Deixe Para Trás o Cansaço da Amargura
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- | + | </p><p>As engrenagens da justiça divina às vezes giram devagar — tão devagar que podemos sequer percebê-las girando durante nossa curta passagem pela Terra. De fato, passamos até a nos perguntar se elas estão realmente estão girando. | |
- | As engrenagens da justiça divina às vezes giram devagar — tão devagar que podemos sequer percebê-las girando durante nossa curta passagem pela Terra. De fato, passamos até a nos perguntar se elas estão realmente estão girando. | + | </p><p>Asafe escreveu: “Certamente Deus é bom para Israel, para os puros de coração. Porém. . .” (Salmos 73:1–2 NTLH). Porém o quê? Porém, Asafe tinha dificuldades de acreditar nisso. Sua teologia bíblica e sua história o diziam que Deus é bom e justo, porém ao olhar para o funcionamento das coisas no mundo "real" à sua volta, Asafe enxergava uma narrativa diferente. |
- | + | </p><p>Ele via os impíos prosperando e aparentemente conseguindo evitar as dificuldades que afligem a maior parte da humanidade (Salmos 73:3-5). Ele os via oprimir violentamente outras pessoas enquanto Deus não parecia mover sequer um dedo a fim de pará-los ou de proteger os oprimidos (Salmos 73:6–8). Ele os via blasfemar contra Deus, do alto de suas riquezas, aparentemente impunes (Salmos 73:9–12). Assim como acontece com muitos cristãos que sofrem nos dias de hoje, ele testemunhava a prosperidade dos ímpios. | |
- | Asafe escreveu: “Certamente Deus é bom para Israel, para os puros de coração. Porém. . .” (Salmos 73:1–2). Porém o quê? Porém, Asafe tinha dificuldades de acreditar nisso. Sua teologia bíblica e sua história o diziam que Deus é bom e justo, porém ao olhar para o funcionamento das coisas no mundo "real" à sua volta, Asafe enxergava uma narrativa diferente. | + | </p> |
- | + | <h4>Duro Com Aqueles à Quem Ele Ama?</h4> | |
- | Ele via os impíos prosperando e aparentemente conseguindo evitar as dificuldades que afligem a maior parte da humanidade (Salmos 73:3-5). Ele os via oprimir violentamente outras pessoas enquanto Deus não parecia mover sequer um dedo a fim de pará-los ou de proteger os oprimidos (Salmos 73:6–8). Ele os via blasfemar contra Deus, do alto de suas riquezas, aparentemente impunes (Salmos 73:9–12). Assim como acontece com muitos cristãos que sofrem nos dias de hoje, ele testemunhava a prosperidade dos ímpios. | + | <p>Ao mesmo tempo, quando olhava para sua própria experiência, Asafe se perguntava porque era tão difícil para ele manter seu coração puro e suas mãos inocentes. Ele dizia: "Sou afligido, e todas as manhãs sou castigado [por Deus]" (Salmos 73:13-14). Como entender isso? |
- | + | </p><p>Duro com aqueles que o amam e aparentemente suave com aqueles que o odeiam. Não parece justo. Os pés de Asafe. . . "quase tropeçaram" ao questionar se Deus era <i>verdadeiramente</i> bom para Israel (Salmos 73:2). Assim como Teresa de Ávila supostamente o fez, Asafe poderia ter dito: “Se é assim que tratas teus amigos, então é por isso que tens tão poucos deles!” | |
- | + | </p><p>Por isso nos afeiçoamos a Asafe — por ele parecer ser um velho amigo que compreende. Ele entende a difícil experiência de viver em um mundo onde a justiça parece estar invertida. | |
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- | Ao mesmo tempo, quando olhava para sua própria experiência, Asafe se perguntava porque era tão difícil para ele manter seu coração puro e suas mãos inocentes. Ele dizia: "Sou afligido, e todas as manhãs sou castigado [por Deus]" (Salmos 73:13-14). Como entender isso? | + | <h4>Onde Nasce a Raiz de Amargura</h4> |
- | + | <p>No fundo, sabemos que Deus não aprova essa inversão. O fato de a humanidade compartilhar um imenso consenso a respeito do que é justo e do que é injusto atesta o que o próprio Deus considera justo e injusto. Filósofos chamam isso de “Lei Moral”. Teólogos a chamam de Lei de Deus que está gravada nos corações (Romanos 2:15–16). Até mesmo o injusto atesta em favor desta realidade ao tentar desesperadamente esconder seus atos (ou racionalizá-los quando tem seu poder removido e se vê obrigado a pagar por suas ações). | |
