A raiva é essencial
De Livros e Sermões BÃblicos
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Edição actual tal como 17h27min de 13 de agosto de 2014
Por Paul Tripp Sobre Ministério Pastoral
Tradução por Vitor Visconti
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Num mundo que é terrivelmente devastado pelo pecado, aonde nada funciona de acordo com o que foi planejado, e onde o mal muitas vezes tem influências mais imediatas do que o bem, seria errado não ficar furioso. Como é possível ver a pobreza de perto sem ficar furioso? Como é possível levar em conta o surgimento da AIDS sem ficar furioso? Como é possível ver a corrupção na política, que faz do governo um lugar mas propício para os poderes pessoais do que para a proteção da sociedade, sem ficar furioso? Como é possível ver a taxa de divórcios na cultura Ocidental, ou a prevalência da violência doméstica, sem ficar furioso? Como é possível levar em conta o grande número de pessoas desabrigadas que perambulam por nossas ruas sem ficar furioso? Como é possível levar em conta a confusão de identidades e impropriedades sexuais que nos rodeiam sem ficar furioso?
Como é possível dar atenção ao estado das nossas instituições educacionais, da arte, e do entretenimento popular sem ficar furioso? Como é possível dar atenção para o estado da igreja, que parece muitas vezes ter perdido seu caminho, sem ficar furioso? Como é possível dar atenção para sua própria vida, família e o seu círculo de amigos sem ficar furioso – assim o pecado distorce e complica cada local, relacionamento e situação de sua vida – sem ficar furioso? Na vida e ministério, a fúria justificada não é apenas importante, é vital.
Como é possível dar atenção as doenças, à guerra, à devastação ambiental sem ficar furioso? Como é possível viver com o fato de que nada no nosso mundo é exatamente como deveria ser, sem ficar furioso? Você não pode simplesmente olhar para o mundo com os olhos da verdade e com o coração comprometido ao que Deus diz ser bom e justo, e não ficar furioso com o estado das coisas nesse mundo decaído. No seu ministério, como é possível pode dar atenção, diariamente, ao dano que o pecado infligiu as pessoas a sua volta sem se enfurecer? Num mundo decaído, a raiva é uma coisa boa. Num mundo decaído, a raiva é uma coisa construtiva. Num mundo decaído, a raiva é essencial. Isto é, se a raiva for sobre algo maior do que você.
Os motivos justos
Num mundo decaído, pessoas de caráter e consciência sempre estarão furiosas. Ficar furioso pelos motivos errados talvez não seja o único problema: não ficamos furiosos o suficiente pelos motivos corretos. As coisas que deveriam nos deixar furiosos, e portanto, deveriam nos mover em direção a ação, não nos deixam mais furiosos; talvez seja esse o problema. Então nos acostumamos a corrupção política, à falta de moradia, a moral perversa da indústria de entretenimento, ao número de famílias desestruturadas à nossa volta, as reportagens diárias de sofrimento e doenças que contagiam todos os continentes do globo, ao fato de que a igreja muitas vezes é um local de concílio e divisão, a nossa própria complacência e hipocrisia, as tensões conjugais e rebelião infantil, a um mundo devastado pelo pecado. Até mesmo os pastores se acalmam para dormir. Mesmo com vidas comprometidas ao ministério, nós somos todos facilmente saciados. Coisas que deveriam nos afligir, preocupar e nos perturbar tornam-se as coisas que não veremos mais ou as quais nos acostumamos.
Nós aprendemos a contornar os problemas como se eles praticamente não estivessem presentes. Aprendemos a arte de negociar os campos minados. O fato de que a vida está devastada se torna uma parte comum de nossas vidas, e simplesmente não nos incomoda mais. Nós desenvolvemos a triste capacidade de não nos importar mais com as coisas que deveriam partir nossos corações e nos irritar. Nós perdemos nossa vantagem moral e nem mesmo percebemos isso. As coisas que Deus diz não serem boas se tornam boas para nós. Nós perdemos nossa habilidade e comprometimento de sermos bons e furiosos ao mesmo tempo. Acabamos aceitando o inaceitável, e convivendo com o que deveria ser insuportável. Nós paramos de lutar com a raiva justa e aprendemos a lidar com uma injusta complacência, e quando o fazemos, não somos fiéis ao radical e transmutador poder do chamado do Evangelho de Jesus Cristo.
A raiva justificada não opcional. É um chamado para as pessoas que alegam viver por algo maior do que suas próprias felicidades, que estão comprometidas ao ministério e que professam fazer o que é correto, verdadeiro, amoroso e bom. Você não pode ser como Deus e ser livre da raiva enquanto viver num mundo devastado pelo pecado. Essa raiva justa faz com que você ame a graça de Deus e faça tudo que puder para proclamar essa graça para os outros, sabendo que apenas ela tem o poder de consertar todas as coisas que legitimamente lhe irritam todos os dias.