Fazer Missões Quando Morrer é Lucro

De Livros e Sermões Bíblicos

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English: Doing Missions When Dying Is Gain

© Desiring God

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Nossa Missão
Esta tradução é publicada pelo Traduções do Evangelho, um ministério que existe on-line para pregar o Evangelho através de livros e artigos disponíveis gratuitamente para todas as nações e línguas.

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Por John Piper Sobre Missões
Uma Parte da série Wheaton College

Tradução por Desiring God


Minha afirmativa de vida em missão, bem como e a declaração de missão de minha igreja é: Existimos para espalhar paixão pela soberania de Deus em todas as coisas, para a alegria de todos os povos.

Amo essa declaração por diversas razões. A Primeira é porque sei que não pode falhar. Sei que não falha porque é uma promessa. Mateus 24.14: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim”. (Espero que você saiba que “todas as nações” não signifique estados políticos, e sim, grupos de povos, agrupamentos etno-linguísticos). Podemos ter certeza absoluta de que cada uma dessas nações será penetrada pelo evangelho a ponto de podermos dizer que está presente uma testemunha compreensível e auto-propagadora.

Permita que eu lhe dê algumas razões pelas quais podemos ter certeza disso.

Tabela de conteúdo

É Certa a Promessa

A promessa é certa por diversas razões.

1. Jesus nunca mente. “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.” Foi Jesus que declarou Mateus 24.35 – não eu.

Sendo assim, essa missão em que embarcaremos juntos vai passar. Será completa, e você pode embarcar e gozar o triunfo ou pode desistir e desperdiçar sua vida. Tem apenas essas duas escolhas, pois não existe uma opção mediana que diga: “Quem sabe isso não vai acontecer e estarei do lado melhor se não subir no barco”. Isso não é o que acontece.

2. Já foi pago o resgate por essas pessoas dentre as nações. Conforme Apocalipse 5.9-10: “entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino sacerdotes; e reinarão sobre a terra.” O resgate foi pago e Deus não volta atrás no pagamento feito por seu Filho.

Amo a história dos morávios. No norte da Alemanha dois deles subiam em um barco, prestes a se venderem como escravos nas Índias Ocidentais, a fim de pregar o evangelho aos escravos e sabendo que nunca mais iriam voltar. Enquanto o barco começava a sair do porto eles levantaram as mãos dizendo: “Que o Cordeiro receba a recompensa de seu sofrimento”. Com isso, estavam dizendo que Cristo já havia comprado essas pessoas. Eles as encontrariam mediante a pregação do Evangelho indiscriminadamente, pela qual o Espírito Santo chamaria para si os que lhe pertenciam.

Sendo assim, sei que não falhará, pois a dívida de cada um do povo de Deus em todo o mundo já foi paga. As ovelhas perdidas, como Jesus as chamou, espalhadas pelo mundo todo, entrarão no aprisco à medida que o Pai as chame mediante a pregação do evangelho.

3. A glória de Deus está em jogo. Existem centenas de textos a esse respeito. Usarei apenas um para ilustrar. Romanos 15.8-9, “Digo, pois, que Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais; e para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia, como está escrito: Por isso, eu te glorificarei entre os gentios e cantarei louvores ao teu nome”. Todo o propósito da Encarnação era glorificar o Pai mediante a manifestação de sua misericórdia às nações.

A glória de Deus está em jogo na Grande Comissão. Em 1983 na de Bethlehem Baptist Church, eu e Tom Steller – meu auxiliar de muitos anos – tivemos, os dois, encontros surpreendentes com Deus. No meio da noite, Tom, não conseguia dormir, então se levantou, colocou uma música de John Michael Talbot, deitou no sofá e escutou nossa teologia traduzida em missões. Nós somos um povo que busca dar glória a Deus, mas ainda não havíamos dado sentido às missões como deveríamos. John Michael Talbot cantava a respeito da glória de Deus encher a terra como as águas cobrem o mar – e Tom chorou por uma hora.