- | Duro com aqueles que o amam e aparentemente suave com aqueles que o odeiam. Não parece justo. Os pés de Asafe. . . "quase tropeçaram" ao questionar se Deus era | + | </p><p>Porém, quando eles não são obrigados a prestar contas, quando continuam pondo em prática a injustiça e a maldade de seus corações sem que Deus intervenha, somos nós quem tentamos entender tal situação. E assim como Asafe, podemos achar tudo isso "muito difícil" (Salmos 73:16). Passamos a sentir inveja e ficamos com o coração amargurado (Salmos 73:21). |
- | + | </p><p>O maior perigo é este: a indignação que sentimos ante as injustiças — que é realmente o que <i>devemos</i> sentir nessas situações — pode fazer com que nossa alma fique ressentida com Deus, com sua aparente displicência e falta de disposição para agir contra a injustiça. Isso faz com que nos tornemos insensatos e ignorantes (Salmos 73:22), nos levando a se afastar de Deus (Hebreus 3:12) ou a distorcer sua palavra ao alegar que ela diz algo que não diz, pois, nossa falta de fé torna essas situações insuportáveis. Uma das coisas que mais nos leva a distorcer as escrituras é o problema que temos com o mal e com a dor que ele pode causar a nós ou àqueles que amamos. Isso é uma raiz produtora de veneno amargo (Deuterômio 29:18) que exclui muitos da graça, como nos alerta o escritor de Hebreus (Hebreus 12:15). | |
- | Por isso nos afeiçoamos a Asafe — por ele parecer ser um velho amigo que compreende. Ele entende a difícil experiência de viver em um mundo onde a justiça parece estar invertida. | + | </p> |
- | + | <h4>Conselho Para a Alma Amargurada</h4> | |
- | + | <p>O que fazer quando, assim como Asafe, nosso coração estiver amargurado e sentirmos que a inveja de nosso íntimo está nos fazendo questionar se Deus realmente vê, ou se importa, ou se realmente está no controle, ou se realmente existe? O remédio que Deus nos dá contra a insensata ignorância da descrença é simples, porém profundo e penetrante: | |
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- | No fundo, sabemos que Deus não aprova essa inversão. O fato de a humanidade compartilhar um imenso consenso a respeito do que é justo e do que é injusto atesta o que o próprio Deus considera justo e injusto. Filósofos chamam isso de “Lei Moral”. Teólogos a chamam de Lei de Deus que está gravada nos corações (Romanos 2:15–16). Até mesmo o injusto atesta em favor desta realidade ao tentar desesperadamente esconder seus atos (ou racionalizá-los quando tem seu poder removido e se vê obrigado a pagar por suas ações). | + | <dl><dd>Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas. Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema o Senhor e evite o mal. Isso lhe dará saúde ao corpo e vigor aos ossos. (Provérbios 3:5–8) |
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- | Porém, quando eles não são obrigados a prestar contas, quando continuam pondo em prática a injustiça e a maldade de seus corações sem que Deus intervenha, somos nós quem tentamos entender tal situação. E assim como Asafe, podemos achar tudo isso "muito difícil" (Salmos 73:16). Passamos a sentir inveja e ficamos com o coração amargurado (Salmos 73:21). | + | <p>Isso pode parecer trivial e clichê em momentos que queremos de Deus <i>respostas</i> — e mais urgente ainda, <i>atitudes</i>! Mas isso não é um clichê. A bíblia inteira é sobre isso. A bíblia é o livro da justiça de Deus. Tudo ali é sobre a justiça divina — sobre como Deus conserta todas as coisas e acerta as contas com cada agente moral, visível ou invisível, que algum dia perpetuou alguma injustiça por menor que fosse. Nada passará batido, pois Deus "não deixa o pecado sem punição” (Números 14:18) e cumpre sua santa e justa lei— da qual nossa consciência dá testemunho. |
- | + | </p><p>Para alcançar este fim, Deus trabalha com um calendário muito longo — enquanto nossas vidas são extremamente curtas. Podemos até não enxergar o ponteiro da justiça se movimentando muito durante o tempo que temos debaixo do sol. Isso não significa que Deus não está se movimentando de forma incansável e terrível em direção à inevitável destruição do mal. | |
