Irmãos, Vamos Interrogar o Texto

De Livros e Sermões Bíblicos

(Diferença entre edições)
(Automated: copied from main site)
Linha 1: Linha 1:
-
{{grab|Brothers, Let Us Query the Text/pt}}
+
{{ info | Brothers, Let Us Query the Text}}
 +
 
 +
Se a Bíblia é coerente, então entender a Bíblia significa compreender a forma como as coisas se ajustam mutuamente. Tornar-se um teólogo da Bíblia significa ver cada vez mais peças que se ajustam mutuamente num glorioso mosaico da divina vontade. E praticar exegese significa interrogar o texto sobre a forma como muitas proposições são coerentes na mente do autor.
 +
 
 +
Se nós vamos alimentar o nosso povo, devemos sempre avançar no nosso entendimento de verdade bíblica. E para avançarmos no nosso entendimento da verdade bíblica, devemos preocupar-nos pelas afirmações bíblicas.
 +
 
 +
Deve incomodar-nos que Jaime e Paulo não parecem escarnecer. Apenas quando estamos perturbados e aborrecidos é que pensamos muito. E se nós não pensarmos muito sobre a forma como as afirmações bíblicas se ajustam mutuamente, nunca iremos penetrar na sua raiz comum nem descobrir a beleza da verdade divina unificada. O resultado final é que a nossa leitura da Bíblia se tornará insípida, iremos ficar fascinados pela “literatura secundária”, os nossos sermões serão como o trabalho duvidoso de “vendedores em segunda mão” e as pessoas terão fome.
 +
 
 +
“Nós nunca pensamos até sermos confrontados com um problema”, afirmou John Dewey. Ele estava certo. E é por isso que nós nunca pensamos muito sobre a verdade bíblica antes de sermos perturbados com a sua complexidade.
 +
 
 +
Devemos adquirir o hábito de estarmos sistematicamente perturbados por coisas que, ao primeiro olhar, não fazem sentido. Ou, colocando de outra forma, devemos interrogar o texto sem cessar. Uma das maiores honras que recebi enquanto ensinava em Bethel foi quando os assistentes de ensino no departamento da Bíblia me deram uma T-shirt com as iniciais de Jonathan Edwards na frente com as seguintes palavras nas costas: “Fazer perguntas é a chave para o entendimento.”
 +
 
 +
Mas existem algumas forças fortes que se opõem à nossa interrogação incansável e sistemática de textos bíblicos. Uma dessas forças é aquela que consome muito tempo e energia numa pequena porção das Escrituras. Fomos ensinados na escola (de forma muito errónea) que existe uma correlação directa entre ler muito e aquisição de conhecimento. Mas na verdade não existe correlação positiva nenhuma entre a quantidade de páginas lidas e a qualidade de conhecimento adquirido. Muito pelo contrário.
 +
 
 +
Excepto no que se refere a poucos génios, o conhecimento diminui à medida que tentamos ler cada vez mais. O conhecimento ou entendimento é o produto de meditação intensiva, que produz dores de cabeça, sobre dois ou três versículos e sobre a forma como eles se ajustam mutuamente. Este tipo de reflexão e meditação é provocado quando interrogamos o texto. E você não pode fazer isso com pressa. Portanto, devemos resistir à pressa enganadora de esculpir com detalhes a nossa arma bibliográfica. Demore duas horas a fazer dez perguntas a Gálatas 2:20 e você vai ganhar cem vezes a compreensão que teria obtido depois de ler 30 páginas do Novo Testamento ou qualquer outro livro. Vá devagar. Interrogue. Pondere. Rumine.
 +
 
 +
Uma outra razão pela qual é difícil gastar horas a experimentar as raízes da coerência consiste em que é hoje fundamentalmente pouco popular sistematizar e procurar a harmonia e unidade. Esta busca nobre tornou-se difícil porque tem sido descoberta tanta harmonia artificial por defensores impacientes e nervosos da Bíblia.
 +
 
 +
Mas se a mente de Deus é verdadeiramente coerente e não confusa, então a exegese deve pretender ver a coerência da revelação bíblica e a unidade profunda da divina verdade. A não ser que nos dediquemos para sempre à superfície das coisas (satisfeitos por descobrirmos “tensões” e “dificuldades”) então devemos resistir a modas atomizadas (e basicamente anti-intelectuais) no estabelecimento teológico contemporâneo. Existe muito descrédito de erros passados e muito pouca construção em andamento.
 +
 