No mesmo tempo, Deus estava movendo a mim e minha esposa Nöel a perguntar “O que poderemos fazer para tornar nosso lugar como plataforma de lançamento para missões?” Tudo contribuiu para tornar-se parte de um momento elétrico na vida de nossa igreja, fluindo por uma paixão pela glória de Deus.

4. Deus é soberano. Tempos atrás eu fazia uma série de pregações sobre o livro de Hebreus. Chegamos ao capítulo 6, que é um trecho muito difícil sobre a questão de serem ou não as pessoas cristãs quando elas se desviam ou caem. Nos versos 1-3 há uma declaração surpreendente (apenas um pedacinho da enorme evidência bíblica pela qual eu sou calvinista!) que diz: “Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito, não lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus, o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno. Isso faremos, se Deus permitir”. Quando vimos isso, um incrível silêncio caiu sobre minha congregação, pois percebemos suas implicações. “Quer dizer que talvez Deus não permita que um corpo de crentes siga em frente até atingir a maturidade?”

Deus é soberano! É soberano na igreja e também soberano entre as nações! Um testemunho disso se encontra no artigo da revista Cristianity Today que saiu há um tempo, re-contando a história de Jim Elliot, Nate Saint, Pete Flemming, Roger Youderian, e Ed McCully. Steve Saint conta como o seu pai foi atacado pelas lanças dos índios Auca no Equador. Ele relata a história após ter conhecido novos detalhes de intriga na tribo Auca que foi responsável pela matança quando essa não deveria ter acontecido, e aparentemente não teria, pois não poderia ocorrer. No entanto, aconteceu. Tendo descoberto a respeito dessa intriga, Steve escreveu esse artigo.

Quero ler uma frase que me fez voar da minha poltrona da sala. Disse ele: “Enquanto [eles, os nativos] descreviam suas lembranças, ocorreu-me como tinha sido incrivelmente improvável o assassinato naquela praia dos coqueiros. Foi uma anomalia que não pode ser explicada senão pela intervenção divina”.

“O assassinato de meu pai só pode ser explicado em termos da intervenção divina”. Você está ouvindo o que esse filho está dizendo? Deus matou o meu pai. Ele acredita nisso – e eu também.

Conforme Apocalipse 6.11, quando temos um vislumbre da sala do trono e dos mártires cujo sangue foi derramado em favor do evangelho dizendo “Até quanto, Senhor? Até quando ficará sem vingar nosso sangue?” a resposta vem prontamente: “Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram”. Deus diz: Descansem até que o número determinado esteja complete. Ele tem um número certo de mártires. Quando este número estiver complete, virá o fim.

O Preço é o Sofrimento

O Preço é o sofrimento, e a volatilização contra a igreja no mundo atual não está diminuindo. Está aumentando, especialmente entre os grupos que carecem do evangelho. Não existe um país fechado. Tal idéia é estranha – não tem raiz ou base bíblica, e teria sido incompreensível para o apóstolo Paulo, que entregou sua vida em cada cidade por onde passava. Portanto, existem mártires lendo este livro!

Estatisticamente, isso é fácil predizer. Em domingo recente, enfocamos a igreja sofredora em nosso culto. Essa Fraternidade de Missões Mundiais (World Mission Fellowship) estava envolvida, e todos assistiram vídeos ou ouviram histórias de lugares como o Sudão, onde o domínio muçulmano sistematicamente condena ao ostracismo, persegue e faz cristãos morrerem de fome, de modo que lá existam cerca 500 mártires a cada dia.

Canso de ouvir as pessoas procurando posições de emprego em minha igreja, que está situada no centro da cidade de Minneapolis. Todos nós moramos no centro da cidade e uma das primeiras perguntas que fazem é: “Meus filhos estarão seguros aqui?” E quero dizer: “Você pode fazer desta a sua décima pergunta, em vez da primeira?” Estou cansado de ouvir isso. Estou cansado de ver as prio-ridades norte-americanas. Quem prometeu que os seus filhos estariam seguros no chamado de Deus?