- | O maior perigo é este: a indignação que sentimos ante as injustiças — que é realmente o que | + | </p><p>Devemos confiar nele de todo coração ao invés de nos apoiarmos em nossa perspectiva limitada e em nosso entendimento do mundo "real". Se há algo que a catástrofe do Éden nos ensina, é que não somos bem equipados para lidar com o conhecimento do bem e do mal. A amargura da alma descrita por Asafe é um aviso de que é hora de devolver o fruto a Deus, antes que ele gere algo venenoso e amargo dentro de nós. |
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- | + | <h4>Como Deus Trata Seus Amigos</h4> | |
- | + | <p>Se os acontecimentos da cruz de Jesus nos ensinam algo, é que Deus não tolera a injustiça e que ele está, de fato, disposto a ir à extremos que sequer imaginamos a fim de acertar as contas. Na cruz, o legítimo desejo divino de se livrar dos injustos se encontra com seu também legítimo desejo de perdoar aqueles injustos que se arrependeram e de viver em paz com eles (Salmos 85:10). É o momento milagroso no qual o justo Juíz toma sobre si nossa injustiça, pagando por ela o valor integral, para que assim pudéssemos nos tornar sua justiça (2 Coríntios 5:21). É o lugar onde Deus se torna a justiça e o justificador dos injustos que depositam sua fé completa em Jesus (Romanos 3:26). | |
- | O que fazer quando, assim como Asafe, nosso coração estiver amargurado e sentirmos que a inveja de nosso íntimo está nos fazendo questionar se Deus realmente vê, ou se importa, ou se realmente está no controle, ou se realmente existe? O remédio que Deus nos dá contra a insensata ignorância da descrença é simples, porém profundo e penetrante: | + | </p><p>É assim que Deus trata seus amigos: ele dá seu único filho, para que eles tenham vida eterna (João 3:16). |
- | + | </p><p>Foi este Deus - assim como a lembrança de suas misericórdias prenunciadas na velha aliança - que Asafe contemplou ao entrar no santuário (Salmos 73:17). Foi aí que sua perspectiva a respeito da justiça mudou. Ele pôde enxergar o longo fim da curta vida daqueles ímpios não arrependidos. Deus não estava desatento ou inativo enquanto eles audaciosamente oprimiam e blasfemavam. | |
- | + | </p><p>Certamente os pões em terreno escorregadio e os fazes cair na ruína. Como são destruídos de repente, completamente tomados de pavor! São como um sonho que se vai quando acordamos; quando te levantares, Senhor, tu os farás desaparecer. (Salmos 73:18–20) | |
- | + | </p><p>Ele enxergou misericórdia quando foi "afligido e castigado", pois foi justamente esta disciplina que fez com que ele não se desviasse (Provérbios 3:11–12; Salmos 119:67). Também viu que se aproximava o julgamento para aqueles que não deixassem que a bondade de Deus os guiasse ao arrependimento (Roman0s 2:4). Ele lembrou que suas curtas aflições tinham um propósito a longo prazo: "Tu me diriges com o teu conselho, e depois me receberás com honras" (Salmos 73:24), a mesma esperança manifestada pelo apóstolo Paulo (2 Coríntios 4:17). | |
- | Isso pode parecer trivial e clichê em momentos que queremos de Deus | + | </p> |
- | + | <h4>Como Se Livrar da Amargura</h4> | |
- | Para alcançar este fim, Deus trabalha com um calendário muito longo — enquanto nossas vidas são extremamente curtas. Podemos até não enxergar o ponteiro da justiça se movimentando muito durante o tempo que temos debaixo do sol. Isso não significa que Deus não está se movimentando de forma incansável e terrível em direção à inevitável destruição do mal. | + | <p>Quando Asafe abriu mão da difícil tarefa de tentar entender porque Deus deixa a injustiça e o mal persistirem e passou a focar apenas em confiar em Deus de todo o coração, a amargura o deixou. Ao experimentar a cura e o refrigério, ele cantou: |
- | + | </p><p>A quem tenho nos céus senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti. O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força do meu coração e a minha herança para sempre. (Salmos 73:25–26) | |