 +
Uma terceira força que se opõe ao esforço de interrogar a Bíblia é o seguinte: Fazer perguntas é o mesmo que colocar problemas e nós temos sido desencorajados durante toda a nossa vida de encontrarmos problemas no Livro Sagrado de Deus.
 +
 
 +
É impossível respeitar muito a Bíblia, mas é muito possível respeitá-la de forma errada. Se nós não perguntarmos seriamente como é que textos diferentes se ajustam mutuamente, então somos ou super-humanos (e olhamos toda a verdade num relance) ou indiferentes (e não nos incomodamos em conhecermos melhor a verdade).
 +
 
 +
Mas eu não considero que alguém que seja indiferente ou super-humano possa ter um respeito adequado pela Bíblia. Portanto, a reverência pela Palavra de Deus exige que nós façamos perguntas e coloquemos problemas que nós acreditemos que existem respostas e soluções que irão recompensar o nosso trabalho com “tesouros novos e antigos” (Mat. 13:52).
 +
Devemos treinar o nosso povo que não é irreverente ver dificuldades no texto bíblico e pensar muito sobre a forma como elas podem ser resolvidas.
 +
 
 +
Eu não acuso o meu irmão de 6 anos, Benjamim, de irreverência quando ele não consegue perceber o sentido de um versículo da Bíblia e me faz perguntas sobre isso. Ele começou agora a aprender a ler. Mas será que as nossas capacidades de ler são perfeitas? Algum de nós pode compreender a leitura da lógica de um parágrafo e ver a forma como cada parte se relaciona com todas as outras e a forma como todas se ajustam mutuamente para fazer um ponto unificado? Muito menos o pensamento de uma epístola inteira, quanto mais o Novo Testamento ou a Bíblia! Se nós nos preocuparmos com a verdade, devemos interrogar incansavelmente o texto e adquirir o hábito de nos incomodarmos com as coisas que lemos.
 +
 
 +
Isto é apenas o contrário de irreverência. É aquilo que fazemos se imploramos a mente de Cristo. Nada nos envia mais profundamente aos conselhos de Deus do que vermos aparentes discrepâncias teológicas na Bíblia e pensarmos sobre elas dia e noite até que se ajustem num sistema emergente de verdade unificada. Por exemplo, há um ano lutei durante dias sobre a forma como Paulo conseguiu afirmar por um lado, “Não sinta ansiedade sobre nada” (Phil. 4:5) mas por outro lado dizer (com aparente impunidade) que a sua “ansiedade por todas as igrejas” era uma pressão diária sobre ele (2 Cor. 11:28). Como conseguiu ele afirmar “Regozije-se sempre” (1 Thess. 5:16), e “Chore com aqueles que choram” (Rom. 12:15)? Como conseguiu ele dizer para agradecermos “sempre e por tudo” (Eph. 5:20) e depois admitir “Tenho uma grande pena e uma angústia incessante no meu coração” (Rom. 9:2)?
 +
 
 +
Mais recentemente perguntei O que significa aquilo que Jesus disse em Mateus 5:39 para dar a outra face quando lhe batessem, mas disse em Mateus 10:23, “Quando eles te perseguirem numa cidade, foge ...”? Quando você foge e quando suporta as dificuldades e oferece a outra face? Também tenho pensado em que sentido é verdade que Deus é “lento em zangar-se” (Ex. 34:6) e em que sentido “A Sua ira é rapidamente acesa” (Ps. 2:11).
 +
 
 +
Existem centenas e centenas de discrepâncias deste tipo nas Sagradas Escrituras e nós desonramos o texto quando não as vemos e quando não as analisamos. Deus não é um Deus de confusão. A sua língua não é bifurcada. Existem resoluções profundas e maravilhosas para todos os problemas. Ele tem-nos chamado para uma infinidade de descobertas de modo que todas as manhãs durante as eras vindouras nós devemos irromper em novas canções de glorificação.
 +
 
 +
Em 2 Timóteo 2:7 Paulo dá-nos uma ordem e uma promessa. Ele ordenou, “Pensem no que eu digo.” E ele prometeu, “Deus te dará compreensão de tudo.
 +
 
 +
Como é que se ajustam mutuamente a ordem e a promessa? O título “para” dá a resposta. “Pensem .... porque Deus irá recompensá-lo pela sua compreensão.”
 +
 
 +
A promessa não é feita a todos. É feita para aqueles que pensam. E nós não pensamos até sermos confrontados com um problema. Por isso, irmãos, vamos interrogar o texto.