O grupo de Jovens com uma Missão (YWAM –Youth With A Mission1) é um grupo radical, de olhos indômitos, que amo muito. Recentemente recebi um email que dizia o seguinte:

Cento e cinquenta homens armados de machados cercaram a sede ocupada pela equipe da YWAM na Índia. A turba fora incitada por outros grupos religiosos num esforço de mandá-los para longe. Enquanto a turba pressionava, alguém em momento chave falou em favor da equipe, e resolveram dar 30 dias para que eles fossem embora. A equipe achava que não deveria ir e que sua obra ministerial na cidade estava em jogo. Puderam ver muitos frutos nessa região não alcançada anteriormente, e há grande potencial para muito mais. No passado, quando a violência rompeu entre grupos religiosos rivais, as pessoas perderam suas vidas. Orem, por favor, pedindo que nossa equipe tenha sabedoria nessa questão.

Isso é exatamente o oposto do que vejo na maior parte da América quando as pessoas resolvem o lugar de sua moradia. Não escuto, por exemplo, alguém dizendo: “Não quero sair porque fui chamado para cá e aqui é que está a necessidade”. Vocês podem se juntar a mim para reverter as prioridades do povo evangélico americano? Essas parecem estar entretecidas em nossa cultura consumista, de modo que sempre caminhamos para o conforto, para a segurança, para as facilidades, para o bem-estar, longe do estresse, longe dos problemas, e longe do perigo. Devia ser o contrário! “Quem vem após mim, que tome sua cruz e morra”!

Simplesmente não entendo! A igreja tem absorvido uma cultura consumista de conforto e abastança. Isso permeia toda a igreja, e cria pequenos ministérios e igrejas onde são realizadas coisas seguras, agradáveis, umas para com as outras. Pequenas excursões seguras são feitas para ajudar mais algumas pessoas. Mas, ah! Não vamos viver lá e não vamos morar ali, nem mesmo em certos lugares dos Estados Unidos – quanto mais na Arábia Saudita!

Estive em Amsterdã falando a outro maravilhoso grupo missionário de olhos indômitos, Fronteiras (Frontiers), dirigido por Greg Livingstone. Que grupo maravilhoso! Quinhentas pessoas sentadas diante de mim, que arriscam suas vidas diariamente entre os povos muçulmanos. Ouvi-los é impressionante! Durante a conferência, estavam recebendo emails, sobre os quais levantavam-se e liam, dizendo: “Por favor, orem por Fulano. Ontem ele foi esfaqueado no peito três vezes, e o pior é que seus filhos estavam vendo. Está no hospital em condições críticas”. Então eles explicam: “Este é um missionário ao mundo islâmico,” e passamos a orar por ele. No dia seguinte, chega outra mensagem eletrônica. Desta vez, seis irmãos no Marrocos foram presos. “Vamos orar por eles”, e assim fizemos. Foi assim durante toda a conferência, e no final, os missionários estavam prontos para retornar a seus postos.

Vocês acham que ao voltar aos Estados Unidos conseguiria ser o mesmo? Acham que conseguiria ficar à frente de minha igreja e dizer: “Vamos ter cultos agradáveis, confortáveis. Vamos ter conforto e segurança. Ora, o Gólgota não é um condomínio de Jerusalém. “Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hebreus 13.13).

O Sofrimento é também o meio

Ao dizermos que haverá mártires e sofrimento, eu ainda não disse o principal sobre o preço de realizar a obra. Isso é porque o sofrimento é o meio, e não apenas o preço. É o meio pelo qual realizamos missões.

Eis o que tenho em mente. Passo a ler um versículo muito importante: Colossenses 1.24. Alguns anos atrás, o significado dele veio como estrondo em minha vida. Eu mostrarei como.

Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja;

Paulo era uma pessoa muito estranha. “Regozijo nos meus sofrimentos por vós” é bastante contra a cultura, nada “americano”, contra aquilo que é humano. “Me alegro em meus sofrimentos por vocês, e na minha carne, faço a minha parte em favor de seu Corpo [ou seja, o ajuntamento dos eleitos de Deus] ao preencher o que resta das aflições de Cristo”. Ora, isso parece estar no limite da blasfêmia! O que quer dizer por “preencher o que resta” das aflições de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo?

Ele não está dizendo que aumenta o mérito ou valor redentor do sangue de Jesus. Não é que complete o mérito e o valor expiatório do sangue de Jesus. Não quer dizer isso. Então, o que Paulo estaria dizendo?

Digitei a palavra grega para preencher (ou completar) e a expressão o que resta em meu programa de Bíblia. Achei na Escritura apenas mais um lugar onde as duas palavras aparecem juntas. Está em Filipenses 2.30: “visto que, por causa da obra de Cristo, chegou ele às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida, para suprir a vossa carência de socorro para comigo”.

A situação é que Epafrodito foi enviado da igreja de Filipos até Paulo em Roma. Arriscou sua vida para chegar até ali, e Paulo o elogia por ter arriscado sua vida. Diz aos filipenses que eles deveriam receber tal pessoa com honra, porque esteve para morrer e arriscou seu pescoço para completar o seu ministério para com eles. Eis aqui o versículo paralelo:

Chegou ele às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida, para suprir a vossa carência de socorro para comigo.

Essas duas palavras aparecem juntas “para completar o que faltava no socorro de vocês para comigo”. Abri meu antigo (de mais de cem anos) comentário Vincent sobre Filipenses, e este faz uma explanação que, creio eu, seja uma interpretação perfeita de Colossenses 1.24. Diz Vincent:

O presente a Paulo da parte dos Filipenses foi uma dádiva da igreja como corpo. Era uma oferta de amor, dada com sacrifício. O que faltava era a apresentação pessoal desta oferta. Isso era impossível, e Paulo representa Epafrodito como tendo suprido essa falta mediante seu afetuoso e zeloso ministério.

Temos aqui um quadro de uma igreja que deseja comunicar amor enviando dinheiro até Roma, e não podem fazê-lo pessoalmente. São pessoas demais, e Roma é longe demais. Assim, dizem a Epafrodito: “Epafrodito, represente-nos e complete aquilo que falta do nosso amor. Não existe nada que falte no amor exceto a expressão pessoal dele. Leve isso com você e comunique-o a Paulo”.

Creio ser exatamente o que quer dizer Colossenses 1.24. Jesus morreu e sofreu por pessoas em todo o mundo, de todas as nações. Foi ele então sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras. Ascendeu ao céu, de onde reina sobre toda a terra. Deixou uma tarefa a ser realizada aqui.

Paulo compreendia que em sua missão faltava uma coisa nos sofrimentos de Jesus. A oferta de amor de Cristo deveria ser apresentada pessoalmente por meio de missionários aos povos por quem ele morreu. Paulo diz: “Isso eu faço. Em meus sofrimentos, eu completo o que falta nos sofrimentos de Cristo.” Quer dizer que é a intenção de Cristo que a Grande Comissão seja uma apresentação às nações dos sofrimentos de sua cruz, mediante os sofrimentos de seu povo. Acabará desta maneira. Se você quer se alistar para a Grande Comissão, para isso que estará se comprometendo.

Há alguns anos, eu estava trabalhando com Alegrem-se os Povos, e me escondi no seminário Trinity em Deerfield, Ilinois. Estava “escondido” porque não queria que ninguém soubesse onde eu estava, para que não me incomodassem. Minha esposa e meus filhos permaneceram em casa, e eu trabalhava 18 horas por dia.

