; e eu digo para este, 'Vá!' e ele vai, e para outro, 'Venha!' e ele virá, e ao meu escravo, 'Faça isso!' e ele o faz."
Quando Jesus ouve isso, segundo o verso 10, ele fica admirado. Então ele muda essa situação toda, que todos pensavam ser a respeito de cura, poder e autoridade, e a transforma em algo completamente diferente: uma situação sobre a composição de estrangeiros no reino, e sobre os perigos em abençoar de acordo com a identidade étnica. Verso 10b: "Em verdade vos digo, vocês nunca encontraram ninguém com tanta fé em Israel. (11) Eu vos digo que muitos virão do Leste e do Oeste..." Oeste e Leste! O que isso significa? É a Fenícia (a Faixa de Gaza), Egito, Grécia, Arábia, Pérsia (Jordão, Irã, Iraque, Afeganistão, Paquistão, Índia e China). E o que irá acontecer quando eles vierem – esses estrangeiros incircuncidados, de modos e visuais estrangeiros? Verso 11b: "... e [eles irão] sentar-se à mesa com Abraão, Isaac e Jacó no reino dos céus; (12) mas o filhos do reino serão lançados as trevas exteriores; e naquele lugar haverá lágrimas e ranger de dentes."
Isso é complemente chocante! Você precisa sentir a força disso. Aqui Jesus diz ao povo escolhido de Israel que os romanos, como esse fiel centurião, e todos os tipos de gentis impuros entrarão no reino dos céus, mas eles, o "filhos do reino," serão lançados a escuridão. Falar isso da raça escolhida é quase inédito. O que ele está dizendo? Ele está dizendo: Jesus é o fim do etnocentrismo.
Ou para colocar de uma forma mais positiva, Jesus está dizendo que com a sua vinda, surge uma nova e radical forma de definir o povo de Deus: através da fé. Fé em Jesus proclama etnias. Isso acontece muitas vezes no Evangelho:
- Na estória do bom samaritano – o estrangeiro é o herói da compaixão (Lucas 10:33).
- Na cura de dez leprosos, quando apenas um volta; e o quem é ele? Um samaritano, o estrangeiro se ilumina com humilde gratidão. (Lucas 17:16).
- A cura da filha do siro-fenício (Marcos 7:26);
- A veneração dos três reis magos do Oeste, provavelmente da Pérsia ou Arábia (Mateus 2:1)
- E finalmente, na morte e ressureição de Jesus, que ele mesmo anuncia, na parábola dos lavradores homicidas (Mateus 21:33-43). O proprietário da vinha manda seu filho para recolher as frutas de suas terras. Os seus criados o matam. Então Jesus pergunta, “O que o dono fará” O que Deus fará quando o Seu filho for rejeitado pelo povo escolhido? O verso 43 dá a resposta: “Por isso que vos declaro, que tirado vos será o reino de Deus, e será dado a um povo que faça frutos dele.”
Fé em Cristo, e não na cor
Foi isso que Martin Luther King quis expressar em seu mais famoso discurso, quando disse, "Eu tenho um sonho: de que um dia os meus quatro filhos viverão numa nação aonde não serão julgados pela cor de suas peles, mas por seu caráter."
Jesus é o fim do etnocentrismo. Fé em Cristo, e não nas cores, essa é a marca do reino. Noel e eu estávamos nos relembrando ao telefone ontem enquanto falávamos com nosso filho, Benjamim, em Chicago. Nós lembramos de Urbana, 1967. Perguntaram a Warren Webster, que estava diante de 15,000 alunos, "E se a sua filha decidir casar com um paquistanês enquanto você for ministro lá?" A sua resposta até hoje ressoa em nossos ouvidos, e o espero que o mesmo aconteça com vocês: Melhor um paquistanês pobre e cristão do que um banqueiro rico, branco e descrente. Em outras palavras, Cristo, e não a cor, é a questão. Jesus é o fim do etnocentrismo.
Se vamos cultivar uma igreja que é centrada em Deus, que exalta Cristo, e persegue a justiça, isso vai precisar acabar aqui também. E como é belo quando no final todas as tribos e raças exaltam Cristo, juntas. Ó Senhor, faça isso acontecer!