- | Devemos confiar nele de todo coração ao invés de nos apoiarmos em nossa perspectiva limitada e em nosso entendimento do mundo "real". Se há algo que a catástrofe do Éden nos ensina, é que não somos bem equipados para lidar com o conhecimento do bem e do mal. A amargura da alma descrita por Asafe é um aviso de que é hora de devolver o fruto a Deus, antes que ele gere algo venenoso e amargo dentro de nós. | + | </p><p>Assim, se tivermos ouvidos para ouvir, nos afeiçoaremos também a Deus. Ele é nosso mais velho e futuro amigo, <i>que compreende</i> o quão difícil pode ser para nós ter de aturar o mal enquanto ele "faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade" (Efésios 1:11). Pois foi sua compaixão que o moveu a inspirar essas palavras em nosso amigo Asafe, e a certificar-se de que a canção do cínico regatado fosse preservada no cânone, para que assim pudéssemos encontrar ajuda para nos resgatar de nossa própria alma amargurada. |
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- | Se os acontecimentos da cruz de Jesus nos ensinam algo, é que Deus não tolera a injustiça e que ele está, de fato, disposto a ir à extremos que sequer imaginamos a fim de acertar as contas. Na cruz, o legítimo desejo divino de se livrar dos injustos se encontra com seu também legítimo desejo de perdoar aqueles injustos que se arrependeram e de viver em paz com eles (Salmos 85:10). É o momento milagroso no qual o justo Juíz toma sobre si nossa injustiça, pagando por ela o valor integral, para que assim pudéssemos nos tornar sua justiça (2 Coríntios 5:21). É o lugar onde Deus se torna a justiça e o justificador dos injustos que depositam sua fé completa em Jesus (Romanos 3:26). | + | |
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- | É assim que Deus trata seus amigos: ele dá seu único filho, para que eles tenham vida eterna (João 3:16). | + | |
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- | Foi este Deus - assim como a lembrança de suas misericórdias prenunciadas na velha aliança - que Asafe contemplou ao entrar no santuário (Salmos 73:17). Foi aí que sua perspectiva a respeito da justiça mudou. Ele pôde enxergar o longo fim da curta vida daqueles ímpios não arrependidos. Deus não estava desatento ou inativo enquanto eles audaciosamente oprimiam e blasfemavam. | + | |
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- | Certamente os pões em terreno escorregadio e os fazes cair na ruína. Como são destruídos de repente, completamente tomados de pavor! São como um sonho que se vai quando acordamos; quando te levantares, Senhor, tu os farás desaparecer. (Salmos 73:18–20) | + | |
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- | Ele enxergou misericórdia quando foi "afligido e castigado", pois foi justamente esta disciplina que fez com que ele não se desviasse (Provérbios 3:11–12; Salmos 119:67). Também viu que se aproximava o julgamento para aqueles que não deixassem que a bondade de Deus os guiasse ao arrependimento (Roman0s 2:4). Ele lembrou que suas curtas aflições tinham um propósito a longo prazo: "Tu me diriges com o teu conselho, e depois me receberás com honras" (Salmos 73:24), a mesma esperança manifestada pelo apóstolo Paulo (2 Coríntios 4:17). | + | |
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- | A quem tenho nos céus senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti. O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força do meu coração e a minha herança para sempre. (Salmos 73:25–26) | + | |
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- | Assim, se tivermos ouvidos para ouvir, nos afeiçoaremos também a Deus. Ele é nosso mais velho e futuro amigo, | + |
Edição actual tal como 20h28min de 10 de outubro de 2019
Tradução por Jaianny Apolinario
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Por Jon Bloom
Sobre Santificação e Crescimento
As engrenagens da justiça divina às vezes giram devagar — tão devagar que podemos sequer percebê-las girando durante nossa curta passagem pela Terra. De fato, passamos até a nos perguntar se elas estão realmente estão girando.
Asafe escreveu: “Certamente Deus é bom para Israel, para os puros de coração. Porém. . .” (Salmos 73:1–2 NTLH). Porém o quê? Porém, Asafe tinha dificuldades de acreditar nisso. Sua teologia bíblica e sua história o diziam que Deus é bom e justo, porém ao olhar para o funcionamento das coisas no mundo "real" à sua volta, Asafe enxergava uma narrativa diferente.