Soube então que J. Oswald Sanders estaria falando na capela. Ele contava oitenta e nove anos. Era um veterano e grandíssimo líder de missões. Perguntei com meus botões: “Será que devo aparecer em público e arriscar ter de conversar com um monte de gente, ser convidado para jantar e essas coisas todas, impedindo-me de terminar o meu trabalho?” Mas, queria muito ouvi-lo, e assim, fui ouvi-lo às escondidas no fundo da capela. Esse homem idoso ficou ali em pé, e eu estava cheio de admiração, desejoso de que, quando eu tivesse 89 anos, fosse como ele. Relatou uma história que personifica muito bem Colossenses 1.24.

Disse que certa vez havia na Índia um evangelista que caminhava pelas estradas em diversos vilarejos, pregando o evangelho. Era homem simples, sem estudo, disposto a entregar sua vida por ele, que amava Jesus de todo coração. Chegou em um vilarejo que não tinha o evangelho. Era o final do dia e ele estava exausto, mas entrou na cidadezinha e ergueu sua voz para compartilhar o evangelho com os que estavam na praça. Eles zombaram, ridicularizaram-no e o expulsaram do vilarejo. Tão cansado estava – sem mais recursos emocionais – que se deitou sob uma árvore, em desânimo total. Dormiu sem saber se acordaria na manhã seguinte. Pelo que ele sabia, poderiam até mesmo matá-lo.

Quando acabara de escurecer, de repente, ele despertou e deu um pulo. Parecia que todo mundo do vilarejo estava ao seu redor, olhando para ele. Ele pensou que, na certa, esses homens o matariam. Começou a tremer, e um dos maiorais da vila disse: “Viemos ver que tipo de homem você é, e quando vimos os seus pés cheios de bolhas, soubemos que é um homem santo. Queremos que nos diga por que você ficou com os pés machucados só para falar conosco”. Ele pregou-lhes o evangelho e, conforme disse J. Oswald Sanders, todos do vilarejo creram. É a isso que Paulo está se referindo com a afirmativa: “Completo em meus sofrimentos o que falta das aflições de Jesus.”

Tenho mais um pequeno parêntese sobre J. Oswald Sanders. Aos 89 anos ele disse: “Tenho escrito um livro por ano desde meus setenta anos”. Dezoito livros depois dos setenta! Existem pessoas em minha igreja e por toda a América que desistem da vida aos 65, morrendo em um campo de golfe no estado de Nevada, quando deveriam estar entregando suas vidas lá entre os muçulmanos, como fez Raymond Lull.

Raymond Lull foi grande estudioso de línguas orientais, missionário aos muçulmanos do Século XII, que se aposentou e voltou para a Itália. Por algum tempo continuou sua vida acadêmica, mas eventualmente desistiu, perguntando: “O que é que estou fazendo? Vou morrer aqui na Itália. Por que não atravessar o Mediterrâneo para morrer na Argélia?” E então, sabendo que a pregação pública lhe custaria sua vida, entrou em um navio, contando ele mais de oitenta anos de idade, e atravessou o Mediterrâneo. Permaneceu incógnito enquanto encorajava a igreja, e decidiu que esse tempo seria tão propício quanto qualquer outro. Assim, ele se levantou para pregar, e aqueles o mataram. Que jeito de deixar a vida!

Atentem, especialmente aqueles que estão na casa dos sessenta anos. Falo comigo mesmo, pois, quando você é idoso não tem nada a perder com o martírio, e ainda consegue descontos nas passagens.

Por que deveríamos pensar que trabalhar quarenta ou cinquenta anos signifique que poderemos brincar e jogar nos últimos quinze anos antes de nos encontrar com o Rei? Não entendo. São apenas mentiras de nossos tempos. Somos fortes aos 65 e somos fortes aos 70. Lembro-me quando minha mãe foi morta, meu pai quase morreu também, em um acidente de ônibus em Israel. Eu o peguei dez dias depois – ele e o corpo de minha mãe viajando na ambulância, e o tempo todo, de Atlanta a Greenville, ele estava ali deitado, com as costas abertas porque seus ferimentos eram tão sérios que não puderam suturá-los. Ele ficava dizendo: “Deus deve ter um propósito para minha vida. Certamente, Deus tem um propósito para mim!”

