Deus lhe deu suas memórias
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Edição actual tal como 14h37min de 12 de dezembro de 2019
Por Kathryn Butler Sobre Santificação e Crescimento
Tradução por Marcia Brando
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Encontrando propósito no passado
A memória nos prende a lugares que nos esqueceram, e a momentos que ninguém valoriza.
Esse tipo de pensamento me assombrou recentemente, enquanto eu folheava uma revista da faculdade. Uma olhada naquelas familiares flores de laranjeira ao longo do rio Hudson, despertou memórias que me tomaram como uma onda. Pude ver novamente as sombras que as luzes dos postes faziam pelas trilhas do parque Riverside. Pude sentir a esperança pelo futuro crescer no meu peito, como ela tinha quando eu me maravilhei com as centenas de pessoas cujos passos tinham precedido meus próprios naquelas mesmas trilhas, a história deles pousando naquele pavimento, antes de desaparecerem no amanhã.
Eu agora conto minha própria história entre as esquecidas. O parque permanece, e aquelas árvores ainda florescem. Aquele rio ainda corre agitado, passando pelo concreto empilhado da cidade ao horizonte. Mas minhas passadas não se ouvem mais lá. Posso descrever cada árvore e avenida de cabeça, mas se eu retornar, serei mais uma mãe turista com crianças inquietas em seus braços, e suas impetuosas e vibrantes memórias invisíveis àqueles que passam.
A cidade que me moldou se agita, indiferente à minha existência.
Quando as memórias vão e voltam
Quando olhamos o passado buscando nossa identidade, tais memórias podem trazer um perturbador senso de deslocamento. Memórias deixam fortes impressões, mas raramente podem preservar a vibração do seu impacto inicial. Os prédios que lembramos viram ruínas. Professores que estimamos se encurvam com a idade. As cargas da vida deixam todos humildes, mesmo enquanto ansiamos revisitar queridos momentos, e reclamar sonhos abandonados. F. Scott Fitzgerald expressou isso de forma comovente em O Grande Gatsby: “E assim prosseguimos, barcos contra a corrente, empurrados incessantemente de volta ao passado.”
Como Jay Gatsby, com que frequência corremos atrás de alegrias perdidas que fugiram de nós? Com que frequência minamos nossas memórias para permanecer e encontrar sentido, somente para descobrir que nosso passado é tão efêmero quanto nós? Assim como nossos corpos secam e quebram, os lugares, as pessoas e as coisas que prezamos também se vão.
Agarrar-se ao passado nos deixa vazios, quando esquecemos aquele que inspira nossos momentos com algo significante. A memória não foi feita apenas para vagarmos de forma privada em sombras esquecidas, mas também para nos lembrar quem Deus é, e o que ele fez por nós. Quando fazemos uma jornada nessas memórias, cultivamos um entendimento de nossa identidade que é muito mais do que nostalgia melancólica.
O que nunca deveria ser esquecido
A importância crucial da lembrança se repete em toda a Bíblia. No horizonte de sua própria morte, Moisés suplica ao povo do qual ele foi pastor por quarenta anos para que “apenas tenham cuidado! Tenham muito cuidado para que vocês nunca se esqueçam das coisas que os seus olhos viram; conservem-nas por toda a sua vida na memória.” (Deuteronômio 4:9)
O apelo de Moisés fala de suas próprias memórias: ele testemunhou a idolatria na qual seu povo se afundou quando esqueceram o cuidado de Deus por eles no deserto. Deus os libertou da escravidão, abriu o mar para eles, proveu comida dos céus e água da pedra. Ainda assim, tão distraída é a mente humana, e tão arraigada à nossa tendência ao pecado, que logo eles esqueceram o firme amor de Deus e colocaram a esperança deles em coisas forjadas por suas próprias mãos (Êxodo 32:3-4). Quando esquecemos Deus, tropeçamos para fora do caminho que ele encontrou para nós. Quando nos lembramos dele, nossa resposta natural é louvar.
Lembrar, como adoração, não apenas glorifica a Deus, mas também dá vida quando lutamos com aflição. Em Salmos 77, Asafe lamenta: “Irá o Senhor rejeitar-nos para sempre? Jamais tornará a mostrar-nos o seu favor? Desapareceu para sempre o seu amor?” (Salmos 77:7-8) No meio da sua inquietação, Asafe obtém segurança em sua memória da provisão de Deus: “Então pensei: A razão da minha dor é que a mão direita do Altíssimo não age mais. Recordarei os feitos do Senhor; recordarei os teus antigos milagres.” (Salmos 77:10-11)
Quando ele se lembra de Deus abrindo o Mar Vermelho, a lamentação de Asafe se torna um louvor: “Teus caminhos, ó Deus, são santos. Que deus é tão grande como o nosso Deus? Tu és o Deus que realiza milagres; mostras o teu poder entre os povos. Com o teu braço forte resgataste o teu povo, os descendentes de Jacó e de José.” (Salmos 77:13-15). Nossas memórias dos feitos de Deus, então, oferecem esperança, um barco bem-vindo em mares turbulentos.
Caminhando pelas cerejeiras
Aquela esperança se manifesta mais gloriosamente quando nos lembramos da cruz. A Ceia do Senhor nos aponta para a graça de Deus e o amor por nós em Cristo, com o próprio Jesus nos instruindo a partir o pão e o vinho:
“Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: “Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim” (Lucas 22:19)O calendário da igreja, a liturgia e as tradições que marcam o ano da igreja, servem como poderosos lembretes do que Deus fez, e de quem somos em Cristo.
Mas a responsabilidade de lembrar não é somente algo institucional. A súplica de Moisés chegou a todos os Israelitas. Jesus ensinou sobre a refeição, na companhia dos seus mais chegados. Conforme cada um de nós considera nosso passado, nos também somos individualmente chamados a lembrar de Deus. Seu caráter. Sua provisão. Sua maravilhosa provisão na Bíblia, e também pelos tortuosos caminhos de nossas próprias vidas. Quando vemos nossas memórias pelas lentes do evangelho, vemos a graça de Deus trabalhando, revelada em momentos que de repente tomam nova profundidade, entendimento, e nuances que excedem as limitadas capacidades de nossos sentidos.
Quando considero aquelas trilhas no parque Riverside, me lembro que naquele momento da vida eu estava “morta em minhas transgressões e pecados” nos quais eu andava (Efésios 2:1-2). “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia,” me deu a vida em Cristo (Efésios 2:4-5). Enquanto eu perseguia coisas desse mundo, perdida em meus pecados, Deus me viu, e me perseguiu. Enquanto eu vagava atrás de pessoas que tinham trilhado esses caminhos antes de mim, Ele estava caminhando comigo, sua história já escrita carinhosamente antes da fundação do mundo. E até quando eu não sabia como honrá-lo, ele me abençoou, rodeando minha vida com cerejeiras, e me dando um futuro com ele.