Edição tal como às 18h35min de 21 de agosto de 2009

Recursos relacionados
Mais Por John Piper
Índice de Autores
Mais Sobre Ministério Pastoral
Índice de Tópicos
Recurso da Semana
Todas as semanas nós enviamos um novo recurso de autores como John Piper, R.C. Sproul, Mark Dever, e Charles Spurgeon. Inscreva-se aqui—Grátis. RSS.

Sobre esta tradução
English: Brothers, Let Us Query the Text

© Desiring God

Partilhar este
Nossa Missão
Esta tradução é publicada pelo Traduções do Evangelho, um ministério que existe on-line para pregar o Evangelho através de livros e artigos disponíveis gratuitamente para todas as nações e línguas.

Saber mais (English).
Como podes Ajudar
Se você fala Inglês bem, você pode ser voluntário conosco como tradutor.

Saber mais (English).

Por John Piper Sobre Ministério Pastoral

Tradução por Gertrudes Mendonca


Se a Bíblia é coerente, então entender a Bíblia significa compreender a forma como as coisas se ajustam mutuamente. Tornar-se um teólogo da Bíblia significa ver cada vez mais peças que se ajustam mutuamente num glorioso mosaico da divina vontade. E praticar exegese significa interrogar o texto sobre a forma como muitas proposições são coerentes na mente do autor.

Se nós vamos alimentar o nosso povo, devemos sempre avançar no nosso entendimento de verdade bíblica. E para avançarmos no nosso entendimento da verdade bíblica, devemos preocupar-nos pelas afirmações bíblicas.

Deve incomodar-nos que Jaime e Paulo não parecem escarnecer. Apenas quando estamos perturbados e aborrecidos é que pensamos muito. E se nós não pensarmos muito sobre a forma como as afirmações bíblicas se ajustam mutuamente, nunca iremos penetrar na sua raiz comum nem descobrir a beleza da verdade divina unificada. O resultado final é que a nossa leitura da Bíblia se tornará insípida, iremos ficar fascinados pela “literatura secundária”, os nossos sermões serão como o trabalho duvidoso de “vendedores em segunda mão” e as pessoas terão fome.

“Nós nunca pensamos até sermos confrontados com um problema”, afirmou John Dewey. Ele estava certo. E é por isso que nós nunca pensamos muito sobre a verdade bíblica antes de sermos perturbados com a sua complexidade.

Devemos adquirir o hábito de estarmos sistematicamente perturbados por coisas que, ao primeiro olhar, não fazem sentido. Ou, colocando de outra forma, devemos interrogar o texto sem cessar. Uma das maiores honras que recebi enquanto ensinava em Bethel foi quando os assistentes de ensino no departamento da Bíblia me deram uma T-shirt com as iniciais de Jonathan Edwards na frente com as seguintes palavras nas costas: “Fazer perguntas é a chave para o entendimento.”

Mas existem algumas forças fortes que se opõem à nossa interrogação incansável e sistemática de textos bíblicos. Uma dessas forças é aquela que consome muito tempo e energia numa pequena porção das Escrituras. Fomos ensinados na escola (de forma muito errónea) que existe uma correlação directa entre ler muito e aquisição de conhecimento. Mas na verdade não existe correlação positiva nenhuma entre a quantidade de páginas lidas e a qualidade de conhecimento adquirido. Muito pelo contrário.

Excepto no que se refere a poucos génios, o conhecimento diminui à medida que tentamos ler cada vez mais. O conhecimento ou entendimento é o produto de meditação intensiva, que produz dores de cabeça, sobre dois ou três versículos e sobre a forma como eles se ajustam mutuamente. Este tipo de reflexão e meditação é provocado quando interrogamos o texto. E você não pode fazer isso com pressa. Portanto, devemos resistir à pressa enganadora de esculpir com detalhes a nossa arma bibliográfica. Demore duas horas a fazer dez perguntas a Gálatas 2:20 e você vai ganhar cem vezes a compreensão que teria obtido depois de ler 30 páginas do Novo Testamento ou qualquer outro livro. Vá devagar. Interrogue. Pondere. Rumine.

Uma outra razão pela qual é difícil gastar horas a experimentar as raízes da coerência consiste em que é hoje fundamentalmente pouco popular sistematizar e procurar a harmonia e unidade. Esta busca nobre tornou-se difícil porque tem sido descoberta tanta harmonia artificial por defensores impacientes e nervosos da Bíblia.

Mas se a mente de Deus é verdadeiramente coerente e não confusa, então a exegese deve pretender ver a coerência da revelação bíblica e a unidade profunda da divina verdade. A não ser que nos dediquemos para sempre à superfície das coisas (satisfeitos por descobrirmos “tensões” e “dificuldades”) então devemos resistir a modas atomizadas (e basicamente anti-intelectuais) no estabelecimento teológico contemporâneo. Existe muito descrédito de erros passados e muito pouca construção em andamento.