Os próximos 30 anos de vida de meu pai foram de um ministério profícuo! Quando ele tinha quase 80 anos, trabalhava pelas nações mais que nunca antes. Preparava lições em Easley, na Carolina do Sul, incluindo algumas gravações. Essas iam para 60 nações, com cerca de 10,000 pessoas vindo à fé em Jesus a cada ano, porque Deus poupou a vida de meu pai naquele acidente e fez com que ele não acreditasse que deveria se aposentar.

O Prêmio Satisfaz

Agora o ultimo ponto: Como amamos desse modo? Onde obtemos tal dedicação? Estamos prontos para isso? Acha que tem dentro de você o que precisa para suportar isso?

Leia a Historia de Missões Cristãs (A History of Christian Missions) de Stephen Neill. Ele descreve o que aconteceu no Japão quando o evangelho foi até lá nos anos de 1500. O imperador passou a acreditar que a incursão da fé cristã em sua esfera religiosa era de tal forma uma ameaça que teriam de dar um fim nela. Ele acabou com ela com incrível brutalidade! Foi o fim da igreja no Japão. Não tenho dúvidas que a dureza e dificuldade no Japão de hoje é em grande parte devida ao gigantesco (se bem que temporário) triunfo do diabo no começo dos anos 1600.

Vinte e sete jesuítas, quinze frades e cinco sacerdotes seculares conseguiram escapar da ordem de serem banidos. Os primeiros martírios de europeus ocorreram somente em abril de 1617 , quando um jesuíta e um franciscano foram decapitados em Omura, e um dominicano e um agostiniano um pouco mais tarde na mesma região. Foi praticada toda espécie de crueldade sobre as vítimas dessa perseguição. A crucificação foi geralmente o método empregado no caso de cristãos japoneses. Em uma ocasião, 70 japoneses em Yedo foram crucificados de cabeça para baixo quando a maré estava baixa, e ainda morreram afogados quando a maré subiu e os cobriu.

Chorei ao ler esse relato, pois tenho uma imaginação suficientemente boa para imaginar a água subindo enquanto sua esposa está num de seus lados e seu filho de dezesseis anos do outro.

Você está pronto? Acha que tem essa garra dentro de você? Não tem. Ninguém tem esse tipo de desenvoltura em si mesmo. Onde vai conseguir? É com isso que quero terminar.

Você conseguirá ao crer nas promessas de Deus. Meu texto predileto sobre como obter os recursos para viver assim está em Hebreus 10.32-34.

Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores, em que, depois de iluminados, sustentastes grande luta e sofrimentos; ora expostos como em espetáculo, tanto de opróbrio quanto de tribulações, ora tornando-vos co-participantes com aqueles que desse modo foram tratados.

Ora, deixe-me parar um pouco aqui para mostrar a situação como a vejo. Nos primórdios da igreja surgiu a perseguição. Alguns sofreram direta e publicamente, enquanto outros foram contemplados com compaixão. Alguns estavam presos e outros foram visitá-los. Assim, eles foram forçados a decidir. Naquela época, os que estavam presos provavelmente dependiam dos outros para comida e água e quaisquer cuidados físicos que precisassem, mas isso significava que seus amigos e vizinhos teriam de identificar-se publicamente para ajudá-los. É um negócio arriscado quando alguém foi preso por ser cristão. Aqueles que ainda estavam livres ficaram escondidos por algumas horas, perguntando “O que vamos fazer?” Talvez alguma pessoa tenha dito: “O Salmo 63.3 expressa que “a tua graça é melhor do que a vida”. O firme amor do Senhor é melhor do que a vida – então, vamos em frente!”

Se Martinho Lutero estivesse ali, teria falado:

Se temos de perder

Família, bens, prazer,

Se tudo se acabar,

E a morte enfim chegar,

Com ele reinaremos!