Ele via os impíos prosperando e aparentemente conseguindo evitar as dificuldades que afligem a maior parte da humanidade (Salmos 73:3-5). Ele os via oprimir violentamente outras pessoas enquanto Deus não parecia mover sequer um dedo a fim de pará-los ou de proteger os oprimidos (Salmos 73:6–8). Ele os via blasfemar contra Deus, do alto de suas riquezas, aparentemente impunes (Salmos 73:9–12). Assim como acontece com muitos cristãos que sofrem nos dias de hoje, ele testemunhava a prosperidade dos ímpios.
Tabela de conteúdo |
Duro Com Aqueles à Quem Ele Ama?
Ao mesmo tempo, quando olhava para sua própria experiência, Asafe se perguntava porque era tão difícil para ele manter seu coração puro e suas mãos inocentes. Ele dizia: "Sou afligido, e todas as manhãs sou castigado [por Deus]" (Salmos 73:13-14). Como entender isso?
Duro com aqueles que o amam e aparentemente suave com aqueles que o odeiam. Não parece justo. Os pés de Asafe. . . "quase tropeçaram" ao questionar se Deus era verdadeiramente bom para Israel (Salmos 73:2). Assim como Teresa de Ávila supostamente o fez, Asafe poderia ter dito: “Se é assim que tratas teus amigos, então é por isso que tens tão poucos deles!”
Por isso nos afeiçoamos a Asafe — por ele parecer ser um velho amigo que compreende. Ele entende a difícil experiência de viver em um mundo onde a justiça parece estar invertida.
Onde Nasce a Raiz de Amargura
No fundo, sabemos que Deus não aprova essa inversão. O fato de a humanidade compartilhar um imenso consenso a respeito do que é justo e do que é injusto atesta o que o próprio Deus considera justo e injusto. Filósofos chamam isso de “Lei Moral”. Teólogos a chamam de Lei de Deus que está gravada nos corações (Romanos 2:15–16). Até mesmo o injusto atesta em favor desta realidade ao tentar desesperadamente esconder seus atos (ou racionalizá-los quando tem seu poder removido e se vê obrigado a pagar por suas ações).
Porém, quando eles não são obrigados a prestar contas, quando continuam pondo em prática a injustiça e a maldade de seus corações sem que Deus intervenha, somos nós quem tentamos entender tal situação. E assim como Asafe, podemos achar tudo isso "muito difícil" (Salmos 73:16). Passamos a sentir inveja e ficamos com o coração amargurado (Salmos 73:21).
O maior perigo é este: a indignação que sentimos ante as injustiças — que é realmente o que devemos sentir nessas situações — pode fazer com que nossa alma fique ressentida com Deus, com sua aparente displicência e falta de disposição para agir contra a injustiça. Isso faz com que nos tornemos insensatos e ignorantes (Salmos 73:22), nos levando a se afastar de Deus (Hebreus 3:12) ou a distorcer sua palavra ao alegar que ela diz algo que não diz, pois, nossa falta de fé torna essas situações insuportáveis. Uma das coisas que mais nos leva a distorcer as escrituras é o problema que temos com o mal e com a dor que ele pode causar a nós ou àqueles que amamos. Isso é uma raiz produtora de veneno amargo (Deuterômio 29:18) que exclui muitos da graça, como nos alerta o escritor de Hebreus (Hebreus 12:15).
Conselho Para a Alma Amargurada
O que fazer quando, assim como Asafe, nosso coração estiver amargurado e sentirmos que a inveja de nosso íntimo está nos fazendo questionar se Deus realmente vê, ou se importa, ou se realmente está no controle, ou se realmente existe? O remédio que Deus nos dá contra a insensata ignorância da descrença é simples, porém profundo e penetrante:
- Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas. Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema o Senhor e evite o mal. Isso lhe dará saúde ao corpo e vigor aos ossos. (Provérbios 3:5–8) </dd>
Isso pode parecer trivial e clichê em momentos que queremos de Deus respostas — e mais urgente ainda, atitudes! Mas isso não é um clichê. A bíblia inteira é sobre isso. A bíblia é o livro da justiça de Deus. Tudo ali é sobre a justiça divina — sobre como Deus conserta todas as coisas e acerta as contas com cada agente moral, visível ou invisível, que algum dia perpetuou alguma injustiça por menor que fosse. Nada passará batido, pois Deus "não deixa o pecado sem punição” (Números 14:18) e cumpre sua santa e justa lei— da qual nossa consciência dá testemunho.