Uma terceira força que se opõe ao esforço de interrogar a Bíblia é o seguinte: Fazer perguntas é o mesmo que colocar problemas e nós temos sido desencorajados durante toda a nossa vida de encontrarmos problemas no Livro Sagrado de Deus.

É impossível respeitar muito a Bíblia, mas é muito possível respeitá-la de forma errada. Se nós não perguntarmos seriamente como é que textos diferentes se ajustam mutuamente, então somos ou super-humanos (e olhamos toda a verdade num relance) ou indiferentes (e não nos incomodamos em conhecermos melhor a verdade).

Mas eu não considero que alguém que seja indiferente ou super-humano possa ter um respeito adequado pela Bíblia. Portanto, a reverência pela Palavra de Deus exige que nós façamos perguntas e coloquemos problemas que nós acreditemos que existem respostas e soluções que irão recompensar o nosso trabalho com “tesouros novos e antigos” (Mat. 13:52). Devemos treinar o nosso povo que não é irreverente ver dificuldades no texto bíblico e pensar muito sobre a forma como elas podem ser resolvidas.

Eu não acuso o meu irmão de 6 anos, Benjamim, de irreverência quando ele não consegue perceber o sentido de um versículo da Bíblia e me faz perguntas sobre isso. Ele começou agora a aprender a ler. Mas será que as nossas capacidades de ler são perfeitas? Algum de nós pode compreender a leitura da lógica de um parágrafo e ver a forma como cada parte se relaciona com todas as outras e a forma como todas se ajustam mutuamente para fazer um ponto unificado? Muito menos o pensamento de uma epístola inteira, quanto mais o Novo Testamento ou a Bíblia! Se nós nos preocuparmos com a verdade, devemos interrogar incansavelmente o texto e adquirir o hábito de nos incomodarmos com as coisas que lemos.

Isto é apenas o contrário de irreverência. É aquilo que fazemos se imploramos a mente de Cristo. Nada nos envia mais profundamente aos conselhos de Deus do que vermos aparentes discrepâncias teológicas na Bíblia e pensarmos sobre elas dia e noite até que se ajustem num sistema emergente de verdade unificada. Por exemplo, há um ano lutei durante dias sobre a forma como Paulo conseguiu afirmar por um lado, “Não sinta ansiedade sobre nada” (Phil. 4:5) mas por outro lado dizer (com aparente impunidade) que a sua “ansiedade por todas as igrejas” era uma pressão diária sobre ele (2 Cor. 11:28). Como conseguiu ele afirmar “Regozije-se sempre” (1 Thess. 5:16), e “Chore com aqueles que choram” (Rom. 12:15)? Como conseguiu ele dizer para agradecermos “sempre e por tudo” (Eph. 5:20) e depois admitir “Tenho uma grande pena e uma angústia incessante no meu coração” (Rom. 9:2)?

Mais recentemente perguntei O que significa aquilo que Jesus disse em Mateus 5:39 para dar a outra face quando lhe batessem, mas disse em Mateus 10:23, “Quando eles te perseguirem numa cidade, foge ...”? Quando você foge e quando suporta as dificuldades e oferece a outra face? Também tenho pensado em que sentido é verdade que Deus é “lento em zangar-se” (Ex. 34:6) e em que sentido “A Sua ira é rapidamente acesa” (Ps. 2:11).

Existem centenas e centenas de discrepâncias deste tipo nas Sagradas Escrituras e nós desonramos o texto quando não as vemos e quando não as analisamos. Deus não é um Deus de confusão. A sua língua não é bifurcada. Existem resoluções profundas e maravilhosas para todos os problemas. Ele tem-nos chamado para uma infinidade de descobertas de modo que todas as manhãs durante as eras vindouras nós devemos irromper em novas canções de glorificação.

Em 2 Timóteo 2:7 Paulo dá-nos uma ordem e uma promessa. Ele ordenou, “Pensem no que eu digo.” E ele prometeu, “Deus te dará compreensão de tudo.

Como é que se ajustam mutuamente a ordem e a promessa? O título “para” dá a resposta. “Pensem .... porque Deus irá recompensá-lo pela sua compreensão.”

A promessa não é feita a todos. É feita para aqueles que pensam. E nós não pensamos até sermos confrontados com um problema. Por isso, irmãos, vamos interrogar o texto.