Vamos em frente! 2

Foi exatamente o que fizeram. Leiamos o resto da história. O versículo 34: “Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável”.

Não precisamos muita imaginação para entender o que aconteceu. Não sei precisamente de todos os detalhes, mas ocorreu o seguinte: Eles tiveram compaixão dos prisioneiros, e então foram assisti-los e ajudá-los. Suas propriedades – casas, carruagens, cavalos, mulas, banquetas de marcenaria, cadeiras – qualquer coisa que tivessem – foram tomados pela turba e incendiados, ou talvez apenas saqueados e jogados na rua por gente com enormes facões. Quando olharam por cima dos ombros o estrago que acontecia, eles regozijaram.

Ora, se essa não for a sua atitude – quando alguém a quem você está tentando ministrar destrói o seu computador ou você vai de carro até a favela e eles quebram o pára-brisa do seu carro, roubam o rádio ou furam os pneus – se você não for assim, também não será bom candidato ao martírio. A pergunta é: “Como poderemos ser assim?” Eu quero ser assim. É por isso que amo este trecho!

Não sou exemplo perfeito disso, mas quero aprender a ser assim, para quando uma pedra vir voando pela janela da minha cozinha – como já aconteceu duas vezes no passado – esmigalhando o vidro, e a esposa e os filhos caem no chão sem saber se foi uma bala ou uma granada – quero poder dizer: “Esse não é um ótimo bairro em que morar?” Aqui é que estão as necessidades. Vê aqueles cinco rapazes adolescentes que acabaram de passar de carro? Eles precisam de Jesus. Se eu sair daqui, quem vai falar-lhes de Jesus?

Quando seu filhinho é empurrado da bicicleta e eles a tomam e saem correndo, quero poder tomá-lo no colo quando está chorando e dizer: “Meu filho, isso é ser missionário. Isso é preparação para o campo de missões! É formidável!”

Dei uma mensagem baseada em Colossenses 1.24 em Pensacola, na Florida, anos atrás. Meu filho Abraão, na época com 16 anos, estava junto e ouviu-me dizer grande parte do que estou dizendo hoje sobre essa espécie de sofrimento peso-pesado. Entrando no carro para voltar para casa, minha esposa perguntou a Abraão: “Bem, o que você acha que Deus estava fazendo ali?” Ele respondeu: “Vou comprar uma passagem só de ida para o país mais difícil do mundo”. Só isso. Bati a cabeça no teto do carro. Puxa! Isso é grande!

Ainda não cheguei ao ponto principal do texto. Como é que eles tinham condições de se alegrar com o saquear de seus bens e o risco de morte por que passavam? Agora entendi: “tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável”. É isso que chamo de fé na graça futura.

Se você for cristão, Deus está oferecendo-lhe promessas indescritivelmente maravilhosas. “Não te deixarei nem te desampararei”. Portanto, poderá dizer em confiança: ‹“O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem? (Hebreus 13.5-6) Bem, na verdade, o homem pode nos matar. Mas isso não seria derrota, porque sabemos o que diz Romanos 8.36-39:

Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Sendo assim, nada, no fim, poderá nos prejudicar. Lembre o que Jesus disse em Lucas 21. 12-21: “lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres... Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça.”. É como Romanos 8. Tudo – incluindo a morte – contribui juntamente para o nosso bem. Quando você morre, você não perece. Morrer é lucro. Fazer missões até morrer é lucro. É a vida mais grandiosa do mundo.

Oro, portanto, para que você venha comigo e abandone o a vida de segurança, mil facilidades e conforto, para uma alternativa de retirada, afastada, de vazio. Deixe isso tudo para trás e una-se a esse movimento incrivelmente poderoso. Existem cristãos de toda parte do mundo prontos a entregar suas vidas por amor de Cristo. Convido-o a fazer o mesmo.


1 Acessado em setembro de 2011: http://www.ywam.org/

2 Hino Castelo Forte, número 155 do Hinário Novo Cântico.