Crepúsculo dos Ídolos
De Livros e Sermões BÃblicos
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Edição actual tal como 14h51min de 14 de outubro de 2019
Por R.C. Sproul
Sobre Verdade
Uma Parte da série Right Now Counts Forever
Tradução por Ana Norte
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O filósofo do século XIX Friedrich Nietzsche é famoso pela frase “Deus está morto.” Essa pequena frase não conta toda a história. De acordo com Nietzsche, a causa da morte da Divindade foi a compaixão. Ele disse, “Deus está morto; Ele morreu por compaixão.”. Mas antes do Deus da religião judaico-cristã morrer, Nietzsche disse que existiam várias divindades, como aquelas que moravam no Monte Olímpio. Isto é, em uma certa época havia uma pluralidade de deuses. Os outros deuses morreram quando um dia o Deus Judeu, Yahweh, levantou-se na assembleia e disse, “Não terá outros deuses além de mim.” Com isso, e de acordo com o resumo satírico de Nietzsche, os outros deuses e deusas morreram. Eles morreram pelo riso.
Nos dias de hoje, em que o pluralismo reina em nossa cultura, há tanto uma hostilidade satírica na ideia de haver um Deus quanto na frase de Nietzsche. Mas hoje o asco pelo monoteísmo não é motivo de risada. Na cultura do pluralismo, a virtude de um chefe é a tolerância, que é a noção de que todas as religiões e visões políticas devem ser toleradas. A única coisa que não pode ser tolerada é a exclusividade. Existe uma antipatia inerente ao pedido de exclusividade. Dizer que existe um Deus é repulsivo aos pluralistas. Dizer que um Deus não se mostrou durante a história em uma infinidade de avatares é também repugnante. Um único Deus que gerou um único Filho é uma divindade que insulta por dizer ter um único Filho. Não pode haver apenas um Mediador entre o homem e Deus. Deve haver muitos de acordo com os pluralistas. É também um lugar-comum entre os pluralistas que se há um caminho para Deus, deve haver vários caminhos para Deus, e apenas um caminho não pode ser aceito. Os dogmas sobre exclusividade em termos de Deus, Cristo e salvação não podem coexistir em paz para os pluralistas.
Além da questão da existência de Deus e de Seu Filho e o caminho único para a salvação, há também a rejeição de qualquer meio para a revelação divina. Na época da Reforma, os chamados solas da Reforma eram invocados. Diziam que a justificação era apenas pela fé (sola fide), apenas por Cristo (solus Christus), apenas pela graça (sola gratia) e apenas pela glória de Deus (soli Deo gloria). Mas talvez o mais repugnante para os pluralistas modernos é a exclusividade da sola Scriptura. A ideia da sola Scriptura é que há apenas uma fonte escrita da revelação divina, e que ela nunca pode ser colocada em pé de igualdade com declarações confessionais, credos e tradições da igreja. Apenas a Escritura tem a autoridade de unir a consciência precisamente porque apenas a Escritura é a revelação escrita do todo-poderoso Deus. As implicações da sola Scriptura para o pluralismo são muitas. Sobretudo esta: ela carrega uma negação fundamental ao caráter revelatório de todos os outros livros religiosos. Um defensor da sola Scriptura não acredita que a Palavra revelada de Deus é encontrada na Bíblia e no Livro de Mórmon, na Bíblia e no Corã, na Bíblia e nos Upanixades, na Bíblia e no Bhagavad Gita; ao invés disso, a fé Cristã apoia-se na afirmação exclusiva de que a Bíblia e apenas a Bíblia é a palavra escrita de Deus.
O lema dos Estados Unidos é “e pluribus unum” (A partir de muitos, um). Porém, com a ascensão da ideologia do pluralismo, o “unum” real do lema foi retirado de seu propósito. O que move o pluralismo é o antecedente filosófico do relativismo. Toda a verdade é relativa, portanto, nenhuma ideia ou fonte tem algum tipo de supremacia. Existe no nosso sistema de leis a ideia de tolerância igualitária sob a lei de todas as religiões. É um pequeno passo do pensamento das pessoas que vai da tolerância sob a lei à validação igualitária. O princípio de que todas as religiões devem ser tratadas igualmente sob a lei e ter direitos iguais não significa que com isso todas as religiões são válidas. Até uma análise comparativa das religiões do mundo mostra pontos radicais de contradição entre elas, e a não ser que alguém esteja preparado para afirmar a verdade dessas contradições, esse tipo de pressuposto falacioso não tem como ser adotado.
Tristemente, com a filosofia do relativismo e a filosofia do pluralismo, a ciência da lógica não importa. A lógica é levada à porta e firmemente expulsa da casa para a rua. Não há espaço para a lógica em qualquer sistema pluralista e relativista. De fato, é errôneo chamar isso de sistema, porque a ideia de uma visão consistente e coerente da verdade é inaceitável para o pluralista. O fato de pessoas rejeitarem dogmas exclusivistas não invalida essas afirmações. É a missão do Cristão ser firme na singularidade de Deus e de Seu Cristo e não ceder aos defensores do pluralismo.