Para alcançar este fim, Deus trabalha com um calendário muito longo — enquanto nossas vidas são extremamente curtas. Podemos até não enxergar o ponteiro da justiça se movimentando muito durante o tempo que temos debaixo do sol. Isso não significa que Deus não está se movimentando de forma incansável e terrível em direção à inevitável destruição do mal.
Devemos confiar nele de todo coração ao invés de nos apoiarmos em nossa perspectiva limitada e em nosso entendimento do mundo "real". Se há algo que a catástrofe do Éden nos ensina, é que não somos bem equipados para lidar com o conhecimento do bem e do mal. A amargura da alma descrita por Asafe é um aviso de que é hora de devolver o fruto a Deus, antes que ele gere algo venenoso e amargo dentro de nós.
Como Deus Trata Seus Amigos
Se os acontecimentos da cruz de Jesus nos ensinam algo, é que Deus não tolera a injustiça e que ele está, de fato, disposto a ir à extremos que sequer imaginamos a fim de acertar as contas. Na cruz, o legítimo desejo divino de se livrar dos injustos se encontra com seu também legítimo desejo de perdoar aqueles injustos que se arrependeram e de viver em paz com eles (Salmos 85:10). É o momento milagroso no qual o justo Juíz toma sobre si nossa injustiça, pagando por ela o valor integral, para que assim pudéssemos nos tornar sua justiça (2 Coríntios 5:21). É o lugar onde Deus se torna a justiça e o justificador dos injustos que depositam sua fé completa em Jesus (Romanos 3:26).
É assim que Deus trata seus amigos: ele dá seu único filho, para que eles tenham vida eterna (João 3:16).
Foi este Deus - assim como a lembrança de suas misericórdias prenunciadas na velha aliança - que Asafe contemplou ao entrar no santuário (Salmos 73:17). Foi aí que sua perspectiva a respeito da justiça mudou. Ele pôde enxergar o longo fim da curta vida daqueles ímpios não arrependidos. Deus não estava desatento ou inativo enquanto eles audaciosamente oprimiam e blasfemavam.
Certamente os pões em terreno escorregadio e os fazes cair na ruína. Como são destruídos de repente, completamente tomados de pavor! São como um sonho que se vai quando acordamos; quando te levantares, Senhor, tu os farás desaparecer. (Salmos 73:18–20)
Ele enxergou misericórdia quando foi "afligido e castigado", pois foi justamente esta disciplina que fez com que ele não se desviasse (Provérbios 3:11–12; Salmos 119:67). Também viu que se aproximava o julgamento para aqueles que não deixassem que a bondade de Deus os guiasse ao arrependimento (Roman0s 2:4). Ele lembrou que suas curtas aflições tinham um propósito a longo prazo: "Tu me diriges com o teu conselho, e depois me receberás com honras" (Salmos 73:24), a mesma esperança manifestada pelo apóstolo Paulo (2 Coríntios 4:17).
Como Se Livrar da Amargura
Quando Asafe abriu mão da difícil tarefa de tentar entender porque Deus deixa a injustiça e o mal persistirem e passou a focar apenas em confiar em Deus de todo o coração, a amargura o deixou. Ao experimentar a cura e o refrigério, ele cantou:
A quem tenho nos céus senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti. O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força do meu coração e a minha herança para sempre. (Salmos 73:25–26)
Assim, se tivermos ouvidos para ouvir, nos afeiçoaremos também a Deus. Ele é nosso mais velho e futuro amigo, que compreende o quão difícil pode ser para nós ter de aturar o mal enquanto ele "faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade" (Efésios 1:11). Pois foi sua compaixão que o moveu a inspirar essas palavras em nosso amigo Asafe, e a certificar-se de que a canção do cínico regatado fosse preservada no cânone, para que assim pudéssemos encontrar ajuda para nos resgatar de nossa própria alma amargurada.